Diante da maior crise política de seu Governo e com poucas cartas na manga, a presidenta Dilma Rousseff (PT) repete o ensaiado no começo do ano: tenta se apoiar nos movimentos sociais aliados, apesar da críticas que eles fazem à política econômica, a poucos dias de enfrentar mais um round de protestos por sua saída do poder. Para lidar com o Congresso, intensifica reuniões e as pontes com Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado. O que o Planalto não conseguiu até agora foi acalmar os clamores por uma reforma ministerial, que incluiria uma redução do número de pastas.
Nos últimos dias, Rousseff reforçou a articulação junto ao Senado, onde, ao contrário da Câmara comandada por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ainda tem uma base de sustentação, sua aposta para tentar resistir à crise. Nesta segunda-feira, ela recebeu um grupo de senadores em mais um jantar no Palácio da Alvorada onde pediu a ajuda deles para conter a grave crise. Foi a terceira grande reunião nas últimas duas semanas. Antes, foi a vez de Renan Calheiros receber os ministros da área econômica Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento). Renan, que em aceno ao Planalto resolveu criticar abertamente o impeachment, entregou aos ministros "uma agenda para o Brasil", com medidas fiscais e propostas para a redução de ministérios e foi elogiado pelo ministro da Fazenda.
Ainda assim, nem lá Rousseff pode esperar apoio incondicional. “A política econômica do governo joga a conta nas costas do povo, ao invés de atacar direitos trabalhistas, cortar investimentos sociais e aumentar os juros, defendemos que o governo ajuste as contas em cima dos mais ricos”, diz um trecho do manifesto assinado por 19 entidades como Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), União Nacional dos Estudantes (UNE), Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), muitas delas engajadas no protesto do dia 20.A presidenta, que segundo o Datafolha chegou aos 8% de aprovação popular, também resolveu se associar mais diretamente aos movimentos sociais mais próximos do PT, que promovem atos no dia 20 deste mês para responder aos pedidos pela saída de Rousseff, marcados para o dia 16. O contra-ataque governamental repete o que já aconteceu durante as manifestações anti-Dilma, em abril. Desta vez, a presidenta vai aparecer ao lado de seus apoiadores. A mandatária está escalada para receber um apoio multitudinário da chamada Marcha das Margaridas, de trabalhadoras rurais da Contag, num estádio de Brasília nesta quarta. Na terça, será a vez do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falar às trabalhadoras no mesmo local.
“Se o Governo acha que essa estratégia de chamar os ditos movimentos sociais para ajudá-lo vai resolver, ele vai bater com a cabeça na parede”, analisou o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB). Para ele, o PT não atuou como deveria pela mobilização nos movimentos populares ainda no Governo Lula. Com Rousseff, se intensificaram as reclamações pela falta de diálogo com a presidenta.
Ao menos os militantes decidiram iniciar uma grita contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), uma das principais pedras de sapato de Rousseff. Os manifestantes pedirão a destituição de Cunha porque ele é investigado pela operação Lava Jato. O peemedebista foi acusado por um delator de receber 5 milhões de reais como propina para que uma empresa mantivesse contratos com a Petrobras. O deputado nega. A pressão contra Cunha não é deprezível, já que é na Câmara onde pode começar a tramitar um controverso pedido de impeachment contra Rousseff.
“Vale tudo”
Outra estratégia que a presidenta adotou nos últimos dias foi intensificar as aparições públicas e culpar a oposição e até mesmo seus aliados que lhe impuseram duras derrotas no Legislativo pelo agravamento da crise. Em um discurso durante a entrega de conjuntos habitacionais do Minha Casa Minha Vida em São Luís (Maranhão), Rousseff disse que repudia o vale tudo que tem sido feito por seus adversários.
“Nós não concordamos com nenhuma medida aprovada que leve à instabilidade, tanto econômica quanto política do País”, afirmou e completou: “Vamos repudiar, sistematicamente, o vale tudo para atingir qualquer governo, seja o governo federal, seja o governo dos estados, seja o governo dos municípios. No vale tudo quem acaba sendo atingido pela torcida que eu já disse do quanto pior melhor é a população”.
Após o discurso, os opositores do PSDB, também divididos sobre a tática a ser usada na crise, reagiram. Dois de seus principais líderes, o senador mineiro Aécio Neves e o governador paulista Geraldo Alckmin, ambos caciques do PSDB, afirmaram que não cabe à oposição mostrar os caminhos para o país sair da crise.
A oposição não governa. Os erros que hoje estão ocorrendo são por conta do Governo
Geraldo Alckmin (PSDB-SP)
“A oposição não governa. Os erros que hoje estão ocorrendo são por conta do Governo, não pode responsabilizar os outros pelos seus problemas”, afirmou Alckmin para aFolha de S. Paulo durante uma solenidade, em Recife (Pernambuco) para lembrar ao ex-governador e ex-candidato presidencial pernambucano Eduardo Campos, cuja morte em acidente aéreo completa um ano na quinta-feira.
Seja como for, apesar dos esforços de comunicação e da ofensiva pelo apoio de Renan, no Palácio do Planalto e no Congresso, a discussão do momento é quando Rousseff fará uma reforma ministerial para tentar angariar mais apoio de seus aliados, considerado um dos últimos expedientes a seu dispor para tentar deter série de derrotas na Câmara. Na Casa, é recorrente ouvir deputados da base aliada reclamarem que não se sentem representados pelos ministros de seus partidos — parte deste descontentamento aparece na ação deles contra as orientações governistas durante as votações.
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