quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Brasil 'pouco ou nada fez' no combate à corrupção internacional, diz ONG Daniela Fernandes De Paris para a BBC Brasil

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Quase metade dos signatários de convenção deixam a desejar no combate à corrupção
O Brasil "pouco ou nada fez" para lutar contra a corrupção internacional nos últimos quatro anos, segundo um estudo da ONG Transparência Internacional divulgado nesta quinta-feira.
O estudo leva em conta o que vem sendo feito pelos 41 países signatários da Convenção da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos em Transações Comerciais Internacionais, em vigor há 16 anos e ratificada pelo Brasil em 2000.
De acordo com o levantamento feito pela ONG, quase a metade dos signatários, 20 países, incluindo o Brasil, estão na categoria dos que "pouco ou nada fazem para investigar e levar à Justiça casos de corrupção internacional".
O relatório aborda a operação Lava Jato, mencionando a denúncia e prisão de políticos, ex-políticos e executivos de alto escalão, a cooperação com países com a Suíça e a recuperação de mais de R$ 500 milhões desviados. Também diz que a operação em curso atualmente "é muito dinâmica e deve resultar em mais investigações e processos judiciais relacionados a condutas corruptas no Brasil e no exterior".
Mas agrega que o Brasil "ainda não adotou e implementou leis que estabeleçam a responsabilidade corporativa para atividades corruptas, incluindo subornos internacionais e enriquecimento ilícito".
E agrega que "diversos Estados e municípios ainda precisam emitir regulamentações locais para a Lei Anticorrupção (de 2013)" e que falta "vontade política e recursos inadequados para reforçar medidas de combate à corrupção e sanções".
Ao mesmo tempo, a Transparência Internacional afirma que o Brasil está reforçando suas leis anticorrupção. "Um número significativo de emendas legislativas para combater a corrupção no Brasil foram adotadas em 2014", afirma a Transparência Internacional.
O Brasil também é um dos seis membros do G20 classificados na categoria "pouca ou nenhuma aplicação da convenção" da OCDE.
Isso significa, diz a Transparência Internacional, que estes países do G20, como o Brasil, também "estão fracassando em atingir os objetivos do Plano de Ação contra a Corrupção do G20" para o período 2015-2016.
A ONG afirma que, no ano passado, ocorreu pela primeira vez no Brasil um processo judicial para punir um caso de corrupção internacional, que envolveu oito ex-executivos da Embraer e políticos da República Dominicana.
Mas, ao mesmo tempo, o estudo ressalta que importantes projetos de lei nessa área estão "pendentes" no Congresso brasileiro, aguardando aprovação.
AFP
Transparência destaca operação Lava jato, que investiga denúncias de corrupção na Petrobras

'Sanções insuficientes'

A ONG destaca que punições "são cruciais para o sucesso da convenção anticorrupção".
"Sanções insuficientes previstas por lei ou impostas na prática para dissuadir a corrupção internacional dificultam os esforços de aplicação da convenção em 21 países", diz o estudo.
No mesmo grupo do Brasil, dos que "pouco ou nada aplicam" a convenção anticorrupção da OCDE estão países como a Rússia, Colômbia, México, Argentina e Chile, além de economias ricas como o Japão e a Dinamarca.
"Ao assinar a convenção da OCDE, os governos se engajaram a investigar e processar casos de corrupção internacional. Mas metade ainda dos signatários não está fazendo isso", afirma José Ugaz, presidente da Transparência Internacional.

Argentina rebaixada

A Argentina foi o único dos 41 países da convenção a ser rebaixado neste estudo da Transparência Internacional, o sétimo realizado.
Antes na categoria "aplicação limitada", a terceira, a Argentina regrediu para a última, de "pouca ou nenhuma aplicação" da convenção.
Apenas quatro dos 41 signatários do acordo - Estados Unidos, Alemanha, Grã-Bretanha e Suíça - foram classificados pela Transparência Internacional como "ativos" no combate à corrupção.
Esses quatro países somam 215 casos de investigação. Desse total, 59 foram iniciados no período coberto pelo estudo, de 2011 a 2014.

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