Cerca de 30 milhões de eleitores argentinos vão às urnas em todo o país no domingo escolher os candidatos a presidente e vice-presidente que disputarão o primeiro turno da eleição presidencial, em 25 de outubro.
Além de serem um filtro ─ apenas postulantes com pelo menos 1,5% dos votos totais (brancos e em algum candidato) chegam à eleição principal –, as Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (PASO) também representam um termômetro para apontar os candidatos com mais chances de substituir a presidente Cristina Kirchner no comando da Casa Rosada a partir de 10 de dezembro.
Entre os favoritos, estão o governista Daniel Scioli, da Frente para a Vitória (FPV), e Maurício Macri, da chapa Cambiemos, que faz oposição ao governo Kirchner.
Scioli é o único nome da FPV. Já Macri disputará a vaga de sua chapa com dois outros nomes de oposição.
"Como todos os eleitores estão obrigados a votar, poderíamos dizer que as primárias são quase uma antecipação do primeiro turno", disse a analista Mariel Fornoni, da consultoria Management & FIT (MyF), durante um recente seminário em Buenos Aires.
Das onze chapas ou partidos inscritos na disputa eleitoral, apenas três apresentam mais de um pré-candidato, afirmou à BBC Brasil a especialista María Page, do Observatório Eleitoral Argentino do Centro de Implementação de Políticas Públicas para a Igualdade e o Crescimento (CIPPEC, na sigla em espanhol). Ou seja, nove apresentarão um candidato único nas PASO.
Caso nenhum dos candidatos ─ ou o postulante único ─ de uma determinada chapa ou partido não chegue a 1,5% dos votos, o grupo político fica automaticamente fora da disputa.
"As primárias surgiram porque havia muitas chapas. Em 2003, chegamos a ter 18 candidatos a presidente", afirmou a especialista. Para ela, esse processo "ainda não é tão efetivo" na influência sobre as escolhas dos partidos, uma vez que a maioria já chegará ao domingo com seu pré-candidato definido.
Analistas e políticos de diferentes tendências são unânimes ao apontar que a fragmentação partidária surgiu após a crise política, econômica e social de 2001, quando o então presidente argentino Fernando de la Rúa deixou o cargo antecipadamente em meio a revolta popular.
Até então, o país conhecia principalmente os peronistas (Partido Justicialista) e os radicais (UCR), embora já tenha registrado até sete candidaturas presidenciais em uma mesma eleição, inflada por siglas menos expressivas.
Tamanho
Além de escolher quem será presidenciável, os argentinos votarão nos pré-candidatos a deputado federal, a senador e a assentos no ParlaSul (Parlamento do Mercosul) e, em algumas províncias, para cargos provinciais e municipais.
Com tantas escolhas, as cédulas ─ o voto ainda é em papel no país ─ podem ser enormes, como mostraram medições das emissoras de TV nas últimas horas. Segundo a especialista María Page, a da província de Catamarca chega a medir mais de um metro.
Pela primeira vez em 12 anos, o sobrenome Kirchner não estará nas cédulas presidenciais. Sucessora do marido, Nestor Kirchner (2003-2007), que morreu em 2010, Cristina é presidente reeleita e constitucionalmente não poderá disputar o terceiro mandato. O filho dela, Máximo, é pré-candidato a deputado.
Favoritos
Segundo as pesquisas de opinião, os postulantes com melhor desempenho nas pesquisas de intenção de voto para presidente são o governista Daniel Scioli, da Frente para a Vitória (FPV), e Mauricio Macri, da chapa Cambiemos.
Scioli é o nome único da FPV. Macri disputará a vaga de sua chapa com o senador Ernesto Sanz, da União Cívica Radical (UCR), e a deputada Elisa Carrió, da Coalición Cívica.
Em levantamento da MyF divulgado na sexta-feira, Scioli apareceu com 36%. Juntos, Macri (27%), Sanz (1,8%) e Carrió (2,1%) somaram cerca de 30% para a Cambiemos.
Segundo a pesquisa, o terceiro mais bem posicionado é o deputado Sergio Massa (12%), que disputará a vaga pela UNA com José Manuel de la Sota (6,8%), governador da província de Córdoba e ex-embaixador da Argentina no Brasil.
"O que podemos dizer é que a intenção de votos está muito volátil e, se continuarmos assim, teremos segundo turno em novembro", afirmou o analista Fabián Perechodnik, da Poliarquía Consultores, à imprensa local.
Além da "volatilidade", outros dois fatores foram detectados em levantamentos: o amplo número de indecisos e uma inédita indiferença do eleitorado com o pleito ─ é a segunda vez que são realizadas primárias na disputa presidencial.
Auxiliares de Scioli e de Macri disseram à BBC Brasil estar de olho nesses eleitores. "Sabemos que cerca de 50% ainda não definiram seu voto e, em muitos casos, não estão interessados pela campanha", disse um assessor de Macri.
Os principais pré-candidatos
Daniel Scioli: Governador da província de Buenos Aires, a maior do país, teria sido escolhido pré-candidato presidencial pela própria presidente, segundo afirmam nos bastidores. Ex-campeão de motonáutica, perdeu um braço em um acidente e costuma lembrar que entrou para a política a convite do ex-presidente Carlos Menem.
Em seus discursos e gestos, como observaram assessores, ele tem buscado sinalizar que manterá algumas medidas do atual governo, mas com estilo diferente do de Cristina. Ele é definido como “mais aberto ao diálogo” com apoiadores e opositores.
Em seu último discurso antes das PASO, na quinta, destacou medidas do Kirchnerismo, como a estatização da companhia aérea Aerolineas Argentinas. E disse que vai buscar fazer com que investidores e argentinos confiem na economia do país.
Mauricio Macri: Prefeito de Buenos Aires, já presidiu o clube de futebol Boca Juniors. De família de empresários, é definido por analistas como principal opositor de Cristina na corrida eleitoral. Concentrou sua estratégia em visitar casas de eleitores e estimular a militância nas redes sociais, como contaram seus assessores. Segundo seu chefe de campanha, Marcos Peña, mais de 600 mil voluntários se inscreveram para apoiar Macri na web.
No seu último discurso antes das PASO, alfinetou Cristina, que já realizou 31 discursos em rede nacional de rádio e TV neste ano: “A presidente nos ensinou que falar demais, com cadeias nacionais todas as semanas, não significa ter mais razão. E sim que é preciso dialogar”.
Macri causou polêmica ao voltar atrás e dizer que manteria estatizações feitas pelo Kirchnerismo, como a da Aerolíneas Argentinas, o que gerou críticas de opositores e de apoiadores, que esperam dele uma “economia mais aberta e menos estatal”.
Sergio Massa: Foi chefe de Gabinete da Presidência de Cristina Kirchner, de quem passou a ser opositor. Ele liderava as pesquisas de opinião há cerca de um ano, mas foi perdendo fôlego. Ex-prefeito de Tigre, cidade turística na província de Buenos Aires, é hoje deputado.
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