Na Medicina da USP, 43% dos alunos dizem já ter sofrido assédio sexual
Professora da faculdade fez pesquisa com centenas de alunos em 2013.
Um terço dos participantes disseram que já pensaram em desistir do curso.
Um ano antes de denúncias de estupro e violência sexual na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) chegarem à Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e ao Ministério Público Estadual (MP-SP), uma equipe de pesquisadores da faculdade começaram a elaborar um estudo para tentar quantificar os casos de desrespeito aos direitos humanos entre os estudantes de medicina da USP. Segundo a professora Maria Fernada Tourinho Peres, que coordenou a pesquisa, 317 dos dos 1.072 estudantes matriculados na graduação da FMUSP em 2013 preencheram o questionário.
Desses, apenas 24 afirmaram que, durante a faculdade, não sofreram nenhum tipo de agressão. Esse número representa 7% do total. Os dados mostram ainda que 43% dos participantes do estudo disseram ter sofrido pelo menos algum tipo de assédio ou discriminação sexual.
Em entrevista ao G1, a professora explica que, ainda que quase metade dos estudantes tenham afirmado que já sofram algum tipo de agressão de natureza sexual, há vários graus de gravidade nesses casos. "Uma prevalência de 40% do que a gente chama de violência sexual é alta, mas dentro dele tem várias situações diferentes. Podem ser comentários que tenham conotação sexual, que trazem a questão da discriminação de gênero, até casos de violência mais grave, como estupro. É importante situar", ressaltou ela.
Porém, segundo Maria Fernanda, preocupa o fato de tantas pessoas terem respondido que em pelo menos um momento na faculdade de medicina se sentiram constrangidas, ou sofreram com algum tipo de agressão de natureza sexual. "Há um clima que de alguma forma propicia ou favorece que casos graves aconteçam, e é o que estamos vendo agora com as denúncias que surgiram. São denúnicas de situações extremamente graves, extremamente sérias que ocorreram no ambiente universitário."
CPI sobre violência nas universidades
As denúncias acabaram levando os deputados estaduais a aprovarem a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar se há omissão dos gestores da USP e de outras universidades paulistas na hora de lidar com os casos de abuso e discriminação de gênero, racista ou homofóbica.
As denúncias acabaram levando os deputados estaduais a aprovarem a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar se há omissão dos gestores da USP e de outras universidades paulistas na hora de lidar com os casos de abuso e discriminação de gênero, racista ou homofóbica.
A professora Maria Fernanda foi ouvida pela CPI na última terça-feira (20) e apresentou alguns dados da sua pesquisa. Ela afirmou que sua pesquisa foi feita com o conhecimento da direção e da Comissão de Graduação da FMUSP, e que ela repassou os dados finais aos órgãos da faculdade.
Procurada pelo G1, a assessoria de imprensa da FMUSP afirmou que não havia conseguido apurar se os dados foram entregues oficialmente, mas citou três medidas que já adotou para "coibir violência no campus": o Núcleo de Acolhimento e Escuta (NAEE), para das apoio e orientação às vítimas, o Núcleo de Estudos e Ações em Direitos Humanos (NEADH), e uma Ouvidoria para "receber, registrar, qualificar e encaminhar as manifestações de alunos, funcionários, docentes e membros da comunidade externa, além de mediar os conflitos entre os envolvidos".
Hábitos de saúde
Maria Fernanda explica que a coleta de dados foi feita em um período de três meses, entre setembro de dezembro de 2013, e que cada estudante da faculdade recebeu, em seu e-mail particular, um link individual para responder ao questionário de forma anônima. Embora na medicina haja mais estudantes homens do que mulheres, na pesquisa, a participação foi maior entre as alunas mulheres (51% contra 49%).
Maria Fernanda explica que a coleta de dados foi feita em um período de três meses, entre setembro de dezembro de 2013, e que cada estudante da faculdade recebeu, em seu e-mail particular, um link individual para responder ao questionário de forma anônima. Embora na medicina haja mais estudantes homens do que mulheres, na pesquisa, a participação foi maior entre as alunas mulheres (51% contra 49%).
A pesquisa também mediu alguns hábitos dos estudantes em relação à qualidade de vida e ao estresse. Do total de participantes, 10% trabalham, 46,7% namoram ou possuem companheiro ou companheira, 75% se declaram de cor branca e 69% nasceram na cidade de São Paulo.
Além disso, 12% dos estudantes disseram que fumam, e 30% disseram que já consumiram algum tipo de droga (26% mencionaram ter consumido maconha, 3% ecstasy e cocaína, e 7% tomaram algum medicamento sem prescrição médica.
No mês anterior à pesquisa, 40% afirmaram que consumiram algum tipo de bebida alcoólica e 24,9% deles disse que beberam mais de 5 drinks em pelo menos duas ocasiões.
A grande maioria dos estudantes (83,7%) concordou com a afirmação de que a faculdade altera a sua rotina de saúde negativamente, 38,1% disseram que ficam sem dormir na véspera das provas, e 82% disseram que se sentem sobrecarregados pelas atividades do curso. "Chama atenção que 33,12% dos estudantes pensam ou já pensaram em abandonar o curso pelo menos alguma vez", diz o relatório.
Apesar de a taxa de resposta ter sido de cerca de um terço do universo total de alunos, a professora diz que ela está dentro dos parâmetros de estudos internacionais feitos por meio de formulários na internet.
"É um primeiro estudo que aborda essa questão de uma maneira mais sistemática e, com uma amostra de 317 alunos, permite a gente ter uma primeira aproximação do problema", explicou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário