- 11/02/2018
Eike Batista continua com a energia impressionante de sempre. Seu otimismo também permanece intocado. Nem parece um homem que perdeu US$ 34 bilhões, ficou preso três meses em uma cela de 12 metros quadrados em Bangu e ainda responde a processo que pode lhe colocar de volta na cadeia. Eike me recebeu em seu escritório na Praia do Flamengo. Estava acompanhado pelo filho Thor, por um advogado e um assessor.
Do O Globo:
Quais são seus planos agora?
Quem sabe alguma coisa na política.
Vai se candidatar? Quer ser deputado?
Não, senador. Estou estudando isso. Vamos avaliar. Estou conversando com partidos. Já me procuraram, mas eu prefiro não comentar por ora. Tem muita gente que acha que eu posso contribuir. Não tenho nenhum impedimento judicial. Nâo fui sequer julgado em primeira instância (A Lei da Ficha Limpa barra candidaturas de condenados em 2ª instância).
Você está buscando foro privilegiado?
Não. Eu quero ajudar. Eu preciso me reinventar. Hoje, sou provavelmente a maior fake news do mundo. Ninguém sabe o que eu fiz pelo Brasil. Vou mostrar o que eu já fiz. Eu trouxe para o Brasil US$ 40 bilhões em investimentos. Eu vou ajudar a não deixar projetos desnecessários serem construídos.
Você vai parar de trabalhar, seus negócios?
Não vou parar de trabalhar. Blairo Maggi está lá. Ele toca os negócios e a política. Acabou de comprar as fazendas do Olacyr de Moraes.
(…)
Como foram seus 90 dias de prisão?
No começo foi engraçado. Toda a hora vinha gente da SEAP (Secretaria da Administração Penitenciaria), passava em frente à minha cela e olhava para dentro. Gente curiosa, querendo checar se era eu mesmo. Eu me sentia como um tigre branco de bengala, um albino, né? Mas é um negócio enorme. Aquele “claque” que a porta faz quando se fecha, depois que você entra, é duro. E a prisão vai te consumindo.
Como era a sua cela?
Fui preso na Cadeia de Bandeira Estampa, em Bangu, que é para quem não tem curso superior completo. Eu fiz só dois anos de faculdade. Fiquei com duas outras pessoas na cela de 12 metros quadrados. Graças a Deus, um deles tinha um TOC, e era o TOC certo, que é o de limpeza. Ele toda hora passava álcool nas coisas. Porque o mais importante na cadeia é manter a saúde bem. No primeiro dia que você chega, você ouve aquela recomendação: “Faz de tudo para você não ir para a UPA, porque se você for para a UPA vai pegar tuberculose”. A incidência de tuberculose é alta nos presídios, e essas pessoas com a doença são levadas para serem tratadas na UPA, que vira um foco. Então, regra número um na cadeia, faça de tudo para não ficar doente. Higiene é fundamental.
Você teve medo de ser agredido de alguma forma?
Bate um medo, sim. Eu tive sorte, porque na minha ala lá era especial de milicianos. E eu sempre ajudei muito a polícia do Rio via as UPPs. Dei R$ 80 milhões para a polícia pacificadora. Neste caso, parei no lugar certo e num ambiente adequado.
Você então foi bem recebido na prisão?
Sim, aí tem uma coisa que é marcante. Tem muita gente boa na prisão. Metade das pessoas que estão lá não deviam estar lá. Tinha um grandalhão na cela em frente à minha, que pegou três anos porque entrou numa Lojas Americanas, pegou um ar condicionado e saiu andando. Aí você tem que ver que tipo de penalidades são impostas. É uma desproporcionalidade gritante. O garotão que traficou 200 gramas de maconha ou um tanto de cocaína levar um caminhão de anos de cadeia não faz sentido. Como alguém que gosta de resolver problemas, eu sugiro que se coloque a família nessa equação. Faz a família assinar um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), para quem pode, porque tem gente que não tem família. Os que têm, dividam a responsabilidade com a família. Aí eles vão comer bem, viver num ambiente melhor. Dentro da cadeia, ninguém se ressocializa. Muito rapidamente você se corrompe, até para comer melhor. A comida é tão ruim que o cara vai fazer qualquer coisa para arrumar um dinheiro e comer alguma coisa diferente, melhor, na cantina.
Você recebeu muito pedido de ajuda lá dentro?
Metade dos 36 amigos que fiz na cadeia era achacada por seus advogados, que chegam lá para literalmente extorquir suas famílias. Chegam e dizem, preciso de dois mil para fazer isso ou aquilo, e a família humilde acaba dando o que não tem. São que nem chacais, vão lá e tiram o último dinheiro da família. Aí os caras me vêm, esbarram em mim e pedem ajuda numa coisa ou em outra. Tentei ajudar alguns, mas procurei evitar para não virar outra bagunça.
Como funcionam as transações com dinheiro dentro do presídio?
É deprimente ver as fiscalizações feitas dentro do presidio em busca de dinheiro que entrou ilegalmente. Fazem a gente ficar encostada na parede, de cara contra a parede, com as mãos no alto, também apoiadas na parede, vem e apalpam a gente, procuram em cada parte do seu vestuário. Até nos chinelos, tem que virar o chinelo, porque descobriram que alguns colavam o dinheiro na sola do chinelo. Os caras são engenheiros lá dentro. E os policiais vão tirando o dinheiro que encontram. Tem gente que se agarra a quatrocentos reais como se fosse sua vida, porque vai ter que usar aquele dinheiro o mês inteiro para comer alguma coisa melhor na cantina. Quando vinha o Batalhão de Choque para uma batida, entravam uns caras gigantescos fazendo aquele bum, bum (faz o gesto do cassetete batendo no escudo) que nem no Império Romano. Só com o bum, bum você já fica com medo. Já os carcereiros, nota mil. Aquela ideia de filme e de carcereiros violentos não existe. Tiro meu chapéu. Cinco caras por turno, controlando 500 homens. Incrível.
Como você fez para suportar estes meses na cadeia?
Os evangélicos tinham cultos uma vez por semana. É impressionante como a fé faz os caras aceitarem a situação. Um sujeito com 20 anos de cadeia, acaba resignado por causa da fé. Sei lá, eles acham uma solução para suportar aquele tranco lá. Impressionante. Eu tenho fé, não que eu faça um culto. Minha âncora era acreditar, lembrar que eu sempre só fiz o bem, então eu pensava “uma hora eu vou sair e isso vai ficar claro, vou voltar a fazer negócios, criar de novo”. Mas tinha horas duras. Me sentia injustiçado. E cada atraso no processo que culminou com a minha soltura dava uma queda de ânimo.
Você se desesperou?
Não me desesperei, até porque o Fernando, meu advogado, me visitava três vezes por semana, e a conversa era reconfortante, mesmo que você fale com um vidro no meio e por um telefone horroroso. E a Flavia, minha mulher, que foi lá todos os dias. Como ela é advogada, ia na condição de advogada.
Teve visita íntima?
Visita íntima não havia. Ela ia como advogada. Por isso que ela podia ir todos os dias.
E como era o dia a dia na prisão?
As regras do presidio para mim eram mais rígidas. Para mim só tinha uma hora de sol por dia e só durante a semana. Final de semana, 12 metros quadrados, com dois outros caras, fechado.
E o sanitário? Era o famoso boi?
Ruim é o cheiro, que é bem desagradável. Mas tem algumas técnicas. O chuveiro está logo em cima, então você pode deixar o chuveiro ligado e fazer as necessidades. Aí a água escorre tudo muito rapidamente. Some logo e o cheiro some também. Mas os caras não têm técnica. Eu cagava sem cheiro. Parece brincadeira, mas é um fato. Você precisa estar no ângulo certo, para que aquilo escorra rapidamente com a água do chuveiro. Eu dividia a cela com duas pessoas. Ums delas, um doleiro grandalhão, pela sua estatura, tinha dificuldades no boi. A gente ficava ensinando a ele, vai mais pra frente, vai mais pro lado.
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