quarta-feira, 27 de abril de 2016

Recessão e crise fiscal estão à espera de Henrique Meirelles na Fazenda

Praticamente confirmado como titular da Fazenda de um eventual governo Temer, o ex-presidente do BC é bem-visto pelo mercado, mas terá uma tarefa difícil: mostrar resultados rápidos e sinalizar mudanças. Alta de impostos não está descartada

 José Paulo Lacerda/CNI

O provável ministro: expectativas de reformas podem ser frustradas por falta de condições políticas

O ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles está praticamente confirmado para o Ministério da Fazenda de um eventual governo Michel Temer. O vice-presidente admitiu que deve escolher Meirelles para comandar a pasta, depois de uma conversa decisiva que ambos tiveram no Palácio do Jaburu, no último sábado. Temer disse a vários interlocutores que ficou “muito impressionado” com o ex-chefe do BC no governo de Luiz Inácio Lula da Silva e um dos principais conselheiros do ex-presidente.

Ao ocupar a pasta que está sob comando do economista Nelson Barbosa há apenas quatro meses, Meirelles terá um enorme desafio pela frente. A economia está em recessão e as contas públicas, totalmente desequilibradas, devendo apresentar deficit primário até 2019, pelas estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI). Para recuperarem a confiança dos investidores e empresários, Temer e Meirelles precisarão adotar medidas muito duras e de efeito imediato na área fiscal, pois o prazo para que elas surtam efeito será muito curto, avisam especialistas.

“A situação fiscal é muito difícil, pois o governo precisa estancar a sangria imediata  e dar sinais de mudança a médio e longo prazos. Para isso, terá que mexer na estrutura de gastos e adotar medidas de aumento de receita”, destacou a economista sênior da Tendências Consultoria Alessandra Ribeiro. Segundo ela, o quadro ficará ainda pior se o Supremo Tribunal Federal (STF) aprovar a cobrança de juros simples, em vez de compostos, na dívida dos estados com a União. Segundo a Fazenda, a alteração acarretará perda de R$ 402 bilhões para o governo federal (leia mais na página 10).

O novo governo precisará agir muito rápido porque o voto de confiança do mercado tem prazo de validade, avalia Alessandra. Segundo ela, a redução no número de ministérios, para 20 ou 25, como sinaliza Temer, terá impacto muito pequeno nos gastos, e a saída é a ampliação da Desvinculação de Receita da União (DRU), cuja proposta está parada no Congresso Nacional. “Isso daria margem para cortar mais gastos obrigatórios. Hoje, o orçamento é engessado, com apenas 10% de despesas discricionárias, que já sofreram uma boa redução”, destacou.

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