Sem possibilidade de perícia no local e nos animais e diante da decisão da moradora de rever a denúncia, polícia conclui que não houve motivação política no episódio dos gatos
Um dia tenso, uma cena chocante e uma suspeita tornada pública precipitadamente. A responsável pela denúncia de que dois gatos teriam sido envenenados e jogados em frente à casa dela por uma possível retaliação a um posicionamento político contrário ao impeachment pediu o arquivamento do boletim de ocorrência.
A moradora da QI 17 do Lago Sul falou com o Metrópoles, na tarde desta terça-feira (19/4), pouco depois de voltar da 10ª Delegacia de Polícia, onde prestou a queixa no último domingo (17). Ela prefere não revelar seu nome.
Diante da repercussão do caso, a moradora pediu o arquivamento de sua ocorrência à polícia. A reação de vários leitores do Metrópoles, alertando que o episódio poderia ser uma infeliz fatalidade e não ter nenhuma motivação política, a fez repensar. No sábado (16), a família dela havia colocado uma faixa na janela com a seguinte mensagem “Golpe, não”.
A moradora contou à reportagem que ficou muito assustada com a cena dos gatos agonizando em frente à sua casa. Num primeiro momento, ela pensou que os animais tivessem ingerido algum veneno na rua. Depois de consultar as imagens das câmeras de segurança, viu que os bichos caíam de um carro vermelho.
Na gravação, não fica claro como se deu a dinâmica do acidente. Apenas se pode enxergar dois gatos caindo, um após o outro, e, em seguida, agonizando.
“Não cheguei a pensar na possibilidade de os gatos terem se escondido no carro. Fiquei bastante assustada”, contou. E revelou o porquê de sua atitude: “Meu pensamento foi para o pior, falei com a minha mãe que faria sentido a gente levar as imagens à polícia e fazer uma ocorrência, para tentar entender o que aconteceu.”
Neste momento, a moradora suspeitava fortemente que os gatos poderiam ter sido deixados em frente à sua casa por possível intimidação política. E, ao mesmo tempo em que procurou a delegacia, ela concordou em tornar o episódio público.
Um dia depois, reavaliou sua atitude: “Eu errei, me precipitei em tornar público as minhas suspeitas, os meus medos. O fato é que ninguém pode afirmar o que ocorreu sem uma investigação detalhada. Os corpos dos gatos não tinham nenhuma escoriação, nenhum sinal de atropelamento, o que me fez pensar na hipótese de envenenamento, até em função da forma com os animais agonizaram vários segundos antes de morrer.”
O delegado-chefe da 10ª DP, Plácido Sobrinho, disse que, a princípio, o caso estava sendo investigado como de maus-tratos. Mas, diante da iniciativa da moradora de pedir o arquivamento da denúncia, o policial afirmou que concluiu as investigações.
“Os gatos, provavelmente, estavam dormindo no pneu do carro e o motorista saiu e não viu. Não tem relação com crime político”, concluiu Fernandes.
Não houve, no entanto, nenhuma perícia técnica no local e nem nos animais. No dia do episódio, a moradora, além de procurar a delegacia, também ligou, insistentemente, para o Instituto de Criminalística, como orientado pelos próprios agentes da 10ª DP. Outros moradores também entraram em contato com a Polícia Civil por meio do 197, mas não houve retorno.
Após os animais ficarem 24 horas expostos, um vizinho recolheu os gatos com medo de contaminação. Como o caso foi encerrado sem perícia, ninguém nunca saberá o que de fato ocorreu.
Assim, consta no boletim de ocorrência o seguinte desfecho: “Alegando faltar dados para apontar suspeitos e motivação da situação, a moradora preferiu pedir o arquivamento da ocorrência por medo de causar injustiça a alguém.”
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