O governo estimava em 26 o número de senadores dispostos a votar contra o impeachment em um universo de 81. O número caiu primeiro para 23, 24. Depois para 21
Ricardo Noblat
Um governo morreu – o de Dilma. Estava paralisado desde que tentou recomeçar depois da eleição de 2014. Morreu no último dia 17, quando por mais de dois terços dos seus votos a Câmara dos Deputados aprovou o pedido de impeachment da presidente.
Um novo governo não nasceu – nem seu futuro titular, o vice-presidente Michel Temer, tem pressa para que nasça. Acusado por Dilma de ter conspirado contra ela, Temer pisa devagar para não parecer ansioso ou açodado.
A única coisa que parece se mover à boa velocidade é o processo de impeachment. Na Câmara, não perdeu um só dia, respeitado o calendário fixado pelo Supremo Tribunal Federal. No Senado, ainda não, apesar do empenho do senador Renan Calheiros em ajudar Dilma.
No início da semana passada, o governo estimava em 26 o número de senadores dispostos a votar contra o impeachment em um universo de 81. O número caiu primeiro para 23, 24. Depois para 21. Ontem, estava na casa dos 19,20.
A dança dos números reflete menos o abandono da presidente em colapso e mais a adesão ao presidente que emerge. O esboço da equipe de ministros a ser confirmada por Temer tem servido para mostrar aos interessados que um novo governo será possível e está quase pronto.
Não houve até aqui reações de desaprovação a nenhum nome. E quando uma se ensaiava, Temer antecipou-se a ela. Foi rápido no gatilho, tão rápido quanto o ex-presidente Itamar Franco. Temer recuou da nomeação do advogado Antonio Mariz para ministro da Justiça.
Mariz tinha um ou dois problemas. Um: advogara para empresas envolvidas com a Lava-Jato. Dois: assinou um manifesto criticando a Lava-Jato. Cometeu a bobagem de dizer à Folha de S. Paulo que a Polícia Federal tem mais o que fazer além de cuidar só da Lava-Jato. Dançou!
A intervenção veloz de Temer pode ter-lhe custado um amigo de mais de 40 anos, mas poupe-lhe uma penca de aborrecimentos. Embalado, Temer aproveitou para renovar seu compromisso com a continuidade da Laja-Jato. Fez seu mais duro e convincente pronunciamento a respeito.
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