Em um trabalho conjunto de 109 veículos jornalísticos em 76 países, cerca de 11,5 milhões de arquivos secretos de líderes mundiais, chefes de Estado e figuras públicas foram expostos. É o maior vazamento de informações sobre corrupção do mundo
O Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ na versão inglesa) publicou neste domingo (3/4) o maior vazamento sobre corrupção da história do mundo, com base em 11,5 milhões de arquivos secretos obtidos a partir de documentos de um escritório de advocacia no Panamá. OPanama Papers, como é chamada a série de reportagens que terá muitos desdobramentos a partir de agora, supera o Wikileaks (em 2010).
Entre os 109 veículos e 376 jornalistas que atuaram nessa reportagem mundial, há vários brasileiros. Repórteres do UOL, de O Estado de São Paulo e da Rede TV ajudaram a apurar e a divulgar as milhares de informações colhidas durante mais de um ano de trabalho.
Segundo o UOL, a apuração da Panama Papers se baseia no arquivo do escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca. As informações foram obtidas pelo jornal alemão “Süddeutsche Zeitung” e compartilhadas com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos. Em meio aos citados, há vários nomes de líderes políticos mundiais, empresários e artistas, como os presidentes da Rússia, Vladmir Putin, o da Argentina, Mauricio Macri, o dos Emirados Árabes, Khalifa bin Zayed bin Sultan Al Nahyan, e o primeiro-ministro da Islândia, Sigmundur Davíð Gunnlaugsson.
Também foram mencionados políticos brasileiros, como o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o ex-deputado João Lyra (PTB-AL) e o senador Edison Lobão (PMDB-MA).
No Brasil
No fim de janeiro deste ano, a Polícia Federal deflagrou a 22ª fase da Operação Lava Jato, cujo alvo foi justamente o escritório de advocacia e consultoria panamenho Mossack Fonseca. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, os investigadores suspeitavam que a empresa teria ajudado a esconder a identidade dos verdadeiros donos do tríplex no Guarujá (SP).
Mossack Fonseca criou ao menos 107 offshores (contas e empresas abertas em paraísos fiscais) para pelo menos 57 pessoas ou empresas relacionadas ao escândalo da Petrobras, segundo o jornalista Fernando Rodrigues, do UOL. O blog de Rodrigues afirma que procurou todos os mencionados na reportagem. Parte preferiu não se manifestar. Outros negaram irregularidades.
De acordo com a investigação de Fernando Rodrigues, “a Mossack operou para pelo menos 6 grandes empresas e famílias citadas na Lava Jato, abrindo 16 empresas offshores. Nove delas são novas para a força-tarefa das autoridades brasileiras. As offshores são ligadas à empreiteira Odebrecht e às famílias Mendes Júnior, Schahin, Queiroz Galvão, Feffer (controladora do grupo Suzano) e a Walter Faria, do Grupo Petrópolis”.
Ainda de acordo com Rodrigues, “a força-tarefa da Lava Jato só teve acesso, até agora, aos papeis do escritório brasileiro da firma panamenha”. A reportagem, segundo ele, fez a análise do material global, em dezenas de países.
O blog do Fernando Rodrigues ressalta que ter uma empresa offshore não é ilegal, desde que a empresa seja declarada no Imposto de Renda. “Leia aquisobre as condições para um brasileiro abrir uma empresa num paraíso fiscal”.
Escândalo mundial
Um dos principais nomes a emergir no Panama Papers é o do presidente russo, Vladimir Putin. Segundo o Guardian, apesar de Putin não aparecer em nenhum dos registros, as investigações revelam que seus amigos Yuri Kovalchuk e Sergei Roldugin ganharam milhões em negócios, que aparentemente não poderiam ter sido efetuados sem o seu patrocínio.
No futebol, há outros nomes citados na investigação. Um deles é Lionel Messi, eleito por cinco vezes o “Bola de Ouro” da Fifa. A reportagem do jornal El Confidencial, da Espanha, diz que “em 13 de junho de 2013, apenas um dia depois de sabido que tinha evadido 4,1 milhões de euros”, Messi e seu pai, Jorge Horacio Messi, “utilizaram um escritório uruguaio para construir uma sociedade panamenha, com a qual teriam continuado faturando seus direitos de imagem pelas costas da Agência Tributária” espanhola.
De acordo com o jornal espanhol Sport, Messi vai se pronunciar sobre o caso nesta segunda (4/4) pela manhã. O jogador, segundo a publicação, apresentará denúncia contra o Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo (ICIJ) e o jornal alemão Süddeutsche Zeitung.
Outros citados nas investigações são o cineasta espanhol Pedro Almodóvar, o ex-presidente da UEFA, Michel Platini, o ator honconguês, Jackie Chan, e a irmã do rei Juan Carlos e tia do rei Felipe VI de Espanha, Pilar de Borbón.
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