Em entrevista, o chefe do Executivo fez um balanço das ações de 2016 e antecipou as medidas prioritárias para o ano que vem
postado em 25/12/2016 08:00 / atualizado em 25/12/2016 08:29
Ana Dubeux , Ana Maria Campos , Cristine Gentil , Helena Mader
O governo descarta novos aumentos de impostos em 2017, mas não abre mão de outra medida impopular, considerada imprescindível para manter as contas públicas em dia: a reforma da Previdência. Paralelamente ao projeto debatido no Congresso Nacional, o GDF vai propor uma mudança na alíquota de contribuição dos servidores, atualmente de 11%. Alguns estados aumentaram esse percentual para 14%. “É muito importante abrir esse debate, senão a cidade corre o risco de não conseguir pagar os aposentados em um prazo de cinco a 10 anos. A discussão sobre a mudança de alíquota precisa ser feita, de forma aberta e transparente”, explicou o governador Rodrigo Rollemberg, em entrevista ao Correio. Durante a conversa, o chefe do Executivo fez um balanço das ações de 2016 e antecipou as medidas prioritárias para o ano que vem.
Cobrado sobre promessas de campanha que não devem ser entregues até o fim do mandato, como a ampliação do metrô, a implantação da escola integral em toda a rede pública, a realização de concursos e a construção de policlínicas, Rollemberg usou o caos financeiro como justificativa para o descumprimento dos compromissos eleitorais. “Eu comparo compromissos de campanha à intenção de uma família que planejou fazer uma viagem nas férias e não contava com a crise econômica”, explicou. “Mas conseguimos manter o salário em dia, garantimos o pagamento do 13º e de boa parte da dívida que herdamos do governo anterior. Ainda iniciamos um conjunto de obras e de ações muito importantes para a população de Brasília”, acrescentou o governador. Ele ressalta que os senadores do DF poderiam ajudar mais a cidade, em busca de recursos.
A menos de dois anos para a próxima corrida pelo Palácio do Buriti, Rollemberg ainda evita cravar se será ou não candidato à reeleição. “Estamos vivendo um momento de grandes desafios para a cidade e para o Brasil. Só vou tratar de 2018 em 2018. Tenho uma responsabilidade muito grande com Brasília, ainda que as medidas necessárias tenham um custo político alto”, justificou.
O governador explicou ainda seu apoio explícito ao distrital Agaciel Maia (PR) na disputa pela Presidência da Câmara Legislativa. O parlamentar acabou derrotado por Joe Valle (PDT), apesar do empenho de Rollemberg em prol de sua candidatura. “Sou uma pessoa muito transparente. Para o ambiente político, tanto faz articular nos bastidores ou explicitamente, todo mundo acaba sabendo da sua opção”. Durante a entrevista, ele fez um mea-culpa: admitiu uma falha na interlocução com políticos que ajudaram a elegê-lo em 2014. “Reconheço que há deficiências na articulação política. A administração da crise econômica absorve muito e talvez a gente não tenha dado a atenção ideal para esses aliados”.
Que balanço o senhor faz de 2016, um ano marcado pelo embate com os servidores e pela falta de recursos?
Considero que tivemos um ano positivo, especialmente se compararmos com a situação atual do país e de outras unidades da Federação. Quando assumimos o governo, Brasília estava na pior situação e, hoje, olhamos para estados ricos como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que estão parcelando salários. Em Brasília, conseguimos manter o salário em dia, garantimos o pagamento do 13º e de boa parte da dívida que herdamos do governo anterior. Ainda iniciamos um conjunto de obras e de ações muito importantes para a população de Brasília.
Quais foram as principais obras?
Citaria a infraestrutura de áreas como Sol Nascente, Porto Rico, Vicente Pires, Buritizinhos e Bernardo Sayão. As obras do Bloco 2 do Hospital da Criança estão bem adiantadas. Essa será uma construção muito importante, que vai oferecer atendimento de média e de alta complexidade de pediatria. No início de 2017, vamos inaugurar a estação de tratamento de Águas Lindas, um empreendimento para garantir a qualidade da água na Barragem do Descoberto, e estamos adiantados com a nossa parte na estação de tratamento de água de Corumbá. Em janeiro, vamos inaugurar o aterro sanitário. Estamos fazendo as obras do trevo de triagem norte, que vai melhorar muito a mobilidade naquela área. A partir do ano que vem, vamos universalizar a educação infantil para crianças de quatro e cinco anos. Embora tenha sido um ano muito difícil, acho que estamos fechando com saldo positivo.
Qual a sua expectativa para 2017? Será um ano mais difícil?
Tenho convicção de que será um ano difícil. O Congresso Nacional e os estados terão que enfrentar pautas difíceis. Mas nossa esperança é de que haja uma retomada da economia, ainda que leve. Isso já traria resultados muito positivos para o DF.
Quais são essas medidas impopulares? Elas serão tomadas em Brasília também?
O que me preocupa como governador de Brasília é que todas as pautas que geram conflito e tensão acabam sobrecarregando as nossas forças de segurança. E 2017 será um ano de grandes manifestações na cidade. O Brasil tem que enfrentar o debate da Reforma da Previdência. Isso tem consequências nas manifestações realizadas na cidade.
Que avaliação o senhor faz da atuação das forças de segurança nas últimas manifestações, quando houve muita depredação?
A polícia cumpriu seu papel. É claro que sempre é possível aperfeiçoar. Percebemos, nas últimas manifestações, que há um conjunto de pessoas, a maioria vinda de fora, que estava com o objetivo específico de promover confusão e depredação. E isso nós não vamos admitir.
O governo fará uma reforma da Previdência local, aumentando a alíquota da contribuição dos servidores?
É muito importante abrir esse debate, senão a cidade corre o risco de não conseguir pagar os aposentados em um prazo de cinco a 10 anos. A primeira medida, que já enviamos à Câmara Legislativa, é o projeto de lei da previdência complementar dos servidores que ingressarem no serviço público a partir de agora. Quanto a isso, não haverá grande dificuldade. Já o debate sobre a mudança de alíquota também precisa ser feito, de forma aberta e transparente.
O senhor teve de usar recursos do Instituto de Previdência dos Servidores (Iprev) em 2015 e em 2016. O GDF vai recorrer a essa medida novamente nos próximos anos?
Espero que não. No primeiro ano, precisamos usar um montante muito maior mas, agora, o valor foi muito menor. O mais importante é que fizemos isso com muita responsabilidade. Repusemos todos os recursos usados para pagar aposentados que entraram no serviço público antes de 2006. Fizemos essa reposição com terrenos em áreas nobres da cidade, como Noroeste e Águas Claras, o que vai dar solidez ao pagamento de aposentadorias futuras. Agora, repusemos os recursos com ações do BRB e o Iprev passa a ser sócio do banco.
O uso de recursos do Iprev é um assunto controverso e há especialistas que indicam a existência de um risco futuro à previdência dos servidores...
Fizemos uma negociação com os sindicatos e trocamos terrenos a pedido deles. Percebemos muita satisfação por parte dos sindicatos. Os técnicos do governo federal apreciaram a operação e entenderam que ela era positiva para o Iprev.
Como o senhor disse, 2017 será um período difícil e, além disso, será um ano pré-eleitoral. O senhor deve ser candidato à reeleição, em um momento de falta de credibilidade do mundo político? Como lidar com esse problema?
Tenho feito as coisas que precisavam ser feitas para o DF. Tenho sido muito responsável com o futuro de Brasília, tomando medidas necessárias, muitas vezes com custo político elevado. Estamos buscando equilíbrio fiscal. Jamais aceitaria ser conhecido como o governador que quebrou Brasília. Quero ser lembrado como o governador que equilibrou as contas públicas, até porque isso é fundamental para colocar em prática as políticas públicas. Estamos combatendo com rigor a cultura da grilagem de terras e democratizando o acesso às áreas públicas com a desobstrução da orla do Lago Paranoá e com a abertura da área à população. Vou continuar fazendo o que entendo que seja correto e necessário.
Já resolveu se será candidato à reeleição?
Estamos vivendo momento de grandes desafios para a cidade e para o Brasil. Só vou tratar de 2018 em 2018. A melhor forma é fazer o que precisa ser feito. Tenho uma responsabilidade muito grande com essa cidade, ainda que as medidas necessárias tenham um custo político alto.
O senhor evita antecipar o debate eleitoral, mas seus potenciais adversários estão se preparando. Nas ruas, a gente já vê adesivos de “Fora, Rollemberg”, assim como houve o “Fora, Temer” e o “Fora, Dilma”. Acha que a disputa já começou?
O Brasil está passando pela maior crise da sua história. Brasília não é uma ilha e também enfrenta esse problema, causado pela irresponsabilidade fiscal. Estamos sendo extremamente responsáveis. Tenho convicção de que no momento do debate político, onde há a oportunidade de contextualizar as coisas, mostrar as medidas tomadas, e as entregas à população, não pensando na próxima eleição, mas nas futuras gerações, grande parte da população vai compreender o nosso esforço.
O custo político é grande principalmente com relação aos reajustes aprovados no governo passado e não pagos pela sua gestão. Isso pode derrotá-lo nas eleições?
Já percebo de parte dos servidores públicos o reconhecimento da impossibilidade de darmos o aumento agora. As pessoas preferem a garantia de ter o salário em dia, que é a segurança das famílias, do que ter um aumento sem receber. Isso acaba com qualquer planejamento familiar. O governo deve ser julgado ao fim da gestão. Não adianta, especialmente em um momento de crise, em que temos que tomar medidas duras em nome do equilíbrio fiscal, querer julgar o governo na metade do trabalho.
O senhor tem recebido muitas críticas de aliados que ajudaram a elegê-lo em 2014. Que avaliação o senhor faz da sua relação com esses aliados?
Eu reconheço que há deficiências na articulação política do governo. A administração da crise econômica absorve muito e talvez a gente não tenha dado a atenção ideal para esses aliados. Mas sempre é tempo de corrigir isso. Às vezes, a imprensa fala que não temos base aliada na Câmara, mas aprovamos 95% dos projetos importantes que encaminhamos. E graças a esses projetos, chegamos ao fim de 2016 em uma situação muito melhor do que a maioria dos estados brasileiros.
Muitos deputados apoiam o governo porque têm cargos, administrações regionais. Qual a mudança em relação a gestões passadas?
Isso ocorre em uma escala muito menor do que ocorria nos outros governos. As secretarias de Saúde, Educação, Segurança Pública, as principais áreas, não sofrem interferência política. Existe alguma composição política, mas é em um alcance menor. É claro que isso tem aspectos positivos, mas amplia as dificuldades de convivência com a Câmara. Ao longo dos últimos dois anos, tivemos uma relação com a Câmara muito positiva.
As eleições para a Mesa Diretora do Poder Legislativo sempre têm a influência do Executivo, mas essa articulação normalmente ocorre nos bastidores. Desta vez, o senhor apoiou abertamente o candidato Agaciel Maia, que acabou derrotado. Esse apoio explícito pode ter atrapalhado?
Eu sou uma pessoa muito transparente. Para o ambiente político, tanto faz articular nos bastidores ou explicitamente, todo mundo acaba sabendo da sua opção. Eu fui muito franco, disse ao deputado Joe, por quem tenho apreço e respeito, que eu precisava fazer uma opção, e que a minha opção era pelo deputado Agaciel, que nesses dois anos foi uma pessoa muito correta com o governo. Não tenho dificuldade nenhuma de convivência com o deputado Joe e tenho certeza que teremos uma parceria muito positiva em defesa dos interesses de Brasília.
Adversários declarados do senhor, como os distritais Wellington Luiz (PMDB) e Raimundo Ribeiro (PPS), chegaram à Mesa Diretora. Isso representa uma preocupação?
A Mesa Diretora é muito presidencialista. Do ponto de vista político, é o cargo de presidente que faz muita diferença. Nas comissões, será importante ter uma correlação de forças importante. Mas qualquer que seja a composição, vamos buscar colocar os interesses da cidade acima de outros. A população está muito atenta, se ela perceber que algum político está colocando interesses pessoais e políticos acima do seu cargo, para prejudicar a cidade, ele que estará em prejuízo.
A contratação de organizações sociais é a principal aposta do governo para a saúde, mas a medida suscita grande resistência de sindicatos, servidores e do Ministério Público. O governo tem um plano B para melhorar a rede pública?
Tenho uma convicção firme de que a implantação das organizações sociais nas UPAs seria muito positiva para a população de Brasília e não criaria tanto conflito com os servidores da saúde. A gente percebe que há resistência ideológica do MP e há resistência dos sindicatos porque eles não querem que haja nenhum modelo de comparação. Isso poderá fragilizar a posição dos sindicatos. Visitei várias organizações sociais que administram equipamentos de saúde em São Paulo, em Goiás, com resultados muito positivos.
Acredita que será possível vencer essa resistência?
Se não existisse dificuldade, já teríamos implantado esse modelo. Vamos tentar superar os obstáculos para implantar as OSs. Mas estamos trabalhando em outras áreas para melhorar o atendimento da saúde. Parte dos nossos problemas da área ainda é fruto das dívidas que herdamos do governo anterior. Ainda devemos R$ 400 milhões da gestão passada. Muitas vezes, empresas que fazem manutenção de equipamentos se recusam a fazer novo contrato se não pagarmos as dívidas de 2014. Só agora, conseguimos renovar os contratos dos tomógrafos e mamógrafos, conseguimos pagar as dívidas ao longo deste ano. Esta semana, conseguimos regularizar o estoque de antibióticos na rede. Mas é uma dificuldade muito grande para isso, muitos medicamentos têm fornecedores exclusivos que se recusavam a fornecer o remédio se não recebessem a dívida de 2014. Por outro lado, a redução da jornada da saúde criou um problema muito grande. A população não sabe, mas todo servidor da saúde hoje tem jornada de 20 horas e isso cria uma dificuldade muito grande para compor escalas. Mas tenho convicção de que, independente de OS, a população vai perceber melhorias na saúde em 2017.
Brasília ainda tem qualidade de vida, mas a gente percebe o crescimento dos índices de criminalidade, especialmente contra o patrimônio. Como deter o avanço da violência?
Conversamos com especialistas de segurança pública, mostramos os dados, que são muito transparentes, e eles ficaram muito impressionados positivamente. A violência tem aumentado muito nos outros estados, mas em Brasília ela está sob controle. No ano passado, tivemos o menor índice de homicídios por 100 mil habitantes dos últimos 22 anos. Este ano, vamos fechar com o menor índice dos últimos 23 anos. Estamos com 15 homicídios a menos, em comparação com o ano passado. Por outro lado, tivemos aumento dos crimes contra o patrimônio ao longo deste ano. Se a gente comparar o período de setembro a dezembro do ano passado, quando já haviam sido adotadas as audiências de custódia, com os mesmos meses deste ano, a gente vai perceber que o aumento foi muito pequeno, o índice praticamente estabilizou.
As audiências de custódia aumentaram a criminalidade?
Elas têm o aspecto positivo de descomprimir o sistema prisional, mas, ao mesmo tempo, isso aumenta os crimes contra o patrimônio porque o sistema prende e solta, prende e solta, e a pessoa acaba cometendo o delito mais de uma vez. Em segundo lugar, temos as influências das manifestações. Tivemos um processo de impeachment em que o país esteve muito dividido, com risco de conflitos, e concluímos esse processo sem nenhum incidente grave. Mas, toda vez que há uma grande manifestação, a gente acaba deslocando um contingente muito grande de policiais para a Esplanada, deixando outras áreas descobertas. Em terceiro lugar, a crise econômica nacional leva ao aumento do desemprego e também pressiona os índices de crimes contra o patrimônio. Estamos fazendo pesquisas para identificar as sete manchas maiores de violência, com definição dos dias e horários em que os crimes ocorrem com maior intensidade, para, a partir daí, ter uma atuação mais efetiva das forças de segurança. Também vamos concentrar projetos sociais proritariamente nessas áreas, com foco na juventude. Grande parte dos crimes é cometida por jovens reincidentes.
“Temer assumiu num momento de grande complexidade e dificuldade. Nesse sentido, temos de ser compreensivos. Entendo que, para o bem do país, nós devemos buscar colaborar para que o governo supere esse momento difícil e para que o país retome o desenvolvimento"
Na área de educação, algumas das principais promessas de campanha foram resolver a falta de creches, a entrega de um tablet por aluno do ensino médio e a garantia da escola integral em todas as escolas. Alguma dessas promessas vai sair do papel?
Eu comparo compromissos de campanha à intenção de uma família que planejou fazer uma viagem nas férias e não contava com a crise econômica. Muitas das coisas que prometemos na campanha, não vamos conseguir cumprir na integralidade, ou não vamos conseguir cumprir no prazo que gostaríamos. Como uma família atingida pela crise econômica replaneja uma viagem, ou a festa de 15 anos da filha. O fato concreto é que muitos desses compromissos estão sendo cumpridos, apesar da crise.
Para a área de educação, qual será seu maior legado?
Em fevereiro, teremos universalizado a educação infantil para crianças de quatro e cinco anos. Isso é um feito extraordinário. Não podemos construir creches para atender essas crianças, mas credenciamos 135 entidades e o governo vai pagar para essas crianças estudarem. Conseguimos que todos os alunos do 3º ano fizessem o simulado para o Enem, e fizemos o Bora Vencer, que é um programa de cursos para estudantes que vão fazer o PAS e o Enem. Para implantar a escola em tempo integral, estamos aguardando a conclusão da escola técnica do Guará, que ficará pronta no ano que vem. Nessa escola, vamos desenvolver um projeto-piloto, e tenho convicção de que vamos transformá-lo em um modelo de educação integral para o país. Vamos integrar a rede de ensino à escola técnica, para garantir, a partir do segundo semestre do ano que vem, o ensino integral para todos os alunos do Guará. Depois, vamos ampliar para todas as regiões.
Como está sua relação com o vice-governador (Renato Santana), depois de vários atritos públicos. Esses episódios estão superados?
Combinei de conversarmos mais neste fim de ano. O episódio está completamente superado. Tenho muito apreço pelo Renato Santana, pelo Rogério Rosso e pelo Arthur Bernardes, que fazem parte do governo.
E com o Reguffe? Ele fez críticas duras ao seu governo em entrevista ao CB.Poder...
Mandei uma mensagem para o Reguffe, quando deu aquela declaração. “Pau que bate em Chico bate em Francisco”, eu disse. Ele ficou todo preocupado...
O que o senhor quis dizer com isso?
Da mesma forma como ele tem uma avaliação do governo, eu tenho uma avaliação do mandato do Reguffe. Eu gostaria de ver um senador de Brasília ajudando mais a cidade do que o senador Reguffe ajuda. Eu reconheço que o governo tem muitas deficiências e muitas são de desarticulação política. Gostaria de estar mais próximo do Reguffe, gosto dele, e aquelas declarações em nada me afastam do senador. Mas aquilo pode servir também para um alerta, para que eu possa me aproximar mais dele, mas para que ele possa também se aproximar mais de Brasília.
Outra crítica que se ouve com frequência é que o projeto para fazer eleição direta para administrador não teve avanço. Foi criado um grupo de trabalho e ficou nisso. O senhor fará a eleição?
A proposta está pronta e será encaminhada para a Câmara Legislativa no ano que vem. Se não encaminhamos ainda foi porque fizemos consulta pública, foram muitas sugestões, e tivemos que fazer uma triagem, ver o que cabia e o que não cabia no projeto. E não tinha ambiente político para encaminhar neste semestre. Quando a gente firma um compromisso de campanha não quer dizer que faremos tudo no primeiro ou no segundo ano de governo. E com toda a franqueza, ninguém imaginava que viveríamos no Brasil dois anos de depressão econômica. É claro que isso mudou os planos e dificultou as coisas. Reguffe fala em dar isenção de imposto para remédios, num ambiente em que é preciso priorizar o aumento de arrecadação. Foi o que disse a ele: não há a menor possibilidade agora. Lá na frente, quando as coisas melhorarem, certamente vamos fazer.
Em relação aos dois outros senadores, Cristovam Buarque e Hélio José, qual a avaliação que o senhor faz?
O Cristovam tem uma atuação política muito focada no plano nacional. Sinto falta de ter senadores mais focados nos temas do DF e na busca de recursos para a cidade. Temos R$ 750 milhões de recursos de compensação previdenciária. Em dois anos, eu não vi nenhum movimento dos senadores Cristovam ou Reguffe para ir ao Ministério da Fazenda para ajudar a liberar esses recursos para o Distrito Federal. Isso não depende do governador e o dinheiro não será para o governador, isso é para a cidade. Se a gente tivesse conseguido esse recurso, talvez nem precisasse usar o dinheiro do Iprev. E o senador Hélio também acho que pode e será bem-vindo se quiser a ajudar a economia do DF.
O senhor começou o mandato aliado da então presidente da Câmara, Celina Leão. Houve um rompimento e, agora, o senhor apoiou a candidatura de Agaciel Maia. A Operação Drácon acabou ajudando o senhor? Como será essa relação com a Câmara Legislativa a partir de agora?
No primeiro ano, tivemos um conjunto de propostas aprovadas pela Câmara Legislativa que foram muito importantes para o DF. A utilização do Iprev, o Refis, foram indispensáveis para que chegássemos no fim do ano com o pagamento dos servidores em dia. Só tenho uma única queixa com relação à Câmara Legislativa: ela fez uma CPI com o propósito desleal de tentar associar a mim ou a minha família condutas irregulares, que jamais tivemos ao longo da gestão. E o destino mostrou que algumas dessas pessoas que estavam se utilizando da CPI para tentar impor ao governo um desgaste acabaram expostas pela própria investigação do Ministério Público. E que não houve envolvimento algum do governo nesse processo.
O fato de a deputada Celina Leão ter ajudado a eleição do Joe Valle, na sua opinião, vai influenciar a Câmara contra o seu governo?
Creio que não. Eu disse ao Joe que tenho uma identidade de propósitos muito grande com ele, uma relação pessoal de muitos anos. Ele é de um partido aliado do PSB desde o primeiro momento. Tenho convicção de que não haverá dificuldade nenhuma nessa convivência entre governo e Câmara Legislativa.
Esses pedidos de impeachment que tramitam na Câmara o preocupam?
Não preocupam porque não há nenhuma base jurídica nem política para isso.
Existe uma expectativa com relação à reforma do secretariado que o senhor fará no primeiro escalão. A mudança será feita para abrigar melhor os aliados?
Estamos chegando à metade do governo. É momento de dar uma sacolejada e fazer com que o governo seja mais ágil em algumas áreas. É também momento de fazer uma avaliação política, secretaria por secretaria, para imprimir as mudanças necessárias para que o governo possa entregar mais à população de Brasília. É claro que temos que fazer isso levando em conta as forças políticas que estão na Câmara Legislativa e que estão representadas na cidade. Mas as mudanças serão pontuais.
Na sua análise desses seis meses de governo Temer, o Brasil está no caminho certo?
Temer assumiu num momento de grande complexidade e dificuldade. Nesse sentido, temos de ser compreensivos. Entendo que, para o bem do país, nós devemos buscar colaborar para que o governo supere esse momento difícil e para que o país retome o desenvolvimento. Qualquer disputa política deve ser deixada de lado.
Com Temer a relação é melhor do que era com a Dilma?
Tenho uma facilidade de diálogo muito grande com o presidente Temer e com o ministro (Henrique) Meireles. Acho que com esse papel que acabei desempenhando de articular o fórum de governadores, tenho convicção e digo isso com humildade, cumpri um papel muito importante de construir uma agenda política positiva e produtiva para o país. Hoje, alguns estados tiveram uma melhora significativa na sua situação em função da articulação desse fórum de governadores. Abri um espaço de interlocução muito grande.
O fato de o presidente Temer ter entre seus principais assessores Tadeu Filippelli, um potencial rival político do senhor, atrapalha ou já atrapalhou essa relação?
Não vejo como possa atrapalhar. A presença de uma pessoa de Brasília só pode ajudar. Eu espero que todos os políticos de Brasília ajudem a cidade neste momento. A disputa política vai se dar em 2018 com toda a naturalidade.
O deputado Chico Vigilante, do PT, apoia mais o seu governo do que muitos aliados diretos. Essa aproximação com o PT numa eleição é provável?
A questão de 2018 será tratada em 2018. Tenho que reconhecer que o deputado Chico Vigilante, embora seja muitas vezes um crítico do governo, tem colaborado com temas de interesse da cidade. Tem tido uma postura positiva em relação à cidade.
Desde o ano passado, havia o risco de uma crise hídrica, o que acabou se confirmando. Os especialistas têm alertado sobre a demora em tomar medidas de mais impacto, tanto da tarifa de contingência quanto do racionamento. O senhor está certo de que as medidas adotadas serão suficientes? Não teme chegar ao fim do mandato e ter de tomar medidas mais impopulares ainda?
Todas as decisões em relação à questão da água foram tomadas do ponto de vista eminentemente técnico. Não houve nenhuma influência política. Hoje, cabe à Adasa e à Caesb definir o que deve ser feito para garantir o abastecimento agora e futuro. Acompanho diariamente o nível da barragem e estou realmente preocupado, mas tenho deixado essas decisões serem tomados do ponto de vista técnico. Inclusive, quanto ao anúncio de um possível racionamento, muitos me aconselharam, dizendo que haveria desgaste político. Mas se essa for a decisão técnica, tem que haver esse alerta à população. Agora, é importante registrar duas coisas: nunca um governo na história de Brasília combateu a ocupação irregular do solo e a grilagem como nós estamos combatendo, que é uma das causas da falta de água. E há 16 anos não se fazia um investimento na ampliação da capacidade hídrica do Distrito Federal.
O senhor acha que o governador Geraldo Alckmin, do PSDB, com os desdobramentos da Operação Lava-Jato, chega a 2018 como candidato do PSDB com apoio do PSB?
Alckmin é uma pessoa de grande envergadura, que administra muito bem o estado de São Paulo e que tem muito boa relação com o PSB. Quem serão os candidatos em 2018? É cedo para dizer. Até porque há uma disputa política dentro do PSDB. Ele será candidato? Será pelo PSDB? Se não for, será por outro partido? São definições que só teremos em 2018.
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