terça-feira, 27 de dezembro de 2016

'Centrão' racha e deve lançar mais de um candidato para presidência da Câmara



Bloco de partidos de centro-direita buscava candidatura única, mas líderes de PTB e PSD anunciaram que irão disputar cargo mesmo sem aval do grupo; Maia tenta obter apoio de siglas do 'Centrão'.



Os líderes do PSD, Rogério Rosso (DF), e do PTB, Jovair Arantes (Foto: Nilson Bastian e Alex Ferreira / Câmara dos Deputados)
Os líderes do PSD, Rogério Rosso (DF), e do PTB, Jovair Arantes (Foto: Nilson Bastian e Alex Ferreira / Câmara dos Deputados)


O plano do chamado "Centrão" de lançar uma candidatura única para a presidência da Câmara deve esbarrar nas pretensões dos líderes de duas das principais legendas do bloco de centro-direita de se sentar na cadeira ocupada atualmente pelo deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Após conquistarem protagonismo no processo de impeachment de Dilma Rousseff, os deputados Jovair Arantes (PTB-GO) e Rogério Rosso (PSD-DF) afirmaram ao G1 que irão disputar o comando da Casa independentemente de aval do grupo de centro-direita.
Em novembro, os líderes do bloco idealizado por Eduardo Cunha (PMDB-RJ) anunciaram que iriam negociar até o fim do ano uma candidatura que representasse as 12 legendas do grupo (PP, PR, PSD, PTB, PROS, PSC, SD, PRB, PEN, PTN, PHS e PSL).
No entanto, após diversas rodadas de negociações, o bloco de partidos conservadores ainda não conseguiu definir um nome de consenso. A maior dificuldade tem sido convencer os líderes do PTB e do PSD a desistir da candidatura em favor do outro.
Jovair e Rosso disseram ao G1 nesta segunda-feira (26) que não vão abrir mão de concorrer à presidência da Câmara na eleição marcada para o dia 2 de fevereiro.
Relator do processo de impeachment de Dilma na Câmara, o líder do PTB disse que sua candidatura é "avulsa". Ele enfatizou que não vai esperar um consenso do "Centrão" para se lançar na disputa.
Segundo Jovair, como o plano de lançar um candidato único do "Centrão" não se viabilizou, os pré-candidatos do bloco já estão buscando apoio dos demais partidos.
"Não existe candidatura do 'Centrão'. A minha candidatura é individual, estamos jogando nessa direção. Uma candidatura avulsa não precisa do apoio de partidos, até porque na Câmara temos um colégio eleitoral grande, de 512 deputados", ressaltou Jovair Arantes.


"Não existe essa de que eu vou esperar para alguém recuar. Quanto mais apoio tiver, melhor. Hoje eu sou candidato", complementou.
Ex-governador-tampão do Distrito Federal, Rogério Rosso ganhou projeção nacional ao presidir, neste ano, a comissão especial criada na Câmara para analisar se o processo de afastamento de Dilma deveria ser encaminhado para o Senado.
Logo após a renúncia de Eduardo Cunha da presidência da Câmara, o líder do PSD disputou o comando da casa legislativa para um mandato-tampão de seis meses, mas acabou derrotado no segundo turno por Rodrigo Maia.
Desde então, ele vem articulando apoio nos bastidores para concorrer novamente à presidência da Câmara. Porém, Rosso tem encontrado dificuldade para aglutinar as legendas conservadoras em torno da sua candidatura.
Diante da insistência de Jovair de concorrer à presidência da Casa, Rogério Rosso decidiu quebrar o tom diplomático que vinha adotando nos últimos meses e afirmou que manterá sua candidatura mesmo se o líder do PTB entrar na corrida pela sucessão de Maia.
"Mantenho minha candidatura. Porém, vou buscar o consenso e o bom senso de todos", destacou.

Reeleição de Maia

Embora tenha sido eleito para um mandato-tampão de apenas seis meses, Rodrigo Maia tem buscado apoio nos bastidores para emplacar uma candidatura de reeleição. Oficialmente, entretanto, ele diz que só irá decidir em janeiro se entrará na disputa pela presidência da Câmara.
Pelo regimento interno da Casa, a reeleição só é permitida quando há mudança de legislatura – a atual acaba somente em fevereiro de 2019.
Na tentiva de conter as articulações de Maia para permanecer mais dois anos à frente da Câmara, Rosso enviou uma consulta para a Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) questionando a legalidade da candidatura do atual presidente da Casa.
O relator da consulta na CCJ, deputado Rubens Pereira Júnior (PCdoB-MA), apresentou na semana passada parecer favorável à reeleição de Maia. O parlamentar maranhense avaliou que Rodrigo Maia cumpriu um "mandato-tampão".
Devido ao recesso parlamentar, os integrantes da comissão não tiveram tempo de discutir e votar o relatório de Rubens Pereira.
Na opinião de Jovair Arantes, o atual presidente da Câmara está "rasgando" a Constituição ao cogitar a reeleição.
"Ele [Maia] não poderá ser candidato, está quebrando a regra. Ele está fazendo casuísmo o tempo todo, rasgando a Constituição", acusou o líder do PTB.
Apesar do esforço de Jovair e Rosso para barrar a candidatura de Rodrigo Maia, o deputado do DEM tem conseguido garantir apoio de partidos do próprio "Centrão" para tentar a reeleição.
O líder do PT do B, deputado Luis Tibé (MG), já anunciou que os quatro integrantes de sua bancada irão votar em Maia caso ele confirme a candidatura para a presidência da Câmara.
"Existe uma possibilidade real do Rodrigo ser candidato. O PT do B vai apoiar Rodrigo Maia se ele for oficializado candidato."
O líder do PRB, deputado Márcio Marinho (BA), relatou que Maia está promovendo uma ofensiva sobre os partidos que têm representação na Câmara para pedir apoio.
"Não sabemos que lado vamos apoiar. Rogério Rosso, Jovair e Maia estão nos procurando. Estamos discutindo ainda com cada um deles", disse Marinho.
O PRB é a sigla do primeiro-secretário da Mesa Diretora da Câmara, deputado Beto Mansur (SP), que havia anunciado candidatura à presidência da Casa, mas recuou na semana passada por não ter conseguido o apoio do próprio partido.
"No caso do Beto Mansur, ele se antecipou ao lançar seu nome, o que é compreensível porque todos queremos ser presidentes, mas não teve a anuência do partido. Até porque todos os colegas do partido precisam ter a oportunidade de ocupar um lugar na Mesa", ressaltou o líder do PRB.
Apesar de compor um bloco partidário com o PTB de Jovair Arantes, o líder do PP, Aguinaldo Ribeiro (PB), disse que sua bancada ainda não definiu quem irá apoiar na eleição de fevereiro.

Candidatura da oposição

Ex-ministro das Comunicações do governo Dilma, o deputado André Figueiredo (PDT-CE) disse ao G1 no último sábado (24) que pretende ingressar na disputa pela presidência da Câmara.
A eventual candidatura do parlamentar pedetista pode enfraquecer a tentativa de reeleição de Rodrigo Maia na medida em que teria condições de atrair votos de partidos que fazem oposição ao governo Michel Temer, como PT, PC do B, Rede e PSOL.
Sem um candidato natural, os oposicionistas cogitavam voltar a dar votos para o deputado do DEM na eleição interna. Porém, o cenário pode mudar se um integrante da oposição se lançar candidato ao comando da Casa.



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