Dilma durante pronunciamento em Brasília. UESLEI MARCELINO REUTERS
Brasília
Enquanto o mundo político ainda digeria nesta sexta o impacto dos holofotes da Operação Lava Jato voltados com força total para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a oposição ao Governo Dilma Rousseff (PT) fazia seus cálculos. Após mais de um ano de crise política, os opositores querem se aproveitar ao máximo da turbulenta semana enfrentada pela gestão petista para aumentar a pressão pelo impeachment. Dois fatores técnicos e um político deverão ser somados aos elementos já apresentados para forçar uma saída dela do mandato.
Os técnicos são: 1) a delação feita pelo senador Delcídio do Amaral (PT-MS) que afirma que a presidenta e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabiam das irregularidades na Petrobras e se beneficiavam, ainda que indiretamente, delas; 2) a prisão do ex-marqueteiro do PT, João Santana, contra quem pesa a suspeita de ter recebido recursos de caixa dois durante uma das campanhas eleitorais.
No lado político, os opositores da gestão petista se aproveitarão da investigação contra Lula nos casos envolvendo um sítio em Atibaia e um apartamento no Guarujá. A ideia é macular ainda mais a imagem do Executivo mostrando que os erros cometidos pela presidenta foram iniciados pelo seu antecessor. “Antes imaginávamos que o chefe de toda a quadrilha era o José Dirceu. Mas depois que ele foi preso pelo mensalão, os desvios continuaram. O que está se provando é que as ordens sempre partiram do Palácio do Planalto. Primeiro de Lula, depois de Dilma”, afirmou o deputado federal Nelson Marchezzan Júnior (PSDB-RS).
"Temos que acelerar a decisão do impeachment
GERALDO ALCKMIN (PSDB)
Os opositores analisam se fazem um aditamento do atual pedido de impeachment ou se apresentam um novo requerimento. O pedido de destituição que tramita na Câmara dos Deputados hoje se baseia apenas naspedaladas fiscais, que foram as distorções contábeis cometidas pelo Governo para maquiar as contas de 2014. Até os deputados menos radicais com relação à gestão Rousseff já admitem que esse fato está enfraquecido atualmente. “Impeachment por pedaladas não passa mais. Se ocorrer um impeachment será por conta das denúncias de Delcídio”, afirmou Chico Alencar (PSOL-RJ). Ao sair de uma reunião de uma reunião da presidenta com 26 governadores e vice-governadores, o governador de São Paulo e um dos presidenciáveis tucanos, Geraldo Alckmin (PSDB), deu o tom: "Temos que acelerar a decisão do impeachment".
Do lado dos governistas, a bancada diz que o país está em vias de se deparar com uma deposição presidencial à força. “O que ocorre é um golpe moderno articulado por parte da imprensa, parte do Judiciário e do Ministério Público. Não tem as Forças Armadas, mas é um golpe”, afirmou Jandira Feghali (PCdoB-RJ).
Para adicionar mais pimenta nesse caldeirão, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) os detalhes da delação de Delcídio do Amaral, que foi preso no fim do ano passado por arquitetar a fuga do país de um dos réus da Lava Jato, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. O objetivo da OAB é avaliar se os documentos podem embasar um novo pedido de impeachment. Enquanto isso, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aguarda uma definição do Judiciário sobre um pedido de esclarecimento feito por ele com relação à composição da comissão especial do impeachment.
Nova comunicação e defesa própria
Pega de surpresa com más notícias dois dias seguidos, Rousseff mudou sua estratégia de comunicação e nos dois dias emitiu duas notas à imprensa e fez um raro pronunciamento. Quando falou aos jornalistas, a presidenta fez uma breve defesa de Lula, que foi obrigado pelo juiz Sergio Moro a prestar depoimento para a Polícia Federal nesta sexta-feira. Entre os ministros, o cálculo é que a presidenta não deve se afastar de seu antecessor, mas é melhor que ela mantenha essa crise o mais distante possível de Brasília. Para chegar a essa conclusão, Rousseff fez uma série de reuniões com seus ministros mais próximos e ouviu argumentos jurídicos e técnicos deles. Ao fim dos encontros, ligou para Lula e prestou solidariedade a ele.
Sobre a delação de Delcídio, a presidenta foi mais dura e declarou que estava indignada com as declarações do senador. Entre outros pontos, o parlamentar afirmou que Rousseff teria nomeado ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) com o objetivo de libertar empresários envolvidos na Lava Jato. “É absolutamente subjetiva e insidiosa a fala do senador, se ela foi feita”, reclamou Rousseff.
A presidenta disse ainda que o vazamento da delação de Delcídio teve como único motivo uma tentativa de atingir a pessoa dela e o seu Governo. “Provavelmente pelo desejo de vingança, pelo imoral e mesquinho desejo de vingança e de retaliação de quem não defendeu quem não poderia ser defendido pelos atos que praticou”.
A polarização, que parecia ter diminuído por algumas semanas no Brasil, tem tudo para ganhar força. Nesta semana, vários parlamentares petistas foram hostilizados quando chegavam aos aeroportos de seus Estados. Tudo isso a poucos dias de mais uma manifestação contra a gestão Rousseff. Daqui a dois domingos, no dia 13, grupos sociais anti-Dilma prometem ocupar as ruas das principais cidades do país para pedir que ela saia do Governo.
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