Brasília
Com ida de Lula, sigla antecipa reunião que define apoio. Rompimento pode somar votos ao impeachment
Lula na cerimônia de sua posse, em Brasília. Eraldo Peres AP
A chegada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Ministério da Casa Civil de Dilma Rousseff, ainda que suspensa por liminar do Supremo Tribunal Federal nesta sexta, deve surtir um efeito contrário ao que a gestão petista esperava. Ao invés de aproximar partidos da base aliada, deverá afastá-los. Mais grave ainda: um dos primeiros que deve deixar a canoa governista é o PMDB. Os dirigentes anteciparam para o dia 29 de março a reunião do Diretório Nacional que definirá se a legenda permanece ou não na administração federal. Em princípio, o encontro ocorreria em 11 de abril, conforme havia sido determinado pela convenção nacional do último dia 12.
Dois caciques peemedebistas afirmaram ao EL PAÍS que a tendência é de entregar os cargos. Hoje o PMDB tem sete ministérios, um deles a contragosto da cúpula do partido e que está sendo questionado nas esferas internas. Um dos fatos que deve interferir em qualquer movimento dos peemedebistas é a pressão das ruas pela queda do Governo Dilma.
“Antes, os protestos eram marcados por quatro bandeiras: Fora Lula, Fora Dilma, Fora PT e Viva [Sérgio] Moro. Agora, é praticamente uma bandeira só, que é o fim do Governo. Ao invés do Lula ajudar, atrapalhou”, ponderou o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Wellington Moreira Franco. A entidade que ele preside é um braço do PMDB. Na visão de Moreira Franco, que foi ministro da Aviação Civil e dos Assuntos Estratégicos no primeiro mandato de Rousseff, não há mais razão para o seu partido continuar no Governo.
O secretário-executivo da legenda, Eliseu Padilha, seguiu com o mesmo raciocínio e acrescentou que uma das razões para a ruptura é as eleições de 2018. “Temos propostas distintas para o país. As premissas do PT e do PMDB não só as mesmas. Queremos ter candidato à presidência e o Lula também disse que deverá concorrer. Não há razão para continuarmos juntos”, considerou Padilha, que também foi ministro da Aviação Civil.
Nos últimos dois dias, a reportagem conversou com onze deputados federais, ministros e senadores do partido. Sete disseram que o divórcio entre PT e PMDB ocorrerá em breve. Dois disseram que ainda é cedo para saber. E dois confiam que a presença de Lula, se confirmada, na gestão federal conseguirá reverter o cenário da crise política. “Ele tem uma habilidade política incomum e é nisso que confiamos para nos ajudar no Governo e no trato com o Congresso, mas principalmente para dar uma injeção de ânimo na economia”, afirmou o ministro da Ciência e Tecnologia, o deputado federal licenciado Celso Pansera (PMDB-RJ).
As escutas telefônicas divulgadas pelo juiz Sergio Moro, que envolvem Lula, seguida pelas decisões judiciais que suspenderam a posse do ex-presidente na Casa Civil, também devem comprometer o apoio dos peemedebistas ao Governo no Congresso. O grupo governista diz que não saberia hoje quantos votos seus correligionários dariam para impedir o impeachment de Dilma Rousseff. Os opositores, por sua vez, estão otimistas e afirmam que entre 35 e 40 deputados, dos 65 da bancada, estariam dispostos a votar pela destituição da presidenta.
"Em princípio não haverá nenhuma orientação do partido sobre o voto no impeachment. Sabemos que nossos parlamentares votarão conforme suas consciências, mas não deixarão de ouvir os anseios das ruas", ponderou Padilha.
Outro fator que interferiu na decisão dos peemedebistas foi o convite feito ao deputado federal Mauro Lopes (PMDB-MG) para assumir o ministério da Aviação Civil. Lopes foi empossado na última quinta-feira, contrariando uma decisão do partido de que nenhum de seus filiados poderia aceitar cargos na União até que o Diretório Nacional tomasse sua decisão definitiva sobre o apoio à gestão Rousseff. Os principais líderes do PMDB, o vice-presidente, Michel Temer, e o presidente do Senado, Renan Calheiros, não compareceram à posse. Temer foi duro e disse que Lopes afrontou a decisão do partido e reclamou do assédio do Governo. Nos próximos dias, o deputado-ministro deverá ser cassado do PMDB. Ao menos 12 processos internos foram abertos contra ele.
Além do PMDB, o PP e o PRB deverão se afastar de vez da gestão federal. No último dia 16, o PRB anunciou que romperia com Rousseff, prometeu entregar o ministério dos Esportes, hoje ocupado por George Hilton, mas ainda não o fez. Já o PP, diz que analisará o apoio nos próximos dias. Juntos, os dois partidos têm 69 deputados.
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