segunda-feira, 21 de março de 2016

Petrobras registra prejuízo recorde de R$ 34,836 bilhões em 2015 No 4º trimestre, estatal teve prejuízo de R$ 36,938 bilhões. Resultado foi impactado por revisão de ativos na ordem de R$ 47,6 bilhões. Cristiane Caoli, Darlan Alvarenga e Taís Laporta, no Rio e em São Paulo Do G1, em São Paulo

Presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, durante coletiva nesta segunda-feira (21) (Foto: REUTERS/Sergio Moraes)Presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, durante coletiva concedida nesta segunda-feira (21) (Foto: REUTERS/Sergio Moraes)


A Petrobras teve prejuízo líquido de R$ 34,836 bilhões em 2015, informou a estatal nesta segunda-feira (21). Trata-se do maior prejuízo anual registrado pela companhia, segundo dados da Economatica, superando as perdas de R$ 21,587 bilhões de 2014.
A maior parte veio do ajuste, para baixo, no valor dos ativos (reservas, plataformas, campos etc.) da companhia. Sem esse ajuste e outros resultados extraordinários, a Petrobras teria um lucro R$ 13,6 bilhões.
"A empresa demonstra mais uma vez a sua transparência em relação ao resgate da sua credibilidade", disse o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, ao comentar os resultados.
Resultados anuais da Petrobras
Em R$ bilhões, ajustados pela inflação
17,83835,86433,45442,04644,53535,38551,23743,15349,47343,97526,41927,757-23,891-34,836200520102015-40-200204060
Fonte: Economatica
Este é o primeiro balanço anual da gestão de Bendine, que assumiu a presidência da estatal em fevereiro de 2015, substituindo Graça Foster, em meio à crise detonada pela devassa das investigações da Operação Lava Jato, que na semana passada completou 2 anos.
Justificativas
A Petrobras atribuiu o prejuízo recorde ao ajuste (impairment) de ativos e de  investimentos, "principalmente em função  do declínio dos preços do petróleo e incremento nas taxas de desconto, reflexo do aumento do risco Brasil pela perda do grau de investimento (R$ 49,748 bilhões)" e pelas "despesas de juros e perda cambial (R$ 32,908 bilhões)". Pesou ainda a queda de 5% nas receitas e a queda dos preços de exportação de petróleo e derivados.
Ou seja, por conta de condições de mercado menos favoráveis e da despesa com a desvalorização do real, a Petrobras agora estima que seus ativos (reservas, plataformas, campos etc.) valem R$ 47,6 bilhões a menos do que era estimado até então.
A maior parte do ajuste aconteceu nos campos de produção de óleo e gás, na ordem de R$ 33,7 bilhões. Somente a revisão geológica do reservatório de Papa-Terra resultou em uma revisão de R$ 8,7 bilhões. Houve ainda baixas no Comperj (R$ 5,3 bilhões) e nas Unidades de Fertilizantes III (R$ 2 bilhões) e V (R$ 0,6 bilhão).
Sobre os ajustes no campo de Papa-Terra, Solange Guedes, diretora de Produção e Exploração, afirmou que houve ajuste porque o campo está com resultado abaixo do esperado. "Os campos não estão produtivos como nós havíamos previsto", afirmou.
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Em 2014, a companhia reduziu o valor de seus ativos em R$ 44,3 bilhões, após ter reavaliado uma série de projetos, principalmente a Refinaria Abreu e Lima e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
Segundo Mário Jorge da Silva, gerente executivo de Desempenho Empresarial da Petrobras, a maior parte da baixa de ativos em 2015 está associada à menor expectativa dos preços de petróleo em longo prazo.
"Expurgando desse resultado o impairment, expurgando do ano de 2015 os dispêndios que tivemos com despesas tributárias, contingências judiciais, devedores duvidosos, e compensando o que seria redução do Imposto de Renda, chegamos a um resultado líquido de R$ 13,6 bilhões positivo", ressalvou.
"Impairment joga contra resultado, não joga contra caixa, ele não tem resultado no caixa da companhia", disse Bendine. "E ele pode ser revertido sim", acrescentou o presidente da estatal.
Prejuízo de R$ 36,938 bilhões no 4º tri
Somente nos 3 últimos meses do ano passado, a Petrobras teve prejuízo foi de R$ 36,938 bilhões, após ter registrado no 3º trimestre prejuízo de R$ 3,759 bilhões. No 1º e 2º trimestres, a companhia reportou lucros de R$ 5,33 bilhões e de R$ 531 milhões, respectivamente.
Resultados trimestrais da estatal
Valores em R$ milhões
-26.6005.330531-3.759-36.9384º tri/20141º tri/20152º tri/20153º tri/20154º tri/2015-40k-30k-20k-10k0k10k
Fonte: Petrobras
Endividamento recua no 4º trimestre
Além da queda dos preços internacionais do petróleo, o resultado financeiro da Petrobras tem sido pressionado pelo alto endividamento.
Na comparação com dezembro de 2014, o endividamento líquido aumentou 39% no final do 4° trimestre, principalmente em decorrência da desvalorização de 47% do real frente ao dólar.
A dívida líquida da Petrobras subiu em 2015 e tornou a petroleira a segunda empresa de capital aberto mais endividada da América Latina e Estados Unidos. No final de 2014, o endividamento líquido total era de R$ 282 bilhões, passando para R$ 402,3 bilhões no final de setembro passado.
No final de dezembro do ano passado, entretanto, a dívida líquida recuou para R$ 391,9 bilhões, segundo balanco divulgado nesta segunda-feira. Em dólar, o endividamento líquido recuou 5% em 1 ano, para US$ 100,379 bilhões, segundo a estatal.
"A par de um resultado contábil negativo, tivemos resultado gerencial positivo, a empresa depois de 8 anos apresentou geração de fluxo de caixa positivo. As despesas administrativas recuaram, e nós tivemos recuo na nossa dívida líquida”, destacou Bendine.
Repercussão
O resultado causou estranheza no mercado, uma vez que até o 3º trimestre a Petrobras acumulava no ano lucro de R$ 2,102 bilhões. A média das estimativas de seis analistas consultados pela Reuters apontou um lucro líquido de quase R$ 4 bilhões para o quarto trimestre.
“O que causa estranheza é toda essa correção, o impairment, ter sido deixada para ser efetivada só no último trimestre. Dá uma sensação de pedalada”, diz Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management, acrescentando que o esperado é que todo e qualquer prejuízo ou ajuste de ativos sejam feitos trimestralmente e não somente no fechamento do ano.
“O prejuízo recorde decorreu da reavaliação de bens e investimentos da Petrobras, causada principalmente pela queda nos preços do barril de petróleo no mercado internacional, o que encareceu os custos de produção e exploração de muitos projetos, tornando muitos deles inviáveis”, avalia Adriano Pires, professor da UFRJ e diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE).
Além da revisão dos ativos (impairment), a forte valorização do dólar no ano passado e as despesas maiores com juros ajudaram a piorar o resultado da estatal, além da perda do grau de investimento da companhia pelas principais agências internacionais, diz Pires.
Cortes e vendas de ativos
Para enfrentar a escalada da dívida, a estatal anunciou um plano de venda de ativos ereduziu em 24,5% o plano de investimentospara o período 2015-2019, para US$ 98,4 bilhões.
A Petrobras anunciou também um plano de desinvestimento que chega a US$ 15,1 bilhões até 2016. Em 2015, o montante levantado com vendas de ativos somou US$ 700 milhões. Entre as negociações em andamento, está a venda de campos terrestres e de fatia na Ppetrobras Argentina.
Em janeiro, a empresa anunciou um corte de pelo menos 30% do número de funções gerenciais em áreas não operacionais.
Em 2015, a estatal atingiu uma produção média de petróleo de 2,128 milhões de bpd no país, novo recorde histórico. Os cortes no orçamento, entretanto, levaram a Petrobras a reduzir sua projeção de produção para 2016 de 2,185 milhões de barris por dia para 2,145 milhões de bpd. Para 2020, a estimativa caiu de 2,8 milhões de bpd para 2,7 milhões de bpd.
Bendine afirmou durante a coletiva aos jornalistas que não haverá distribuição de dividendos (pagamento de parte dos lucros da empresa) da estatal este ano. "Nem funcionários nem diretoria farão distribuição de participação", disse.
Sob e desce das ações
As ações preferenciais da Petrobras acumularam queda de 33% no ano passado, e as ordinárias, de 10,64%. Em valor de mercado na Bovespa, a companhia encolheu R$ 26,1 bilhões, para R$ 101,3 bilhões, segundo a Economatica.
Em 2016, entretanto, os papéis da Petrobras passaram a subir forte em fevereiro e março, e acumulavam até a última sexta-feira (18) alta de mais de 21% no ano, elevando o valor de mercado para R$ 122 bilhões – ainda que bem abaixo da máxima histórica registrada em maio de 2008, quando a estatal chegou a valer na bolsa R$ 510,3 bilhões.
Perdas com corrupção
A Petrobras está no centro das investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal. Em abril de 2014, a companhia calculou em R$ 6,194 bilhões as perdas por corrupção e reduziu o valor de seus ativos em R$ 44,3 bilhões.
Evolução da dívida
Endividamento líquido, em R$ bilhões
282332,4323,9402,3391,9Em R$ bilhõesdez/2014mar/2015jun/2015set/2015dez/20150100200300400500
Petrobras
O prejuízo causado pelas irregularidades descobertas pela Lava Jato, no entanto, pode chegar à R$ 42,8 bilhões, segundo laudo de perícia anexado pela Polícia Federal (PF) em um dos processos da Lava Jato.
A estatal enfrenta um série de processos nos exterior em razão de perdas bilionárias decorrentes das investigações sobre suborno e propina envolvendo a companhia. Em fevereiro, um juiz dos Estados Unidos abriu caminho para que investidores processem a Petrobras em grupo.
No final de julho, a Petrobras conseguiu recuperar, após determinação da Justiça Federal, R$ 139 milhões desviados pelo ex-gerente da estatal Pedro José Barusco Filho e pelo ex-diretor de abastecimento Paulo Roberto Costa. Somados aos R$ 157 milhões devolvidos em maio, a petroleira já recuperou R$ 296 milhões.
Desde a primeira das 25 fases já deflagradas pela Lava Jato, já foram recuperados R$ 2,9 bilhões para os cofres públicos, segundo a força-tarefa da investigação.
Revisão de ativos
Veja abaixo a lista dos resultados do impairment de ativos da petroleira:
- Campos de produção de óleo e gás no Brasil (diversas UGCs)
2015: R$ 33,7 bilhões (Papa-Terra: R$ 8,7 bilhões).
- Comperj
2015: R$ 5,2 bilhões
- Campos de produção de óleo e gás no exterior
2015: R$ 2,4 bilhões
- Equipamentos vinculados à produção de óleo e gás e perfuração de poços
2015: R$ 1,9 bilhão
- UFN III
2015: R$ 1,9 bilhão
- Complexo Petroquímico Suape
2015: R$ 782 milhões
- UFN V
2015: R$ 585 milhões
- Usinas de Biocombustível
2015: R$ 181 milhões
- Outros
2015: R$ 730 milhões
- Total do ajuste em ativos 
2015: 47,6 bilhões
- Impairment em investimentos
2015: 2,072 bilhões
- Total do ajuste em ativos e investimentos
2015: R$ 49,748 bilhões

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