O jornal turco Zaman, crítico ao presidente Recep Tayyip Erdogan, publicou neste domingo (6) sua primeira edição desde que foi colocado sob tutela judicial, adotando uma linha editorial totalmente pró-governamental.
Na primeira página deste domingo, um artigo sobre um ambicioso projeto do governo de construção de uma ponte que unirá as partes asiática e europeia de Istambul substituiu as habituais críticas.
Também ocupava a primeira página uma foto de Erdogan dando a mão a uma idosa, e abaixo dela era anunciado que o chefe de Estado receberá mulheres na próxima semana, por ocasião do Dia da Mulher."Não temos internet e não podemos utilizar nosso sistema", disse à AFP um dos jornalistas da publicação. "A edição deste domingo não foi feita pelos funcionários do Zaman", acrescentou.
O jornal de oposição Zaman foi alvo de uma intervenção na noite de sexta-feira e foi colocado sob tutela judicial, em um novo caso de repressão na Turquia contra os meios de comunicação.
A nova administração nomeada pelas autoridades turcas demitiu o chefe de redação do grupo, Abdülhamit Bilici, segundo vários meios de comunicação.
A tomada de controle deste jornal gerou preocupação nos Estados Unidos e na União Europeia, que pediram que Ancara respeite a liberdade de imprensa.
"Não se trata de um ato político, mas jurídico. A Turquia é um Estado de Direito", declarou, no entanto, o primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu.
O grupo Zaman, também dono da agência de notícias Cihan e do jornal em inglês Today's Zaman, é conhecido por suas posições próximas ao imã Fethullah Gulen, inimigo número um de Erdogan desde a explosão de um escândalo de corrupção que atingiu as altas esferas do Estado, no fim de 2013.
O presidente turco acusa Gulen, de 74 anos, de estar por trás das acusações de corrupção que enfrentou há dois anos e de ter criado um "Estado paralelo" para derrubá-lo. Os partidários de Gulen negam as acusações.
Desde este escândalo, as autoridades turcas multiplicaram as punições, especialmente dentro da polícia e da justiça, e realizaram ações judiciais contra os partidários de Gulen e seus interesses financeiros.
E, há vários meses, tanto a oposição turca quanto ONGs de defesa dos meios de comunicação e outros países expressam sua inquietação diante da crescente repressão de Erdogan e de seu governo da imprensa.
Dois jornalistas do jornal opositor Cumhuriyet, Can Dundar e Erdem Gul, serão julgados no fim de março por terem informado sobre fornecimentos de armas de Ancara a rebeldes islamitas na Síria.
Os dois repórteres foram libertados há uma semana depois de passarem três meses na prisão, mas correm o risco de ser condenados à prisão perpétua.
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