terça-feira, 16 de maio de 2017

Reformas de Temer devem provocar “debandada” no PMDB em 2018





Política

Ônus político


por Renan Truffi — publicado 15/05/2017 15h41
Cobrados por seus eleitores, deputados peemedebistas negociam migração para legendas como PSB, PDT e PSB


Marcos Corrêa/PR
Temer e base aliada
Temer em café da manhã com a base aliada: no PMDB, muitos devem fugir


Ainda que o presidente Michel Temer ignore a baixa popularidade das reformas aprovadas no Congresso Nacional, os parlamentares do PMDB já estão sentido em suas próprias bases eleitorais os reflexos de se aprovar medidas tão impopulares. Terceirização, redução de direitos trabalhistas e reforma da Previdência têm impactado o eleitorado de deputados do partido, o que deve provocar uma debandada peemedebista em 2018.
Os placares favoráveis ao governo em pautas polêmicas escondem, na verdade, uma insatisfação que é sentida, principalmente, nos bastidores. Apesar de votarem a favor das pautas por pressão do Palácio do Planalto, muitos deputados do PMDB já negociam com líderes partidários uma eventual troca de legenda. Em condição de anonimato, alguns parlamentares estimam em 20 deputados, de um total de 64 peemedebistas, que cogitam trocar de partido.


Um dos principais focos da migração está na bancada do PMDB do Rio de Janeiro, que sofre com o ajuste fiscal de Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ) e as denúncias envolvendo outros caciques do partido no Estado. Um dos parlamentares fluminenses que admitiu à reportagem de CartaCapital a possibilidade de mudar de legenda é Celso Pansera (PMDB-RJ). “As reformas estão todas baseadas no trabalho e, como um parlamentar de centro-esquerda, eu não me sinto confortável de votar com essas propostas”, explicou.
O peso das reformas têm atingido também deputados peemedebistas do Nordeste, onde o eleitorado é mais sensível ao corte de programas sociais e à redução de direitos. Em sigilo, um parlamentar do PMDB confirma o movimento de saída de alguns colegas. “Qual o projeto do PMDB para 2018? Não tem projeto nenhum. Não vai ficar ninguém no PMDB. O partido sempre ‘vendeu’ ter grandes bancadas [para fazer parte de governos]. [Agora será] Sem projeto e sem deputado”, lamentou. 
Os deputados citam ainda, como agravante, o contingenciamento de emendas parlamentares. As emendas são usadas pelos políticos, tradicionalmente, para levarem obras para seus estados com o objetivo de mostrar serviço aos eleitores. Sem esse dinheiro, dizem, fica difícil enfrentar o ônus político trazido pelas reformas. Nos bastidores, há quem acredite, por exemplo, que votar contra a reforma da Previdência pode significar um possível “perdão do eleitorado” para os deputados que apoiaram o impeachment da ex-presidenta Dilma anteriormente.
Desde que o clima de debandada se instalou, os deputados da ala ‘centro-esquerda’ do PMDB têm negociado migração, principalmente, com lideranças de partidos como PSB e PDT, legendas consideras mais à esquerda no espectro político. O presidente do Partido Socialista Brasileiro, Carlos Siqueira, revelou que já foi procurado diretamente por três deputados nos últimos meses.
“Realmente essa conversa teve. Teve gente que já me procurou”, disse antes de ponderar sobre perfil dos interessados. “Eu preciso ver, o PMDB é uma salada. Precisam ser pessoas de centro-esquerda, no mínimo. No caso das pessoas de direita, é melhor ficar onde estão. Não temos o menor interesse em gente conservadora no nosso partido”, refutou.
Há um movimento de migração também entre deputados de centro-direita do PMDB, mas em menor escala. Quando questionados sobre os prováveis destinos, os deputados mencionam o PSD, do ministro Gilberto Kassab.
O deputado João Arruda, do PMDB do Paraná, é outro o que teve seu nome envolvido em conversas. Em seu estado, o partido rivaliza com o PSDB, sendo que os tucanos são os maiores aliados do governo no plano federal.
“O governo não está conseguindo convencer a base aliada de que essas reformas trarão mais benefícios do que prejuízos para o País. O governo não está conseguido dialogar com a base e com as pessoas que querem pensar o Brasil”, reclamou à reportagem de CartaCapital. “E isso [convencer] não significa oferecer um cargo, uma emenda, um benefício para o parlamentar. Significa ter embasamento técnico [nas propostas].”
A manobra de Jucá
Para tentar conter essa onda de saída do partido, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), já deu início a uma operação política. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, a legenda encaminhou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma consulta sobre a possibilidade da troca partidária ser considerada “fraude” quando se trata de "explícita finalidade eleitoral". O período de trocas está previsto para março do ano que vem.
Ainda de acordo com o jornal, o questionamento de Jucá foi feito após um “embate entre o presidente da sigla [o próprio Romero Jucá] e um grupo de deputados, que ameaçou deixar o PMDB durante a janela caso a Executiva não reservasse parte do fundo partidário para financiá-los em 2018.”

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