Marqueteira contou que criou conta de e-mail fictícia para que a então presidente a avisasse sobre avanços da Operação Lava Jato; Dilma diz que informações são falsas.
Documento registrado em cartório reproduz mensagem que teria Dilma como destinatária em conta de e-mail (Foto: Reprodução/PGR)
A marqueteira Mônica Moura entregou ao Ministério Público Federal a reprodução de uma mensagem trocada no e-mail que ela disse ter usado para se comunicar com a ex-presidente Dilma Rousseff.
Segundo ela, a conta de e-mail foi criada para que a ex-presidente pudesse avisar com antecedência sobre avanços da Operação Lava Jato. Mônica afirma que tanto ela quanto Dilma tinham acesso à conta.
A mensagem, que foi registrada em cartório pela empresária, diz o seguinte: "Vamos visitar nosso amigo querido amanhã. Espero não ter nenhum espetáculo nos esperando. Acho que pode nos ajudar nisso, né?".
Mônica explicou no depoimento que enviou essa mensagem a Dilma para avisar que a mensagem foi escrita por ela quando deixou a República Dominicana para se entregar à Polícia Federal no Brasil.
Em nota, Dilma Rousseff afirmou que afirmações das delações do casal são "mentirosas" (leia a íntegra da nota ao final desta reportagem).
A conta de e-mail, segundo a delatora, foi criada durante um encontro entre as duas no Palácio da Alvorada. Além das duas, Mônica Moura diz que também estava presente na sala o então assessor especial da presidente Giles Azevedo.
O encontro foi um "chamado urgente" da presidente, segundo o marido de Mônica Moura, o marqueteiro João Santana. Diante da convocação, a marqueteira, que estava de férias, fez um voo bate-volta dos Estados Unidos ao Brasil para se reunir com a petista na residência oficial da Presidência.
A marqueteira conta no depoimento que Dilma estava preocupada com os avanços da Lava Jato, principalmente após os investigadores terem descoberto contas no exterior do então presidente da Câmara, o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A publicitária afirmou que, na conversa, a petista estava preocupada que as investigações da Lava Jato chegassem às contas dos dois marqueteiros no exterior, o que colocaria Dilma "em perigo".
Conforme Mônica, a ex-presidente sabia que a Odebrecht tinha feito pagamentos da campanha presidencial do PT por meio de "depósitos de propinas na conta do casal".
Diante disso, a delatora conta que decidiu criar uma conta de e-mail para que Dilma a atualizasse sobre avanços da operação. A marqueteira disse que a presidente era atualizada sobre a Lava Jato pelo então ministo da Justiça José Eduardo Cardozo.
Mônica Moura afirma que as mensagens que as duas trocadas não eram enviadas. Para se comunicar, contou Mônica, elas combinaram de redigir mensagens no rascunho para que as mensagens não circulassem.
"Eu mandava a resposta e ela apagava também. Esse era o trato. Era pra estar no rascunho, não mandar e apagar assim que lesse. Assim que era seguro, entendeu?", relatou Mônica no depoimento.
Segundo a delatora, as mensagens eram cifradas, para que apenas as duas entendessem o contexto. Ela afirma que se referia ao marido como "amigo" e que, em algumas oportunidades, enviou mensagens a Dilma para saber a situação da investigação.
"Às vezes eu mandava e-mail perguntando: tem alguma novidade? Eu falava tipo assim: 'nosso amigo está doente? Como que está ele? Tem alguma novidade sobre ele?'. Que era a dica pra ela me dar, se alguma coisa avançou. A essa altura, nós começamos a aparecer bastante no jornal, eu e o João, começava a pipocar coisa", relatou.
Ela afirma então que, no dia 19 de fevereiro de 2016, recebeu uma mensagem "preocupante" de Dilma que, segundo a marqueteira, era um "aviso" de que a situação do casal estava "complicada".
A mensagem dizia: "O seu grande amigo está muito doente, os médicos consideram que o risco é máximo e o pior, a esposa dele, que sempre tratou dele, agora também está doente. Com o mesmo risco, os médicos acompanham dia e noite."
Segundo Mônica Moura, o "médico" era José Eduardo Cardozo, que teria atualizado a presidente sobre a situação dos empresários. "Aí eu recebi essa notícia, aí eu desesperei", diz Mônica.
Leia a íntegra da nota divulgada pela assessoria de Dilma sobre as delações do casal de marqueteiros:
As mentirosas afirmações de João Santana e Monica Moura
12 DE MAIO DE 2017
A respeito das delações feitas por João Santana e Monica Moura, a Assessoria de Imprensa da ex-presidenta Dilma Rousseff esclarece:
1. Mais uma vez delatores presos, buscando conseguir sua liberdade e a redução de pena, constroem versões falsas e fantasiosas.
2. A presidenta eleita Dilma Rousseff nunca negociou doações eleitorais ou ordenou quaisquer pagamentos ilegais a prestadores de serviços em suas campanhas, ou fora delas. Suas determinações sempre foram claras para que a lei seja sempre rigorosamente respeitada. Todos aqueles que trabalharam, ou conviveram com ela, sabem disso.
3. São mentirosas e descabidas as narrativas dos delatores sobre supostos diálogos acerca dos pagamentos de serviços de marketing. Dilma Rousseff jamais conversou com João Santana ou Monica Moura a respeito de caixa dois ou pagamentos no exterior. Tampouco tratou com quaisquer doadores ou prestadores de serviços de suas campanhas sobre tal assunto.
4. É fantasiosa a versão de que a presidenta eleita informava delatores sobre o andamento da Lava Jato. Essa tese não tem a menor plausibilidade. Dilma Rousseff jamais recebeu de quem quer que seja dados sigilosos sobre investigações. Todas as informações prestadas pelo Ministério da Justiça ocorreram na forma da lei. Tal suspeita é infundada e leviana.
5. Causa ainda mais espanto a versão de que por meio de uma suposta “mensagem enigmática” (estranhamente copiada em um computador pessoal), conforme a fantasia dos delatores, a presidenta tivesse tentado “avisá-los” de uma possível prisão. Tal versão é patética. Naquela ocasião, já era notório, a partir de informações divulgadas pela imprensa, que isso poderia ocorrer a qualquer momento.
6. Mais inverossímil ainda é a afirmação de que Dilma Rousseff teria recomendado que os delatores ficassem no exterior, uma vez que todos sabem que mandados de prisão expedidos no Brasil podem rapidamente ser cumpridos em países estrangeiros.
7. É risível imaginar que a presidenta da República recebeu informações de forma privilegiada e ilegal ao longo da Lava Jato. Isso seria presumir que a Polícia Federal, o Ministério Público ou o próprio Judiciário, por serem os detentores e guardiões dessas informações, teriam descumprido seus deveres legais.
8. O governo Dilma Rousseff sempre foi acusado, por diferentes segmentos políticos, de deixar as investigações prosseguirem de forma autônoma, “descontroladas”, não buscando interferir ou obter previamente informações a respeito. E, espantosamente, as acusações agora vão em sentido contrário. É preciso lembrar as declarações do senador Romero Jucá, de que era preciso tirar a presidenta para “estancar a sangria”, “num amplo acordo com Supremo”, “com tudo”.
9. No TSE, foi possível comprovar, nas alegações finais entregues no início desta semana, que tanto João Santana quanto Monica Moura prestaram falso testemunho perante a Justiça. A defesa já pediu investigação e a suspensão dos efeitos da delação premiada, tendo em vista que ambos faltaram com a verdade. As provas estão contidas nos autos do processo no TSE.
10. Dilma Rousseff acredita que, ao final de mais uma etapa desse processo político, como já provado anteriormente em relação a outras mentiras em delações premiadas, a verdade virá à tona e será restabelecida na Justiça.
ASSESSORIA DE IMPRENSA
DILMA ROUSSEFF
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