Segundo marqueteira, pagamento em dinheiro vivo foi feito na chancelaria venezuelana; Maduro exigiu que pagamentos a ela fossem via caixa 2, disse
A marqueteira Mônica Moura afirmou em um anexo de delação premiada que o atual presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, pagou "por fora" US$ 11 milhões pela campanha do então presidente Hugo Chávez à reeleição, em 2012. Em valores atuais, a quantia equivale a aproximadamente R$ 34,4 milhões.
Nesta quinta-feira, o ministro Edson Facchin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, determinou a retirada do sigilo das delações premiadas do casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura. Os dois são investigados por indícios de terem recebido dinheiro de caixa 2 por trabalhos em campanhas eleitorais. O ministro também retirou o sigilo da delação de André Luis Reis Santana, funcionário do casal.
Ela disse ainda que Maduro ainda teria de pagar outros US$ 15 milhões a ela pela campanha, mas que esse valor nunca foi pago. A marqueteira afirmou que, além desse valor, recebei outros US$ 9 milhões de empreiteiras para realizar a campanha de Chávez.
Segundo o anexo, além do pagamento em espécie, Nicolás Maduro, que à época era chanceler, exigiu que a empresa dela recebesse "quase todo os valores" pagos pela campanha via caixa 2.
Em um dos trechos, a marqueteira informa que “parte desse valor não contabilizado foi pago em espécie, entregue em Caracas diretamente a Mônica Moura pelo então chanceler Nicolas Maduro, na própria sede da chancelaria.”
“Em Caracas, Mônica Moura recebeu em espécie na própria sede da chancelaria US$ 11 milhões de Nicolas Maduro, e restou uma dívida de US$ 15 milhões nunca saldada”, diz outro trecho da delação.
“Maduro recebia Mônica em seu próprio gabinete, entregava-se pastas com dinheiro e providenciava escolta para lhe dar segurança no percurso da chancelaria à produtora”, completa.
A marqueteira afirma ainda que a maior parte dos pagamentos foi paga pelas empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez.
“A empresa Odebrecht arcou com cerca de US$ 7 milhões, valor referente ao trabalho executado pela Polis Caribe, e a Andrade Gutierrez pagou US$ 2 milhões, através de depósito na Suíça, na conta Shelbill, referente ao valor do projeto político da campanha cobrada por João Santana, como pessoa física", diz trecho do termo de declaração de Mônica Moura.
Os repasses das empreiteiras são investigados pela Operação Lava Jato devido às suspeitas de que esses valores foram desviados da Petrobras.
Procurada pelo G1, a assessoria de imprensa da Andrade Gutierrez divulgou a seguinte nota: “A Andrade Gutierrez informa que segue colaborando com as investigações em curso dentro do acordo de leniência firmado pela empresa com o Ministério Público Federal e reforça seu compromisso público de esclarecer e corrigir todos os fatos irregulares ocorridos no passado.”
A assessoria da Odebrecht divulgou a seguinte nota: “A Odebrecht está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua. Já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um Acordo de Leniência com as autoridades do Brasil, Estados Unidos, Suíça e República Dominicana, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas.”
Ex-ministros
No mesmo depoimento, Mônica Moura cita os ex-ministros José Dirceu (Casa Civil) e Franklin Martins (Secretaria de Comunicação Social), ambos do governo Luiz Inácio Lula da Silva, como partes importantes na campanha de Hugo Chávez à reeleição.
Segundo a marqueteira, Dirceu foi o “elo de ligação” entre a empresa dos Santana, a Polis, e a campanha do então presidente venezuelano. Ela afirma que ele atuou na campanha a pedido do então embaixador da Venezuela no Brasil Maximiliano Arvelarz.
No depoimento, Mônica Moura diz que Arvelarz foi o “principal articulador e fiador da campanha de Hugo Chávez em 2012", porque tinha “excelente trânsito” entre dirigentes de grandes empresas brasileiras e a cúpula do PT.
Entre as empresas próximas dele, segundo a marqueteita, estava a Andrade Gutierrez que “disponibilizava jatinhos para viagens". “Em pelo menos três voos, viajavam juntos João Santana, Mônica Moura, Franklin Martins e José Dirceu no trecho São Paulo-Caracas", diz a delação. A empreiteira também teria pago despesas de hotel em Caracas para eles.
Procurado pelo G1, Roberto Podval, advogado de José Dirceu, afirmou que ainda não teve contato com o conteúdo das delações e que só irá se posicionar depois de escutar todas as delações e conversar com seu cliente.
Ainda de acordo com a delação, Franklin Martins foi contratado pelo partido venezuelano para a "elaboração da parte de internet da campanha".
O pagamento ao ex-ministro, segundo a marqueteira, também foi feito via caixa 2. A delação diz ainda que parte do dinheiro vivo recebido por Mônica Moura era repassado a Mônica Monteiro, mulher de Franklin Martins.
"Importante frisar, que Franklin e sua equipe foram contratados pelo partido venezuelano, também sem contrato formal, igualmente sem vínculo com a Pólis. Nicolás Maduro era sempre muito desconfiado, não queria entregar dinheiro em espécie para mais de uma pessoa, pelo risco da negociação. Por isso, entregava todo valor a Mônica Moura, que repassava para a mulher do Franklin Martins", diz a delação.
O G1 tenta contato com a defesa de Franklin Martins e Mônica Monteiro.
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