Deflagrada nesta terça-feira (15), ação investiga uma "complexa e organizada estrutura" destinada à lavagem de recursos provenientes do tráfico internacional de entorpecentes, conforme a Polícia Federal (PF).
Por Ederson Hising, Thais Kaniak e José Vianna, RPC Curitiba e G1 PR
O juiz Nivaldo Brunoni, da 23ª Vara da Justiça Federal em Curitiba, determinou o bloqueio de até R$ 100 milhões de sete investigados que tiveram a prisão decretada na Operação Efeito Dominó, nesta terça-feira (15), entre eles Carlos Alexandre de Souza Rocha, conhecido como Ceará, delator da Lava Jato.
A quantia determinada no bloqueio é para cada um dos investigados.Veja, abaixo, a lista.
A ação, cumprida em sete estados, é um desdobramento da Operação Spectrum, deflagrada em 2017. Na ocasião, Luiz Carlos da Rocha – o Cabeça Branca, um dos maiores traficantes da América do Sul, segundo a Polícia Federal (PF) – foi preso em Sorriso (MT).
O juiz também autorizou o bloqueio e a busca e apreensão de 16 veículos e equipamentos dos investigados. Além disso, houve a determinação de sequestro e indisponibilidade de três bens imóveis, sendo dois apartamentos e uma fazenda.
Na decisão, Brunoni afirma que "indícios colhidos até o momento indicam que os investigados não possuem renda lícita compatível com o padrão social que usufruem".
"Há fortes indícios de que a intensa movimentação financeira e o patrimônio que ostentam estejam relacionados com recursos advindos de atividades ilícitas relacionadas à lavagem de dinheiro dos recursos provenientes do tráfico internacional de drogas promovido pela organização criminosa liderada por Luiz Carlos da Rocha [o Cabeça Branca]", diz o juiz.
Investigados com bloqueios determinados:
- Carlos Alexandre de Souza Rocha (o Ceará);
- Edmundo Gurgel Junior;
- Ivo Queiroz Costa Filho;
- Leonir Vettori;
- Hamilton Brandão Lima;
- Pedro Araújo Mendes Lima;
- Geraldo Ferreira Filho.
Eles tiveram as prisões decretadas pela Justiça nesta terça. Dos oito mandados de prisão expedidos, não houve determinação de bloqueios apenas para o investigado José Maria Gomes, preso temporariamente.
Conforme a PF, até as 22h50 desta terça, estava prevista a chegada a Curitiba de seis investigados. Eles serão encaminhados para a Superintendência da PF. Hamilton e Pedro Araújo têm as chegadas programadas para a manhã de quarta-feira (16).
O G1 tenta contato com as defesas dos investigados.
Investigação
De acordo com a PF, a investigação policial apontou uma "complexa e organizada estrutura" destinada à lavagem de recursos provenientes do tráfico internacional de entorpecentes.
O delegado da PF Roberto Biasoli afirmou que as pessoas presas nesta terça-feira formam o "núcleo principal" da organização ligada ao Cabeça Branca.
"Só pelo que nós conseguimos levantar com o material apreendido, do ano de 2014 a 2017, teriam sido negociadas 27 toneladas de cocaína, isso com um lucro de aproximadamente US$ 140 milhões", disse o delegado.
Biasoli explicou que quase todos os presos tinham acesso ao Cabeça Branca, e que o contato com ele era restrito. Os presos, segundo Biasoli, são doleiros e lavadores de dinheiro.
Conforme o delegado, Ceará e Cabeça Branca passaram a atuar juntos a partir de 2016. Antes, em 2013, Ceará já trabalhava para traficantes, ainda de acordo com o delegado.
Estratégia
A estratégia da operação, conforme a PF, é baseda na ligação de interesses das atividades ilícitas dos "clientes dos doleiros" investigados. Biasoli citou que traficantes estão entre esses "clientes".
De um lado, havia a necessidade de disponibilidade de grande volume de reais em espécie para o pagamento de propinas, segundo a PF.
Do outro, de acordo com a PF, traficantes internacionais – como Cabeça Branca – tinham disponibilidade de recursos em moeda nacional e necessitavam de dólares para fazer as transações internacionais com fornecedores de cocaína.
Biasoli esclareceu que a troca de dólares era realizada de várias formas, sendo o dólar-cabo, que são transferências internacionais ilegais, uma delas.
Também havia lavagem de dinheiro, segundo o delegado, usando fazendas e outros bens em nome de laranjas, além do envio de dinheiro vivo para o Paraguai em carros com fundos falsos.
"A gente tem indícios de um link direto do dinheiro do narcotráfico indo parar na mão de políticos corruptos (...) Eles não estão interessados em saber a origem, eles querem receber. E esse cara que lidava com o dinheiro de narcotraficantes também entregava propina a corruptos", afirmou Biasoli.
Mandados judiciais
Ao todo, são 26 mandados judiciais expedidos pela 23ª Vara Federal de Curitiba. Há 18 de busca e apreensão, cinco de prisão preventiva e três de prisão temporária.
Os mandados foram cumpridos no Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará, Paraíba, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal e em São Paulo.
Biasoli relatou que foram apreendidos documentos, uma arma de calibre restrito e dinheiro. Entretanto, até o começo da tarde, não havia um balanço fechado do material apreendido na operação.
A polícia ainda está mapeando o caminho do dinheiro da organização criminosa.
Crimes de lavagem de dinheiro, contra o Sistema Financeiro Nacional, organização criminosa e associação para o tráfico internacional de entorpecentes são apurados pela Efeito Dominó.
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Por Aguiasemrumo: Romulo Sanches de Oliveira
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