'Perua roubada', mea culpa, eleições 2018, Dilma, Temer, Haddad, Sergio Moro, chances de Bolsonaro e Doria e outras pautas. Confira a entrevista do ex-presidente Lula aos jornalistas José Trajano, Juca Kfouri e Antero Greco
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi entrevistado nesta quinta-feira (20) pelos veteranos jornalistas José Trajano, Juca Kfouri e Antero Greco. A entrevista foi transmitida ao vivo, no canal do Trajano no Youtube.
Lula comentou as decisões recentes do juiz Sérgio Moro, sua condenação e o despacho em que o magistrado sequestra seus bens e bloqueia suas contas bancárias. “Eu estou como o técnico do Corinthians, cada jogo é um jogo. Em algum momento vai se fazer justiça”, disse. “Acharam (conta no exterior) do Serra, do Aécio. Por que não acharam a minha? Eles não estão julgando o Lula, estão julgando um jeito de governar.”
Segundo Lula, a Lava Jato “montou um esquema de comunicação que nem partido político tem”. “Tudo tem que sair no jornal. Juiz não tem que se preocupar com a opinião pública.” A operação está “levando o país à destruição”, disse. E ele mesmo, pontuou, é vítima de uma perseguição diária. “Nem o velho Prestes sofreu o massacre que sofro todo santo dia.”
Ele mencionou o empresário Léo Pinheiro, da OAS, como personagem do qual a força tarefa da Lava Jato tentou de todas as formas obter informações que pudessem incriminá-lo, sem sucesso. “Ele está há dois anos preso. E não tem nada a falar do Lula. O que eles conseguiram? (Que ele dissesse) ‘o Lula sabia’.”
Eleições de 2018
Questionado sobre eventual candidato para ocupar seu lugar na disputa caso não participe da eleição de 2018, afirmou que poderia ser um dos governadores do PT ou mesmo Fernando Haddad. “Haddad pode ser uma personalidade importante, mas tem que percorrer o Brasil.” O PT hoje governa Minas Gerais (Fernando Pimentel), Bahia (Rui Costa), Ceará (Camilo Santana), Piauí (Wellington Dias) e Acre (Tião Viana).
Ainda sobre 2018, afirmou que gostaria que houvesse “uma penca de gente nova”, como alternativas eleitorais, e que Haddad poderia ser “um grande candidato” se tivesse sido reeleito. “Liderança política não se faz da noite para o dia. Para chegar à presidência precisa de um cara que tenha base, que (tenha gente que) defenda ele no bar.”
Ao analisar seus possíveis adversários, Lula disse que “Bolsonaro não disputa e, se disputar, não tem chance. Doria tem que provar, por enquanto não é nada. É só o João trabalhador que não trabalha. Governe São Paulo”, disse. “Pode ser o Alckmin ou podem tentar inventar alguém, não sei quem”.
Lula lembrou ainda que a sua disputa pela presidência contra o tucano José Serra, em 2002, “foi civilizada”. “Já com o Alckmin não foi. Parece que ele mamou até os 14 anos, empinou pipa na frente do ventilador. Fica bravo”, relatou, sobre o governador paulista.
Dilma, PT e mea culpa
O ex-presidente foi questionado sobre se, hoje, considera um erro não ter sido candidato à presidência da República em 2014, no lugar de Dilma Rousseff, e quais erros o PT e a ex-presidenta cometeram. Para ele, Dilma errou politicamente ao não privilegiar o diálogo. “A política não estava no cotidiano dela. Às vezes eu acho que ela achava que era perder tempo uma conversa. Mas se o cara foi eleito deputado, ele tem importância. Dilma tinha dificuldade na relação política”, disse.
Na condução da política econômica no segundo mandato de Dilma, Lula avalia que “faltou compreensão de que tinha que parar de desonerar”. Disse ainda que era preciso trabalhar com a arrecadação de maneira que esta “permitisse que o Estado continuasse a fazer as coisas em grau menor”. Eu pegaria 100 bi (das reservas internacionais) e faria investimento em infraestrutura. O pessoal quis cortar aqui e ali, cortar até aposentadoria do pescador.”
Reformas e FHC
O ex-presidente foi questionado sobre por que, quando tinha mais de 80% de aprovação quando governou, não promoveu reformas estruturais como a tributária e política. “É muito difícil, porque quem é eleito não quer mudar (o sistema político). Quem tem que fazer a reforma politica são os partidos através dos seus deputados.” Ele observou que não acredita que a atual proposta de reforma, relatada pelo deputado Vicente Candido (PT-SP), será aprovada. “Vai terminar o prazo e não vai fazer.”
Sobre a reforma tributária, apontou dificuldades políticas que impediram o andamento de suas propostas. “Fiz dois projetos de reforma tributária. Fiz acordo com governadores, partidos, sindicatos, mandei ao Congresso na perspectiva que fosse aprovada por unanimidade. Mas o Arlindo (Chinaglia) deu na mão do Sandro Mabel (então no PR de Goiás), que foi relator. O primeiro a se rebelar foi Serra, que não aceitava conversar com Mabel”, contou. “A reforma tributária tem que ser feita ponto a ponto, e não num pacote como tentei. Tem que levar em conta que o pobre não pode pagar mais imposto do que o rico.”
Questionado se não faltou diálogo entre ele e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para evitar o atual clima de tensão entre petistas e anti-petistas hoje no País, Lula lembrou de sua relação sempre civilizada com o tucano. Mas fez a seguinte análise: “Eu acho que o Fernando Henrique Cardoso, como um intelectual, não soube digerir o meu sucesso”.
Sergio Moro e a perua velha
A respeito do sequestro dos seus bens por Sergio Moro, Lula ironizou o fato de o juiz ter negado o sequestro de uma perua de sua propriedade por ela ser antiga. “O juiz Moro, ele foi condescendente comigo, ele deixou uma perua F1000 de 1984, que foi roubada em 2002”
Sobre a perua, Moro disse que o veículo não tem “valor representativo”. Lula, porém, disse que agora torce para que a encontrem. “Deus queira que eles achem ela e me devolvam para eu poder curtir a minha perua”, disse, lembrando um fato inusitado: “Você sabe que roubaram ela no dia em que eu deixei de fazer o seguro. Eu não quis fazer seguro porque ela já estava velha”.
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