sexta-feira, 6 de novembro de 2015

'Guerra' de páginas reacende debate sobre como Facebook escolhe o que sai do ar; entenda Camilla Costa - @_camillacosta Da BBC Brasil em São Paulo

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Image captionDesativação de páginas como a da vlogueira Jout Jout causou indignação em fãs; Facebook pediu desculpas
Uma nova polêmica sobre a remoção de páginas populares no Facebook nesta semana reacendeu o debate sobre como a empresa avalia o conteúdo denunciado na rede social.
O estopim da controvérsia foi a desativação, no dia 1º de novembro, da página "Orgulho de ser hétero" – que reunia cerca de 2 milhões de pessoas. A decisão foi comemorada em páginas e comunidades de ativismo feminista e LGBT, que frequentemente a denunciavam pelo que dizem ser discurso de ódio.
A partir daí, frequentadores da "Orgulho de ser hétero" teriam se organizado para orquestrar a remoção de páginas ligadas a estes grupos. Mensagens nas novas versões da página pediam apoio para coordenar denúncias a algumas delas.
No mesmo dia, páginas como "Feminismo sem demagogia", "Cartazes e tirinhas LGBT" e "Moça, você é machista" também saíram do ar, assim como a da vlogueira Júlia Tolezano, a Jout Jout, cujos vídeos sobre assédio contra mulheres fazem sucesso nas redes sociais brasileiras.
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A desativação da página de Jout Jout causou indignação dos fãs e chamou a atenção da mídia. A prefeitura de Niterói, cidade natal da vlogueira, chegou a se manifestar em seu perfil oficial na rede.
Na noite de quarta-feira, a página de Tolezano voltou ao ar, mas, até o fechamento desta reportagem, nenhuma das outras havia sido restaurada – algumas delas, entretanto, já têm novas versões.
Foto: Reprodução FacebookImage copyrightReproducao Facebook
Image captionJout Jout falou em "suposta guerra de páginas" ao ter sua página restaurada pelo Facebook
Procurado pela BBC Brasil, o Facebook não confirmou se havia conexão entre a desativação das páginas e a suposta ação organizada de ativistas de ambos os lados.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a empresa afirmou que houve "erro de avaliação” na decisão de remover a página de Juliana Tolezano.
"Após tomarmos conhecimento de algumas situações envolvendo páginas na plataforma, fizemos uma revisão detalhada e detectamos que a página da Jout Jout Prazer foi removida por um erro de avaliação de uma denúncia. A página já foi restaurada e nos desculpamos pelas inconveniências causadas.”
Em outubro, a BBC Brasil conversou com a representante de políticas de produto do Facebook, a advogada Monica Bickert, a respeito do funcionamento e das polêmicas que cercam a retirada de conteúdo do ar.
Bickert será a representante da empresa no festival americano de cultura e tecnologia South By Southwest, um dos mais importantes do mundo, em um painel que tratará de assédio online.
Durante a conversa, ela disse que a "informação limitada” sobre o contexto de publicações denunciadas é um desafio da empresa e admitiu que nem sempre os revisores de conteúdos do Brasil são brasileiros ou falam português.
No entanto, Bickert afirmou também que o Facebook tenta direcionar conteúdo a revisores que dominem o idioma quando necessário e compartilhar informações que podem ajudar a contextualizá-lo.
Confira abaixo algumas das explicações de Bickert sobre como o Facebook decide o que deve sair do ar:

A necessidade de denunciar

"Qualquer conteúdo no Facebook pode ser denunciado. Isso inclui perfis, páginas, grupos, posts, comentários em posts, fotos, vídeos, qualquer coisa. O mais comum é ir para o canto superior direito do conteúdo, clicar em 'denunciar' e responder algumas perguntas, e isso chega à nossa equipe.
Foto: Divulgação Facebook
Image captionMonica Bickert, representante de políticas de produto do Facebook, admitiu que ajudar revisores a entender contexto de publicações é "parte difícil" do trabalho
Quero enfatizar que dependemos muito de as pessoas denunciarem as coisas para nós. Isso nos ajuda a garantir que as coisas que estão sendo denunciadas realmente estão tendo um impacto negativo na comunidade. Não saímos por aí removendo conteúdo. As pessoas reclamam para nós e aí revisamos.
Temos sistemas de segurança para detectar determinadas coisas como spam e imagens de pornografia infantil, então nem tudo necessariamente precisa ser denunciado para ser visto. Mas discurso de ódio e assédio precisam ser denunciados. Não estamos ativamente buscando por isso."

Basta uma vez

"Quero derrubar o mito de que é preciso denunciar uma página muitas vezes para derrubá-la. Basta uma denúncia.
Se alguém denuncia algum tipo de conteúdo, isso vem para nós e ele é revisado. Se alguém denuncia de novo, ele é revisado de novo, mas segundo os mesmos padrões. Denunciar algo 200 vezes não muda a decisão que foi tomada.
Temos automação para fazer a triagem das denúncias para revisão. Às vezes mais de dez pessoas denunciam um tipo de conteúdo. Em vez de colocar 10 revisores para olhar aquele conteúdo logo, nós consolidamos as denúncias com um processo automático de triagem.
Mas, na maior parte das vezes, as denúncias estão sendo revisadas por pessoas reais: discurso de ódio, ameaça de violência, automutilação. Os revisores cometerão erros, mas são pessoas de verdade."

Quem avalia o conteúdo? E como?

"Há uma mistura de empregados do Facebook e terceiros contratados para fazer triagem de denúncias e revisões iniciais.
Nossa equipe de revisores é bastante internacional. Eles falam diversas dezenas de línguas, incluindo português brasileiro. Também temos essa equipe espalhada para garantir que o conteúdo seja revisado sete dias por semana, 24 horas por dia.
Não é um sistema perfeito, mas tentamos que, para cada conteúdo denunciado em cada língua, tenhamos alguém com a experiência apropriada para revisá-lo imediatamente.
A principal maneira pela qual garantimos que as decisões dos revisores sejam consistentes é dando a eles instruções concretas. Se temos a denúncia de uma ameaça de violência, damos instruções sobre como eles podem avaliar a credibilidade daquele discurso. Há algo na linguagem que nos faz acreditar que isso é algo que pode realmente levar a um ato de violência contra essa pessoa?
Porque claro, as pessoas usam palavras violentas o tempo todo, mas não queremos interferir com discurso que é de humor, satírico ou político, mas que não é uma ameaça séria.
Foto: Reprodução FacebookImage copyrightReproducao Facebook
Image captionNova versão da página "Orgulho de ser hétero” tentava coordenar denúncias a páginas "inimigas" no site
Os revisores não têm liberdade para impor suas próprias opiniões na avaliação, precisam seguir as instruções que damos a eles. Semanalmente revisamos novamente parte do conteúdo que eles revisaram e vemos como as decisões foram tomadas.
Então se nós cometemos um erro, tentamos consertar este erro. E recebemos milhões de denúncias. Neste volume, erros acontecem todas as semanas. Parte do processo é fazer auditorias e mostrar aos revisores onde o erro foi cometido."

O 'ponto cego' das denúncias

"Se alguém denuncia uma página para nós, o revisor vai olhar se esta página, como um todo, viola nossos padrões.
Ele vai analisar coisas como o nome da página, a imagem no topo da página, a seção 'sobre' e parte do conteúdo da página. No entanto, algumas páginas têm 300 novas publicações por dia. O revisor analisará um número bem limitado desse conteúdo.
Se nessa página há uma publicação que viola nossos padrões e alguém denuncia a página, mas não esta publicação específica, pode ser que nosso revisor não a veja. Da mesma forma, se uma publicação é denunciada, o revisor pode avaliá-la e removê-la, mas pode não ver o contexto mais amplo da página, que também pode violar os padrões."

O dilema do contexto

"Para nossos revisores (o contexto) é um desafio, muitas vezes. Eles estão diante de um computador vendo uma imagem, mas não sabem quem são essas pessoas na vida real, não sabem o que está acontecendo, então têm que fazer um julgamento com base em contexto muito limitado.
Outra coisa que podem fazer é pedir que alguém da empresa dê uma olhada no conteúdo de vez em quando. Isso acontece. Eu mesma já fiz isso. Tentamos tomar a melhor decisão que podemos.
Quando os revisores veem uma imagem de nudez de uma pessoa real, por exemplo, eles sabem que não permitimos fotos de genitais e, em alguns casos, não permitimos fotos de mulheres de topless. Fotos de amamentação e do corpo pós-cirurgia são permitidas, mas topless em geral não é permitido.
Parte da razão para isso é que precisamos ter certeza que imagens como esta estão sendo compartilhadas com o consentimento de quem aparece nelas, garantir que não é 'pornografia de vingança'. Erramos para o lado da segurança. Os revisores não conseguem, necessariamente, saber o contexto em que as fotos estão.
Há momentos em diferentes países em que as discussões podem ficar agressivas e começamos a ver mais coisas como discurso de ódio e bullying de indivíduos. Se sabemos de algo que pode ser um problema em algum país, tentamos garantir que nossos revisores estejam cientes disso. Isso não muda os padrões que aplicamos, mas é útil ter esta informação.
Mantemos os revisores informados sobre algumas das palavras que estão sendo usadas em discursos de ódio no Brasil, por exemplo, e sobre quais são algumas das tendências de como as pessoas podem atacar grupos ou indivíduos. Quando o idioma é um problema, direcionamos o conteúdo para funcionários que falam a língua."
Foto: Facebook
Image captionPáginas feministas e LGBTs no Facebook brasileiro também foram desativadas no dia 1º de novembro

Discurso de ódio x liberdade de expressão

"Estamos constantemente buscando novas formas de refinar nossas políticas e ver se há maneiras de permitir mais liberdade de expressão enquanto garantimos que as pessoas estão seguras, mas isso é um dos desafios que enfrentamos.
Um exemplo é o discurso de ódio. Não há uma única definição disso no mundo, então não podemos simplesmente dizer a nossos revisores: 'se for discurso de ódio, removam'. Decidimos focar nossa definição de discurso de ódio no ataque a uma pessoa ou grupo de pessoas.
A orientação que damos a eles é: se for um ataque direito a pessoas, baseado em característica como raça, religião, nacionalidade, identidade de gênero, nós removeremos. Mas se é uma crítica a um país ou instituição, por exemplo, deixamos essa crítica como parte do debate público.
Se há um ataque a uma pessoa ou grupo de pessoas por causa de sua orientação sexual, por exemplo, não importa quem diz, nem se é um político. Se alguém ataca diretamente pessoas por ser gay, diz que são 'pessoas ruins' ou coisas do tipo isso viola nossas políticas e pode ser removido.
Mas se alguém critica um político por seus posicionamentos sobre um assunto no Congresso, ou estão criticando uma instituição, como um grupo LGBT, permitimos esse tipo de discurso.
Garantir que as pessoas saibam que estão seguras e não sofrerão ataques no Facebook é uma parte importante de dar voz a quem poderia se sentir silenciado e impedido de participar de uma discussão."

Assédio

"Temos uma política contra assédio online que inclui, entre outros comportamentos, tentativas repetidas de deixar alguém desconfortável ou de assediar alguém.
Analisamos coisas como: quem está por trás da conta? Se é alguém que tem um registro de múltiplas instâncias de discurso de ódio, em determinado momento haverá consequências sérias. Pelo menos serão proibidos de postar por algum tempo.
Também olhamos para coisas como a autenticidade das contas, se elas são verdadeiras, se foram criadas diversas contas falsas para coordenar algum mau comportamento. Às vezes conseguimos detectar isso. Por isso exigimos que as pessoas usem suas identidades verdadeiras no site. Dá trabalho pôr isso em prática, mas estamos tentando acertar.
Se alguém é denunciado constantemente, isso fica registrado e é considerado contexto relevante para a análise de um conteúdo postado por essa pessoa.
Quando se trata de violência sexual, temos padrões muito rigorosos. Mesmo 'piadas' sobre estupro podem ser removidas de acordo com nossos padrões. Algumas pessoas podem achar isso engraçado, mas não aceitamos isso."

Juiz pede quebra de sigilo de e-mails de procurador da Operação Zelotes A justificativa é a necessidade de provar que o investigador atuou supostamente "em conluio" com um deputado do PT e blogs ligados ao partido para difamá-lo

 postado em 06/11/2015 07:51
Marcelo Camargo/Agência Brasil - 26/5/15


O juiz substituto Ricardo Augusto Soares de Leite, que atua na 10ª Vara Federal, em Brasília, pediu à Justiça a quebra do sigilo de e-mails e dos dados telefônicos do procurador da República Frederico Paiva, que atua na Operação Zelotes. Numa queixa-crime oferecida ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), o magistrado justifica que as medidas são necessárias para provar que o investigador atuou supostamente "em conluio" com um deputado do PT e blogs ligados ao partido para difamá-lo.

A ação é mais um capítulo da batalha de bastidores entre o juiz e integrantes do Ministério Público Federal na Zelotes, que inclui acusações de conduta irregular de parte a parte. O MPF ajuizou ação de suspeição contra Leite, na qual pede que ele não atue mais no caso, quando chamado a trabalhar como substituto. 

O argumento é de que o magistrado teria demonstrado parcialidade e prejudicado as investigações ao negar escutas, mandados de prisão e de busca e apreensão. Ao avaliar alguns pedidos, no dia 7 de outubro, Leite propôs algumas diligências. Para o MPF, com isso, assumiu, indevidamente, o papel de investigador. 

O juiz titular da vara, Vallisney de Souza Oliveira, pediu ontem que Leite se pronuncie a respeito e, depois, enviará o pedido para julgamento no TRF-1. Oliveira reassumiu a vara nesta semana, após outra juíza substituta, Célia Regina Ody Bernardes, atuar temporariamente em seu lugar. Ela foi responsável por autorizar a última fase da Zelotes, que incluiu buscas no escritório de um dos filhos do ex-presidente Lula.

Difamação

Na queixa-crime, apresentada em setembro, o juiz substituto sustenta que, em ao menos 30 ocasiões, Paiva usou o deputado petista Paulo Pimenta (RS) e blogueiros simpáticos ao PT para difamá-lo, com a intenção de afastá-lo da Zelotes.

Na peça, o magistrado sustenta que o procurador deu declarações públicas, vazou informações e combinou com pessoas "interpostas" a divulgação de notícias sugerindo que ele foi parcial, obstruiu a Justiça e atuou de forma desidiosa (esquivando-se do dever funcional). Ele lembra que Paiva trabalhou em 2004 como assessor do então ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini (PT-SP).

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Ainda não houve decisão sobre a quebra dos sigilos. A desembargadora Neusa Alves, relatora do caso, mandou intimar o MPF para se pronunciar sobre os pedidos. 

Procurado ontem, Paiva informou que não se pronunciaria, pois não foi notificado da ação. Pimenta afirmou que a acusação de conluio não tem "cabimento" e que, numa democracia, juízes e outras autoridades devem ser criticados. Leite disse que atuou com independência na Zelotes.

Rompimento de barragens em Mariana: siga em tempo real o atendimento e resgate às vítimas

 postado em 06/11/2015 06:00 / atualizado em 06/11/2015 07:27


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Nossos repórteres no local do acidente informam que o resgate dos sobreviventes de Bento Rodrigues está na fase final. Desafio das equipes agora é encontrar desaparecidos. Familiares de pelo menos duas pessoas já pedem ajuda.   

Ednaldo de Oliveira de Assis, funcionário da Samarco, é um dos desaparecidos. Outro desaparecido é Waldemir Aparecido Leandro, funcionário da empresa Geocontrole. 
Imagem da parte de Bento Rodrigues submersa pela lama dos rejeitos minerais.

A prefeitura de Mariana decretou estado de emergência. 
Veja galeria de fotos com a chegada dos sobreviventes em Mariana: http://goo.gl/FqYcRc
Saiba como ajudar as vítimas e desabrigados de Bento Rodrigues. Leia na matéria: http://goo.gl/CsJTPW


Repercussão internacional da tragédia em Mariana: http://goo.gl/ajv6uB

Ednaldo de Oliveira de Assis, funcionário da Samarco, é um dos desaparecidos. Outro desaparecido é Waldemir Aparecido Leandro, funcionário da empresa Geocontrole. As informações são de familiares. 
Uma pessoa morreu. e quatro feridos, sendo dois adultos e duas crianças, que foram encaminhadas para o Hospital de Pronto de Socorro João 23, em Belo Horizonte.  As informações são do Corpo de Bombeiros. 

São usados três helicópteros nos resgates e duas retroescavadeiras para abrir passagem.   
O corpo de Bombeiros informou, em nota, que foram resgatadas 500 sobreviventes . Todos  estão sendo descontaminadas por causa do contato com os rejeitos de Minério de Ferro e serão encaminhados para o hospital. 
Relatório indica que 8% das barragens de contenção em Minas não são seguras. Leia mais aqui: http://goo.gl/CaH9Yx
Emoção no encontro dos sobreviventes com os familiares, no ginásio, em Mariana.

Crédito: Marcos Vieira/EM/D.A Press 
Já chegaram três ônibus com sobreviventes de Bento Rodrigues ao Ginásio Arena Mariana. Veja imagens da chegada. 

A tragédia em Mariana foi destaque na mídia internacional. Os jornais New York Times, dos Estados Unidos, e The Guardian, da Inglaterra, exibem vídeos e fotos do deslizamento e dão destaque ao acidente ocorrido na cidade mais antiga do estado
A prefeitura de Mariana ainda não decretou estado de emergência, mas segundo a assessoria de imprensa do executivo, isso deve ser feito ainda na manhã de hoje. 
O Ministério da Integração Nacional, Gilberto Occhi,  segue para o local da tragédia acompanhando o governador Fernando Pimentel. 
Helicópteros começam a resgatar os sobreviventes. Os moradores de Bento Rodrigues fazem uma fila indiana carregando crianças, animais de estimação e os poucos pertences que conseguiram salvar.   
Leia relatos de sobreviventes aqui: http://goo.gl/NcgaKk

Crédito: Hugo Cordeiro/Agência Nitro/Estadão Conteúdo
Imagens da estrada de acesso ao distrito de Bento Rodrigues, em Mariana. 

Crédito: Mateus Parreiras/EM/D.A Press
O cheiro dos rejeitos de minério de ferro é forte. Para decomposição do mineral são usados elementos químicos, que são nocivos à saúde.  

Crédtio: Rodrigo Melo/EM/D.A Press
Imagem do acesso ao distrito de Bento Rordrigues.

Crédito: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press

O Supremo se impõe, mais uma vez, em meio ao caos total em Brasília STF repete arbitragem exercida durante o processo de impeachment de Fernando Collor Petista que barrou impeachment: “Câmara era casa da mãe Joana”

Ministro do STF em sessão de agosto de 2015. / NELSON JR.  (SCO/STF)
Uma Câmara dos Deputados sem freios conduzida por Eduardo Cunha estava prestes a se chocar com um Palácio do Planalto desgovernado quando o Supremo Tribunal Federal (STF) apareceu para colocar o rito do impeachment nos trilhos. As liminares dos ministros Rosa Weber e Teori Zavascki que frearam a condução dos pedidos de impedimento da presidenta Dilma Rousseff há três semanas desmontaram a estratégia do impeachment idealizada por Cunha e os opositores do Goveno. Nos bastidores, sabia-se que o peemedebista diria não ao pedido de impedimento pra que a oposição entrasse com recurso contra a sua decisão e, assim, demandasse um número menor de parlamentares para aprovar a abertura do processo de afastamento da presidenta.
No caso do impeachment do hoje senador Fernando Collor de Melo, em 1992, o Supremo não apenas adequou a lei sobre o assunto, de 1950, aos moldes determinados pela Constituição de 1988 (foi a partir de então que a Câmara passou a ser responsável apenas por aceitar o pedido de impeachment, enquanto o Senado se encarrega de julgar o presidente), como seus ministros atuaram durante o processo, a exemplo do que fizeram Weber e Zavascki, para manter os procedimentos dentro da lei. Aliás, foi na sessão que votou o primeiro mandado de segurança de Collor na tentativa de se defender da abertura do processo de impedimento que o STF transmitiu pela primeira vez uma sessão integralmente pela televisão.O presidente da Câmara acabou desistindo do pedido de rito na semana passada, e nesta, quarta-feira, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a extinção das ações que questionavam o procedimento, e que foram avalizadas pela decisão de Weber e Zavascki. O movimento do STF foi interpretado como vitória pelos governistas, mas analistas ouvidos pelo EL PAÍS explicam que os juízes da Corte Suprema não fizeram mais do que evitar o descontrole total em Brasília, ao estabelecer uma ordem mínima enquanto as forças políticas tentam contornar as crises política e econômica por que passa o país. E essa não é a primeira vez que, ao ser provocado, o Supremo impõe a ordem da lei em um processo de impeachment.
A história é contada em detalhes pelo ex-ministro do Supremo Sydney Sanches, que presidia o tribunal durante o impeachment de Collor, em relato ao projeto História Oral do Supremo, organizado pela FGV Direito Rio. Sanches conta que decidiu transmitir a sessão que inaugurava formalmente a questão do impeachment por conta da expectativa de que milhares de pessoas iriam comparecer ao STF para pressionar os ministros. "A gente sabia que uma multidão ia comparecer ali na Praça dos Três Poderes e ia pressionar o Supremo. E eu imaginei, se viesse uma multidão, se a polícia fosse tentar conter, se houvesse algum incidente, ia ter morte. Como seria? Seria pavoroso, né? Então eu autorizei, pela primeira vez, ser transmitida uma sessão inteira pela TV, a sessão inteira do julgamento do mandado de segurança, o primeiro", conta Sanches, lembrando que aquela sessão ainda foi perturbada por uma ameaça de bomba.
Depois de aceito o processo de impeachment de Collor na Câmara, a defesa do ex-presidente conseguiu vitórias no Supremo, como a extensão de prazos para a defesa, lembra o professor da FGV Direito Rio, Joaquim Falcão. "Temos precedentes de que, se o rito processual não for de acordo com o que eles acham que está definido na Constituição, o Supremo vai interferir. Mas ele não vai interferir na decisão [sobre a deposição]. Ele vai apenas ser o garantidor de que o rito deve ser respeitado", analisa. Segundo Falcão, no caso das decisões de Rosa Weber e Teori Zavascki, os ministros não interferiram nem a favor nem contra o processo, apenas o organizaram.

Arbitragem

A análise de Falcão é corroborada pelo professor de Direito da USP e da FGV-SP José Eduardo Faria, que colaborou na redação da petição do impeachment de Collor. "Nenhum país com o mínimo de complexidade consegue enfrentar simultaneamente duas crises, uma econômica e outra política, porque uma crise começa a alimentar a outra. Isso vai levando a uma crise de segundo grau, da racionalidade do processo decisório. É o que esta acontecendo", diz Faria. "No passado, para desatar o nó político de 1964, houve uma arbitragem militar, que levou ao golpe e a uma ditadura. Num segundo momento, o nó gerado pela Constituição social-democrata de 1988, à qual se seguiu um período de baixa arrecadação, com hiperinflação e convulsão social, quem fez a arbitragem foi o Supremo, com a consequente queda do Collor", completa.
A julgar pelo histórico recente do país, portanto, a incapacidade dos entes políticos e econômicos de solucionar as crises que lhes dizem respeito exigirá a mediação de instituições periféricas ao poder central. Isso, aliás, tem ocorrido mesmo em causas fora da política de Brasília, mas de forte impacto popular, como o casamento entre pessoas do mesmo sexo e as ações afirmativas, julgados nos últimos anos pelo STF. E, embora o receio de uma nova intervenção militar por conta da atual crise se justifique pelo passado, Faria destaca que o Brasil passa por um período de regime democrático sem paralelo nos últimos 80 anos, o que deve relegar ao Supremo a arbitragem para destravar as crises. É daí que surge outro receio: o de que o tribunal teria sido montado nos últimos anos para proteger os Governos do PT.

Confiança

Apesar de o julgamento do mensalão ter sido conduzido com mão de ferro por um ministro indicado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para muitos brasileiros ainda paira sobre alguns ministros do STF suspeitas de partidarização. A desconfiança se justifica por episódios como aquele em que o ex-ministro José Dirceu, condenado pelo mensalão e investigado pela Operação Lava Jato, acusou o ministro do STF Luiz Fux de procurá-lo, em 2010, em busca de uma indicação para a Corte apresentando como contrapartida o compromisso de que o absolveria no processo — esse tipo de suspeita alimenta questionamentos sobre a melhor forma de indicação para o STF.
O desempenho de Fux durante o julgamento do mensalão, contudo, serviu para amenizar essas dúvidas em relação à conduta dos ministros. Fux foi um dos ministros que votou mais alinhado ao relator Joaquim Barbosa, encarado pelos petistas como carrasco até hoje. Muitos dos atuais ministros, aliás, têm feito questão de dizer em entrevistas que, depois de empossados, os ministros do STF não têm nada a dever a quem quer que seja.
“As pessoas vivem para a sua própria biografia. Ninguém vive para a biografia dos outros”, disse o ministro Luis Roberto Barroso em entrevista recente ao jornal Correio Braziliense. Durante participação no programa Roda Viva, da TV Cultura, o ministro Marco Aurélio de Mello destacou que a cadeira dos ministros do STF é vitalícia exatamente para que ele não precise prestar contas a ninguém. Já o atual presidente do tribunal, Ricardo Lewandowski, destacou em seminário recente promovido em Washington que "o Poder Judiciário está cuidando dos escândalos" no Brasil.
Para o professor José Eduardo Faria, os ministros do Supremo "talvez tivessem mais envergadura" no passado, mas aqueles que compõem a Corte hoje, com destaque para Celso de Mello e Marco Aurélio Mello, "podem exercer papel surpreendentemente bom para destravar a crise", o que o professor compara a dar uma tapa em um aparelho de televisão que não está transmitindo bem.
Já o professor Joaquim Falcão ressalta que o Supremo está em "diálogo constante com a sociedade", e que não tem um cheque em branco para tomar as atitudes que seus ministros desejarem. "Na democracia, esse diálogo é inevitável. A ministra Carmen Lúcia diz que o fundamento da autoridade do Supremo é a confiança que a sociedade tem nele. Essa confiança muda de acordo com as atitudes do tribunal. Hoje, a confiança é forte", diz Falcão. Esse diálogo obviamente foi amplificado após as transmissões televisionadas dos julgamentos se tornarem corriqueiras, e chamarem a atenção dos brasileiros principalmente durante os intensos debates do julgamento do mensalão — não por acaso, há quem tenha aprendido de cor a escalação do STF, do um ao onze, como se diz no futebol. A condução de um futuro processo de impeachment pode ser o próximo grande teste dessa relação entre o Supremo e a sociedade brasileira.

Secretário de Segurança Pública pede demissão

Crédito: Andre Violatti/Esp. CB/D.A Press
O secretário de Segurança Pública e Paz Social, Arthur Trindade, pediu demissão.
Ele já entregou a carta de demissão ao governador Rodrigo Rollemberg. A conversa ocorreu ontem à noite (04). Rollemberg pediu um tempo, mas Trindade não aceitou permanecer no cargo depois do embate com o comandante-geral da PM, coronel Florisvaldo César.
O governador pediu a Trindade uma indicação para a pasta.
Professor da Universidade de Brasília (UnB) e especialista respeitado em segurança pública há 20 anos, Trindade foi convidado para tocar o Viva Brasília, programa na área, que até agora era a principal política bem-sucedida do governo.
Esta é uma perda importante na equipe de Rollemberg.

Barragem se rompe em Minas e deixa mortos e dezenas de desaparecidos Lama arrastou carros e caminhões, encobriu casas da região e deixou moradores ilhados A cidade que a mina engoliu

Após rompimento de barragem, lama inundou casas da região. / REPRODUÇÃOTV GLOBO
O rompimento de uma barragem de uma mineradora no distrito de Bento Rodrigues, entre a cidade de Mariana e Ouro Preto, na região central de Minas Gerais, deixou, nesta quinta, um cenário de destruição na região. A lama arrastou caminhões, encobriu casas e deixou pessoas soterradas e ilhadas, segundo relatos de moradores ao Corpo de Bombeiros de Ouro Preto
Ainda não havia confirmação oficial do número de vítimas do acidente até a publicação desta reportagem. O secretário de Defesa Social de Mariana, Brás Azevedo, disse ao siteG1 que a situação é muito grave e há riscos de desmoronamentos. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Extração de Ferro e Metais Básicos de Mariana (Metabase), entre 15 e 16 pessoas teriam morrido e 45 estão desaparecidas. Cifras variadas de vítimas eram citadas na imprensa local.
Casa alagada após rompimento da barragem. / REPRODUÇÃO TV GLOBO
O Hospital Monsenhor Horta, de Mariana, que está recebendo os feridos, informou que uma pessoa morreu, e que outras quatro já receberam atendimento e passam bem, segundo o jornal Estado de Minas. O Corpo de Bombeiros disse que algumas pessoas ilhadas foram resgatadas por um helicóptero.
O acidente ocorreu por volta das 16h desta quinta na Barragem do Fundão que pertence à mineradora Samarco e fica a 25 km de Mariana e a 100 km de Belo Horizonte. Em nota, a empresa, uma joint venture da Vale com a australiana BHP, confirmou o rompimento, ocorrido na mina Germano. “A organização está mobilizando todos os esforços para priorizar o atendimento às pessoas e a mitigação de danos ao meio ambiente”, afirmou. A Samarco afirmou ainda que não é possível, neste momento, confirmar as causas e extensão do ocorrido, bem como a existência de vítimas.
Tanto a empresa como a prefeitura de Mariana pediram que as pessoas deixem o local e “que não haja deslocamentos de pessoas para o local do ocorrido, exceto as equipes envolvidas no atendimento de emergência”. O Ministério Público de Minas Gerais instaurou inquérito nesta tarde para investigar as causas e responsabilidades no rompimento da barragem.
A Samarco produz principalmente pelotas de minério de ferro _produz 30 milhões de toneladas anuais, segundo informação do site da empresa.