Após vários anos em estabilidade e até mesmo declínio, a imigração de brasileiros para os Estados Unidos parece estar novamente em alta.
Não há dados oficiais, mas advogados e associações que atendem brasileiros nos EUA dizem que a nova onda migratória começou no ano passado, conforme a crise econômica ganhou força no Brasil, e se intensificou em 2015.
Eles apontam uma diferença entre o fluxo atual e as grandes levas dos anos 90, quando o Brasil também enfrentava dificuldades na economia.
"A maioria dos que vêm hoje se formou na universidade e chega com algum dinheiro no bolso", diz à BBC Brasil a advogada brasileira Renata Castro, que atende imigrantes na Flórida há 13 anos.
Já as levas anteriores, segundo ela, eram formadas principalmente por profissionais sem qualificação, que vinham "para ralar na construção civil ou na limpeza".
Tanto agora como antigamente, diz Castro, muitos chegam sem os vistos adequados e permanecem no país irregularmente. Entre os mais ricos, há quem desembolse US$ 500 mil (R$ 1,8 milhão) pelo direito de residir legalmente no país.
O governo brasileiro estima que 1,2 milhão de brasileiros morem nos Estados Unidos, 730 mil deles sem a documentação apropriada.
Com base em entrevistas com advogados e imigrantes brasileiros na Flórida, a BBC Brasil listou os dez principais métodos - legais e ilegais - usados pelo grupo para migrar aos Estados Unidos e tentar se regularizar no país.
Pessoas que se submetem a formas ilegais de imigração costumam sofrer deportações, punições e envolver-se em riscos nas mãos de gangues e traficantes humanos.
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Meios legais
- Visto de investidor (EB-5)
Cada vez mais usado por brasileiros ricos, o visto exige um investimento de US$ 500 mil (R$ 1,8 milhão) e que gere ao menos dez empregos permanentes em áreas rurais ou com desemprego alto. Em locais com desemprego baixo, o valor mínimo é de US$ 1 milhão (R$ 3,6 milhões).
O investimento deve ser feito em negócio próprio ou em fundos autorizados. O visto, que vale para o cônjuge e filhos em idade escolar, é o único em que o imigrante já entra no país como residente, com direito a permanecer por dois anos. Se nesse período os dez empregos forem mantidos, pode-se pleitear a residência definitiva.
- Investidor com dupla cidadania (E-2)
Pode ser concedido a brasileiros que também sejam cidadãos de países que mantêm acordo específico sobre o visto com os EUA, entre os quais Itália, Espanha, Alemanha e Japão.
Não há um valor mínimo para o investimento, mas a proposta deve ser aprovada pelo governo americano. O visto deve ser renovado a cada dois anos.
- Visto de trabalho (H1b)
Pode ser estendido por até cinco anos e deve estar atrelado a um emprego no país. Normalmente é concedido a profissionais qualificados.
O empregador pode solicitar ao governo americano que o funcionário obtenha residência definitiva. O processo leva em média 20 meses.
- Visto de estudante (F e M)
É usado por quem viaja para intercâmbios, cursos universitários ou estudar inglês. Pode ser estendido a toda a família e renovado sem limites, desde que o aluno progrida academicamente e comprove frequência mínima nas aulas.
Esse visto não permite trabalhar nos EUA e é usado por muitas famílias que queiram fazer um teste, passando uma temporada no país antes de se mudar em definitivo.
Os cônjuges podem se alternar no papel de estudantes: quando o visto de um expira, o outro pode pedir o documento, sem que a família tenha de deixar o país. Também é usado por imigrantes muito ricos que buscam isenção tributária.
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Meios ilegais (que podem resultar em deportações e outras punições)
- Visto de turista
A maioria dos brasileiros que mora ilegalmente nos EUA chegou ao país de avião, com vistos de turistas. O visto não dá o direito de trabalhar. Quem viola a regra pode ter o visto invalidado e ser obrigado a deixar o país, embora muitos passem várias décadas nos EUA nessa situação.
Quem extrapola o prazo do visto e decide deixar o país espontaneamente pode ficar proibido de retornar ao país por no mínimo três anos, ou, em alguns casos, em definitivo.
- Fronteira com o México
Historicamente, brasileiros sem vistos migram para os EUA atravessando a fronteira com o México. São em geral pessoas que tiveram o visto negado no Brasil ou que, por terem vivido ilegalmente nos Estados Unidos, estão banidas de entrar no país.
Nos últimos anos, a travessia ficou mais arriscada, à medida em que o governo americano ergueu muros em vários pontos da fronteira, forçando os migrantes a percorrer trajetos mais longos. Muitos se perdem no deserto e morrem por desidratação.
Também há riscos do lado mexicano, onde gangues submetem migrantes a várias formas de violência, como extorsões e estupros.
- Bahamas e Canadá
Conforme a travessia pelo México se tornou mais perigosa, imigrantes sem vistos passaram a usar outras rotas. Alguns vão de avião para as Bahamas (que não exige visto de brasileiros) e, de lá, partem em barcos ou navios rumo à Flórida. A viagem leva poucas horas.
No primeiro semestre, mais de 90 brasileiros foram detidos nas Bahamas ao tentar viajar ilegalmente aos EUA, mais que o total de detenções em todo o ano passado.
Outros obtêm vistos para o Canadá e, de lá, cruzam a fronteira com os Estados Unidos escondidos em caminhões ou a pé.
Como se regularizam
- Casamentos
Brasileiros costumam se legalizar ao se casar com americanos. Três anos após o casamento, o cônjuge estrangeiro pode pleitear cidadania americana e pedir o direito de residência a seus pais. Se o pedido for concedido, os pais podem pedir a cidadania após cinco anos.
O benefício deu origem a um mercado de casamentos fraudulentos, em que americanos cobram para se casar com migrantes. Casais que não conseguem comprovar que a relação é legítima podem ser punidos criminalmente.
- Crianças
Brasileiros que vivam legalmente nos EUA podem adotar sobrinhos nascidos no Brasil, transferindo o status migratório às crianças.
E crianças que chegam sozinhas aos Estados Unidos podem vir a ser tuteladas pelo Estado e também ganhar a cidadania americana. A prática é comum entre famílias pobres da América Central, que enviam seus filhos aos EUA para que tenham mais oportunidades.
- Filhos nascidos nos EUA
Todas as crianças nascidas nos Estados Unidos - exceto filhos de diplomatas - obtêm a cidadania americana automaticamente, inclusive se forem filhos de imigrantes ilegais.
O benefício deu origem ao chamado "turismo do nascimento", em que casais viajam aos EUA durante a gravidez para que o filho nasça no país. Ao completar 21 anos, eles podem pleitear que seus pais se tornem residentes.
Bastante comum entre casais chineses, a prática tem crescido no Brasil: recentemente foi criada uma agência que atende brasileiras que queiram dar à luz em Miami.