A menos de 30 centímetros de alcançar o nível da maior cheia do Rio Solimões, Tabatinga está com 75% das zonas urbana e rural atingidas pela subida das águas. A estimativa da Defesa Civil Municipal é que cerca de 9 mil pessoas enfrentam os impactos negativos da cheia deste ano. Tabatinga é um dos 18 municípios em situação de emergência por conta da enchente no interior do Amazonas. Moradores de áreas alagadas relatam transtornos em uma das maiores cheias dos últimos anos.
O nível do Rio Solimões alcançou a marca de 13,54 metros neste domingo (26). Faltam apenas 28 centímetros para a cota histórica de 13,82 m, registrada na cheia de 1999, ser atingida e 22 cm para chegar ao segundo maior nível registrado em Tabatinga (cheia de 2012). Segundo a Defesa Civil Municipal, o rio tem subido cerca de 4 centímetros diariamente.O município de Tabatinga fica localizado na tríplice fronteira (Brasil, Colômbia e Peru) a 1.105 km de Manaus. A cidade é situada na calha do Alto Solimões, região mais afetada pela cheia no Amazonas, que agora convive com a iminência de registrar mais uma enchente histórica.
Da porta da residência onde mora com mais 13 pessoas, a dona de casa Adelaide Gonçalves, de 52 anos, acompanha o avanço das águas. Ela é moradora do Bairro Guadalupe, uma das seis localidades ribeirinhas que estão submersas. A população utiliza passarelas de madeira improvisadas para circular pelas ruas.
"São muitas dificuldades que enfrentamos. Nossa vida é determinada pelo rio. Dentro da minha casa já estamos com mais de um metro de maromba [assoalho de madeira suspenso]. As cobras entram nas nossas casas. Se o rio subir mais vou perder móveis como aconteceu na cheia de 2012", relatou ao G1.
São muitas dificuldades que enfrentamos. Nossa vida é determinada pelo rio"
Adelaide Gonçalves, dona de casa
Mesmo há 20 anos convivendo com regime de cheias e os danos gerados pela inundação, Adelaide mantém o anseio de deixar para trás a vida às margens do Solimões. "Há quatro anos espero a residência que a prefeitura prometeu. É um sonho sair dessa enchente. Não suportamos passar todos os anos por essa situação", desabafou a dona de casa.
Outros cinco bairros de Tabatinga estão alagados: Dom Pedro, Portobras, Brilhante, Umariaçu I e II. De acordo com titular da Defesa Civil Estadual, coronel Roberto Rocha, o nível do Rio Solimões tem aumentado cada a cada dia na região.
"Temos uma preocupação com essa evolução gradual e gradativa. Acreditamos que pode chegar ou ultrapassar a marca da cheia de 2012. Por isso estamos reforçando a linha de trabalho da distribuição de medicamentos e a retirada das famílias de áreas alagadas para levá-las aos abrigos seguros", explicou Roberto Rocha.
Escolas sem aulas
Segundo o secretário de Defesa Civil do município, J. Costa, 25% da área urbana e 50% da zona rural estão alagados. O avanço das águas atingiu 29 comunidades, afetando quase 9 mil moradores.
Segundo o secretário de Defesa Civil do município, J. Costa, 25% da área urbana e 50% da zona rural estão alagados. O avanço das águas atingiu 29 comunidades, afetando quase 9 mil moradores.
"Estamos com 28 escolas da rede pública de ensino com atividades paralisadas e com 1.631 alunos sem aulas há mais de 30 dias. Entre desabrigados e desalojados são 88 famílias", informou o secretário.
Uma das reclamações dos moradores de área de risco é a demora para entrega de unidades habitacionais. O representa da prefeitura justificou que houve um atraso da conclusão das obras de 300 casas que deveriam ter sido entregues em dezembro de 2014. O projeto tem recursos do programa Minha Casa, Minha Vida. "Os beneficiários prioritários dessas casas populares são as famílias de áreas de risco. A previsão é que até junho as obras sejam concluídas", afirmou Costa.
Balanço da Cheia
No Amazonas, 18 cidades estão em situação de emergência. Na calha do Rio Juruá os municípios afetados são: Itamarati, Guajará, Ipixuna, Envira e Juruá. Na calha do Rio Purus, Canutama, Tapauá, Carauari, Pauini e Lábrea sofrem danos causados pela cheia. Atalaia do Norte, Benjamin Constant, Tabatinga, Amaturá, Santo Antônio do Içá, São Paulo de Olivença e Tonantins situados no Alto Solimões também estão em situação de emergência por causa do avanço das águas.
No Amazonas, 18 cidades estão em situação de emergência. Na calha do Rio Juruá os municípios afetados são: Itamarati, Guajará, Ipixuna, Envira e Juruá. Na calha do Rio Purus, Canutama, Tapauá, Carauari, Pauini e Lábrea sofrem danos causados pela cheia. Atalaia do Norte, Benjamin Constant, Tabatinga, Amaturá, Santo Antônio do Içá, São Paulo de Olivença e Tonantins situados no Alto Solimões também estão em situação de emergência por causa do avanço das águas.
O município de Boca do Acre é o mais afetado pela cheia com 20.905 pessoas de 4.181 famílias atingidas. A cidade, que fica no Sul do estado e banhado pelo Rio Purus, está em estado de calamidade pública. Humaitá (Rio Madeira) e outros quatro municípios do Médio Solimões - Fonte Boa, Uarini, Alvarães e Tefé - estão situação de alerta.
Ao todo, 110.610 pessoas de 22.116 famílias foram afetadas pela cheia dos rios neste ano. Os dados são da Defesa Civil Estadual, que tem coordena a ajuda humanitária e assistências às vítimas. Já distribuídos 363 toneladas de alimentos não perecíveis, além de medicamentos, materiais para purificação da água (filtros e hipoclorito de sódio) e kit's dormitório (colchões, redes e mosquiteiros). Instituições públicas e empresas doaram parte dos mantimentos. O governo do estado repassou R$ 1.200,000 as prefeituras de quatro municípios.