quinta-feira, 23 de outubro de 2014

23/10/2014 20h57 - Atualizado em 23/10/2014 21h10

Prefeitura não descarta decretar estado de calamidade pública em Itu

Prefeito admite que a situação da falta de água na cidade é crítica.
Moradores convivem com racionamento há oito meses.

Do G1 Sorocaba e Jundiaí
Moradores de Itu recorrem a água de bicas para suprir as necessidades básicas, como tomar banho e lavar louças (Foto: Reprodução/TV TEM)Moradores de Itu recorrem a água de bicas para suprir as necessidades básicas, como tomar banho e lavar louças (Foto: Reprodução/TV TEM)
Mesmo com ajuda do Governo do Estado de São Paulo, que anunciou nesta quinta-feira (23) uma verba de R$ 2 milhões para a contratação de 20 caminhões-pipa que irão distribuir água em Itu(SP), a prefeitura não descarta possível decreto de estado de calamidade pública. Isso porque, segundo o prefeito da cidade, Antonio Tuíze, a situação da falta de água é considerada crítica. Mas ele explica que, neste momento, as condições da cidade não cumprem as exigências para tal medida.
"Nós temos problema de água em Itu há muitos anos, não é só este ano. O que aconteceu é que este ano se agravou por conta da estiagem, que não é comum em todo o estado, muito menos em Itu. Investimentos tem que ser feitos e é o que estamos fazendo. Em outras situações também deveriam ter sido feitas, mas não foram", admitiu Tuíze.
Os moradores de Itu convivem há oito  meses com o racionamento de água na cidade. Por isso, o governo estadual precisou intervir e, a partir de segunda-feira (27), 20 caminhões-pipa vão reforçar o abastecimento nos bairros mais críticos. Segundo o governo estadual, a água que será levada para Itu será captada em duas empresas particulares, que disponibilizam água potável para ser distribuída na cidade.
Segundo o coordenador da Defesa Civil do Estado de São Paulo, José Rodrigues de Oliveira, outras medidas serão tomadas para amenizar a crise na cidade. "Estamos mandando pra Itu sete tubos flexíveis, que são tanques, que serão colocados na cidade juntos aos que já existem, para que as pessoas possam ir até lá e pegar água potável", explica.
As caixas funcionarão como postos de distribuição de água. A decisão foi tomada na manhã de quinta-feira após reunião entre secretário da Casa Militar e coordenador Estadual de Defesa Civil, coronel José Roberto de Oliveira, e o prefeito de Itu, Antônio Tuíze. A Sabesp também enviou um engenheiro da empresa para dar consultoria aos técnicos da empresa privada responsável pelo abastecimento na cidade.
Uma nova adutora também está sendo construída para captar água do córrego Mombaça. Segundo Tuíze, a Defesa Civil do Estado também autorizou intervenções no projeto. "A gente está tentando através de canos de irrigação poder trazer parcialmente essa água já para o sistema, o mais rápido possível".
Mas essas medidas são para amenizar e não resolver a falta d'água em Itu. Atualmente, a cidade, tem uma demanda de 62 milhões de litros de água por dia, mas sobrevive com apenas 10 milhões. "Onde nós encontramos água, nós estamos buscando a melhor forma de trazer. É claro que existe uma logística por trás disso, que encarece a vinda. Por exemplo, Votorantim tem uma reservação que poderá ser usada", conta o coordenador da Defesa Civil de Itu, Marco Antônio Augusto.
Ajuda do Estado
Em visita a Glicério (SP) nesta quinta-feira (23), o governador Geraldo Alckmin falou sobre a estiagem no estado e a ajuda para Itu (veja vídeo ao lado). “A seca é a maior dos últimos 84 anos e atingiu muito o oeste e o norte de São Paulo, além do sul de Minas e o Triângulo Mineiro. Estamos garantindo o abastecimento em todos os municípios operados pela Sabesp, inclusive a região metropolitana de São Paulo, e alguns municípios que são das prefeituras e serviço autônomos. Tambaú (SP) ajudamos com recursos, carros-pipas, tubulações, engenharia. E Itu (SP), foi liberado 20 caminhões-pipa e estamos mandando também água da Sabesp, apesar de ser um serviço da prefeitura”, diz Alckmin.
De acordo com nota do Palácio dos Bandeirantes, no início da tarde desta quinta-feira, "embora o abastecimento de água na cidade seja responsabilidade de uma empresa privada, sob gestão do município, é atribuição da Defesa Civil atuar nesse tipo de situação para atender a população da cidade". O contrato emergencial, no valor de R$ 2 milhões, vai durar 30 dias e será prorrogado se houver necessidade.
Deputados pedem intervenção
Na quinta-feira (22), o Procurador Geral da Justiça de São Paulo, Márcio Fernando Elias Rosa, solicitou informações da Prefeitura de Itu e da concessionária responsável pelo abastecimento de água na cidade, a Águas de Itu, sobre o abastecimento de água na cidade depois que recebeu a visita de dois parlamentares eleitos pela região.
O deputado federal José Olímpio e o deputado estadual Rodrigo Morais pediram a intervenção estadual na cidade por conta dos problemas envolvendo a falta de água. Durante reunião realizada na Promotoria, em São Paulo, os parlamentares levaram ofícios, que já foram protocolados no Ministério Público de Itu.
Além da intervenção, os deputados também pedem a tarifa zero na conta de água. Há quase nove meses, os moradores de Itu sofrem com a falta de abastecimento de água, já que a estiagem prolongada fez baixar o nível dos manaciais.
A reunião durou uma hora e meia. A assessoria de imprensa do Procurador Geral de São Paulo não divulgou o conteúdo do encontro e nem as medidas que o órgão irá adotar, mas confirmou que houve a conversa com os deputados. Os parlamentares contaram que o procurador quer uma solução rápida e negociada, para levar água até as torneiras.
Deputados de Itu pedem intervenção estadual por causa da crise da água (Foto: Reprodução/TV TEM)Encontro entre deputados e Procurador Geral da Justiça foi em São Paulo (Foto: Reprodução/TV TEM)
Câmara tenta criar CEI 
A Câmara de Itu pretende montar uma Comissão Especial de Inquérito para investigar a escassez de água na cidade, mas ainda falta uma assinatura. A sessão desta semana foi tumultuada e cheia de propostas polêmicas.
A vereadora Balbina Santos (PMDB) sugeriu um novo tipo de manifestação popular. “A população não devia pagar as contas. Esse é protesto que eles deveriam fazer”, afirmou a vereadora na sessão.

Na semana passada, os vereadores tentaram criar uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para investigar a falta de abastecimento na cidade e principalmente o contrato entre a prefeitura e a empresa Águas de Itu. Para o requerimento entrar em pauta, são necessárias cinco assinaturas, mas apenas quatro vereadores foram a favor.

O vereador Olavo Volpato (PMDB) assumiu na tribuna e disse que não concorda com a CEI. “Jamais eu assinaria qualquer Comissão Especial de Inquérito. Participei uma vez e não levou a nada”, argumenta Olavo.

O vereador Giva (PROS), disse em plenário que a empresa Águas do Brasil, autorizada em agosto pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) a assumir os serviços de água e esgoto de Itu, teria desistido da concessão.

Os vereadores aprovaram por 10 a 1 o requerimento para convidar o prefeito Antonio Tuíze a prestar esclarecimento.

A empresa Águas do Brasil informou que o departamento jurídico continua o processo de negociação com a Águas de Itu. Se houver contas não pagas, a concessionária informa que o departamento jurídico vai analisar caso a caso.
Um dos vereadores não quis assinar o documento para criar a CEI (Foto: Reprodução/ TV TEM)Um dos vereadores não quis assinar o documento para criar a CEI (Foto: Reprodução/ TV TEM)
Entenda a crise
O racionamento de água em Itu já dura nove meses e alguns moradores dizem que ficam até um mês sem receber uma gota nas torneiras. O pouco que chega nas casas é com o caminhão-pipa. No desespero de encontrar água, os moradores estão apelando até para a zona rural.

Apesar do Ministério Público já ter recomendado à prefeitura que reconheça o estado de emergência e calamidade pública, a prefeitura decidiu não acatar a medida. Em entrevista, o prefeito afirmou que o decreto não seria pedido já que não está faltando água para manter os serviços essenciais, como hospitais e escolas. O chefe do executivo afirmou também que foi protocolado um decreto para captação em 24 poços e reservatórios de uma indústria de bebidas do município.
No entanto, conforme o documento enviado em julho, o Ministério Público aponta que a precariedade no abastecimento de água para a população não decorre exclusivamente do período de estiagem, mas sim de anos de má gestão e falta de investimentos no aumento da armazenagem de recursos hídricos, além da construção de novas barragens, desassoreamento das já existentes e modernização dos sistemas de tratamento e distribuição.
Após o Ministério Público reforçar a importância de que as reclamações sobre a falta d'água na cidade sejam registradas, o órgão já registrou mais de 1 mil ocorrências em menos de uma semana. Em um dia, 400 reclamações de moradores foram protocoladas e anexadas ao inquérito encaminhado ao Poder Judiciário. Na ação, o MP apresentou uma carta de recomendação ao prefeito para que tome previdências no sentido de tentar amenizar a situação dos reservatórios.
De acordo com a liminar, caso a água não chegue até o imóvel, a população deve reclamar na concessionária que terá que resolver o problema em 48 horas e a prefeitura será multada. Para o promotor, a intenção do órgão é esclarecer à população sobre os seus diretos. “Nós intensificamos a importância dos registros já que as pessoas não sabiam o que fazer e quem procurar. Temos outros pontos de atendimento, mas vários moradores chegam aqui e dizem que estão sem água a muito mais dias do que o tempo aceito pelo MP”, diz. O morador também deve fazer a denúncia no Ministério Público, localizado na Avenida Goiás, 194, no bairro Brasil.
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