Quero
te convidar leitor, a vir comigo num exercício de imaginação. Use todo
seu poder mental para figurar a seguinte situação: Suponha que você seja
um policial; suponha que esteja trabalhando em uma viatura com seu
colega. Imagine que esteja utilizando todo equipamento e armamento que o
Estado disponibiliza: pistola, fuzil, algema, colete balístico, etc.
Você está pronto para cumprir sua obrigação constitucional que é
preservar a ordem e a segurança pública. Agora, imagine que você e seu
parceiro depararam com um flagrante de crime. Tráfico de drogas. O
flagrante te impede de aguardar reforço, embora o tenha acionado. Você
aborda o criminoso, apreende a mercadoria, preenche toda aquela
burocracia legal. De repente, você e seu parceiro se vêem cercados por
outros marginais. Estes, com uma pá destroem sua viatura. Arremessam
tijolos. Chutam seu parceiro e caminham na sua direção, desferindo um
tapa na sua nuca. O que você faria? Antes de continuar lendo, detenha-se
um pouco na solução desse enigma. Como você se comportaria diante deste
quadro? Quero esclarecer que ele é real. Aconteceu recentemente com uma
guarnição de policiais no Rio de Janeiro. Vamos às possíveis respostas:
Primeiro:
vocês são dois policiais apenas, cercados por mais de 10 criminosos.
Você é o legítimo representante do Estado, inviolável portanto no
exercício de seu dever. Seu dever, como dito, é preservar a ordem e a
segurança pública. Você dispõe de armas para isto mesmo, garantir sua
segurança e a de terceiros. Além do mais, há um patrimônio público, a
viatura, sob sua responsabilidade. Deixá-lo ser destruído implica em
omissão. Então você usa os recursos que o Estado te deu, a arma de fogo
inclusive. Alveja dois ou três criminosos, que morrem. Prende mais um ou
dois. O restante foge. Sabe o que ocorreria? As filmagens nunca
apareceriam. Os criminosos estavam desarmados. A imprensa divulgaria a
chacina praticada por dois policiais contra civis desarmados. Você seria
preso, excluído e condenado. Não necessariamente nesta ordem. Sua
esposa te deixaria, pois não ficaria casada com um criminoso. Seus
filhos, nunca te visitariam na cadeia até porque você não acha
apropriado para eles ficarem frequentando presídio. Os direitos humanos
pediria sua execução sumária. Esta não seria a melhor resposta então.
Vamos para a seguinte.
Segunda:
você e seu parceiro são resignados. Aceitam que destruam a viatura,
calados. Também concordam que não devem usar armas de fogo pelos fatos
narrados acima. Sujeitam-se apanhar um pouco, afinal o dano é menor. Os
traficantes pegam a droga de volta e se dão por satisfeitos. Você sai
agradecido, afinal não foi baleado e apanhar um pouco não é tão ruim.
Seis meses depois alguém divulga as imagens. Seus filhos não querem que
você vá até a escola na reunião de pais, pois temem que alguém descubra
que você apanhou na televisão. Sua esposa conclui que você é um banana
na rua e quer cantar de galo em casa. Seu chefe resolve abrir um
procedimento por omissão, já que você devolveu a droga aos bandidos, não
prendeu ninguém e os deixou destruir a viatura. Você será preso,
excluído e condenado. Não necessariamente nesta ordem. Não conseguirá
outro emprego. Os direitos humanos não te defenderão porque você tem(?) o
Estado a seu favor. Também esta não seria a melhor opção. Vejamos outra
possibilidade.
Terceira:
você descobre que seu parceiro gosta de trabalhar, então dá um jeito de
mudar de parceiro. Consegue um mais lento nas decisões e surdo, para
não ouvir o rádio. Deixa de atender ocorrência, não atende o rádio,
finge que está doente. Seus superiores começam reclamar da sua
embromação. A sociedade também, pois querem PM que apanha, não que
escamoteia. Logo descobrem que você é um peso morto. Começam a te punir
sucessivamente até te excluir da corporação. Sua esposa, seus filhos,
seus amigos descobrem que você é não só omisso, mas medroso, covarde,
banana. Provavelmente não arrumará outro emprego, nem outra mulher, nem
outros filhos. Amigos? Jamais. Esta também não é a resposta certa.
Quarta:
você ora para nascer de novo. Deseja nunca ter sido policial na vida.
Pensa em candidatar. Mas descobre que tudo isto é uma ficção, impossível
de ocorrer. Então você começa a desesperar. Não deixará de ser policial
jamais, esta cruz é que tem que carregar. Provavelmente você vai ficar
maluco diagnosticado, mas vão dizer mesmo é que você amarelou. Voltamos
ao quadro da resposta anterior. Então, fácil concluir que esta também
não é a melhor resposta. Me ajudem aí (sic). Qual é a resposta certa?
Rachel
Sheherazade é mais homem que muitos homens que conheço. Tem coragem de
falar o que precisa ser dito. Dê-me dez iguais a ela e teremos um País
diferente. As policiais deveriam lhe oferecer segurança, medalhas e
oblação. Não fazem isto porque têm medo. Agora, uma deputada de que me
recuso a falar o nome a processa por dizer a verdade. Dizer que não
gosta de polícia pode, mas eu dizer que não gosto de bandido é proibido?
Que País é este? Vou mandar meus filhos embora o quanto antes. Este não
é um lugar de se viver.
(Coronel Avelar Lopes de Viveiros, comandante da Academia da Polícia Militar/GO)
Fonte: http://www.dm.com.br/texto/169627
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