O ex-procurador
Marcello Miller, considerado ponto-chave na reviravolta envolvendo a
delação da JBS, esteve na sede da empresa dos irmãos Batista, um dia
antes de Joesley se encontrar com Michel Temer, no Palácio do Jaburu, na
“calada da noite” e fora da agenda oficial.
Na oportunidade, o empresário gravou a conversa
que teve com o presidente. No diálogo, chegou a falar sobre a “compra”
de um procurador, com o objetivo de atrapalhar as investigações da Lava
Jato, e sobre o pagamento de mesada a Eduardo Cunha, para mantê-lo em
silêncio na prisão.
O áudio foi usado pela Procuradoria-Geral da
República para embasar, junto com outras provas, a primeira denúncia
oferecida contra Temer, por corrupção passiva, e que já foi rejeitada,
durante votação ocorrida no plenário da Câmara, no dia 2 de agosto.
De acordo com o colunista Lauro Jardim, de O
Globo, no dia 6 de março, Miller esteve na JBS acompanhado de Esther
Flesch, então chefe da área de compliance do Trench Rossi Watanabe,
escritório de advocacia no qual passou a atuar, depois de deixar a PGR, e
que era um dos responsáveis por atender o grupo empresarial na
negociação do acordo de leniência da empresa.
O ex-procurador Marcello Miller deve depor sobre o caso nesta sexta-feira (8).
Nos últimos materiais entregues aos
investigadores, constam diversos áudios, um dos quais possui cerca de
quatro horas de duração, aparentemente gravado em 17 de março deste ano,
e que traz uma conversa entre os delatores Joesley Batista e Ricardo
Saud. No diálogo, falam sobre suposta atuação do então procurador da
República Marcello Miller, dando a entender que ele estaria auxiliando
na confecção de propostas de colaboração para serem fechadas com a
Procuradoria-Geral da República. Tal conduta configuraria, em tese,
crime e ato de improbidade administrativa.
No entanto, tanto Miller quanto os empresários
negam a sua atuação nas tratativas do acordo de delação. A versão de
Joesley é a de que buscou o escritório Trench Rossi Watanabe antes da
chegada de Miller e que não tem relação com a contratação do
ex-procurador pela banca.
Miller pediu o desligamento do Ministério
Público Federal no dia 23 de fevereiro, mas a saída só foi oficializada
no dia 5 de abril.
Por causa dessa nova gravação entregue pela JBS,
o procurador-geral, Rodrigo Janot, anunciou abertura de investigação
para apurar omissão de informações, com ameaça de revisão dos benefícios
concedidos a três dos sete delatores da empresa, incluindo a imunidade
penal.