domingo, 6 de março de 2016

Pesquisadores da UnB desenvolvem método inovador para o tratamento do câncer de fígado


Daniel Ferreira/Metrópoles


Protótipo desenvolvido pelo grupo mata células cancerígenas pelo aquecimento. Outra ferramenta criada pelo grupo pretende desburocratizar hospitais. O sonho dos engenheiros é ver os aparelhos no Sistema Único de Saúde (SUS)


A cada porta dos corredores da Universidade de Brasília (UnB), é possível descobrir um mundo novo. Revelam uma infinidade de projetos e iniciativas capazes de transformar a realidade do Distrito Federal e do país. No Laboratório de Automação e Robótica, logo atrás do Instituto de Artes, duas iniciativas coordenadas pela professora da Faculdade de Engenharia e do programa de pós-graduação em biomédica, Suélia de Siqueira Rodrigues Fleury Rosa, 38 anos, podem contribuir, no futuro, para o tratamento de pacientes com câncer no fígado e para diminuir a burocracia nos hospitais.
Batizado com o nome de Sofia, o projeto, idealizado por um grupo de 20 engenheiros da graduação, do mestrado e do doutorado, e elaborado durante 13 meses, criou o primeiro protótipo, desenvolvido nos solos candangos com componentes e tecnologia nacionais, de ablação hepática. O nome do procedimento parece um bicho de sete cabeças, mas sua função é poderosa: destruir células cancerígenas no fígado por meio de energia de radiofrequência. Ela mata as células cancerígenas pelo calor. Método mais controlado, permite efeitos colaterais menores aos pacientes.
A técnica já vem sendo usada no Brasil, mas os hospitais precisam comprar o aparelho de empresas internacionais. Um equipamento pode custar até R$ 100 mil. O grupo gastou cerca de R$ 5 mil no desenvolvimento do protótipo. O sonho dos engenheiros, agora, é ver todo o fruto do trabalho no Sistema Único de Saúde (SUS). “Queremos que o projeto seja inserido nas políticas públicas e que não fique somente na universidade”, aponta o engenheiro eletrônico Gilvandson Costa Cavalcante, 39 anos.
Durante a visita do Metrópoles ao laboratório da equipe, o diretor institucional da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos (Abimo), Márcio Bósio, apareceu para conhecer os projetos. “Queremos fazer essa ponte entre a instituição de ensino e a indústria. Esses produtos atenderão um gargalo da saúde pública do país e tentaremos levá-los para o mercado”, explicou Bósio.

Fruto de uma demanda do Ministério da Saúde, o dispositivo já foi testado em porcos na Pontifícia Universidade Católica de Goiás em dezembro do ano passado. O teste in vivo foi bem sucedido e permitiu verificar a eficácia do aparelho. O projeto, no entanto, foi iniciado pelo professor Ícaro dos Santos, da Faculdade de Tecnologia da UnB. O docente foi estudar no exterior e a PHD Suélia de Siqueira abraçou a ideia.
Conseguimos chegar a esse resultado graças ao esforço e dedicação dos alunos, e à rede de amigos e profissionais que construí ao logo da minha carreira. Criar e testar um produto no Brasil é uma tarefa muito difícil de ser alcançada"
Suélia de Siqueira
Integrante da equipe de pesquisa desde o seu início, a doutoranda em sistema eletrônico de automação Diana Montilla fala do Sofia com o sorriso estampado no rosto. Ela saiu da Colômbia em 2011 e desde lá transformou a cidade em forma de avião em seu lar. “Gerar uma tecnologia dessa aqui em Brasília dá uma satisfação enorme”, comemora.
Projeto Vera
Elaborado para atender também uma demanda do Ministério da Saúde, um outro projeto com nome feminino, o Vera, dialoga com o Sofia. A função dele é monitorar a distância e em tempo real, por meio de um equipamento e de um aplicativo, o desempenho de aparelhos médicos de hospitais cadastrados no sistema. Ele fiscalizaria, por exemplo, o funcionamento do equipamento de ablação hepática. A proposta desse dispositivo de monitoramento é acelerar a gestão de problemas.

As informações ficarão armazenadas em um banco de dados que poderá mostrar se o equipamento está funcionando corretamente ou se precisa de manutenção. “Muitos profissionais da saúde não sabem mexer nessas máquinas. Às vezes, surge um pequeno problema e eles, logo, mandam o aparelho para o conserto. Muitas vezes, o defeito é fácil de ser resolvido e não há a necessidade de se fazer todo esse percurso”, esclarece o engenheiro eletrônico Pablo Henrique Pinheiro, 26 anos. Ele compõe uma equipe de 20 pesquisadores que se debruçou em materializar o projeto.

Sociedade perde com recusa do Facebook em liberar dados para investigaçöes criminais, diz delegado. Publicado em 06/03/2016 - 06:00 Ana Maria Campos

À Queima Roupa
Fernando César Costa
Delegado-chefe da Delegacia de Repressão a Roubos e Furtos (DRF)
“A sociedade está sendo alvo de graves crimes, que muitas vezes são quase impossíveis de serem investigados em razão da falta de acesso dos dados desses aplicativos de mensagens por celular”

Vimos na semana passada a prisão do vice-presidente do Facebook, Diego Dzodan. Acha válida uma medida como essa porque a empresa se nega a passar informações para investigações policiais?

Ou se prende um executivo e força uma revisão dos procedimentos da empresa, com a submissão dela às leis nacionais, ou simplesmente se desabilita o serviço.
Mas isso não é prejuízo para o país inteiro? Hoje em dia quase todo mundo usa mais WhatsApp do que qualquer outro serviço de comunicação…
Então, nós temos que saber que isso estará sendo usado para cometer crimes e a polícia não vai ter acesso, ou seja, a investigação fica muito mais difícil e a sociedade está sendo alvo de graves crimes, que muitas vezes são quase impossíveis de serem investigados em razão da falta de acesso dos dados desses aplicativos de mensagens por celular.
O que é mais importante: a liberdade de comunicação ou a investigação policial?
Não é uma questão de importância. É uma questão de proporcionalidade. Nenhum direito individual é absoluto, nem mesmo o direito à vida. Não pode ser absoluto. Ele tem que ser relativizado. Não se pode fazer uso de uma liberdade constitucional para atentar contra um ordenamento jurídico. Não é atentar contra um ordenamento jurídico, é atentar contra a vida, a integridade física e a liberdade das demais pessoas.
Mas se você tira do ar um serviço como o WhatsApp, as pessoas recorrem a outros aplicativos de comunicação gratuitos… Do que adianta?

Tem como impedir o funcionamento de todos esses aplicativos. O que vai acontecer? Lógico que isso vai ser temporário. As empresas proporcionam esses aplicativos porque ganham dinheiro, estão lucrando. É lógico que elas não vão querer perder o mercado brasileiro. Uma vez que for impossível de operar no Brasil sem se submeter à legislação brasileira, elas vão se submeter. O que ocorre hoje é que elas não se submetem. Essa é uma questão de soberania. O Estado é brasileiro.
Por que não se submetem?

Porque elas não têm escritórios aqui, os serviços continuam a ser difundidos na rede. Nós estamos vendo que várias decisões que determinaram a suspensão do serviço do WhatsApp vêm sendo sistematicamente derrubadas sob o argumento de que não seria razoável. Então, o razoável é permitir que crimes e mais crimes sejam praticados com a utilização desses aplicativos?
Você sempre lida com investigações envolvendo crimes graves. Essa impossibilidade de acesso a dados de mensagens inviabiliza o seu trabalho?

O impacto tem sido muito grande nas investigações. Hoje o trabalho tem que ser feito de forma dobrada para suprir toda essa comunicação que é feita pelos criminosos por serviços de mensagem eletrônica. Por isso, temos que desenvolver novas técnicas de investigação para suprir carência de provas por interceptação telefônica. É lógico que isso é possível. As investigações têm demonstrado isso. Toda atividade criminosa grave no DF teve uma resposta, mas o trabalho é dobrado, o tempo é dobrado. A sociedade fica a mercê de condutas graves por mais tempo.

Terremoto político provocado por Lava Jato reacende impeachment Oposição aposta em delação de Delcídio do Amaral e capitalização do episódio de Lula

Dilma durante pronunciamento em Brasília.
Dilma durante pronunciamento em Brasília.  REUTERS
Brasília 
Enquanto o mundo político ainda digeria nesta sexta o impacto dos holofotes da Operação Lava Jato voltados com força total para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a oposição ao Governo Dilma Rousseff (PT) fazia seus cálculos. Após mais de um ano de crise política, os opositores querem se aproveitar ao máximo da turbulenta semana enfrentada pela gestão petista para aumentar a pressão pelo impeachment. Dois fatores técnicos e um político deverão ser somados aos elementos já apresentados para forçar uma saída dela do mandato.
Os técnicos são: 1) a delação feita pelo senador Delcídio do Amaral (PT-MS) que afirma que a presidenta e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabiam das irregularidades na Petrobras e se beneficiavam, ainda que indiretamente, delas; 2) a prisão do ex-marqueteiro do PT, João Santana, contra quem pesa a suspeita de ter recebido recursos de caixa dois durante uma das campanhas eleitorais.
No lado político, os opositores da gestão petista se aproveitarão da investigação contra Lula nos casos envolvendo um sítio em Atibaia e um apartamento no Guarujá. A ideia é macular ainda mais a imagem do Executivo mostrando que os erros cometidos pela presidenta foram iniciados pelo seu antecessor. “Antes imaginávamos que o chefe de toda a quadrilha era o José Dirceu. Mas depois que ele foi preso pelo mensalão, os desvios continuaram. O que está se provando é que as ordens sempre partiram do Palácio do Planalto. Primeiro de Lula, depois de Dilma”, afirmou o deputado federal Nelson Marchezzan Júnior (PSDB-RS).
"Temos que acelerar a decisão do impeachment
GERALDO ALCKMIN (PSDB)
Os opositores analisam se fazem um aditamento do atual pedido de impeachment ou se apresentam um novo requerimento. O pedido de destituição que tramita na Câmara dos Deputados hoje se baseia apenas naspedaladas fiscais, que foram as distorções contábeis cometidas pelo Governo para maquiar as contas de 2014. Até os deputados menos radicais com relação à gestão Rousseff já admitem que esse fato está enfraquecido atualmente. “Impeachment por pedaladas não passa mais. Se ocorrer um impeachment será por conta das denúncias de Delcídio”, afirmou Chico Alencar (PSOL-RJ). Ao sair de uma reunião de uma reunião da presidenta com 26 governadores e vice-governadores, o governador de São Paulo e um dos presidenciáveis tucanos, Geraldo Alckmin (PSDB), deu o tom: "Temos que acelerar a decisão do impeachment".
Do lado dos governistas, a bancada diz que o país está em vias de se deparar com uma deposição presidencial à força. “O que ocorre é um golpe moderno articulado por parte da imprensa, parte do Judiciário e do Ministério Público. Não tem as Forças Armadas, mas é um golpe”, afirmou Jandira Feghali (PCdoB-RJ).
Para adicionar mais pimenta nesse caldeirão, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) os detalhes da delação de Delcídio do Amaral, que foi preso no fim do ano passado por arquitetar a fuga do país de um dos réus da Lava Jato, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. O objetivo da OAB é avaliar se os documentos podem embasar um novo pedido de impeachment. Enquanto isso, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aguarda uma definição do Judiciário sobre um pedido de esclarecimento feito por ele com relação à composição da comissão especial do impeachment.

Nova comunicação e defesa própria

Pega de surpresa com más notícias dois dias seguidos, Rousseff mudou sua estratégia de comunicação e nos dois dias emitiu duas notas à imprensa e fez um raro pronunciamento. Quando falou aos jornalistas, a presidenta fez uma breve defesa de Lula, que foi obrigado pelo juiz Sergio Moro a prestar depoimento para a Polícia Federal nesta sexta-feira. Entre os ministros, o cálculo é que a presidenta não deve se afastar de seu antecessor, mas é melhor que ela mantenha essa crise o mais distante possível de Brasília. Para chegar a essa conclusão, Rousseff fez uma série de reuniões com seus ministros mais próximos e ouviu argumentos jurídicos e técnicos deles. Ao fim dos encontros, ligou para Lula e prestou solidariedade a ele.
Sobre a delação de Delcídio, a presidenta foi mais dura e declarou que estava indignada com as declarações do senador. Entre outros pontos, o parlamentar afirmou que Rousseff teria nomeado ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) com o objetivo de libertar empresários envolvidos na Lava Jato. “É absolutamente subjetiva e insidiosa a fala do senador, se ela foi feita”, reclamou Rousseff.
A presidenta disse ainda que o vazamento da delação de Delcídio teve como único motivo uma tentativa de atingir a pessoa dela e o seu Governo. “Provavelmente pelo desejo de vingança, pelo imoral e mesquinho desejo de vingança e de retaliação de quem não defendeu quem não poderia ser defendido pelos atos que praticou”.
A polarização, que parecia ter diminuído por algumas semanas no Brasil, tem tudo para ganhar força. Nesta semana, vários parlamentares petistas foram hostilizados quando chegavam aos aeroportos de seus Estados. Tudo isso a poucos dias de mais uma manifestação contra a gestão Rousseff. Daqui a dois domingos, no dia 13, grupos sociais anti-Dilma prometem ocupar as ruas das principais cidades do país para pedir que ela saia do Governo.

Brasil não tem oposição coesa para aproveitar fraqueza de Dilma, diz filósofo Mariana Della Barba Da BBC Brasil em São Paulo

(Foto: AP)Image copyrightAP
Image captionPara filósofo, Dilma está em um momento de grande fraqueza
Com todos os acontecimentos ocorridos na última semana, as condições para o impeachment da presidente Dilma Rousseff se ampliam. Porém, não há uma oposição coesa que possa se aproveitar desse momento de fraqueza do PT e do governo.
Essa é a opinião do professor de ética e filosofia da Unicamp Roberto Romano, especialista em política.
Doutor em filosofia pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, de Paris, e pós-doutor pela Unicamp, Romano vê a ação realizada pela Polícia Federal contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como resultado do "imenso ego" do líder petista.
Segundo ele, o que é preciso temer agora é o risco de acirramento das disputas nas ruas. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
BBC Brasil - Como o senhor avalia a sexta-feira?
Roberto Romano - Foi certamente um dia inédito. Mas não foi um dia histórico. Quando muito, foi histérico. O que vimos foi o caminhar de uma ação institucional contra um líder importantíssimo. Um ex-presidente que saiu do poder com 80% de aprovação popular.
(Foto: AFP)Image copyrightAFP
Image captionLula foi levado coercitivamente para depor na última sexta-feira
BBC Brasil - Na opinião do senhor, a ação foi exagerada?
Roberto Romano - Não. Mas houve uma aceleração de um processo que poderia ser feito com mais tranquilidade.
BBC Brasil - E ao que se deve essa aceleração?
Roberto Romano - Houve uma situação de um ego enorme do presidente Lula, que se sentiu desrespeitado por ter sido convocado para depor e foi desafiando as instituições. Mas ainda é preciso investigar o grau das provas que vão integrar o processo. O que vimos hoje foi mais um resultado desse imenso ego.
UnicampImage copyrightUnicamp
Image captionRoberto Romano
BBC Brasil - O como Lula sai depois da condução coercitiva para depor?
Roberto Romano - Lula sai muito enfraquecido. É claro que ele segue sendo uma liderança importantíssima. Mas é alguém que chegou a 80% de aprovação e hoje está no cenário em que está (20% da intenção de votos e 49% de rejeição, segundo pesquisa do Datafolha divulgada em fevereiro). Com esse episódio, vai perder ainda mais popularidade.
(Foto: Reuters)Image copyrightReuters
Image captionAlém da casa do ex-presidente, PF também fez operação em locais como o Instituto Lula
BBC Brasil - E qual o impacto no Partido dos Trabalhadores?
Roberto Romano - O PT está pagando por um de seus maiores erros. Não podemos esquecer que o maior problema aqui é o relacionamento simbiótico entre Lula e o partido. Esse foi um erro estratégico do PT, porque as lideranças regionais foram podadas. Se hoje essas lideranças existissem, que fossem quatro ou cinco pessoas, Lula estaria numa situação mais confortável. Mas ele está sozinho.
Outro erro foi o PT se distanciar da sua base e abandonar a militância, dando preferência as alianças políticas. Se quiser retomar o seu ímpeto político, o PT precisa rememorar sua história e retomar isso.
BBC Brasil - Com os desdobramentos desta sexta-feira, como ficam as chances de impeachment da presidente Dilma Rousseff?
Roberto Romano - Agora (com a condução coerciva de Lula), as condições para o impeachment se ampliam. Mas é preciso lembrar que o Brasil não tem uma oposição coesa, capaz de fazer frente ao governo, para aproveitar esse momento de fraqueza da presidente.
O que temos hoje são vários líderes oposicionistas, mas cada um com um interesse próprio. O PMDB teria essa capacidade de coesão em momentos de crise, mas para isso precisaria passar por uma acomodação interna.
(Foto: Reuters)Image copyrightReuters
Image captionFilósofo teme acirramento da disputa nas ruas
BBC Brasil - No cenário atual, há riscos de radicalização?
Roberto Romano - Eu não acredito em “venezuelização” do país, até porque o PT não tem o controle total do Estado e nem uma grande hegemonia, como os chavistas. Mas tenho receio do que pode acontecer em termos de protestos e enfrentamentos de rua, já que não temos um sistema nacional de segurança eficiente.
Com a polícia truculenta que temos, o que pode acontecer na Avenida Paulista com milhares de lulistas e oposicionistas? Não há como descartar a possibilidade de violência e até mortes. Vivemos em um país em que não há governabilidade.
BBC Brasil - Como assim?

Roberto Romano - Estamos vivendo uma crise do Estado brasileiro. Porque o nosso Estado segue moldes do século 19. É claro que temos crises semelhantes em muitos outros países. Mas a máquina do Estado brasileiro é totalmente ultrapassada, com privilégios de foro e outros fatores que só acontecem no Brasi

Jornal de oposição turco sob tutela judicial publica elogios ao governo Funcionária garante que edição não foi escrita pela equipe do jornal Zaman. Estados Unidos e União Europeia pediram respeito à liberdade de imprensa. Da France Presse

Manifestantes são dispersados durante protesto a favor da liberdade de imprensa na Turquia, neste sábado (5) (Foto: Osman Orsal/Reuters)Manifestantes são dispersados durante protesto a favor da liberdade de imprensa na Turquia, no último sábado (5) (Foto: Osman Orsal/Reuters)


O jornal turco Zaman, crítico ao presidente Recep Tayyip Erdogan, publicou neste domingo (6) sua primeira edição desde que foi colocado sob tutela judicial, adotando uma linha editorial totalmente pró-governamental.
Na primeira página deste domingo, um artigo sobre um ambicioso projeto do governo de construção de uma ponte que unirá as partes asiática e europeia de Istambul substituiu as habituais críticas.
Também ocupava a primeira página uma foto de Erdogan dando a mão a uma idosa, e abaixo dela era anunciado que o chefe de Estado receberá mulheres na próxima semana, por ocasião do Dia da Mulher."Não temos internet e não podemos utilizar nosso sistema", disse à AFP um dos jornalistas da publicação. "A edição deste domingo não foi feita pelos funcionários do Zaman", acrescentou.
O jornal de oposição Zaman foi alvo de uma intervenção na noite de sexta-feira e foi colocado sob tutela judicial, em um novo caso de repressão na Turquia contra os meios de comunicação.
A nova administração nomeada pelas autoridades turcas demitiu o chefe de redação do grupo, Abdülhamit Bilici, segundo vários meios de comunicação.
A tomada de controle deste jornal gerou preocupação nos Estados Unidos e na União Europeia, que pediram que Ancara respeite a liberdade de imprensa.
"Não se trata de um ato político, mas jurídico. A Turquia é um Estado de Direito", declarou, no entanto, o primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu.
O grupo Zaman, também dono da agência de notícias Cihan e do jornal em inglês Today's Zaman, é conhecido por suas posições próximas ao imã Fethullah Gulen, inimigo número um de Erdogan desde a explosão de um escândalo de corrupção que atingiu as altas esferas do Estado, no fim de 2013.
O presidente turco acusa Gulen, de 74 anos, de estar por trás das acusações de corrupção que enfrentou há dois anos e de ter criado um "Estado paralelo" para derrubá-lo. Os partidários de Gulen negam as acusações.
Desde este escândalo, as autoridades turcas multiplicaram as punições, especialmente dentro da polícia e da justiça, e realizaram ações judiciais contra os partidários de Gulen e seus interesses financeiros.
E, há vários meses, tanto a oposição turca quanto ONGs de defesa dos meios de comunicação e outros países expressam sua inquietação diante da crescente repressão de Erdogan e de seu governo da imprensa.
Dois jornalistas do jornal opositor Cumhuriyet, Can Dundar e Erdem Gul, serão julgados no fim de março por terem informado sobre fornecimentos de armas de Ancara a rebeldes islamitas na Síria.
Os dois repórteres foram libertados há uma semana depois de passarem três meses na prisão, mas correm o risco de ser condenados à prisão perpétua.

Guerra na Síria alimenta tráfico de captagon, a droga dos combatentes Droga à base de anfetamina é usada como estimulante e para reduzir medo. Produção explodiu na Síria e no Líbano após início do conflito.

France Presse
06/03/2016 07h00 - Atualizado em 06/03/2016 07h00

Pílulas de captagon apreendidas pela polícia síria em Damasco; droga é usada por combatentes como substância estimulante e para diminuir o medo (Foto: Louai Beshara/AFP )Pílulas de captagon apreendidas pela polícia síria em Damasco; droga é usada por combatentes como substância estimulante e para diminuir o medo (Foto: Louai Beshara/AFP )
O caos na Síria impulsionou no país e no vizinho Líbano a fabricação e o tráfico de captagon, uma droga destinada a combatentes e consumida nos países do Golfo.
Fabricado à base de anfetaminas, o captagon, uma das drogas mais populares do Oriente Médio, é usado como psicoestimulante para diminuir o medo e são atribuídas a ele propriedades afrodisíacas.
"Quando a crise começou na Síria, este país e o Líbano se tornaram passarelas para o tráfico de captagon", explicou à AFP uma autoridade libanesa de segurança, que pediu para ter sua identidade preservada. "A invenção desta substância não remonta, certamente, aos últimos anos, mas, quando o tráfico explodiu, o Líbano se tornou um país exportador", acrescentou.Nos últimos meses, os serviços de segurança sírios e libaneses travaram uma luta contra esta droga, produzida em locais onde as autoridades locais fazem vista grossa ou simplesmente inexistem.
O captagon consta da lista do Escritório das Nações Unidas contra as Drogas e o Crime (UNODC) como uma "anfetamina de tipo estimulante". Normalmente é misturada com cafeína e outras substâncias.
Em 30 de dezembro passado, autoridades libanesas anunciaram ter apreendido, em coordenação com a Arábia Saudita, de 12 milhões de cápsulas de captagon e detido o "cérebro" da célula encarregada da exportação para o Golfo.
Dois meses antes, foi detido no aeroporto de Beirute um príncipe saudita e outros quatro cidadãos do reino que se dispunham a deixar o país com quase duas toneladas desta anfetamina.
'Propagar este veneno'
Mamoun Hamid Omari, diretor do órgão de combate a drogas de Damasco: guerra ao captagon (Foto: Louai Beshara/AFP)Mamoun Hamid Omari, diretor do órgão de combate a drogas de Damasco, fala sobre combate ao captagon (Foto: Louai Beshara/AFP)
O general Maamun Amuri, chefe da agência síria antinarcóticos, sente-se orgulhoso de ter apreendido no ano passado 24 milhões de cápsulas, das quais 5 milhões foram confiscadas no aeroporto de Tartus (oeste). Destinavam-se ao Kuwait.
Na Síria, assolada pela guerra, as autoridades afirmam que o captagon é uma substância produzida nas regiões sob controle dos rebeldes, sobretudo no norte do país e perto de Damasco.
Estes grupos "querem propagar esse veneno para se financiar e comprar armas", assegurou o oficial sírio. "Em seguida, fornecem a droga aos seus combatentes para torná-los insensíveis, por exemplo, às decapitações e às execuções", explicou.
Um ex-rebelde refugiado no Líbano admitiu à AFP que consumia este estimulante com seus companheiros de armas porque "eliminava o cansaço e o medo".
Segundo um combatente rebelde sírio, "o grupo Estado Islâmico e a Frente al Nosra (braço sírio da Al Qaeda), além dos grupos islamitas, proíbem o uso destas drogas porque é contrário à lei islâmica", mas as fabricam para se financiar.
Entre 5 e 10 dólares a cápsula
No Líbano, os laboratórios onde se produz captagon estão concentrados ao longo da fronteira com a Síria, no leste ou no norte, segundo a fonte de segurança.
"Não é preciso muito espaço para fabricá-lo. É possível produzir silenciosamente milhões de cápsulas em uma van", diz uma segunda fonte de segurança.
Um produtor de captagon na colina da Bekaa libanesa (nordeste), que não quer ser identificado, assegura que os traficantes compram dele caixas com 200 cápsulas cada.
"Para elaborar captagon, precisa-se de anfetaminas às quais se adiciona álcool e ácido cítrico", detalha. Em seguida, os ingredientes são secos e colocados em uma empacotadora usada normalmente para endurecer caramelos. Posteriormente, exportam-se pelo aeroporto e o porto de Beirute.
"O captagon não é popular no Líbano e a demanda é bastante menor do que a das outras drogas devido ao seu alto preço, entre 5 e 10 dólares por cápsula (4,6 a 9,2 euros)", diz um encarregado libanês.
"Os países do Golfo são os principais consumidores, especialmente a Arábia Saudita, aonde se destina a maior parte da mercadoria", afirma. "Consomem muito porque acreditam que é um estimulante sexual"
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sábado, 5 de março de 2016

Investigação sobre Lula faz Brasil flertar com uma crise institucional

Presidenta Dilma, Lula e juristas põem em questão as ações da Operação Lava Jato

Dilma acena para apoiadores ao lado de Lula e Marisa da varanda do ex-presidente, em São Bernardo, neste sábado.Dilma acena para apoiadores ao lado de Lula e Marisa da varanda do ex-presidente, em São Bernardo, neste sábado.  AP
Uma república não prospera sem o funcionamento pleno de suas instituições, ensina a literatura política e econômica mais moderna. Na sexta-feira, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi coagido a depor à Polícia Federal por conta da Operação Lava Jato houve sinais de que a convivência entre os Poderes no Brasil estava prestes a cruzar uma linha perigosa.
A presidenta Dilma Rousseff manifestou "integral inconformismo" após ver seu mentor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ser coagido a depor à Polícia Federal por conta da Operação Lava Jato. Lula, por sua vez, reivindicando seu legado enquanto presidente, dirigiu as baterias contra os procuradores e juízes que investigam sua relação com os maiores empreiteiros do país. O problema, segundo o ex-presidente, não é a oposição ao Governo, mas “uma parcela do Judiciário brasileiro que está trabalhando com certos setores da imprensa”.
O mundo judiciário de fato não reagiu bem à condução coercitiva de Lula para o posto avançado da Polícia Federal no Aeroporto de Congonhas. Juristas ouvidos pelo EL PAÍS questionaram o procedimento, classificado como exagerado e até inconstitucional por alguns deles. O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse à Folha de S.Paulo que a coerção de Lula foi "um ato de força" e questionou as justificativas utilizadas pelo juiz Sergio Moro para embasar a decisão: "Será que ele [Lula] queria essa proteção? Eu acredito que na verdade esse argumento foi dado para justificar um ato de força. Isso implica em retrocesso, e não em avanço".
A condução coercitiva foi autorizada pela Justiça 117 vezes ao longo das 24 fases da Lava Jato
A Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) reagiu, dizendo em nota que a força-tarefa da Lava Jato atua "de acordo com a mais rígida e cuidadosa observância dos preceitos legais, sem violência ou desrespeito aos investigados". Os procuradores argumentam ainda que "a condução coercitiva é instrumento de investigação previsto no ordenamento e foi autorizada no caso do ex-presidente Lula de forma justificada e absolutamente proporcional, para ser aplicada apenas se o investigado eventualmente se recusasse a acompanhar a autoridade policial para depoimento penal".
Exagerada ou não, a condução coercitiva foi autorizada pela Justiça outras 117 vezes ao longo das 24 fases da Operação Lava Jato. A utilização do procedimento para ouvir Lula, portanto, mostra que, apesar do desconforto e dos tumultos que isso possa causar, não foi uma exceção entre os investigados. Em entrevista à BBC Brasil, o presidente da ONG Transparência Internacional, José Ugaz, disse que a investigação contra Lula "mostra que o combate à corrupção não deve levar em conta a importância política ou econômica de ninguém".
A Operação Lava Jato parece ter sentido o impacto das reações. Neste sábado e de maneira inusual, o juiz Sergio Moro divulgou nota para dizer que a condução coercitiva de Lula "não significa antecipação de culpa do ex-presidente" e para "lamentar que as diligências tenham levado a pontuais confrontos em manifestação políticas inflamadas, com agressões a inocentes, exatamente o que se pretendia evitar". O juiz ainda repudiou "atos de violência de qualquer natureza, origem e direcionamento, bem como a incitação à prática de violência, ofensas ou ameaças a quem quer que seja, a investigados, a partidos políticos, a instituições constituídas ou a qualquer pessoa". Mais tarde foi a vez do time de procuradores da Lava Jato se defender também em nota.
Já vinham sendo sentidos sintomas de uma crise institucional desde que a Operação Lava Jato começou a tocar os altos escalões da República

Crise institucional

Comedido ao comentar a crise e ao mesmo tempo um personagem importante dela, o vice-presidente da República, Michel Temer, disse durante evento com juízes no Mato Grosso do Sul na sexta-feira que o país passa por um "refluxo institucional". "A cada 25, 30 anos, há um refluxo, quase um fatalismo histórico, um fluxo e refluxo institucional, começam a aparecer crises que demandam novas providências do povo brasileiro", registra O Estado de S.Paulo. Fazendo menção ao golpe militar de 1964, Temer disse que o poder Executivo tem uma "vocação centralizadora muito forte" e que, para evitar o rompimento de ciclos históricos, é preciso "mudar as instituições" periodicamente.
Os sintomas de uma crise institucional já vinham sendo sentidos desde que a Lava Jato começou a tocar os altos escalões da República — gerando troca de farpas entre membros do Judiciário, do Executivo e do Legislativo —, e se acirrou quando o Governo perdeu o controle da Câmara, com a eleição de Eduardo Cunha, em fevereiro de 2015. Sem base no Congresso Nacional, Dilma se vê forçada a optar entre fazer as reformas para equilibrar as contas públicas — com os ônus políticos que as acompanharão — e ser fiel à sua base social.
A presidenta talvez estivesse na melhor posição para liderar um processo de estabilização, mas, já abalada pelo turbilhão político, foi diretamente envolvida pela primeira vez nesta semana no enredo da Lava Jato, graças ao vazamento do princípio de um acordo de delação premiada do senador Delcício do Amaral (PT). Não bastasse, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), que já é tratado pelo STF como réu por conta da mesma operação, foi denunciado mais uma vez pelo Ministério Público por irregularidades cometidas no âmbito da Petrobras — a denúncia contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), ainda aguarda parecer dos ministros, após ter sido retirado da pauta de julgamentos.
Além disso, o ministro da Justiça deixou o cargo por conta de pressões do partido da presidenta, insatisfeito com os rumos da Lava Jato — no final do ano passado, Joaquim Levy já havia deixado o Ministério da Fazenda por atritos com o PT. Tudo isso ocorre em meio à maior recessão desde os anos 1990 e a perspectiva de um segundo ano seguido com encolhimento da economia. De todo esse caos, pode surgir boa notícia se o Brasil conseguir enfrentar e atravessar todos seus problemas políticos e os Poderes passarem por esse "teste de estresse" sem derrapagens. Se a Operação Lava Jato for um sucesso, o país dificilmente estará em pior condição do que quando ela começou, há dois anos — e isso não será pouco.

Por Aguiasemrumo: Romulo Sanches de Oliveira
Todo esse mar de lama de corrupção, enriquecimentos ilícitos, nos dar a certeza da putrefação da política já que não existe ideologia. Um mandato parlamentar concede ao mau político a fazer negociatas com o erário público de interesses pessoais, sem o mínimo interesse com os sérios problemas e dificuldades enfrentadas pela nação, se esquecendo de que a pátria não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo; é o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade. O voto no Brasil precisa deixar de ser obrigatório, pois a democracia séria e justa contempla esses benefícios a todos que não se identifiquem com as propostas de candidatos.