domingo, 20 de setembro de 2015

Gilmar Mendes, um bastião da oposição ao PT no Supremo “Quando ele pega um punhado de pólvora, consegue criar uma bomba atômica”, diz Fux










Quando o ministro Gilmar Mendes pega um punhado de pólvora, ele consegue criar uma bomba atômica. A frase teria várias interpretações, dependendo da boca de quem ela saísse. Sendo dita pelo ministro Luiz Fux, seu colega no Supremo Tribunal Federal(STF), ela paira como uma ressalva sobre a postura de Mendes no último julgamento do qual participou, sobre o financiamento empresarial de campanhas. Na ocasião, depois de segurar o processo por um ano e cinco meses com um pedido de vista, Mendes mais criticou o PT pelo seu envolvimento nos desvios bilionários da Petrobras descobertos pela Lava Jato, do que analisou a constitucionalidade das doações de empresas para candidatos e partidos políticos.
A sua ascensão na carreira começou quando se tornou advogado-geral da União no Governo tucano deFernando Henrique Cardoso (1995-2002) e acabou indicado por ele para o Supremo no ano de 2002, quando ainda tinha cabelos negros e usava barba da mesma cor. Agora, com poucos fios de cabelos, a maioria grisalhos, e sem barba, o ministro, de 59 anos de idade, demonstra cada dia mais raiva contra o partido que há quase 13 anos governa o Brasil e que tem se envolvido em uma série escândalos. Na quarta-feira passada, quando em seu voto no caso do financiamento eleitoral ficou cinco horas criticando os petistas por serem investigados na Lava Jato, Mendes afirmou que quase se emocionava ao ver um partido que foi tão beneficiado por esquemas ilícitos pedirem a proibição da doação empresarial nas campanhas.Mendes não se intimida de expor suas posições, que por vezes transcendem a análise técnica, seja no tribunal ou em entrevistas. Por isso, nos últimos anos, Mendes tem sido visto como um bastião da oposição aos governos petistas no Judiciário, algo que é dito constantemente nos corredores do STF e do Congresso Nacional. Seu discurso é similar ao de um congressista do DEM ou do PSDB.
“O partido [PT] que mais leva vantagem, pela mais valia, para captar recursos [de campanha] agora, como madre Teresa de Calcutá, defende o encerramento das doações das empresas privadas. Quase que me emociono. Quase vou às lágrimas. É uma conversão que merece algum tipo de canonização. Será que eles nos tomam como idiotas?”, disse um Mendes irônico, durante o seu voto. E completou: “A rigor esse partido [o PT] é um partido de vanguarda. Porque instalou o financiamento público de campanha antes de sua aprovação. Recursos de estatais diretamente para o partido”. A ligação entre o público e o privado é uma das linhas de investigação da Lava Jato: se os doadores de campanha de Rousseff teriam apostado recursos na reeleição da presidenta com receio de perder negócios com a Petrobras. A tese é polêmica, pois muitos deles doaram exatamente o mesmo valor para o principal adversário da petista, Aécio Neves, do PSDB.

Para o desagrado da cúpula petista, Mendes também é ministro do TSE
Um dos colegas de Corte, Marco Aurélio Mello afirmou que esses argumentos de Mendes eram “metajurídicos”, extrapolavam a legislação e quaisquer decisões já tomadas anteriormente. Em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, o professor de direito Rubens Gleizer, da Fundação Getúlio Vargas, criticou o posicionamento do ministro anti-PT. “Ainda que juízes não sejam neutros, eles possuem deveres de imparcialidade que ancoram a sua legitimidade democrática. Desabafos políticos são importantes, mas são cabíveis em apenas em dois edifícios da Praça dos Três Poderes.”

Proximidades

Próximo do senador e ex-ministro de FHC, José Serra (PSDB-SP), Mendes também tem criado vínculos com entidades que a cada dia mais flertam com o impeachment de Dilma Rousseff. A mais recente foi a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), presidida pelo peemedebista Paulo Skaf. Na última sexta-feira, o ministro participou de um evento no qual repetiu boa parte de seu voto a favor do financiamento empresarial de campanhas. Disse que o PT tinha um projeto de se perpetuar no poder e, levando em conta os desvios da Lava Jato, já teria mais de 2 bilhões de reais para usar nas campanhas eleitorais até o ano de 2038.
Os ataques ao PT chegaram ao ponto de ele acusar a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que entrou com a ação contra o financiamento eleitoral, de estar atuando em nome do partido de Lula e Dilma. O que tanto a entidade quanto o partido refutaram.

Mendes acusou a OAB de ser usada pelo PT
Os argumentos e a postura de Mendes neste último caso assustaram inclusive boa parte de seus colegas que convivem quase diariamente com ele. Em dois momentos, as expressões dos ministros que o cercavam eram de surpresa.
No primeiro episódio, na quarta-feira passada, ele tentou bater boca com o advogado que representava a OAB e disse que este não tinha direito a se manifestar. Como o defensor teve o direito à fala garantido pelo presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski, Mendes se retirou do plenário. No dia seguinte, ele também saiu da Corte antes do fim da sessão sob o argumento de que tinha uma viagem marcada, justamente em um dos poucos dias em que há sessões plenárias previamente agendadas. Os demais ministros se entreolharam assustados com a abrupta saída e disseram que, mesmo sem Mendes, o julgamento da causa terminaria e que ele não poderia se manifestar sobre o caso na outra semana, como disse que pretendia fazer.

Holofotes acessos

Mato-grossense da cidade de Diamantino, Mendes começou a ganhar os holofotes nacionais no ano 2000, quando como advogado-geral da União teve de defender o Governo FHC nos processos contra o racionamento energético. Em 2008, já na presidência da Corte, voltou a receber destaques quando soltou o banqueiro Daniel Dantas, preso no Caso Satiagraha, um dos principais escândalos de corrupção do Brasil que acabou sendo invalidado pelo Supremo por conta de irregularidades na coleta de provas.
Vaidoso, ele é um dos dois ministros do STF que possuem páginas pessoais na internet, na qual publica notícias elogiosas a ele, seus artigos e sua história profissional. O outro ministro é Luís Roberto Barroso. Além de ministro, Mendes também é professor na Universidade de Brasília e no Instituto Brasiliense de Direito Público, o qual fundou.

O voto-vista não é apenas para o plenário. É um voto para a história
Gilmar Mendes
Para o desagrado da cúpula petista, Mendes também é ministro do Tribunal Superior Eleitoral. Nessa Corte, ele foi um dos que votou a favor de uma ação que pede a impugnação da candidatura de Dilma Rousseff e Michel Temer por suspeita de terem recebido recursos ilícitos na campanha de 2014. O processo deve voltar ao julgamento nesta terça-feira, dia 22. Neste mesmo caso, o ministro pediu que o Ministério Público aprofundasse as investigações contra o a campanha dilmista para apurar a ligação entre o financiamento privado e os interesses na Petrobras. Ele usou os depoimentos de delatores da Lava Jato, como Ricardo Pessoa, sócio da empreiteira UTC, como base para sua acusação. Pessoa teria doado recursos, segundo sua delação, por temer a perda de contratos com a Petrobras. A oposição aposta nessa linha de argumento para comprovar que o financiamento seria similar a propina.
Na semana passada, quando indagado se esperava que seus argumentos contra o PT e a sua ode à Lava Jato seriam capazes de convencer seus colegas a declararem votos a favor do financiamento empresarial de campanha ele respondeu: “O voto-vista não é apenas para o plenário. É um voto para a história. Tem o compromisso com a história de se advertir sobre essa situação e de usar o Supremo em uma questão política”. Ainda assim, ele só teve apoio de dois dos colegas do Supremo, contra 8 que derrubaram o financiamento empresarial.

Em projeto de 'repovoamento', bugios são introduzidos no Parque Nacional da Tijuca Paula Adamo Idoeta Da BBC Brasil em São Paulo

Pouco depois de a grande gaiola ser aberta, quatro hesitantes bugios deram seus primeiros passos no Parque Nacional da Tijuca, no coração do Rio de Janeiro, em 3 de setembro.
Não demorou, porém, até que os animais (também chamados de macacos-barbados e guaribas) começassem a se adaptar à nova casa, escalando as árvores e se alimentando de seus frutos.
A espécie estava ausente do local havia mais de cem anos, segundo estimativas de pesquisadores, provavelmente por culpa da caça predatória e do desmatamento.
A chegada dos novos bugios é parte de um projeto maior, de reconstrução da fauna do Parque Nacional da Tijuca, para combater o chamado mal da "floresta vazia": a perda de animais de médio e grande porte por conta da caça tem efeitos muito prejudiciais à sobrevivência da própria floresta.
"A Tijuca está se tornando um laboratório em técnicas de reintrodução da fauna", explica à BBC Brasil Fernando Fernandez, da UFRJ, pesquisador responsável pelo projeto, que teve apoio financeiro da Fundação Grupo Boticário. "Alguns desses animais são importantes dispersores de sementes, ajudando (na reprodução) de árvores ameaçadas."
Image copyrightLuisa Genes Fundacao Grupo Boticario
Image captionBugios estavam ausentes das matas da Tijuca havia estimados cem anos
Fernandez explica que o primeiro animal a ser reintroduzido no parque pelo projeto foi a cutia, em 2010, conhecida justamente por sua capacidade de transportar e enterrar sementes. Agora já há 35 cutias habitando as matas da Tijuca.
"Os bugios também têm um papel importante, porque alguns besouros usam as fezes (dos primatas) para liberar nutrientes no solo", explica Fernandez.

Autossustentável

O plano, diz o pesquisador, é levar mais três grupos de cinco bugios à natureza nos próximos anos, com o objetivo de tornar a população autossustentável.
Antes de serem reintroduzidos no parque, eles passaram oito meses sob observação no centro de pesquisas da UFRJ, passando por exames médicos, recebendo colares e tornozeleiras de monitoramento e aprendendo a conviver entre si.
"Isso é muito importante porque os bugios montam grupos sociais, permanecendo juntos na floresta", prossegue o pesquisador.
O grupo inicialmente tinha cinco primatas, mas um deles acabou sendo expulso pelo macho dominante. Precisou, então, ser retirado do projeto, caso contrário seria morto pelos demais.
"Vamos monitorá-los até termos a confiança de que estão bem, para se reproduzir e crescer como população", diz.
Além de bugios, existe a intenção de reintroduzir ao parque espécies como o cateto (porco-do-mato), o jupará, o preguiça-de-coleira e o mico-leão dourado.
Bugios sendo reintroduzidos no Parque Nacional da Tijuca (Foto: Luisa Genes/Fundação Grupo Boticário)Image copyrightLuisa Genes Fundacao Grupo Boticario
Image captionFezes dos bugios acabam se tornando fonte de nutrientes para o solo
"A ideia é reconstruir a floresta no longo prazo, como parte de um projeto maior de 'refaunação' do Rio de Janeiro e de outras partes do país."
Agora, é bem possível que o bugio - conhecido por seus ruídos, que podem ser ouvidos a quilômetros de distância durante as disputas territoriais dos animais - comece a ser avistado pelos milhões de visitantes anuais do Parque Nacional da Tijuca.
A interação com humanos deixa Fernandez animado, mas também preocupado.
"Espero que a reação (das pessoas) seja boa, porque são bichos muito carismáticos. O que eu recomendo é que se mantenha distância, não se tente interagir com ele, e por favor não se dê comida a ele, que pode fazer mal. Observe e curta os bichos porque eles são muito legais, mas guarde distância. Muita gente vai ao Parque Nacional da Tijuca mais pelo Cristo (Redentor), mas haverá cada vez mais animais ali. É uma chance de valorizar a fauna e aprender a conservá-la."

Chuvas afetaram ao menos 4,4 mil pessoas em SC, afirma Defesa Civil Em Corupá, dois homens ficaram feridos durante enterro no sábado (19). Leoberto Leal decretou situação de emergência após queda de granizo.

Galpão ficou destruído em Corupá na tarde de sábado (19) (Foto: Antonio Edival Pereira/Divulgação)Galpão ficou destruído em Corupá na tarde de sábado (19) (Foto: Antonio Edival Pereira/Divulgação)
Em quatro dias, a Defesa Civil contabilizou 80 ocorrências envolvendo chuva forte, vendaval ou granizo em 73 municípios de Santa Catarina, de acordo com o último relatório divulgado, na madrugada deste domingo (20).
Os dados preliminares apontam que mais de 4,4 mil pessoas foram afetadas, duas ficaram feridas e quase 700 imóveis foram atingidos entre quarta-feira (16) e sábado (19). O Sul e a Serra foram as regiões mais afetadas (confira o quadro de ocorrências aqui).

A cidade de Leoberto Leal, na Grande Florianópolis, decretou situação de emergência, segundo a Defesa Civil. No sábado (19), 35 casas e alguns galpões foram afetados por granizo.

Feridos em enterro
Vendaval e granizo também causaram prejuízos em Corupá, no Norte do estado, na tarde de sábado. Por volta das 16h30, dois trabalhadores que seguravam uma lona durante um enterro foram arremessados por cerca de 15 metros pela força do vento. O coordenador regional da Defesa Civil em Joinville, Antonio Edival Pereira, afirma que eles tiveram fraturas e foram encaminhados ao hospital.

A tempestade durou cerca de uma hora. Ao menos 3 mil unidades ficaram sem energia elétrica por algumas horas e 50 residências foram destelhadas. A Defesa Civil destribuiu lonas para 10 casas em situação mais grave. Na BR-280, houve queda de árvores em fiação.

Desbloquear fundo é insuficiente para melhorar presídios, dizem analistas No início do mês, STF mandou União liberar R$ 2,4 bilhões do Funpen. Até junho, menos de 10% do dinheiro disponível foi gasto em reformas.

Uma recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que obriga o governo a liberar uma quantia bilionária para a construção e reforma de presídios pode ser insuficiente para melhorar a situação dos presos, disseram ao G1 especialistas que acompanham o assunto.
APLICAÇÃO DAS VERBAS FEDERAIS
PARA PRESÍDIOS (em milhões de reais)
Ano
Disponível
Gasto
2011
R$ 269,9
R$ 91,3
2012
R$ 791
R$ 91,7
2013
R$ 384,2
R$ 73,6
2014
R$ 493,9
R$ 202,2
Fonte: Orçamento da União/Contas Abertas
Para eles, ainda falta vontade política, priorização e capacidade de gestão a fim de garantir condições dignas para a população carcerária.
No último dia 9 de setembro, o STF determinou que o governo federal libere todo o saldo do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen), atualmente de R$ 2,4 bilhões, segundo o Ministério da Justiça.
O dinheiro, proveniente de taxas pagas em ações na Justiça e parte das apostas em loterias federais, vem se acumulando há 15 anos sem total destinação para melhoria das penitenciárias e cadeias no país.
Apesar da cifra, todos os anos o governo reserva menos recursos ao orçamento do fundo, que, mesmo assim, não é inteiramente gasto na área (veja na tabela ao lado).
Até junho deste ano, por exemplo, o governo desembolsou menos que 10% do disponível: R$ 46,4 milhões dos R$ 541,8 milhões autorizados no Orçamento de 2015, segundo levantamento realizado pela ONG Contas Abertas, que monitora os gastos públicos com dados oficiais.
Um levantamento feito pelo Ministério da Justiça a pedido do G1 no ano passado mostrou que, de 2004 a 2013, 15 estados e o Distrito Federaldeixaram de usar R$ 187 milhões liberados pelo governo federal.Além de bloqueios frequentes do próprio governo federal para fazer caixa, boa parte do dinheiro não é gasto por problemas enfrentados pelos estados.
Entre os diversos motivos alegados, destacam-se a falta de recursos dos próprios estados para completar as obras, cancelamentos por atrasos, inadequação de projetos, problemas em licitações, suspeitas de irregularidades e trocas no comando dos governos estaduais. Uma reclamação frequente são as exigências e a burocracia da União para soltar o dinheiro.
"Os estados têm dificuldades, falta vontade política para formular políticas públicas para usar aqueles recursos, presos não são prioridade. Há uma outra questão que é o excesso de burocracia do Ministério da Justiça", explica o advogado Daniel Samento, que representou o PSOL, autor da ação com o pedido de desbloqueio do Funpen.

No ano passado, segundo dados do Ministério da Justiça, dos R$ 253,1 milhões disponibilizados aos estados, R$ 146,8 milhões foram gastos, dos quais a maior parte (R$ 134,5 milhões) para pagamentos de obras contratadas em anos anteriores.
Mudança de postura
Com a recente decisão do STF de aumentar os recursos a serem disponibilizados, os governos terão de mudar a postura para garantir as melhoras, diz o jurista.
"Em vez de pegar e bloquear, é preciso que as partes sentem para que, por exemplo, a União busque de alguma maneira capacitar os estados a formular projetos adequados. Mas, por outro lado, que a União seja mais flexível em relação a essas burocracias", afirma.
Outra forma de efetivar a aplicação dos recursos, lembra Sarmento, é a possibilidade de o próprio Judiciário obrigar estados a construir presídios, conforme outra decisão recente do STF, proferida em agosto a pedido do Ministério Público no Rio Grande do Sul.
Se há um caso em que se justifica uma intervenção forte do Judiciário sobre os outros poderes é esse. A gente está lidando, primeiro, com os direitos mais básicos das pessoas. Depois, são pessoas excluídas do sistema político, que não votam e são impopulares na sociedade. E o quadro de descalabro e descaso está configurado."
Daniel Sarmento,
advogado do PSOL, autor da ação
Professor e pesquisador da Faculdade de Direito da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, o também jurista Rubens Glezer afirma que a decisão do STF na ação sobre o Funpen ainda poderá avançar mais, quando os ministros julgarem outros pedidos feitos pelo PSOL, ainda não analisados. Trata-se de obrigar governos federal e estaduais a formularem planos amplos para melhorar todo o sistema penitenciário, sob supervisão do Judiciário.
"O Judiciário deveria exigir políticas públicas estruturais comprometidas com prazos e projetos", diz Glezer. Ele também defende a atuação mais incisiva do Judiciário por entender que políticos quase sempre ignoram quando disputam cargos no Legislativo e no Executivo.
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O governo vai precisar se reestruturar, fazer seminário, organizar eventos, ensinar, mostrar como os estados podem obter e efetivamente fazer com esses recursos. É preciso que o governo tenha capacidade de identificar as dificuldades que os estados têm e auxiliá-los"
Gil Castello Branco,
ONG Contas Abertas
"Nós sabemos que a pauta carcerária não traz votos. Propagandas políticas de modo geral não sinalizam interesse em defender os direitos dos presos porque no discurso geral se tem a ideia de que cuidar do direito dos presos num país como o nosso é um descaso para as pessoas que seguem as leis. E o que se perde de vista é que as pessoas presas precisam voltar depois e ser reintegradas à sociedade", afirma.
Como solução para o efetivo uso dos recursos agora disponíveis, Gil Castello Branco, diretor da ONG Contas Abertas, chama a atenção para a melhoria da capacidade de gestão, medida que também pode receber investimentos do Funpen.

"O governo vai precisar se reestruturar, fazer seminário, organizar eventos, ensinar, mostrar como os estados podem obter e efetivamente fazer com esses recursos. É preciso que o governo, que já convive com essa dificuldade há várias décadas, tenha capacidade de identificar as dificuldades que os estados têm e auxiliá-los".

Procurado pelo G1 para informar os planos que tem para aplicar o dinheiro, o Departamento Penitenciário Nacional (Depen), ligado ao Ministério da Justiça e que adminstra o Funpen, disse que só irá se manifestar sobre o assunto depois de notificado da decisão do STF.

sábado, 19 de setembro de 2015

Como os bancos latino-americanos continuam lucrando muito, apesar da crise Gerardo Lissardy Da BBC Mundo


Image copyrightReuters
Image captionEnquanto moradores de muitos países latino-americanos apertam o cinto, bancos elevam a rentabilidade em várias nações da região

Os bancos na América Latina parecem ter encontrado a fórmula dos sonhos no mundo dos negócios: ganhar cada vez mais dinheiro, mesmo em tempos de vacas magras.
No Brasil, o lucro conjunto dos quatro maiores bancos cresceu 46% no primeiro semestre deste ano ante o mesmo período de 2014, apesar de o país enfrentar uma recessão e um escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras e o governo federal.
No México, os lucros do setor bancário aumentaram quase 14% entre janeiro e junho deste ano na comparação com a primeira metade de 2014 - ou seja, cinco vezes mais que a taxa de expansão do PIB (Produto Interno Bruto) local.
Algo parecido ocorre em outras nações latino-americanas com economias em desaceleração.
Bancos de países como Colômbia, Equador, Paraguai e Uruguai registraram mais ganhos nos primeiros seis ou sete meses de 2015 do que em períodos iguais do ano passado.
A tendência se estende a países que passam por estagnação econômica desde 2014 e onde os governos adotam bandeiras de esquerda.
Bancos da Argentina e da Venezuela ocuparam os 10 primeiros lugares de um ranking regional de retorno sobre capital, divulgado pela publicação especializadaThe Banker em novembro.

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Image captionA desaceleração e a recessão de economias na América Latina não parecem afetar a performance do sistema bancário

Ainda que em geral a bonança tenha começado há tempo para a banca latino-americana, quando a economia regional avançava a pleno vapor, os resultados atuais chamam a atenção de especialistas.
"O lucro, devo dizer, é um pouco surpreendente", reconhece Claudio Loser, ex-diretor para a América Latina do Fundo Monetário Internacional (FMI), em conversa com a BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
Então como explicar isso? E quanto mais essa festa bancária pode durar?

Negócio redondo

A despeito das características de cada sistema financeiro, que variam por tamanho e regulação, os latino-americanos têm pontos em comum, apontam analistas.
Um deles é que costumam cobrar juros altos pelo crédito ao consumo (no Brasil, por exemplo, a taxa anual para cartões de crédito acaba de atingir 350,79%).

Image captionClaudio Loser: o lucro dos bancos na região é "um pouco surpreendente"

"Você pode observar taxas de lucros muito altas (dos bancos latino-americanos) porque eles tiveram acesso a fundos muito baratos e emprestaram a taxas altas" diz Loser, diretor da consultoria Centennial Latin America, em Washington.
Os créditos ao consumo chegaram a crescer cerca de 20% por ano na região durante a última década, devido à expansão histórica da classe média, que atingiu 181 milhões de pessoas ou 34% da população total.
A quantidade de latino-americanos adultos com conta bancária passou de 39% do total de 2011 a 51% no ano passado, de acordo com o Banco Mundial.
Arturo Sánchez, analista de crédito da Standard & Poor’s (S&P) no México, avalia que as taxas de juros sobre o crédito na região refletem o risco assumido pelos bancos, que até agora, no entanto, evitar lidar com a alta inadimplência.

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Image captionOs bancos elevaram seus lucros à medida que tiveram acesso a mais clientes e a crédito nos últimos anos

"Os resultados líquidos se mantivem graças à capacidade dos bancos na América Latina de, em geral, manter níveis manejáveis de carteiras vencidas e perdas de crédito", apontou Sánchez.
Ele acrescenta que isso permitiu aos bancos evitar aumentos nas provisões, dinheiro destinado a absorver eventuais perdas por exposição ao crédito, o que deixa margens significativas para os lucros.
Trata-se, portanto, de um ciclo que parece se fechar de maneira quase perfeita para os bancos da região.

Mais juros, mais dinheiro

Ao mesmo tempo há circunstâncias específicas em alguns países que impulsionam o negócio financeiro.
Na Argentina e na Venezuela, por exemplo, o alto retorno dos bancos sobre o capital é atribuído aos elevados índices de inflação, que empurram os juros para cima.
O Brasil tem uma das taxas de juros real (descontada a taxa de inflação dos juros nominais) mais altas do mundo, que superou 9% na semana passada, quando a S&P retirou o país da categoria de grau de investimento.

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Image captionAs altas taxas de juros praticadas por países da região são chave para entender a rentabilidade bancária

E se juros altos pressionam o custo de captação do dinheiro para todos, os bancos tendem a driblar o problema ao repassar esse custo aos clientes.
As quatro maiores instituições bancárias brasileiras (Bradesco, Santander, Itaú e Banco do Brasil) registraram lucros equivalentes a US$ 8,7 bilhões no primeiro semestre.
"Os bancos do Brasil são muito líquidos, estão ancorados em títulos públicos do governo e a taxa de juros subiu muito: isso também dá lucros de tesouraria", afirma João Augusto Frota Salles, analista da consultoria Lopes Filho, no Rio de Janeiro.

E agora?

Especialistas afirmam, contudo, que o panorama está mudando para a banca latino-americana.
A agência S&P, por exemplo, rebaixou a nota dos principais bancos do Brasil na semana passada, um dia após retirar do país o selo de bom pagador.
Em busca de recursos fiscais, o Brasil busca agora subir os impostos aos lucros bancários, o que, na avaliação da agência de análise de risco Fitch, pode desacelerar o crédito e, segundo políticos de oposição, impor mais custos ao consumidor final.

Image copyrightBBC World Service
Image captionO recuo da economia e do crédito ameaça os ganhos do setor bancário na região

Também se nota em outros países essa mudança de ventos que chegou com o enfraquecimento da economia e do consumo.
Os lucros bancários se desaceleraram no primeiro semestre no Chile e na Costa Rica, caindo 13% e 19%, respectivamente, na comparação com o mesmo período de 2014.
Especialistas descartam que existam problemas graves no horizonte da região, que, em geral, elevou a supervisão bancária e diminuiu riscos após crises no passado.
Apontam, porém, que a rentabilidade dos bancos latino-americanos poderá cair à medida que as economias forem perdendo vigor e aumentando suas carteiras vencidas e créditos de difícil recuperação.
"Não esperamos que isso irá ocorrer em níveis alarmantes e nem que colocará em xeque os sistemas financeiros da América Latina", disse Sánchez, "mas acreditamos, sim, que irão começar a se deteriorar um pouco de forma gradual."