No quarto andar do anexo do Palácio do Buriti, numa sala ainda provisória, com pôster do revolucionário Che Guevara a ser pendurado, dá expediente um homem com currículo impressionante. Na última década, fez sete pós-graduações em Brasília, voltadas para direito internacional, geopolítica, movimentos sociais e inteligência. Mas o advogado Acilino Ribeiro nem sempre trajou o terno elegante de subsecretário de Movimentos Sociais e Participação Popular. Não são poucas as fotografias, boa parte delas resgatadas dos arquivos do regime militar, em que aparece de roupa camuflada e fuzil na mão.
Antes de assumir cargos públicos e políticos, foi um guerrilheiro. Preso pela ditadura, exilado no Exterior, treinado na Rússia e na Líbia, a ponto se tornar segurança de Muamar Kadafi, passou por todos os países onde havia qualquer risco do “imperialismo americano” estender seu domínio. Continua a acreditar ser este o verdadeiro inimigo. “Dois grupos vão para as ruas hoje nessa manifestação: um grupo de alienados que não aceita que perderam a eleição e outro financiado por forças do imperialismo. Estão loucos para tomar conta do nosso petróleo”, disse, em entrevista ao Correio.
O ex-guerrilheiro hoje usa outras armas. Aposta no diálogo para a solução de conflitos. Senta-se diariamente à mesa com movimentos sociais. Já negociou com sem-terra, sem-teto, sem-transporte, ciganos, índios, prostitutas, mendigos, gays, mulheres, desempregados, caminhoneiros. É requisitado até para intervir quando o barulho do carro de som não deixa ninguém trabalhar. Como ele próprio diz, saiu de incendiário a bombeiro. Sua trajetória será contada no documentário O sobrevivente da utopia.
A nossa reportagem com Acilino Ribeiro, você lê na edição impressa do Correio. Neste vídeo, alguns trechos da conversa. (Cristine Gentil e Luís Tajes)
EI domina cidade de Sirte com a ajuda de outro grupo terrorista local (foto: ANSA)
17 AGOSTO, 08:04•ROMA•ZGT
(ANSA) - Os governos da Itália, França, Alemanha, Espanha, Grã-Bretanha e Estados Unidos condenaram "com força" os "atos bárbaros" cometidos pelos terroristas do Estado Islâmico (EI, ex-Isis) na cidade líbia de Sirte.
Em nota divulgada nesta segunda-feira (17) pela Farnesina (Chancelaria italiana), as nações ainda apoiaram as ações das Nações Unidas na região.
"Estamos profundamente preocupados com as notícias que falam em bombardeamentos indiscriminados em bairros das cidades densamente habitadas e atos de violência cometidos para aterrorizar os habitantes. Mas, parabenizamos as recentes reuniões para o diálogo político e reforçamos todo nosso apoio ao diálogo guiado pelo enviado especial da ONU, Bernardino León", destaca a nota.
A Líbia está no meio de uma guerra civil entre grupos de diferentes correntes religiosas e políticas. Além dos confrontos internos, terroristas de outras regiões entraram e dominaram territórios na nação, causando ainda mais sofrimento para a população. O EI, por exemplo, conta com o apoio do Fajr Lybia na cidade de Sirte, que está desde o início do ano nas mãos dos jihadistas.
As seis nações ainda pediram para "todas as facções líbias" encontrar formas de "unir as próprias forças para combater a ameaça feita por grupos terroristas transnacionais que exploram a Líbia para seus próprios objetivos". O comunicado destaca o apoio à formação do acordo para criar um "governo de concórdia" para governar o país durante esse período de crise.
Ex-colônia italiana, a Líbia vive uma crise interna desde a queda do regime de Muammar Kadafi, em outubro de 2011, no auge da Primavera Árabe. Após a morte do ditador, que estava há 40 anos no poder, foi criado o Conselho Nacional de Transição, reconhecido por vários países ocidentais, em uma tentativa fracassada de unir o país.
É do país também que partem grande parte das embarcações clandestinas com centenas de imigrantes ilegais de toda a região. Os traficantes utilizam a costa do país para chegar à Itália, já que fica a poucas milhas de seu litoral através do Mar Mediterrâneo. As autoridades de Roma estimam que mais de 103 mil pessoas tenham chegado ao país em barcos vindos da Líbia. (ANSA)
DUBAI (Reuters) - O acordo nuclear do Irã com as potências mundiais não vai abrir a República Islâmica à influência econômica e política dos Estados Unidos e ainda pode ser barrado por qualquer um dos países, disse nesta segunda-feira o líder supremo aiatolá Ali Khamenei.
O clérigo conservador, a mais alta autoridade do Irã, tem evitado fazer pronunciamentos definitivos sobre o acordo nuclear alcançado no mês passado, que ainda precisa ser aprovado pelo Congresso dos Estados Unidos antes de entrar em vigor.
"Eles pensaram que este acordo - e ainda não está claro se vai ser aprovado no Irã nem nos EUA - vai abrir o Irã à influência deles (EUA)", afirmou Khamenei, segundo divulgado pelo site do líder na Internet, durante um encontro de membros da Rádio Islâmica e uma rede de TV.
"Nós bloqueamos esse caminho e vamos definitivamente bloqueá-lo no futuro. Nós não vamos permitir influência econômica, política e cultural norte-americana no Irã."
A atividade econômica registrou contração durante o segundo trimestre no Japão, um revés para o governo do primeiro-ministro Shinzo Abe que, segundo os analistas, agora terá que pisar no acelerador das reformas. Em ritmo anual, o PIB caiu 1,6%.
Consumo residencial, ponto frágil da economia nipônica, apesar de representar quase 60% do PIB, caiu 0,8% no mesmo período (Foto: Reuters)
Entre abril e junho de 2015, o Produto Interno Bruto (PIB) retrocedeu 0,4% na comparação com o primeiro trimestre, segundo resultados preliminares.
O consumo residencial, ponto frágil da economia nipônica, apesar de representar quase 60% do PIB, caiu 0,8% no mesmo período, depois de uma alta de 0,4% durante os três primeiros meses do ano.
Os investimentos não residenciais das empresas caíram 0,1%, depois de uma alta de 2,8% no primeiro trimestre.
O comércio exterior também contribuiu negativamente para a evolução do PIB (-0,3 ponto), enquanto as exportações da terceira economia mundial registraram queda de 4,4%.
O país registrou assim o primeiro retrocesso desde o terceiro trimestre de 2014. Na ocasião, a economia nipônica caiu temporariamente em recessão, após o aumento do IVA de 5% a 8% em abril de 2014, medida que complicou a recuperação.
O país encontrou depois o caminho do crescimento e a alta chegou a 1,1% no primeiro trimestre de 2015 (segundo dados revisados) mas o consumo residencial reduzido evidencia a fragilidade da recuperação.
O primeiro-ministro conservador Shinzo Abe tenta há mais de dois anos estimular a economia com uma estratégia conhecida como "Abenomics" - estímulo fiscal, flexibilização monetária e reformas estruturais -, mas seus esforços têm dificuldades para dar frutos.
A queda dos preços do petróleo e das matérias-primas significativas está causando um dano notável nas economias emergentes. As condições estratégicas globais estão mudando a um ritmo acelerado por vários fatores que coincidem no tempo. O primeiro é a evidente perda de ritmo da economia chinesa. Pequim está observando com grande inquietude o esgotamento de seu padrão de crescimento. Além disso, as peças de mercado que se pretende encaixar (a entrada de 90 milhões de pequenos acionistas nas Bolsas provocou uma convulsão inquietante para os mercados mundiais) não funcionam com precisão e há um certo risco de que surjam tensões sociais no país.
Menos crescimento chinês é menos importação e menos demanda de petróleo. Se a isso se acrescenta a preocupação com os efeitos financeiros da alta de juros preparada pelo Federal Reserve —que se resumem a uma redução do fluxo de capitais no sentido dos emergentes—, teremos um quadro aproximado das tendências dominantes na economia global durante os próximos trimestres. Os emergentes iniciam uma etapa na qual necessitarão ajustes orçamentários e terão de enfrentar provavelmente mais tensões sociais.
A recuperação do preço do petróleo é mais lenta do que o esperado e os preços se manterão em níveis baixos pelo menos durante 2016. Paralelamente, a desvalorização do yuan, decidida em caráter de urgência pelas autoridades chinesas, não vai resolver as graves tensões da economia do país. O impulso exportador que Pequim pretende dar a sua produção terá um efeito temporal; mas não resolve o estrangulamento da produção nem a pressão sobre o emprego. As reformas de que a China necessita para enfrentar sua crise são complexas e só podem ser introduzidas paulatinamente. Em todo o caso, enquanto a grande economia asiática não voltar a taxas de crescimento acima de 7%, os países emergentes da Ásia e América Latina sofrerão restrições importantes em suas exportações; e se, ao mesmo tempo, o preço do petróleo se mantiver em torno ou abaixo dos 80 dólares, suas taxas de crescimento e de criação de emprego nos próximos trimestres, pelo menos até 2017, podem se aproximar de zero.
Apesar de tudo, ainda que os ajustes imediatos sejam obrigatórios, a política econômica dos países dependentes do óleo cru e de matérias-primas cujo preço cai de forma persistente não pode se fundamentar apenas em austeridade. Até agora, as políticas de ajuste só funcionaram como remédios de urgência; em médio prazo, as políticas úteis são as que geram uma estrutura fiscal mais sólida, o investimento em infraestrutura e o gasto com educação. Da urgência dessas políticas deveriam tomar nota não só os Governos latino-americanos (ou a Rússia), mas também as instituições mundiais que podem facilitar os investimentos necessários. Seria o momento oportuno para revisar políticas.
A presidente Dilma Rousseff deveria permanecer no cargo, apesar dos pedidos de impeachment, disse o jornal financeiro britânico Financial Timesem editorial nesta segunda-feira.
O texto, intitulado "O descontentamento crescente no Brasil com (Dilma) Rousseff", diz que a presidente está em uma "posição precária" devido à economia e ao escândalo de corrupção alimentado pelas revelações da Operação Lava Jato, mas defende que ela termine seu mandato.
"A presidente deveria permanecer no cargo, apesar dos pedidos por impeachment", diz o jornal. Segundo o texto, se Dilma for afastada, será provavelmente substituída por outro "político medíocre" que tentaria implementar as mesmas medidas de estabilidade econômica dela.
O editorial desta segunda-feira mantém a linha de textos anteriores, como o de 23 de março último, em que afirmava que a crise no país "provavelmente piorará antes de melhorar", sem, no entanto, pedir a cabeça da presidente.
A popularidade da presidente tem caído, influenciada pela economia e corrupção, e registrado níveis históricos, segundo institutos de pesquisa. Dilma diz que não renunciará e que cumprirá o mandato para o qual foi eleita democraticamente.
O diário financeiro cita o "deplorável histórico econômico" da presidente, com a recessão que deve prosseguir até 2016, inflação e desemprego em alta, e investimentos e confiança do investidor em queda como motivos que levaram milhares de brasileiros às ruas em protestos no domingo.
Outro motivo, segundo o jornal, seria o escândalo de corrupção na Petrobras. Dezenas de empresários e políticos, a maioria da base aliada da presidente, são investigados pela Lava Jato, da Polícia Federal, sob suspeita de participação no esquema de desvio de verbas na estatal.
A Lava Jato prendeu importantes empresários, como Marcelo Odebrecht, presidente da empreiteira Odebrecht, e investiga os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, também foi detido.
Dilma nega conhecimento das irregularidades na petroleira, que teriam acontecido, em grande parte, durante o seu período como presidente do Conselho de Administração da Petrobras, entre 2003 e 2010. Ela tampouco foi citada por delatores que cooperam com as investigações.
"Ela pode ser culpada, pelo menos, de bruta incompetência", diz o diário.
Diz o editorial que a mistura de baixa popularidade e um Congresso hostil devido aos desdobramentos da Lava Jato se traduziu na paralisia de medidas econômicas necessárias.
Cita que o Brasil está "longe de ser a baderna que existe na Argentina e na Venezuela, mas que a queda do seu encanto é notável".
'É preciso agir hoje'
O texto afirma que Dilma enfrenta duas investigações que poderiam resultar em impeachment. Uma apura se parte do dinheiro desviado da Petrobras foi usado no financiamento da campanha eleitoral dela. Outra investiga irregularidades nas contas do governo – as chamadas "pedaladas fiscais".
Mas, diz o jornal, não há apoio suficiente no Congresso para abertura de processos de impeachment. Cita que o PSDB, principal partido de oposição, está contente em ver Dilma em dificuldades, na esperança de ter o PT "totalmente desacreditado" até as eleições presidenciais de 2018.
O problema com esse raciocínio, diz o diário, é que "2018 ainda está a três longos anos, e é preciso agir hoje".
O jornal diz também que o Brasil ainda enfrenta a possibilidade de ter a sua nota de crédito rebaixada pelas agências de classificação de risco, o que poderia significar a perda do grau de investimento. "Se isso acontecer, mais investimento deixará o país e a economia ficará ainda pior."
Na semana passada, a agência Moody's cortou na nota de crédito do Brasil para um grau acima de investimento – mas alterou sua perspectiva de negativa para estável.
Já a S&P manteve, no mês passado, a classificação de crédito do Brasil de longo prazo em moeda estrangeira no nível mais baixo do grau de investimento, mas mudou a perspectiva da nota de "estável" para "negativa". Isto indica um possível rebaixamento em 12 a 18 meses.
Há a expectativa de que a agência Fitch também possa dar uma perspectiva negativa à nota do país.
A terceira grande manifestação anti-PT e anti-Governo deste ano,que aconteceu em 150 cidades, ganhou novos heróis e novos vilões neste domingo. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) entrou no alvo dos manifestantes e foi constantemente citado e vaiado, juntamente com a presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, do Partido dos Trabalhadores (PT). Nem Rodrigo Janot, procurador–geral da República, outrora ovacionado nas ruas, foi poupado. Janot é visto com desconfiança por parte dos organizadores dos protestos pois, segundo eles, estaria blindando Dilma de uma eventual queda.
Por outro lado, o juiz Sergio Moro, que comanda as investigações da Operação Lava Jato, foi tratado como herói nacional, lembrado em cartazes e camisetas. Sobre Eduardo Cunha, acusado por um delator de ter recebido 5 milhões de dólares em propina, nenhuma palavra. Ou não. “Cunha é o único que pode colocar para votação o pedido de impeachment. E o Janot está tentando achar alguma coisa para incriminá-lo. Isso sim é golpe!”, gritou um dos líderes do carro de som do movimento Nas Ruas, em São Paulo. Os alvos e protegidos refletem o momento atual da crise política, dias depois de o Planalto fechar um acordo com Renan Calheiros para conter o avanço da crise política. Cunha, como Renan investigado na Lava Jato, mas inimigo de Dilma, se tornou a esperança dos movimentos de ver sua pauta pela saída da presidenta avançar em Brasília.
Mas, ainda que o número seja um pouco menor do que em abril - avaliações informais da Polícia Militar falam em cerca de 800.000 pessoas no Brasil todo -, as imagens de milhares de pessoas com faixas pedindo fora Dilma ou exibindo bonecos do Lula vestido de preso em diversos pontos de país, é uma fonte de desgaste para o Governo. Problemas do cotidiano têm motivado as pessoas a vestir-se de amarelo para expressar seu incômodo. O portal G1 registrou em Manaus, por exemplo, a presença de Valdizia Almeida, uma senhora franzina, de rosto simples, segurando um cartaz que dizia: “O custo de vida está muito alto. O quilo da cebola está dez reais. Dilma tem que sair”. Como ela, muitos que estiveram na rua não estavam para cobrar a saída da presidenta. “Não sou a favor do impeachment porque ainda não preenche nenhum requisito legal. Estou aqui para protestar contra a corrupção”, disse Silvana Maeda, de 33 anos, que levou a sobrinha Bruna para a avenida Paulista.Uma vez mais foi São Paulo que liderou os protestos, que reuniu 135.000 pessoas na Avenida Paulista, segundo o instituto Datafolha; no dia 15 de março, 210.000 pessoas se manifestaram na mesma avenida, enquanto que em 13 de abril, 100.000 estiveram presentes, segundo dados do Datafolha. Para a Polícia Militar —que em março assegurou que mais de um milhão se manifestaram na Paulista—, 350.000 circularam na capital paulista e 465.000 em todo o Estado. O perfil do manifestante na capital paulista continua sendo, em sua maioria, brancos, de classe média ou média alta —doutores, advogados, engenheiros, dentistas, designers, professores, entre outros.
Entre os manifestantes de Brasília, havia os que pediam a privatização de órgãos estatais. "A Petrobras foi roubada e a tendência agora é só dar prejuízo. Se pudesse, privatizaria até o Governo", afirma o aposentado Josué Gomes. Cerca de 25.000 pessoas se reuniram na capital federal para o protesto.
Mesmo que a pauta não seja a mesma para todos, o que une os brasileiros que saíram às ruas é um sentimento de insatisfação de que não recebem o que pagam em impostos, avalia a cientista política, Fátima Pacheco Jordão. “A esta altura não há necessidade de pesquisa ou passeata para verificar que população está desconfortável”, afirma.
Além de Dilma, os políticos que estão no poder também caíram na boca do povo. No Rio de Janeiro, o vice-presidente, Michel Temer, assim como Renan Calheiros, foram alvo de indignação dos participantes, que desafiaram o calor para ir às ruas neste domingo. Os cariocas, ao contrário dos paulistanos, não pouparam o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que foi eleito deputado pelo Rio de Janeiro, e está sob investigação por um esquema de propinas da Petrobras.
Apesar de ter se apresentado como o articulador político do impeachment da presidenta, Cunha está pagando o desgaste. "Nossa pauta mais emergencial é conseguir a saída de Dilma, mas nós não temos nenhuma parceria com Cunha. Se se demonstrar que ele está envolvido, ele será o próximo", afirmou Bernardo Santoro, coordenador estadual do Movimento Brasil Livre, cujo pedido de impeachment está nas mãos de Cunha.
Em São Paulo, o líder do movimento Vem pra Rua, Rogério Chequer, afirmou que há um temor de que um provável esquema esteja sendo montado em Brasília, encabeçado pelo senador Renan Calheiros para proteger a investigação sobre ele e de alguns outros. “O Eduardo Cunha está na lista de Janot e exigimos que todos os nomes na lista sejam investigados sem qualquer tipo de discriminação”, completou, ao ser questionado sobre a ausência de críticas ao presidente da Câmara. Representantes do MBL afirmaram esperar de Cunha apenas que cumpra seu papel constitucional de "encaminhar o impeachment".
Políticos do PSDB, - que divulgou vídeos de apoio aos protesto -, arriscaram a caminhar pelas ruas desta vez. Em Belo Horizonte, o senador Aécio Neves, derrotado por Dilma nas eleições do ano passado, discursou para os presentes no ato que reuniu cerca de 6.000 pessoas, segundo a PM. “Quem vai tirar o Brasil da crise é o povo brasileiro, se manifestando como está fazendo hoje”, arriscou ele ao microfone, sendo aplaudido pelos presentes. Em São Paulo, o senador tucano José Serra caminhou pela Paulista e tirou fotos com os manifestantes.
Esquerda, volver
O discurso pró-impeachment dos paulistanos estava mais afinado do que nunca, diante da esperança dos movimentos de que o processo vá adiante depois da análise das contas do Governo do ano passado pelo Tribunal de Contas da União neste mês. Do alto do carro de som, as palavras de ordem contra Dilma e o PT se intercalavam com o hino nacional, tocado exaustivamente, e marchinhas compostas para a ocasião. “Chora petista, bolivariano, a roubalheira do PT tá acabando... olê olê olê, vamos pra rua pra derrubar o PT”, era uma delas, cantada animadamente por organizadores e manifestantes. “Quem não pula é comunista”, era outra. “Vim pedir o impeachment”, cantavam em cima de um palco um dos líderes do MBL, ao ritmo de We will rock you, do Queen. Três grandes carros de som comandavam os protestos: um do MBL, outro do Vem pra Rua e um terceiro do movimento Nas Ruas.
Os organizadores também animaram os manifestantes puxando alguns gritos estranhos, como o repúdio contra o comunismo. “O comunismo matou 100 milhões de pessoas. Mais que o nazismo”, gritava em um microfone um militante. “Quem é a favor de criminalizar o comunismo?”, perguntava, sob fortes aplausos. "Fora comunismo!", urrava no microfone.
No entanto, o radicalismo maior ficou por conta dos líderes dos quatro carros menores, onde o microfone abria espaço para os mais diferentes discursos. “A mídia está comprada pelo PT. Ela só faz o que eles pedem”, dizia um. “Estão tentando vender o aquífero Guarani para a Bolívia”, gritava outra. “Essa filha da puta matou essa criança, que poderia ser seu filho, porque ela foi guerrilheira”, dizia outro, segurando um cartaz com uma foto. O pedido de intervenção militar ecoava desses carros menores e não ganhou muita reverberação nas ruas.
De uma janela, uma moradora de um prédio na Paulista sacudiu uma camiseta vermelha. Foi vaiada. “Esquerda caviar! Você mora na Paulista”, gritou do carro de som Carla Zambelli, do movimento Nas Ruas. As selfies pela avenida, assim como as fotos de manifestantes abraçados com a Polícia Militar. “Eu amo você”, disse Odete Oliveira dos Santos, a um policial do Batalhão do Choque. “Acho a melhor polícia que existe”, disse ela.
Na zona sul da cidade, a mais de 5 quilômetros de distância, cerca de 1.500 pessoas tentaram marcar um contraponto, manifestando-se a favor do PT em frente ao Instituto Lula, que foi atingido por uma bomba há duas semanas. Neste domingo, no entanto, a rua não era deles.