quinta-feira, 13 de agosto de 2015

JOÃO AUGUSTO DE CASTRO NEVES | DIRETOR DA CONSULTORIA EURASIA » “Pauta do Congresso é bomba-relógio para o próximo Governo” Para economista, sucessor de Dilma pagará preço maior ainda das pautas-bomba


Governo de Dilma Rousseff vive hoje uma administração de crises, e a tendência é que esse processo piore antes de melhorar. Diante de tantos embates, a política terá um papel cada vez mais relevante que a economia para determinar a trajetória do “longo e doloroso ajuste” de contas do Governo, essencial para a retomada do crescimento do Brasil. A avaliação é do diretor da consultoria global de risco político Eurasia, João Augusto de Castro Neves. 
Em entrevista ao EL PAÍS, Neves afirmou que apesar do rebaixamento da nota de classificação de risco pela agência Moody’s ter sido um movimento esperado, a decisão deve pressionar ainda mais o Governo e o Congresso a encontrarem um caminho comum para aprovar as medidas do ajuste fiscal.
Para ele, a eventual perda do selo de bom pagador do Brasil, o chamado grau de investimento, assim como a aprovação de projetos que aumentem os gastos públicos podem se tornar uma bomba-relógio para o próximo Governo que suceder a presidenta Dilma, seja via impeachment - cuja chance é de 30%, segundo a Eurasia - ou seja em 2018.
Pergunta. O que significa o rebaixamento da nota do Brasil pelaMoody’s? Complica ainda mais o cenário político-econômico do país?
P. Diante desse cenário, o Brasil vai perder o grau de investimento?Resposta. A decisão já era esperada. Não surpreenderá se a Fitch acompanhar em breve. Acho que uma parte relevante já estava precificada pelo mercado, ainda que a confirmação sempre desencadeie mais volatilidade momentânea. A decisão pressionará mais o Governo e o Congresso a encontrarem um caminho para aprovar medidas de ajustes e reformas. O anúncio de segunda-feira de Renan Calheiros é um exemplo do tipo de coisa que vamos a ver mais. No entanto, os riscos, nesse segundo semestre, continuarão elevados. A grosso modo, a política será mais importante que a economia para determinar a trajetória da política fiscal no curto prazo.
R. Ainda não é dado como certo, mas estamos mais perto dessa perda. Estamos em um equilíbrio muito frágil da situação tanto econômica como política. A dinâmica econômica está muito ruim e não deve sofrer grandes alterações nos próximos meses, pois tem um curso próprio. Então não vai haver tantas novidades, o que faz que a dinâmica política tenha, a curto prazo, um valor mais importante. Se a lógica da moderação do Congresso se materializar, acredito que o Governo consegue tempo e evitar uma perda desse grau de investimento neste ano, empurrando com a barriga até que a situação comece a melhorar lentamente.
P. Mas mesmo sem essa perda, os investidores já estão sentindo uma mudança?

O nosso cenário é um longo e doloroso ajuste. Por mais que acreditemos que a presidenta sobreviva à crise, sabemos que o restante do mandato dela não será brilhante.
R. Sim, com certeza muitos investidores já sentem. Parte dessa perda já está precificada, mas é uma questão simbólica também a perda de investimento. É importante ressaltar que há muitos fundos que fechariam a porta de acesso ao Brasil, já que consideram a necessidade do país ter o grau de investimento de duas agências de risco. É uma linha vermelha que o Governo está disposto a cruzar, está bem perto e vai continuar perto por um bom tempo. Qualquer novidade mais negativa vinda da política, se houver, por exemplo, uma pauta-bomba aprovada no Congresso fora do controle, aí aceleraria o fim do selo de bom pagador.
P. Qual a percepção estrangeira da crise político-econômica brasileira?
R. A preocupação estrangeira é grande já que o país é um mercado importante. O próprio ritmo da deterioração, tanto política como econômica, foi uma surpresa e já há uma percepção que essas duas dinâmicas devem se misturar e se atrapalhar nos próximos meses. Essa preocupação aumenta a cautela e dificulta a recuperação do Governo, já que os investimentos, neste contexto, ficam em compasso de espera. Por outro lado, o Brasil continua sendo pelo seu tamanho e escala, pela quantidade de matérias-primas, um país relevante. Por mais que haja uma crise, há instituições robustas no país que reduzem a chance de radicalismo. E esses fatores são considerados por investidores que estão pensando mais a longo prazo. Ainda que muitos deles possam perder dinheiro a curto prazo - nos próximos seis meses ou até mesmo um ano - , olhando mais para frente, quando a percepção da crise tenha passado, acho que os investidores terão uma nova motivação para voltar ao Brasil. O país está mais barato com o câmbio desvalorizado, várias empresas estão tendo que vender ativos, como a Petrobras e as construtoras. Enfim, isso pode fazer com que o Brasil volte a ser visto como uma oportunidade interessante para os estrangeiros. No entanto, é um processo econômico ainda vai piorar antes de começar a melhorar lentamente.
P. E qual a previsão dessa retomada?
R. O nosso cenário é um longo e doloroso ajuste. Por mais que acreditemos que a presidenta sobreviva à crise, sabemos que o restante do mandato dela não será brilhante. Vai ser um ajuste que continuará acontecendo, mas aquém do prometido pela situação político-econômica ainda difícil. Dilma não vai conseguir recuperar sua popularidade a níveis mais tranquilos. Ainda vamos ter dados ruins no mercado de trabalho e a inflação ainda seguirá a níveis elevados. O Governo vive hoje, basicamente, uma administração de crises. Não há muita margem para grandes reformas, não há possibilidades para uma recuperação rápida, tanto da popularidade como do crescimento econômico. A esperança do Governo é que, no melhor cenário, em 2018, comece a haver um crescimento mais robusto que gere alguma chance de argumento para o PT nas próximas eleições. Porém, vai ser difícil, mesmo passada a crise, conseguir apagar do inconsciente do eleitorado o impacto desse momento crítico.

Enquanto não houver uma prova mais contundente contra ela, se reduz o incentivo dos partidos empurrarem o impeachment.
P. Quais são as possíveis estratégias de reação da presidenta?
R. Você tem algumas medidas, aquelas receitas extraordinários que o Governo pode tentar recorrer, como vender ativos, listar algumas empresas do sistema Petrobras, privatizar outras. É uma maneira de comprar tempo e mitigar os danos das pautas-bomba no Congresso. A outra solução é uma reforma ministerial, em que se faria uma redução do ministérios, que do ponto de vista fiscal é quase irrelevante, mas que seria uma sinalização política importante, com um valor mais simbólico. E a outra parte da reforma consistiria em reequilibrar o balanço de poderes entre a coalizão de uma forma mais eficiente que a atual.  E, por fim, o Governo deve tentar explorar esse medo crescente das elites econômicas. Já temos a Fiesp e a Firjan, por exemplo, começando a se preocupar com a situação econômica e dizendo que, pelo bem do país, o Congresso não pode sair aprovando essas pautas-bombas. Até parte da oposição, principalmente no Senado, também está começando a ter uma postura semelhante. Sabem muito bem que uma pauta dessas agora, muitas vezes, é uma bomba relógio que vai explodir no próximo Governo, seja ele assumindo via impeachment, seja via eleição normal. Muitas dessas pautas, como a do fim do fator previdenciário, terão um impacto muito mais significativo daqui a alguns anos. Estão começando a pensar duas vezes sobre o custo político-econômico do quanto pior melhor. O Governo deve explorar um pouco isso e deve tentar abrir um espaço para algum tipo de negociação para evitar danos maiores. São iniciativas para tentar manter o percurso de ajuste, mas, mesmo assim, será um caminho extremamente difícil e tudo dependerá dos desdobramentos futuros da Lava Jato.
P. Como você avalia a força das manifestações e dos panelaços nesse momento de crise?

Sem dúvida nenhuma, como presidente do Congresso, Eduardo Cunha tem força para atrapalhar enormemente, mas o poder dele atingiu um certo ápice.
R. As manifestações deste domingo têm tudo para serem fortes e com um número grande de adesão, no país todo. Temos muito ingredientes, fornecidos nas últimas semanas e meses, para justificar essa insatisfação: a piora na economia, o aumento do desemprego e a relativa ineficiência do Governo em lidar com decisões que são óbvias. No entanto, o mais preocupante  é a possibilidade desse ato de domingo desencadear manifestações mais frequentes em sequência e, também, motivar protestos e greves de grupos de interesse específico. Por exemplo, se os Correios entram em greve, a Receita Federal, rodoviários, isso tudo seria complicado. E dado a economia atual, esse risco aumenta.
P. Qual o posicionamento da Eurasia sobre o impeachment?
R. Já faz mais de um mês que nosso posicionamento sobre a chance da Dilma não terminar o mandato é de 30%. No início do ano, já tínhamos colocado 20% de chances incorporando um pouco a dificuldade que ela enfrentaria do ponto de visto político e econômico,  a piora da situação econômica, os desdobramentos da Lava Jato. Há mais de um mês ampliamos para 30% pois o cenário se agravou. Hoje, ainda achamos que ela sobrevive à crise política, mesmo considerando que nos próximos meses há espaço para uma piora. Ainda não achamos que há todos os fatores necessários para que o pedido de impeachment aconteça.
P. E quais seriam esses fatores?
R. Você tem uma combinação, alguns existem outros não. Um é a popularidade dela muito baixa. O segundo é um isolamento político dela em relação  aos movimentos sociais. Embora tenha havido um desgaste da relação, ainda não houve um isolamento. Se houver esse isolamento, a situação piora muito para a presidenta, aí sim ela ficaria muito mais parecida com o Collor em 1992. O terceiro é que haja um alinhamento de interesses e incentivos do PMDB e do PSDB no Congresso em relação à saída dela. Afinal, dificilmente você terá um processo de impeachment se movendo enquanto as lideranças desses dois partidos não concordem. Dentro dos dois partidos temos visões diferentes e entre eles também. Acho que parte dessas visões diferentes se devem ao medo do que um cenário pós-impeachment representaria. Você pode ter um impeachment que beneficie muito mais o PMDB que o PSDB, no caso do Temer assumir. Mas poderiam ter cenários que beneficiem o PSDB caso fosse proposto uma eleição direta. O último fator é a prova concreta. Embora reconhecemos que o impeachment é um processo político também, você consegue interpretar as provas existentes, há um certo grau de subjetividade nisso tudo. Enquanto não houver uma prova mais contundente contra ela, se reduz o incentivo dos partidos empurrarem o impeachment. Se for só com uma interpretação política mais subjetiva isso pode ameaçar a legitimidade do próximo Governo, já que teria um cheiro de golpe. Quanto mais fraca ela está, mais fácil é tirá-la mas não achamos que esses quatro fatores existam. Para um impeachment seria necessário a intensificação dessas variáveis e a coexistência delas por um tempo.
P. E quais possíveis provas investigadas são mais fortes?
R. Se fosse apenas pelo fato da popularidade abriria um precedente perigoso. Mas já há alguns indícios que dariam margem para um pedido como a violação da lei de responsabilidade fiscal do ano passado, o julgamento do TCU do TSE, embora alguns juristas tenham opiniões divergentes se a violação da lei de responsabilidade fiscal por sí só seria prova suficiente para tirar um presidente do poder. Você tem alguns caminhos possíveis, a questão da improbidade administrativa, a culpa de quando ela era a presidente do conselho da Petrobras, mas até o momento nenhuma dessas vias dão essa prova contundente. Agora se realmente encontrarem provas da ilegalidade de pagamento da campanha já mudaria o cenário. Por enquanto não há essas provas. Por mais que a doação de algumas empresas tenham sido motivada por negócios escusos, é difícil você argumentar que o PT tivesse obrigação de saber.
P. E a força da oposição do presidente da Câmara, Eduardo Cunha?
R. Sem dúvida nenhuma, como presidente do Congresso, o Eduardo Cunha tem força para atrapalhar enormemente, fazer muito barulho, mas a nossa visão é que o poder dele atingiu um certo ápice. Já está começando a cair. Óbvio que quanto mais envolvido ele estiver, se estiver na lista do procurador, vai ter mais incentivo para retaliações com a questão fiscal e o processo de impeachment. Como presidente da Câmara ele tem poder de fazer um dano. Só que por outro lado, o tempo corre contra ele. Ele vai gradualmente perdendo esse poder. Mas é muito difícil imaginar um processo de impeachment conduzido por um presidente da Câmera que está indiciado. Até mesmo a influência dele sobre a sua bancada, a bancada Cunha, vai se reduzindo, menos e menos deputados vão querer defendê-lo. Caso ele seja indiciado, tornaria mais longo um processo de impeachment contra a presidenta Dilma.

À cúpula do PMDB, Lula elogia plano de Renan

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou, em café da manhã nesta quarta, no Palácio do Jaburu com a cúpula do PMDB, o plano anticrise apresentado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e a atuação do vice-presidente Michel Temer diante das dificuldades do governo Dilma Rousseff.

No encontro, segundo relatos, Lula fez questão de dizer que vinha a Brasília para ter uma conversa entre "amigos" a fim de encontrar soluções para sair da crise política e econômica pela qual passa o País. "Eu tenho medo de fazer reuniões e alguém pensar que eu esteja fazendo coisas paralelas", afirmou ele.

Lula foi informado pela cúpula do PMDB que a ideia de se apresentar um plano anticrise, batizado por Renan de "Agenda Brasil", ocorreu diante do fato de que os peemedebistas esperaram por três meses para que a equipe econômica do governo apresentasse um pacote pós-ajuste fiscal - o que até agora não ocorreu.

Os peemedebistas disseram a Lula que vão receber na tarde desta quarta, na Presidência do Senado, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para discutir o aval do governo ao pacote Renan. O ex-presidente, que não fez qualquer crítica ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, elogiou a iniciativa dos senadores do partido.

Na conversa, Lula fez um afago a Dilma por ter retomado conversas políticas com os aliados. Na segunda-feira em jantar no Palácio da Alvorada, a presidente reuniu-se com 21 ministros e 43 senadores para falar sobre a responsabilidade da Casa na superação da crise. "Acho importante a participação do presidente Lula nas conversas", afirmou o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), um dos presentes ao encontro na chegada ao seu gabinete.

Temer

O ex-presidente disse ter compreendido o teor da fala de Michel Temer na quarta-feira passada, 5, quando o vice alertou para a gravidade da crise e que era preciso "alguém" para unificar o País. Lula disse que Temer tem tido um papel importante na coalizão e chegou a confidenciar que ele poderia ter sido indicado para coordenador político do governo.

Escanteado por Dilma, Temer foi escalado por ela para a função no início de abril, diante do agravamento da crise do governo com o Congresso. "Ninguém pode botar dúvida no trabalho do Temer", disse o ex-presidente, a quem elogiou a lealdade.

Participaram do encontro, além do anfitrião Temer, de Lula, Renan e Eunício, o ex-presidente José Sarney, os senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Jader Barbalho (PMDB-PA), os ministros Eduardo Braga (Minas e Energia) e Henrique Eduardo Alves (Turismo). O ex-presidente abriu e fechou a rodada de conversas em que todos os presentes falaram.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também foi convidado para o encontro, mas não compareceu. Lula, segundo relatos, não fez qualquer crítica a Cunha, rompido com Dilma sob a alegação de interferência do governo nas investigações da Operação Lava Jato contra ele. O ex-presidente ressaltou que o sistema legislativo do País é "bicameral".

Descontraído, em comparação às últimas vezes em que veio à capital, Lula chegou a brincar com os presentes. Comentou a forma de Romero Jucá, mais magro e que vai se casar em breve. Segundo relatos, o ex-presidente disse que Jucá "preparou o corpo" para receber o terno.

Lula vai a Brasília e volta à linha de frente de defesa de Dilma na crise Para apoiadores, presidenta cita a crise política e diz que ela enverga, mas não quebra “Pauta do Congresso é bomba-relógio para o próximo Governo”

Lula com o chapéu que é a marca da Marcha das Margaridas. / FERNANDO BIZERRA JR. (EFE)
A poucos dias de mais um novo protesto agendado contra o Governo Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou à cena e reassumiu a linha de frente de defesa da gestão petista que enfrenta grave crise política. Lula viajou à Brasília e, em dois dias, participou de atos que serviram para reafirmar o apoio à Rousseff e para tentar ajudá-la na articulação junto ao Congresso Nacional. O próximo passo de Lula é viajar pelo país para defender programas do Governo federal, como havia anunciado em junho.
Na manhã de quarta-feira, o petista, que chegou a ser sondado para compor uma vaga no ministério de Rousseff mas declinou, se encontrou com a cúpula do PMDB no Palácio do Jaburu, a residência oficial do vice-presidente Michel Temer. Entre os convidados estavam o ex-presidente José Sarney e o presidente do Senado, Renan Calheiros, que apresentou um polêmico pacote de projetos para o Governo na segunda-feira passada. No encontro com os peemedebistas, a ideia era acalmar seus aliados e evitar que haja uma nova debandada da base dilmista no Congresso Nacional. Nas últimas semanas, o Governo sofreu severas derrotas na Câmara dos Deputados e agora tenta recompor sua base para evitar que sejam aprovados novos projetos que impliquem no aumento de gastos federais. Conforme participantes do encontro, o ex-presidente elogiou a atuação de Temer assim como o plano de Calheiros. E pediu que ambos ajudem na aproximação com Eduardo Cunha, o presidente da Câmara que rompeu com a gestão petista e foi o responsável por uma série de derrotas no Legislativo.

Na noite anterior, Lula estrelou o ato de abertura da Marcha das Margaridas, evento promovido pelas mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura que reuniu 30.000 pessoas no estádio Mané Garrincha, em Brasília. Lula pediu para que as pessoas não avaliassem os últimos seis meses da gestão Rousseff, mas, sim os quatro anos do primeiro governo dela. Disse que o país passa por um momento difícil, mas que a culpa não é da presidenta (que tem só 8% de aprovação popular), e sim, dos banqueiros internacionais. “Por que essa gente está raivosa com a presidenta Dilma, se as eleições acabaram em 26 de outubro?”, indagou o presidente de honra do PT. "Eu lembro que em 2005, quando os mesmos que estão atacando a Dilma, diziam que iam fazer impeachment do Lula, eu disse para eles: 'Se vocês quiserem me cortar, vocês vão ter que ir para a rua disputar o povo brasileiro'", discursou.Movimentos sociais

Nesta quarta foi a vez de Rousseff falar às trabalhadoras rurais: “Quero, mais uma vez, reafirmar a nossa parceria e me somar a vocês nessa mobilização por justiça, por autonomia, por igualdade, liberdade, democracia e não ao retrocesso”, discursou a presidenta, no Mané Garrincha.
A participação de Rousseff e Lula no ato da Contag é parte da estratégia do Governo e do PT de recorrer à militância organizada e aos movimentos sociais como colchão de contenção da crise e contraponto aos protestos de domingo. Nesta quinta, a presidenta vai se reunir com os movimentos sociais no Palácio do Planalto.
Nas arquibancadas, era comum ouvir gritos de apoio à presidenta e outros contra Eduardo Cunha e o ministro da fazenda Joaquim Levy, que tenta promover o ajuste fiscal. “Fora já. Fora daqui, o Eduardo Cunha junto com o Levy”. Em um dos momentos do evento, a organizadora do encontro, Alessandra Lunas, criticou o Legislativo. “A ameaça que vemos é no Congresso, que não consegue ouvir as vozes do nosso povo”. Foi a deixa para o público voltar a entoar o “fora, Cunha e Levy” e para a presidenta dar um leve sorriso de canto de boca.
Ao encerrar suas palavras no estádio, Rousseff fez uma referência à crise política citando um trecho de uma música composta pelo pernambucano Lenine e pelo paulista Carlos Rennó: “Nos maus tempos da lida, eu envergo, mas não quebro”.

TCU dá 15 dias para presidenta explicar pedaladas fiscais

Para coroar o momento de respiro do Planalto na crise política, o Tribunal de Contas da União (TCU) concedeu nesta quarta mais 15 dias para o Governo federal apresentar explicações sobre as “pedaladas fiscais” e deu um alívio, ainda que temporário, para a gestão Dilma Rousseff. Com a prorrogação do prazo, a gestão petista conseguiu adiar para o fim do mês, ou para o início de setembro, a análise das contas do Governo do ano de 2014.
O objetivo da gestão petista é prorrogar o julgamento o maior tempo possível para que seja possível recompor sua esfacelada base na Câmara dos Deputados e evite dar início a um processo de impeachment no Legislativo. Isso tudo levando em conta que o deverá rejeitar as finanças de Rousseff já que ela usou irregularmente recursos de bancos públicos para pagar benefícios sociais, como o programa Bolsa Família.
A ampliação do prazo e a reaproximação do Governo com Renan Calheiros, o presidente do Senado que é um dos alvos da operação Lava Jato, deram uma injeção de otimismo nos membros da coalização governista. Nos últimos dois dias era comum ouvir discursos de que em breve o país sairá das crises econômica e política. Alguns deles, como o líder do Governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE) disse que momentos turbulentos como esse eram importantes para que os governantes pudessem agir com mais humildade.

Trabalhadoras rurais dizem que crise não é culpa de Dilma: 'sai ela, entra um pior' Mariana Schreiber Da BBC Brasil em Brasília

Marcha das Margaridas em Brasília | Foto: ABr
Manifestação de apoio a governo recebeu patrocínio de estatais para transporte e alimentação de participantes, entre outros
Há quatro dias dos protestos convocados em todo o país para pressionar pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, milhares de trabalhadoras rurais de diversos Estados se reuniram em Brasília nesta semana em apoio ao governo petista.
"Sai ela, entra um pior", acredita Antônia Maria Bezerra, 68 anos, que viajou um dia de ônibus desde Buriti do Tocantis (TO) até a capital federal para participar da Marcha das Margaridas.
"A culpa (da crise) não é só dela. É do sistema do mundo. É dos outros companheiros que estão administrando, deputados, senadores, ministros", disse a quebradeira de coco de babaçu.
Na noite de terça-feira, Bezerra e sua amiga Maria das Graças Alves, 65, carregavam cada uma uma máquina fotográfica nas mãos na esperança de tirar uma foto com o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, que discursou na abertura do evento.
A Marcha das Margaridas - organizada pela Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) - tradicionalmente acontece no dia 12 de agosto, em homenagem à líder camponesa Margarida Maria Golçaves, assassinada em 1983.
A edição deste ano recebeu patrocínio das estatais BNDES (R$ 400 mil), Caixa Econômica Federal (R$ 400 mil) e Itaipu Binacional (R$ 55 mil). Os recursos captados pela Contag servem para cobrir gastos do evento, como transporte das trabalhadoras, alimentação, local para pernoite, carro de som e faixas, entre outros.
Maria das Graças Alves (esq.) e Antônia Maria Bezerra | Foto: Mariana Schreiber
Trabalhadoras rurais dizem que 'culpa' da crise é de ministros e legisladores do governo Dilma
Dessa vez a hospedagem teve mais conforto. Em vez de dormir de baixo de lona, o acampamento foi montado no Estádio Mané Garrincha, cedido pelo governo do Distrito Federal sem custos. Mas a comida não estava tão farta quanto em outras edições – esta é a quinta marcha, a anterior ocorreu em 2011.
"Na época do Lula tinha maçã, laranja, melancia, uva. Dessa vez deram só um franguinho e banana", lamentou Alves.
Enquanto aguardavam a fala do ex-presidente, as quebradeiras de coco minimizaram as denúncias de corrupção que atingem o PT. "Ele (Lula) ajudou o grande e o pequeno, descobriu a roubalheira do lado dele e do outro. Era justo", defendeu Bezerra.
Discursando para sua base política, Lula foi muito aplaudido e ovacionado na noite de ontem. O momento de maior comoção ocorreu quando ele anunciou que viajará o Brasil em defesa do governo e do PT.
"Todo dia tem uma provocação e eu tô quieto. Então, quero dizer que tô preparando o caminho para voltar a viajar pelo Brasil."
O presidente contou que cogitou não comparecer à abertura do evento porque achou que a Dilma participaria. Segundo ele, um ex-presidente tem que saber a hora de falar e onde ir.
"Mas aí soube que ela vai participar do encerramento. Assim eu não atrapalho ela e nem ela me atrapalha", explicou.

Marcha

Marcha das Margaridas em Brasília | Foto: ABr
Cerca de 25 mil pessoas participaram da manifestação em Brasília, segundo a Polícia Militar
Logo cedo, nesta quarta, as trabalhadoras levantaram para marchar do Mané Garrincha até o Congresso Nacional.
"Nós queremos Dilma", gritava uma das líderes da marcha das Margaridas no microfone, em cima do carro de som que percorreu a Esplanada dos Ministérios.
Em meio à instabilidade política que ameaça derrubar a presidente da República, neste ano o tradicional protesto teve forte teor de apoio ao governo.
Segundo estimativas da Polícia Militar, 25 mil pessoas participavam da marcha. O cálculo foi feito com base no número de ônibus vindos de todo o Brasil até a capital federal: cerca de 600. No carro de som, as líderes da marcha anunciavam que havia 100 mil pessoas no local.
No próximo domingo, as cores rosa, violeta e vermelho, que marcaram a manifestação das margaridas, serão substituídas pelo verde e amarelo dos protestos anti-governo, convocados para todo Brasil com objetivo de pedir o impeachment de Dilma Rousseff.
O presidente da Câmara Eduardo Cunha, que deve ser poupado dos protestos do dia 16, foi o principal alvo das críticas da Marcha das Margaridas.
"Viemos / de todo canto / botar pra fora / o Eduardo Cunha", cantavam as manifestantes.
As manifestantes cobraram também a realização da reforma agrária e o respeito ao princípio do Estado laico.
Ana Alice Alves dos Santos | Foto: Mariana Schreiber
Agricultora de Rondônia diz que sua vida melhorou "100%" nos governos petistas
A agricultora Ana Alice Alves dos Santos, de 56 anos, contou que viajou três dias de ônibus de Pimenta Bueno, em Rondônia, até Brasília. Diz que votou na Dilma e que votaria em Lula novamente. "Com certeza, se fosse para votar mil vezes, eu votava."
Justifica sua escolha dizendo que a vida melhorou "100%" nos governos petistas. "Antes pobre não estudava, não andava de avião, não tinha carro", diz.
Na sua visão, Dilma não tem culpa pela recente alta da inflação e do desemprego. Para Santos, nem mesmo o ajuste fiscal é responsabilidade da presidente, apesar de o governo ter encaminhado projetos de lei com esse objetivo ao Congresso.
"Tá pior por questões políticas. Ela se sente acuada”, opinou. “Eles aprovam (o ajuste fiscal no Congresso) pra ficar pior pra ela", disse.
O BNDES informou, por meio de nota, que "a decisão de patrocinar a marcha foi tomada no contexto do apoio concedido à atividade agrícola no país". O comunicado diz ainda que "o BNDES considera que a marcha é uma oportunidade de divulgação institucional e dos programas do Banco direcionados à agricultura familiar. A política de patrocínio do BNDES contempla o apoio a eventos ligados às diferentes áreas da economia e da sociedade que se relacionam com as atividades do Banco. No ano passado foram patrocinados mais de 50 eventos".
A Caixa informou que "o evento proporciona a oportunidade de fortalecimento do relacionamento institucional com a população, e alinha-se aos princípios e diretrizes da Política de Patrocínios da empresa, que busca promover o bem-estar e a qualidade de vida para os brasileiros, fortalecendo também sua imagem institucional na comunidade e cumprindo seu papel de agente social".
O banco disse também que "a participação da Caixa no presente evento faz parte de estratégias negociais e sociais, incentivando o debate de temas de abrangência e interesse nacional, promovendo o desenvolvimento humano e econômico do país".
A Itaipu Binacional foi procurada, mas não respondeu aos pedidos por um posicionamento até a publicação desta reportagem.

STF aprova reajuste de 16,38% para salários dos ministros do tribunal Como no Brasil o teto salarial do funcionalismo é a remuneração dos ministros do STF, se a proposta for aprovada haverá efeito cascata nos subsídios dos demais integrantes da magistratura e de outros Poderes

Em sessão administrativa, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) aprovaram o aumento dos próprios salários para o ano que vem, com reajuste no porcentual de 16,38% sobre os subsídios recebidos. Na prática, os vencimentos dos ministros passariam de R$ 33,7 mil, aproximadamente, para R$ 39,2 mil a partir do ano que vem. O projeto precisa ser encaminhado ao Poder Executivo e aprovado pelo Congresso.

O presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski, afirmou que o índice de reajuste para salário dos ministros levou em conta a recomposição de perdas inflacionárias de 2009 a 2014, a estimativa do IPCA de 2015 e um "resíduo" de reajuste que não foi atendido em pleito anterior.

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Como no Brasil o teto salarial do funcionalismo é a remuneração dos ministros do STF, se a proposta for aprovada haverá efeito cascata nos subsídios dos demais integrantes da magistratura e de outros Poderes. Ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por exemplo, recebem 95% da remuneração de um ministro do STF. Os demais juízes recebem rendimentos de forma escalonada. O presidente do STF, no entanto, frisou que não há "reajuste automático" a partir do subsídio dos ministros da Corte.

"Nós configuramos o teto de todos os servidores, mas isso não significa automaticamente que haja efeito cascata. Como o próprio STF já decidiu, somente por lei formal é que os aumentos podem ser colocados em prática. Não há nenhum efeito automático cascata", afirmou Lewandowski. Ele destacou que a última palavra "evidentemente" será do Congresso.

Após a aprovação da proposta salarial para o próximo ano e da análise do reajuste para servidores do Judiciário, os ministros do Supremo passaram a debater a minuta para o novo Estatuto da Magistratura, que substituirá a Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Loman), de 1979. Ao iniciar as discussões, o ministro Gilmar Mendes criticou os diversos benefícios concedidos nos Estados a juízes, classificando-os como uma "árvore de Natal". "Com o teto, estamos criando o piso", criticou Gilmar. O ministro sugeriu que o salário de ministro do STF deixe de ser atrelado ao de demais categorias. O ministro Luiz Fux ponderou que a mudança exigiria uma proposta de emenda constitucional (PEC), pois altera a Constituição.

Agnelo volta a atuar como médico em hospital do DF, diz secretaria de Saúde O ex-governador apresentou atestado de 10 dias. Ele deveria ter retornado ao trabalho na última segunda-feira (3/8)

O ex-governador do DF Agnelo Queiroz (PT) deve se apresentar no Hospital Regional do Gama (HRG) para retorno ao trabalho nesta quinta-feira (13/8). O atestado, de 10 dias, apresentado por ele tem validade somente até esta quarta-feira (12/8). Agnelo é médico concursado da Secretaria de Saúde. Desde que deixou o Palácio do Buriti, após ser derrotado nas eleições, ele desfrutava de uma licença remunerada, que acabou em 31 de julho. 
Daniel Ferreira/CB/D.A Press

O petista deveria voltar ao trabalho na última segunda-feira (3/8), mas entregou atestado que o autoriza a permanecer afastado até hoje. A assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde informou que o documento foi homologado pelo setor de medicina do trabalho da pasta. 

Só este ano, Agnelo Queiroz já recebeu R$ 87,8 mil em salário. A remuneração básica atual do ex-governador é de R$ 21.192,42 e os vencimentos líquidos do petista ficam em R$ 14.543,78. Agnelo é cirurgião-geral da rede pública de saúde desde 1987, mas pouco atuou na rede pública. Três anos depois de passar no concurso, em 1990, ele entrou para a política como deputado distrital e, desde então, está afastado do trabalho nos hospitais.

Série de explosões mata mais de 40 pessoas na China 520 pessoas foram hospitalizadas; 60 em estado grave

Explosões deixaram 44 mortos e 520 feridos (foto: EPA)
Explosões deixaram 44 mortos e 520 feridos (foto: EPA)
13 AGOSTO, 08:25ROMAZGT
(ANSA) - Ao menos 44 pessoas morreram em uma série de explosões na cidade portuária de Tianjin, no norte da China, na noite desta quarta-feira (12). Acredita-se que elas foram causadas por materiais inflamáveis e explosivos que estavam sendo transportados em contêineres.

Segundo fontes oficiais, 520 foram levadas aos hospitais da região e 60 estão em estado grave. Entre as vítimas, estão 12 bombeiros que trabalhavam para apagar as chamas e outros 36 membros da corporação estão desaparecidos.

O drama começou por volta das 23h30 (hora local) quando uma primeira explosão atingiu o bairro de Tanggu, próximo ao porto da metrópole. Cerca de 30 segundos depois, outra explosão ainda mais forte foi registrada no local. De acordo com a agência de notícias Xinhua, prédios a mais de dois quilômetros de distância do local foram afetados e tiveram portas e janelas arrancadas.

O Centro Chinês de Vigilância de Terremotos informou que a força da primeira explosão foi equivalente a três toneladas de TNT e a segunda tinha equivalência com 21 toneladas de explosivos. O impacto foi tão forte que o Centro de Vigilância dos Estados Unidos registrou atividade sísmica na região e em um raio de 160 quilômetros de distância.

Diversos moradores contaram às agências de notícias internacionais que achavam que estava ocorrendo um terremoto ou até que uma bomba atômica tinha caído na região.

O presidente chinês, Xi Jinping, afirmou que as investigações sobre o acontecimento serão "transparentes" e que todas as informações serão tornadas "públicas, segundo a Xinhua. Vastas áreas da cidade, que é a 10ª maior do mundo com 15 milhões de habitantes, ficaram completamente destruídas, em um cenário de guerra. (ANSA)

Veja imagens do momento das explosões:

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