Brisbane (Austrália) - O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu aos Estados Unidos, à União Europeia (UE) e à Rússia que conversem durante a cúpula do G20 para prevenir uma nova escalada militar na crise da Ucrânia.
Ban garantiu na cidade australiana de Brisbane, onde acontece a cúpula, que a situação atual não é sustentável para a paz e a economia mundial. Além disso, lamentou ter a impressão de que o mundo está dividido como durante a Guerra Fria, e indicou que os acordos de Minsk são o caminho para se chegar a uma solução para a crise ucraniana.
Também disse que se reuniu com o presidente russo, Vladimir Putin, e o primeiro-ministro, Dimitri Medvedev, esta semana em Mianmar, para explorar fórmulas que levem a Rússia a atuar em favor da paz e da estabilidade na região.
'Falei com líderes europeus e do resto do mundo e o que deveriam fazer é tratar este problema de forma harmônica e pacífica através do diálogo', disse Ban em entrevista coletiva anterior à abertura da cúpula.
'A continuidade do conflito, das tensões e da violência nessa região da Ucrânia não ajudam em nada, não apenas em relação à paz e à segurança, mas também na economia', acrescentou o diplomata sul-coreano.
O conflito na Ucrânia não está na agenda do G20, mas será uma das questões que a União Europeia tratará amanhã em reunião com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
Putin chegou ontem à noite a Brisbane para participar da cúpula, horas depois que o Exército ucraniano repeliu uma nova tentativa das milícias separatistas pró-Rússia de tomar o aeroporto de Donetsk, cidade no leste da Ucrânia controlada pelos rebeldes.
14 de novembro de 2014 • 17h18 • atualizado às 20h15
PF divulga balanço de 7ª fase da Operação Lava Jato
Polícia confirmou que foram cumpridos 49 mandados de busca e apreensão
Roger Pereira
Direto de Curitiba
PF diz que sete empreiteiras são alvo da Operação Lava Jato
Foto: Roger Pereira / Especial para Terra
A Polícia Federal no Paraná divulgou o balanço da sétima fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta sexta-feira em cinco estados e no Distrito Federal.
Foram cumpridos quatro mandados de prisão preventiva, todos em São Paulo, contra Agenor Franklin Magalhães Medeiros, diretor-presidente da área internacional da Construtora OAS; Erton Medeiros Fonseca, diretor-presidente da divisão de engenharia industrial da Galvão Engenharia; Gerson de Mello Almada, vice-presidente da Engevix Engenharia; e José Ricardo Nogueira Breghirolli, funcionário da Construtora OAS.
De acordo com a Justiça Federal do Paraná, mandados também foram emitidos para Eduardo Hermelino Leite, diretor vice-presidente da Camargo Correa e Sérgio Cunha Mendes, diretor vice-presidente executivo da Mendes Junior Trading Engenharia.
A Justiça Federal decretou 19 mandados de prisão temporária - todas de cinco dias -, sendo que 13 deles foram cumpridos durante o dia: seis em São Paulo, um Osasco, um Santos, quatro no Rio de Janeiro e um em Salvador (este mandado estava previsto incialmente para ser cumprido em São Paulo).
Foram presos Othon Zanoide de Moraes Filho, diretor-geral de desenvolvimento comercial da Vital Engenharia, do Grupo Queiroz Galvão; Ildelfonso Colares Filho, diretor-presidente da Construtora Queiroz Galvão; Otto Garrido Sparenberg, diretor de operações da IESA Óleo & Gás; Jayme Alves de Oliveira Filho; Renato de Souza Duque; Mateus Coutinho de Sá Oliveira, da Construtora OAS; José Aldemário Pinheiro Filho, presidente da OAS; Alexandre Portela Barbosa, advogado da Construtora OAS; Ricardo Ribeiro Pessoa, responsável pela UTC Participações; Ednaldo Alves da Silva, da empresa UTC; Carlos Eduardo Strauch Albero, diretor técnico da Engevix Engenaria; Carlos Alberto da Costa Silva; Newton Prado Júnior, diretor técnico da Engevix Engenharia em Santos; e Walmir Pinheiro Santana, da UTC.
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Também foram emitidos mandados de prisão temporária para: João Ricardo Auler, presidente do Conselho de Administração da Construções e Comércio Camargo Correa; Dalton dos Santos Avancini, diretor presidente da Camargo Corrêa Construções e Participações; Valdir Lima Carreiro, diretor-presidente da IESA Óleo & Gás em Pinhais (PR); Adarico Negromonte Filho e Fernando Antonio Falcão Soares (Fernando Baiano).
Todos os presos durante a sétima fase da operação estão sendo encaminhados para a superintendência da PF em Curitiba.
Foram cumpridos ainda nove mandados de condução coercitiva, sendo três na capital paulista, um em Jundiaí, no interior paulista, dois em Belo Horizonte, dois no Rio de Janeiro e outro em Recife. Destes, foram cumpridos seis (em São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Recife).
Os mandados, para que os citados compareçam perante à autoridade policial para esclarecimentos, foram decretados para Edmundo Trujillo, diretor do Consórcio Nacional Camargo Correa; Pedro Morollo Junior, da OAS; Angelo Alves Mendes, diretor vice-presidente da Mendes Junior Trading e Engenharia; Flavio Sá Motta Pinheiro, diretor administrativo e financeiro da Mendesprev, da Mendes Junior; Cristiano Kok, presidente da Engevix Engenharia; Marice Correa de Lima, da OAS; e Luiz Roberto Pereira.
A PF ainda confirmou que foram cumpridos todos os 49 mandados de busca e apreensão, em Recife, Jundiaí, Santos, Curitiba, Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte.
O Ministério Público Federal (MPF) no Paraná, que integra a força-tarefa da operação Lava Jato, divulgou nesta sexta-feira que, em breve, devem ser oferecidas denúncias relacionadas ao caso. Segundo o MPF, as prisões e os materiais recolhidos vão possibilitar o avanço das investigações, aprofundando o conhecimento sobre crimes cometidos contra a Petrobras. O MPF ainda comunicou que os trabalhos têm apoio e coordenação do Procurador Geral da República, Rodrigo Janot.
As empreiteiras envolvidas na sétima fase da Operação Lava Jato possuem contratos de R$ 59 bilhões com a Petrobras. A suspeita é de que parte dos recursos tenha sido utilizado em corrupção de agentes públicos. Em entrevista coletiva realizada na manhã de hoje, em Curitiba (PR), o delegado da PF, Igor Romário de Paula comentou que os mandados de prisão foram concentrados em executivos de empreiteiras que celebraram contratos com a Petrobras e em agentes secundários do esquema, em envolviam operadores e doleiros, além de outras pessoas que participavam da lavagem de dinheiro por meio de prestações de consultorias cujas realizações não foram confirmadas.
O médico Paulo Saldiva pediu afastamento do cargo de professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Ele alegou, entre outros motivos, a falta de um posicionamento oficial da instituição sobre as denúncias feitas por estudantes de medicina decasos de violência sexual contra mulheres e abusos contra estudantes negros e negras e homossexuais dentro da faculdade na audiência pública de terça-feira (11) na Assembleia Legislativa de São Paulo. "Para mim foi a gota d'água", disse Saldiva ao G1.
Na audiência pública, alunas do curso de medicina relataram casos de estupros em festas de estudantes e violência psicológica contra minorias. O Ministério Público abriu inquérito para apurar as denúncias de oito casos de estupro desde 2011.
Em nota divulgada na tarde desta sexta-feira (14), a FMUSP afirmou que "lamenta, mas respeita, a decisão do professor Paulo Saldiva de pedir afastamento da instituição", e disse que "tem feito todos os esforços para apurar os casos de abuso que chegaram ao conhecimento da diretoria, tendo aberto sindicâncias e constituído uma comissão, de alunos e professores, para acompanhar as apurações, avaliar as circunstâncias e propor soluções para que tenhamos um ambiente de permanente respeito aos direitos humanos em nosso campus".
No comunicado, a faculdade lembrou a criação do Centro de Defesa dos Direitos Humanos, anunciada na quarta-feira (12), afirmando que ela é uma "medida pioneira que irá garantir acolhimento às vítimas, além de oferecer assistência jurídica, psicológica e de saúde para elas".
Presidente de comissão
Saldiva foi o presidente da comissão formada por professores, alunos e funcionários que de junho a outubro apurou os casos de abusos praticados dentro da FMUSP. A comissão preparou um relatório sobre os casos que será apresentado à congregação da faculdade. O relatório aponta também denúncias de abusos de álcool e drogas e intolerância racial, sexual e religiosa.
"Meu sentimento como professor é de que não fui capaz de detectar isso", disse o professor. "Fomos à audiência pública sem um posicionamento oficial da FMUSP. Não conseguimos ir lá com uma posição mais consistente. Ficamos a reboque dos conhecimentos. É duro ouvir na assembleia que a faculdade não tomou medidas necessárias."
"Se os médicos, os alunos e todos os profissionais de saúde não souberem se respeitar, vai ser difícil 'mudar a chave' e tratar melhor o paciente", afirma.
Saldiva vai tirar licença-prêmio de 90 dias e depois deve deixar o cargo. Ele também se queixou das dificuldades que a USP impõe para promover parcerias com outras universidades do país. "Tenho 60 anos, não posso esperar a USP mudar o seu estatuto", afirmou. "Ainda tenho muito gás para dar."
O patologista Paulo Saldiva se formou em medicina na USP em 1977. Ele se tornou professor titular da faculdade em 199 e é um dos maiores especialistas em doenças causadas pela poluição. Ele faz parte do comitê de qualidade do ar da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Prédio da FMUSP (Foto: USP Imagens)
Medicina da USP criará centro de apoio
A faculdade anunciou, na tarde desta quarta, que vai criar um centro de direitos humanospara dar assistência jurídica e psicológica para apoiar alunos do curso que se sentirem "vítimas de qualquer tipo de violação" como agressões sexuais, machismo, racismo e homofobia. Em nota divulgada nesta tarde, a faculdade diz que o centro "estará atuando em até 40 dias", e contará com membros da diretoria da faculdade, além de professores e especialistas.
Ainda de acordo com o comunicado, a FMUSP diz que "o novo órgão também terá como missão, além do acolhimento das vítimas, a apuração de denúncias e a eventual punição dos envolvidos, de acordo com o regimento da Universidade de São Paulo, e a promoção de políticas institucionais em defesa dos direitos humanos".
Segundo a faculdade, o centro receberá denúncias identificadas ou anônimas.
Inquérito civil
A promotora de Justiça de Direitos Humanos e Inclusão Social do Ministério Público do Estado de São Paulo, Paula de Figueiredo Silva, disse em entrevista ao G1 que os relatos de alunas vítimas de violência sexual em festas da Faculdade de Medicina mostram que "há naquele ambiente universitário uma cultura violenta e opressiva". Ela instaurou um inquérito civil para apurar as denúncias de abusos de estudantes contra alunas mulheres, negros e homossexuais dentro da faculdade. A promotora apura também quais ações a direção da faculdade está tomando para evitar esta prática.
No inquérito civil ao qual o G1 teve acesso, a promotora relata: "Dentre as condutas opressoras, relatou-se a ocorrência de 8 (oito) estupros nos últimos anos, ocasiões em que as vítimas não obtiveram qualquer suporte da Diretoria, que deixou de dar prosseguimento a procedimentos administrativos de apuração. Mais do que isso: relata-se tentativas de ocultar os casos, a fim de evitar exposição à imagem da universidade. Uma das vítimas de estupro, através da mídia, deu publicidade à agressão sofrida e, em razão disso, passou a ser hostilizada por colegas".
O inquérito inclui ainda a agressão a um casal homoafetivo que tentou entrar uma festa promovida pelos estudantes e faz referência a piadas de um professor sobre as genitálias das alunas.
"Fiquei chocada, começou a narrar uma série de atos de discriminação contra mulheres, contra o público LGBT, além de outros atos violentos contra alunos", afirmou a promotora.
Atuando na área de direitos humanos, a promotora não trata de inquéritos criminais, mas pretende reforçar ações para mudar a cultura que existe nas universidades. "Quero saber quais as matérias de humanísticas que existem no curso de medicina e como fazer uma ação humana desses alunos", diz. "A educação é inspirada nos princípios da liberdade tem que formar o cidadão. Ainda mais na faculdade de medicina que vai trabalhar a vida humana e tratar com pessoas doentes."
Vítimas relataram abusos
Segundo nota publicada no site da Alesp, as três vítimas que deram depoimento na audiência desta terça-feira "narraram as agressões sofridas em festas promovidas pela Atlética da FMUSP, e a pressão para que não denunciassem a fim de não "manchar a imagem da instituição". Contaram que ficaram estigmatizadas na faculdade, e que os agressores estão impunes."
O G1 ouviu uma das vítimas em reportagem publicada no dia 22 de agosto deste ano. A estudante disse que ela não é um caso isolado. "Tenho colegas aqui dentro da faculdade que foram estupradas e nunca chegaram a denunciar. A gente não tem vias para denunciar, não existe apoio, não existe acolhimento. Aqui na Faculdade de Medicina acontece, acontece em outras partes do campus, com certeza não sou um caso isolado", disse a estudante, hoje com 23 anos.
Apesar de o inquérito ainda não ter sido concluído mais de três anos após o crime, a delegada que cuida do caso, Celi Carlota, da 1ª Delegacia de Defesa da Mulher de São Paulo, afirmou já ter elementos suficientes para indiciar o suspeito pelo crime de estupro. O caso aconteceu em uma festa chamada "Carecas do Bosque" na noite do dia 2 de abril de 2011. De acordo com a delegada, o suspeito é um homem que trabalhava com manutenção de ar condicionado no prédio da faculdade. Ele foi ouvido durante o inquérito e negou o crime.
Racismo
A reunião na Alesp também tratou de denúncias de racismo e machismo em um hino da faculdade de medicina da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto (SP). O caso veio à tona no sábado (8) durante uma palestra sobre violência contra a mulher, realizada pelo curso de enfermagem da USP. A letra, que traz expressões como "morena gostosa", "loirinha bunduda" e "preta imunda", é de autoria da bateria do curso de medicina, conhecida como Batesão.
Segundo postagens de alunos, o hino foi divulgado este ano em um manual para calouros da medicina, juntamente com camisetas da atlética do curso. Procuradas pelo G1, a Atlética Acadêmica Rocha Lima e a Batesão não comentaram o caso. Em nota divulgada no Facebook, no entanto, a bateria pede desculpas e diz ser contra "qualquer forma de discriminação e preconceito."
De saída do Senado e sem a pretensão de se candidatar novamente, o gaúcho prestes a completar 85 anos espera mobilizar jovens para pressionar por mudanças na política
Considerado um “independente” dentro do partido que ajudou a criar, o PMDB, o senador gaúcho Pedro Simon despede-se dos 32 anos de Senado e dos 60 anos de vida pública com a sensação de tudo na política está ficando cada vez pior. Para Simon, o grande problema do país é a corrupção. Ele também aponta a falta de afinidade dos partidos políticos com os mais jovens. Segundo ele, os partidos brasileiros são “de mentirinha”.
“As coisas estão piorando. Estão ficando mais graves e mais horrorosas”, diz Simon, ao falar da corrupção. “Os partidos políticos não têm uma intimidade com os jovens, uma preocupação com os jovens. Isso porque os partidos políticos hoje são de mentirinha”, analisa o senador, que esteve na base dos principais movimentos políticos do país nos últimos 30 anos, como o processo de redemocratização e a campanha das Diretas Já, por exemplo.
No próximo dia 31 de janeiro, último dia de mandato de Simon, completará 85 anos. Considerando suas atuações como vereador em Caxias do Sul, sua cidade natal, deputado estadual e governador do Estado, 60 anos de vida pública.
Humor
Ao falar da morte de seu amigo e colega de luta, Tancredo Neves, Simon apela para o bom humor. “Tancredo morrer foi má-fé dele. Ele tinha o compromisso conosco de viver. Não poderia ter morrido. E ainda deixou Sarney, podia ter levado junto”, brinca o senador, que aproveita para alfinetar seu outro colega de partido, o senador José Sarney (PMDB-MA), vice de Tancredo, que assumiu o governo.
Simon, no entanto, elogia o cumprimento, por parte de Sarney, dos princípios definidos pelo partido. “Os compromissos nossos, ele cumpriu. Eu tenho a obrigação de dizer isso.”
Futuro
Simon revelou decepção com a atual capacidade dos poderes constituídos em fazer mudanças necessárias para o país. “Se nos esperarmos pelo Congresso, pelo Executivo ou pelo Judiciário, não sai nada”, disse Simon, referindo-se à reforma política.
A intenção do senador é provocar a mobilização nas ruas, principalmente de jovens, pedindo mudanças. Ele diz que quer “percorrer o Brasil”. “Você pode me perguntar o que é o futuro de um cidadão de 85 anos?”, contesta. “Vou iniciar minha atividade singela e modesta. Vou percorrer o Brasil com ideias que eu defendo que são os jovens na rua. Não só jovens, mas toda a sociedade”, disse Simon ao iG.
Para o senador, o principal problema do país é a corrupção, que ele considera institucionalizada devido à ausência de punição. “O Brasil é o país do jeitinho. Vale tudo, pode tudo”, reclama o senador, que citou como dois momentos importantes da recente democracia a punição dos envolvidos no esquema do mensalão e a aprovação pelo Congresso da Lei da Ficha Limpa. “São dois momentos que me fazem sair feliz da vida pública”, ressalta. “Mostrou, desmascarou o escândalo, a imoralidade e a indecência e as pessoas foram punidas”, diz a respeito do julgamento do mensalão.
A presidente Dilma Rousseff, na avaliação do senador, até tentou não se sucumbir ao “toma lá, dá cá” da política, no entanto, ao perceber que não tinha mais como governar diante das resistências, se entregou. “Quando ela assumiu, foi firme. Demitiu seis ministros. Eu fui para a tribuna, fiz discurso, fiz até um livro: ‘Resistir é Preciso’. Aí começou a aparecer o ‘fora Dilma’, o ‘volta Lula’. Os projetos dela começaram a parar aqui nesta Casa. O que aconteceu? Ela se entregou e entrou no rol do troca-troca, do é dando que se recebe”.
Apesar de ter participado da fundação do MDB, que deu origem ao PMDB, Simon é um senador sem vivência partidária atualmente o que lhe rendeu o apelido de “independente” dentro do partido. Ele não poupa críticas aos candidatos de seu partido para presidir a Câmara e o Senado na próxima legislatura e às relações entre a montagem do novo governo de Dilma e a briga por espaço no parlamento.
“Tem o líder do PMDB, na Câmara, que está rompido com a presidente da República. Eles não se dão. Por sua vez, ele não tem nenhuma intimidade com o vice-presidente Michel Temer. A bancada se reúne e o lança candidato a presidente da Câmara”, disse Simon se referindo ao deputado Eduardo Cunha. “Vão querer derrubá-lo com o ‘é dando que se recebe’, com o troca-troca.”
Já em relação a Renan Calheiros, seu colega de partido e candidato a permanecer no comando do Senado, Simon destina críticas sobre seu possível envolvimento com o esquema de propina investigado na Petrobras. “O mensalão é brincadeira perto do que vai aparecer”, diz ele. “E vai envolver Deus e o mundo.”
“Coincidir isso com a pobre da Dilma tendo que montar o governo dela é um instante de profunda dramaticidade”, considera o senador.
Diretas Já
Pedro Simon esteve no centro da mobilização por eleições diretas no início da década de 1980. Secretário-geral do MDB, partido então presidido por Ulysses Guimarães, Simon deu início às movimentações no Rio Grande do Sul, único estado brasileiro que manteve a Assembleia Legislativa em funcionamento após o AI-5, que fechou o Congresso e consequentemente as demais instituições legislativas nos estados.
Com seus colegas de partido, Simon formalizou uma proposta com cinco pontos. O primeiro era pela defesa da emenda Dante de Oliveira, que previa eleições diretas para a Presidência da República. O segundo ponto de defesa era pela liberdade de imprensa, caçada pelos atos institucionais do Regime. O terceiro ponto era o fim da tortura. O quarto era a defesa da anistia aos presos e exilados políticos e o quinto ponto era a instalação da Assembleia Nacional Constituinte.
“Um grupo queria a guerrilha, outro queria sequestros, outro grupo lutava por voto em branco, outro grupo pregava o fim dos partidos políticos. Era um pandemônio”, relata.
Para pertencer ao MDB e estar na nossa luta tinha que defender isso, os cinco pontos. “Nos fomos muito criticados”, lembra. “Disseram que não tínhamos coragem de lutar contra a revolução”. No entanto, Simon argumentava na época que as forças que apoiavam a ditadura estavam coesas e era preciso, do lado oposto, também uma coesão em torno das ideias.
“Começou lá em Porto Alegre, um ‘movimentozinho’. Depois Santa Catarina. Aí, aumentou tanto que no dia 25 de janeiro, aniversário da cidade de São Paulo, havia um mar de gente”, conta Simon, sem esconder a relutância da imprensa em retratar o movimento.
“Neste dia, o Jornal Nacional foi todo dedicado à beleza da cidade de São Paulo. As crianças cantando no jardim, a orquestra sinfônica. Só essas coisas. Não tocou no assunto. A coisa foi tão irritante que a gurizada foi para rua e começou a apedrejar o carro da Globo”, relata, lembrando que os fatos antecederam a mudança de comportamento da mídia, que passou a retratar o movimento.
“Isso facilitou muito. Na hora de votar a emenda das Diretas Já, fecharam o Congresso. Levamos Tancredo para o colégio eleitoral e ele foi eleito”, relatou Simon, ao falar dos bastidores da eleição do mineiro, que morreu antes de tomar posse como presidente da República.