Em uma ampla ação iniciada ao nascer do dia, a Polícia Federal efetuou 18 prisões dentro da Operação Lava Jato, que investiga um monumental esquema de corrupção envolvendo a maior empresa estatal brasileira, a Petrobras.
Esta foi a sétima fase da operação que aconteceu em cinco estados e no Distrito Federal, com a participação de 300 policiais federais e 50 fiscais da Receita Federal.
Ao todo, foram cumpridos 49 mandados de busca e apreensão nas sedes de grandes empreiteiras, algumas das maiores do país, todas com contratos com a Petrobras: duas em Pernambuco, 31 em São Paulo, duas no Paraná; 11 no Rio de Janeiro, dois em Minas Gerais e um no Distrito Federal.
Foram cumpridos também seis mandados de condução coercitiva, ou seja, seis pessoas foram levadas para prestar depoimentos e depois foram dispensadas.
Entre os 18 presos, estão:
- Renato Duque, ex-diretor de serviços da Petrobras;
- Ildefonso Colares Filho, presidente da construtora Queiroz Galvão;
- José Aldemário Pinheiro Filho - presidente da OAS;
- Ricardo Ribeiro Pessoa, presidente da UTC/Constran;
- Otto Garrido Sparenberg, diretor de operações da IESA;
- Gerson de Mello Almada, diretor executivo da Engevix;
- Erton Medeiros Fonseca, presidente da divisão de engenharia industrial da Galvão Engenharia.
Além desses, entre os nomes, há outros executivos também dessas empresas. As investigações também atingiram as empresas Odebrecht, Mendes Júnior e Camargo Corrêa. Nove pessoas ligadas às construtoras não foram localizadas e estão sendo procuradas pela Polícia Federal.
CURITIBA
Os presos da Operação Lava Jato seriam levados, na noite de sexta-feira (14), para a Polícia Federal, em Curitiba, mas houve um imprevisto.
O avião, segundo a assessoria da Polícia Federal, teve um problema mecânico e o piloto achou melhor não decolar.
Serão levadas para Curitiba 18 pessoas. Entre elas, presidentes e executivos de construtoras e também o ex-diretor de serviços da Petrobras, Renato Duque. Durante a noite, foi grande a movimentação de advogados antes mesmo da chegada dos presos.
Esta fase da Operação Lava Jato mirou nas empreiteiras que tem contratos de R$ 59 bilhões com a Petrobras, assinados nós últimos cinco anos, alguns ainda estão em vigor.
Segundo a Polícia Federal, o alvo agora são os corruptores, que pagaram propina a funcionários do alto escalão da estatal e também a políticos. Assim que chegarem à sede paranaense da Polícia Federal, os 18 presos devem fazer exame de corpo de delito e os depoimentos devem começar logo em seguida.
O Ministério Público Federal quer acompanhar tudo de perto, porque os procuradores pretendem apresentar as primeiras denúncias contra esses investigados nesta fase ainda este ano.
RIO DE JANEIRO
No Rio de Janeiro, entre as quatro pessoas presas, está o ex-diretor de serviços da Petrobras, Renato Duque. Segundo a Polícia Federal, Renato Duque é suspeito de envolvimento em contratos com um cartel de empreiteiras e de desviar recursos para corrupção de políticos e agentes públicos.
As denúncias contra ele partiram do ex-diretor de abastecimento Paulo Roberto Costa.
"O decreto de prisão menciona apenas delações premiadas que, na visão da defesa, são falsas delações premiadas. As pessoas estão buscando um prêmio ao final que é uma isenção de pena, uma diminuição radical de pena acusando falsamente Renato Duque", afirma Alexandre Lopes, advogado de Renato Duque.
Renato Duque foi diretor de serviços da Petrobras entre 2003 e 2012. Ele teria sido indicado ao cargo pelo ex-ministro José Dirceu. Documentos divulgados pela Justiça Federal revelam que ele e um subordinado, Pedro Barusco, receberam propina de pelo menos duas contrutoras que tem contatos com a Petrobras.
Um dos depoentes é o empresário Julio Camargo, da Camargo Corrêa, que fez delação ao Ministério Público Federal. Ele diz que repassou propina para a diretoria de engenharia e serviços no valor de R$ 6 milhões.
Para contas no exterior indicadas por Renato Duque e Pedro Barusco, referente ao contrato de obras da Revap, Refinaria Henrique Lage, e mais R$ 3 milhões referentes ao contrato do gasoduto de Cabiúnas 1 e 2.
Na denúncia encaminhada à Justiça, e que fundamentou as prisões de sexta-feira (14), o Ministério Público Federal do Paraná afirma que os depoentes citaram nove obras da Petrobras, onde houve desvio de valores.
Além de Renato Duque e Pedro Barusco, o Ministério Público afirma ainda que o homem apontado como operador do PMDB no esquema também recebia propina. Fernando Soares, conhecido como Fernando Bahiano, teve a prisão decretada e está foragido. A Polícia Federal já acionou a Interpol para tentar encontrá-lo.
A assessoria de José Dirceu negou que o ex-ministro tenha indicado Renato Duque para a diretoria de serviços da Petrobras. Já a assessoria do PMDB afirmou que Fernando Soares não é e nunca foi ligado ao partido.
SÃO PAULO
A maior parte da operação se concentrou em São Paulo, sede de sete das empreiteiras investigadas.
São Paulo teve o maior número de prisões: 13. Quatro preventivas e nove temporárias. Também foram cumpridos no estado paulista 31 mandados de busca e apreensão nas sedes das construtoras OAS, Camargo Corrêa, Mendes Júnior, Galvão Engenharia, Engevix, Queiroz Galvão e UTC.
Todos os presos foram trazidos primeiro para a sede da Polícia Federal, na Zona Oeste de São Paulo, e depois foram levados para o aeroporto de Guarulhos para seguirem de avião para Curitiba.
A Camargo Corrêa divulgou nota em que declara que repudia as ações de sexta-feira (14) porque, desde o início das investigações, tem colaborado com as autoridades.
A Engevix, a UTC, a OAS, a Queiroz Galvão, a Galvão Engenharia, a Mendes Júnior e a Odebrecht também declararam que estão colaborando com as investigações.
A Iesa não quis se manifestar.
REPERCUSSÃO EM BRASÍLIA
Representantes do governo evitaram comentar a operação de sexta-feira (14) da Polícia Federal, enquanto a oposição promete mobilizar-se para impedir que as investigações sejam paralisadas.
A Operação Lava Jato começou, em março, com a investigação de um esquema de desvio e lavagem de dinheiro. Mais de 20 pessoas foram presas, entre elas, o doleiro Alberto Youssef.
Dias depois, o ex-diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, foi preso quando a polícia descobriu o envolvimento dele com Youssef. A partir daí, a investigação se voltou para a Petrobras.
Os dois revelaram como era a ação dentro da estatal. O pagamento de propina era condição para as empresas fecharem contratos. Diretorias da Petrobras foram fatiadas entre partidos: PT, PMDB e PP. Os diretores indicados pelos partidos e Alberto Youssef negociavam o suborno com as empresas, e o dinheiro era repassado aos diretores da estatal, políticos e a Youssef.
O doleiro e Paulo Roberto citaram 13 empreiteiras que faziam parte do esquema. Entre elas, a Camargo Corrêa, a Odebrecht, a Queiroz Galvão, OAS, Andrade Gutierrez e Mendes Júnior.
A polícia investigou também a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, e as obras na refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco e do Comperj, no Rio de Janeiro, que têm indícios de superfaturamento.
Como parte do acordo de delação premiada, Paulo Roberto Costa confessou ter recebido propina de R$ 1,5 milhão na compra da refinaria de Pasadena.
Segundo o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), o esquema movimentou ilegalmente mais de R$ 10 bilhões.
O senador do PSDB, Aécio Neves, defendeu o aprofundamento das investigações.
"Para chegarmos no que é fundamental, naqueles agentes politicos que viabilizaram essa organização criminosa no seio da Petrobras e se beneficiaram desse esquema. Portanto, o papel da oposição é estar vigilante para garantir que não haja por parte do governo qualquer ação para impedir que as investigações avancem", declara Aécio Neves.
Por parte do governo, ninguém quis gravar entrevista. Nem os líderes do governo ou do PT na Câmara e no Senado. O líder do PT na Câmara, deputado Vicentinho, disse ao G1, portal de notícias da Globo na internet, que, se o ex-diretor da Petrobras preso na sexta-feira (14), Renato Duque, foi indicado pelo partido, não foi indicado para cometer irregularidades.