Sete anos depois de ser escolhido como sede dos 31ª Olimpíada da era moderna, o Rio de Janeiro promove a partir das 20h desta sexta-feira aquela que está sendo anunciada como a maior festa já realizada no país, a cerimônia de abertura dos Jogos. Será um espetáculo de R$ 100 milhões, presenciado por 75 mil espectadores no Maracanã e por 3 bilhões de pessoas espalhadas por todos os continentes.
Desde a primeira edição, em 1896, a solenidade que dá início à competição evoluiu de uma festividade de contornos modestos, basicamente protocolar, para a condição de um dos eventos mais espetaculares do planeta. É a chance de o país sede exibir-se para o mundo, e no Rio a reponsabilidade de executar essa tarefa coube a três profissionais com experiência no cinema, Fernando Meirelles (Cidade de Deus), Daniela Thomas (Terra Estrangeira) e Andrucha Waddington (Eu, tu, eles). Eles vão dirigir alguns dos maiores nomes da música de brasileira, 200 dançarinos profissionais e mais de 5 mil voluntários.
Entre os protagonistas, há gente como acrobata gaúcho Zeca Padilha, 33 anos, que desde maio tem como trabalho, com carteira assinada, ensaiar para o programa artístico desta noite, sob batuta da coreógrafa Deborah Colker.
– Não posso contar como vai ser, porque temos um contrato de sigilo – desconversa.
Apesar do mistério, informações que já estão disponíveis e testemunhos de quem acompanhou os últimos ensaios permitem ter uma ideia aproximada de como será a primeira festa carioca capaz de superar a grandiosidade do Carnaval.
NÚMEROS DA ABERTURA4 horas de duração
63 metros x 128 metros de palco
200 dançarinos profissionais
5 mil voluntários
20 quilômetros de cabos de fibra óptica instalados
42 mil peças de material pirotécnico
500 quilos de confete cenográfico
180 maquiadores e cabeleireiros
5,5 mil roupas e adereços
504 ritmistas de 12 escolas de samba
HINO NACIONALDos elementos obrigatórios da cerimônia, o primeiro a acontecer será a execução do Hino Nacional Brasileiro. A tarefa deve ficar a cargo de sambista carioca Paulinho da Viola, com voz e violão. Isso não significa que a solenidade começa diretamente com o hino. Antes, há uma introdução artística.
CHEFES DE ESTADODepois do hino, chega o momento dos chefes de governo e de Estado. No Rio, são esperados 45, entre eles os presidentes da França, François Hollande, da Argentina, Mauricio Macri, da Colômbia, Juan Manuel Santos, e do Paraguai, Horacio Cartes. O primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, confirmou presença, bem como o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon.
Tradicionalmente, nessa parte da cerimônia o presidente do Comitê Olímpico Internacional (atualmente o alemão Thomas Bach) recebe solenemente, em espaço de honra, o chefe de Estado do país-sede.
Nos Jogos de Londres, em 2012, esse foi um dos momentos surpreendentes. Os diretores do espetáculo tiveram a ideia de simular a chegada da rainha Elizabeth II ao estádio de paraquedas, depois de ser trazida do palácio em um helicóptero pilotado por James Bond.
No conturbado clima político brasileiro, não é esperada nenhuma brincadeira do gênero. O presidente interino Michel Temer vai marcar presença na cerimônia, ao que tudo indica com a primeira-dama Marcela ao lado, mas de forma discreta, sem entrada triunfal e preparado para uma vaia, como ele mesmo já admitiu.
PROGRAMA ARTÍSTICO
A parte artística: com dança, música, efeitos visuais, coreografias e vídeos – estará presente do primeiro ao último minuto da cerimônia, integrada aos elementos protocolares obrigatórios, de forma a torná-los menos maçantes e mais belos e simbólicos. Mas há uma parte do programa que é eminentemente artística, por meio da qual a cultura e a história do país sede são exibidos ao mundo de forma exuberante. Os detalhes desse show são mantidos em sigilo, mas várias informações vazaram durante os ensaios realizados nos últimos dias:
História do Brasil: um resumo da história do Brasil será apresentado no palco, começando com a chegada dos portugueses. Caravelas singrarão o gramado. O mar será simulado por projeções e dançarinos em fantasias azuis. Depois, vão ser mostrados os índios (representados por integrantes dos bois Caprichoso e Garantido, do festival paraense de Parintins) e o tema da escravidão. Em outro momento, uma réplica do 14-Bis, aeronave criada por Santos Dumont, vai atravessar o estádio, preso a um cabo.
Garota de Ipanema: a supermodelo gaúcha Gisele Bündchen desfilará por dezenas de metros de uma passarela projetada virtualmente, ao som de Garota de Ipanema, tocada por Daniel Jobim, filho de Tom.
Ambiente: haverá uma ênfase nas questões ambientais, principalmente o aquecimento global, apresentando o Brasil como um líder nessa área, devido a sua biodiversidade magnífica. É provável que será neste momento que as atrizes Fernanda Montenegro e Judi Dench leiam um texto de alerta.
Música: samba, bossa-nova, funk e rap vão dar o tom de uma festa que vai celebrar a musicalidade do brasileiro. Uma das principias apresentações será um trio com Caetano Veloso, Gilberto Gil e Anitta, que devem cantar "Isto aqui, o que é?", de Ary Barroso. Entre os músicos que tem participação esperada constam MC Ludmilla, Wilson das Neves, Diogo Nogueira, Zeca Pagodinho, Marcelo D2, Jorge Ben Jor, Elza Soares, MC Sofia e Karol Conka.
Projeções: a parte artística deverá utilizar bastante o recurso de projeções em 3D no palco. Para isso, foram instalados 106 projetores e 3,4 mil refletores.
PARADA DOS ATLETASDepois da parte artística, ocorre o tradicional desfile das delegações, que no Rio de Janeiro contará com mais de 200 países.
– Na entrada, cada um dos 10,5 mil atletas receberá a semente de uma árvore e será convidado a plantá-la em um tubo com terra. Estarão representadas 208 espécies nativas do Brasil, cada uma delas representando uma delegação. Mais tarde, as mudas serão plantadas no Parque Radical, uma das áreas de competição, criando a Floresta dos Atletas.
– As regras do COI estabelecem que o desfile das delegações deve ser puxado pelos representantes da Grécia, nação de origem dos Jogos. Depois, os países seguem-se em ordem alfabética, conforme seu nome no idioma do país anfitrião. A TV norte-americana queria que a delegação dos Estados Unidos só se apresentasse na letra U (de United States), para segurar a audiência local por mais tempo, mas o COI não aceitou mudar a regra. Os americanos vão entrar na letra E.
– Além da Grécia, só não segue a ordem alfabética o país-sede. Por isso, o Brasil será o último a aparecer no Maracanã. Yane Marques, bronze no pentatlo moderno em Londres, será a porta-bandeira da equipe. A modelo transexual Lea T. está cotada para carregar a placa com o nome do Brasil. Antes da delegação brasileira, desfila sob a bandeira do COI um grupo de 10 atletas refugiados, de países como a Síria e o Sudão do Sul.
– Cada delegação será precedida pela bandeira e por um cartaz com o nome do país. A julgar por informações que vazaram do ensaio realizado no último domingo, baterias de escola de samba atuarão junto à primeira fila da arquibancada durante o desfile das delegações. Depois da passagem das delegações, o Maracanã deve virar palco de desfile de Carnaval, com participação de 12 escolas de samba do Rio.
ABERTURA OFICIALCom os atletas reunidos no meio do estádio, ocorre a abertura formal dos Jogos. Inicialmente, os presidentes do comitê organizador e do COI fazem breves discursos. Em seguida, o chefe de Estado do país anfitrião anuncia que os jogos começaram. Neste momento, Michel Temer deverá pronunciar as seguintes palavras:
– Declaro abertos os Jogos do Rio, celebrando a 31ª Olimpíada da era moderna.
Os diretores devem colocar alguma música alta ou outro som neste momento, para abafar possíveis vaias.
Feita a abertura, será trazida para o estádio, desfraldada na horizontal, a bandeira olímpica. Enquanto ela é hasteada, toca o Hino Olímpico, composto pelos gregos Spiros Samaras e Kostis Palamas para os Jogos de 1896, em Atenas. A bandeira permanecerá no alto até o final das Olimpíadas.
JURAMENTOSComo ocorria na Grécia Antiga (diante das entranhas de um animal sacrificado), participantes do Jogos farão o juramento olímpico (agora sob a bandeira). Um atleta, um árbitro (ou um oficial envolvido na Olímpiada) e um treinador, todos brasileiros, proferem uma versão adaptada de palavras escritas por Pierre de Coubertin, idealizador da competição nos tempos modernos.
Para os atletas, o juramento diz: "Em nome de todos os competidores, prometo que participaremos nestes Jogos Olímpicos, respeitando e seguindo as regras que os regem, comprometendo-nos a um desporto sem dopagem e sem drogas, com o espírito verdadeiro do desportivíssimo, para glória do desporto e honra das nossas equipes."
POMBASRepresentando a paz, pombas eram tradicionalmente liberadas antes da chegada da tocha olímpica. Essa prática persistiu de 1936 até 1988, em Seul, quando várias aves acabaram morrendo, atingidas pelas chamas, porque estavam pousadas na pira ainda apagada. Dali por diante, a liberação das pombas passou a ser apenas simbólica – ou seja, no Rio, não devem haver pombas de verdade, mas uma representação criativa delas.
ACENDIMENTO DA PIRADepois de meses percorrendo o país, a tocha olímpica ingressará no estádio, possivelmente trazido pelo ex-tenista Gustavo Kuerten. Ela deverá passar pela mão de várias atletas, até chegar à mão daquele escolhido para acender a pira. Sempre se trata de um atleta importante do país-sede.
No Rio, o convidado para o papel de honra foi Pelé, mas ele declarou que para isso precisaria ser liberado de um compromisso assumido, por contrato, no Exterior.
Como Pelé nunca participou de uma Olimpíada, a emissora de TV NBC, que detém os direitos exclusivos de transmissão para os Estados Unidos, sugeriu aos organizadores Vanderlei Cordeiro de Lima. Nos Jogos de Atenas, em 2004, ele liderava a maratona quando um espectador invadiu a área da corrida e o agarrou. O atleta brasileiro acabou chegando em terceiro. Se Pelé não confirmar, Vanderlei pode ser o responsável por acender a pira.
As regras do COI determinam que pira fique em um ponto alto, em que possa ser visto não só pelos atletas, mas também para quem está fora do estádio, na cidade-sede.
No fim da cerimônia, a chama Olímpica viaja até a Candelária, no centro do Rio, para acendimento de uma segunda pira.