sábado, 2 de julho de 2016

Fraudes e superfaturamentos: PF investiga esquema que tirou milhões de atletas olímpicos

Publicado em 02/07/2016, 10:45 /Atualizado em 02/07/2016, 14:00

Gabriela Moreira, para o ESPN.com.br
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DIVULGAÇÃO / COI
Olimpíada do Rio começa em agosto
Fraudes e superfaturamentos: PF investiga esquema que tirou milhões de atletas olímpicos
Um esquema criminoso que pode ultrapassar R$ 22 milhões em equipamentos que deveriam ir para atletas brasileiros. Às vésperas dos Jogos Olímpicos do Rio 2016, a Polícia Federal investiga uma quadrilha formada por empresas e pelo menos cinco confederações esportivas. Entre os crimes, fraude de licitação, superfaturamento e falsidade ideológica.
Em uma das compras, uma empresa localizada em Saquarema, na região dos Lagos, no Rio, recebeu R$ 3 milhões pela compra de filmadoras, computadores, entre outros produtos de informática e entregou itens de menor valor. Segundo as investigações, neste caso, a Confederação Brasileira de Taekwondo (CBTKD) informou ao Ministério do Esporte ter comprado 60 filmadoras de mão, ao custo de R$ 2,4 mil cada, mas a empresa forneceu câmeras avaliadas em R$ 200.
Já em outra licitação, para compra de tatames para o taekwondo, as investigações mostraram que a empresa vencedora é uma distribuidora de bebidas. Em depoimento, a dona negou que tenha participado da concorrência que custou aos cofres públicos R$ 432 mil. À PF, a responsável teria confessado que recebeu parte da verba apenas para participar do processo.
EMPRESA QUE COMANDA FRAUDE FICA A 230 METROS DO COB
Pelo menos 14 convênios com o Ministério do Esporte, firmados desde 2011, estão sendo investigados no esquema que envolve mais de sete empresas. Entre elas, uma foi identificada como a cabeça da fraude. Localizada na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio, ela fica a 230 metros da sede do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Criada para serviços de propaganda e marketing, a empresa se especializou em abrir sub-companhias de fachada com as quais combinava preços nas licitações para vencer o certame.
Antes de montar a empresa, em 2006, o sócio da companhia trabalhou como diretor de relações institucionais da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV). A entidade, no entanto, não está entre as investigadas.
OUTRO LADO
Procurado, o COB avisou que desconhece o assunto e aguarda mais informações para saber do que se trata. O Comitê ressalta que as confederações não vivem sob sua tutela, pois são autônomas.
A Confederação Brasileira de Tiro com Arco, por sua vez, respondeu: "Todas as nossas licitações seguiram estritamente o que dispõe a Lei nº 8.666/93, Lei de Licitações, com a devida publicidade e vinculação do Siconv, sistema público informatizado de convênios mantido pelo Governo Federal. Assim, se houve alguma irregularidade, a CBTarco é a maior interessada em averiguar eventual fraude e desconhece qualquer investigação nesse sentido. A Cbtarco ainda avisa que não tem qualquer relacionamento com os sócios da empresa SB Promoções, apesar de manter relação institucional com a citada empresa".
Todos os demais citados foram procurados pela reportagem, que ainda não recebeu resposta. 
DENÚNCIA FEITA PELA ESPN EM 2012
As investigações começaram depois que a ESPN revelou, em 2012, suspeitas de que as prestações de contas da CBTKD estavam sendo fraudadas. Com base em gravações telefônicas entre o superintendente da entidade, Valdemir José de Medeiros, e uma testemunha não identificada - revelados pela reportagem - fica clara a intenção de se acobertar as irregularidades.
"Se deixar do jeito que está, o Carlos está fora daqui um mês, não pode se eleger mais", disse o Superintendente, temendo as investigações. Carlos a quem eles se referem é o presidente da Confederação, Carlos Fernandes.
Na continuação do diálogo publicado com exclusividade pela reportagem, eles comentam os procedimentos adotados na fiscalização das prestações de contas da Confederação, por parte do COB, na ocasião:
"Não prestaram conta. Não tem uma nota no COB, entendeu?", diz o superintendente a respeito da compra de tatames para o Sul-Americano, em 2003.
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Em 2013, a ESPN denunciou supostas fraudes na Confederação Brasileira de Taekwondo; relembre
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Relembre denúncia de fraudes na Confederação Brasileira de Taekwondo feitas pela ESPN em 2013
O atleta de Taekwondo, Diogo Silva, em documentário que foi ao ar na ESPN na última quarta-feira, fala sobre as denúncias. E reclama da demora das investigações: "Esse caso aí é um dos maiores absurdos do país. O cara tem todas as provas, todas as imagens, tem áudio de telefone, tem prestação de conta, tem tudo".
 
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Dos tatames para o telão: a história de Diogo Silva em filme
Com o título "A Luta de Um Homem Só", produzido pela ESPN/ZOLA, o documentário mostra a trajetória do atleta e narra suas lutas contra os problemas enfrentados na CBTKD. O filme, em breve, estará disponível no WatchESPN.

Policiais do RJ recebem salário e gratificações na próxima semana

02/07/2016 16h40 - Atualizado em 02/07/2016 20h12

Governador Dornelles definiu pagamentos após reunião com secretários.

Demais servidores receberão apenas a segunda parcela do salário de maio.

Do G1 Rio
Após anunciar que pagará na segunda-feira (4) o restante dos salários de maio aos servidores da ativa, inativos e pensionistas do estado, o governador em exercício do Rio de Janeiro, Francisco Dornelles, informou neste sábado (2) que os agentes da área de segurança pública receberão também os vencimentos de junho e as gratificações que estavam em atraso.
Em reunião com os secretários de Fazenda, Julio Bueno, de Planejamento e Gestão, Francisco Antônio Caldas, e de Segurança, José Mariano Beltrame, Dornelles decidiu que policiais civis e militares também receberão os valores referentes ao Regime Adicional de Serviço (RAS) que estejam em atraso e a gratificação do Sistema Integrado de Metas (SIM) relativa ao primeiro semestre de 2015. Também participaram do encontro o comandante da Polícia Militar, coronel Edison Duarte dos Santos, e o chefe de Polícia Civil, delegado Fernando Veloso.
Governador Francisco Dornelles na reunião deste sábado (2) que definiu pagamento a servidores da segurança pública (Foto: Shana Reis/Divulgação Governo do RJ)Governador Francisco Dornelles na reunião deste sábado (2) que definiu pagamento a servidores da segurança pública (Foto: Shana Reis/Divulgação Governo do RJ)
Na reunião, ficou acertado ainda que será feito o pagamento de R$ 43 milhões, referentes ao RAS Olímpico, que será pago aos três mil policiais que vão trabalhar no reforço do esquema de segurança para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, entre julho e setembro.
Já  a premiação do Sistema Integrado de Metas relativa ao segundo semestre de 2015 será paga na folha de agosto, sendo depositada em conta no décimo dia útil de setembro. Os pagamentos serão possíveis graças à ajuda recebida da União, no valor de R$ 2,9 bilhões, que foi liberada pelo MInistério da Fazenda nesta sexta-feira (1).
De acordo com o texto da Medida Provisória que concedeu o crédito suplementar ao estado do Rio, os recursos deveriam ser utilizados para auxiliar nas despesas com Segurança Pública decorrentes da realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos.
"Nosso compromisso prioritário é com os servidores, por isso vamos começar a utilizar os recursos com eles. Eu posso garantir que, com a verba enviada ao Rio pelo presidente Michel Temer e com o empenho das polícias Militar e Civil, vamos ter as Olimpíadas mais seguras da história. Aproveito, mais uma vez, para agradecer ao presidente e sua equipe pelo apoio", afirmou Dornelles.
Protesto de policiais civis
No último dia 27, policiais civis fizeram uma paralisação, entre 8h e 16h, para denunciar as péssimas condições de trabalho enfrentadas pela categoria. Durante esse período, estarão suspensos os serviços de investigação. Os policiais também reivindicavam o pagamento integral dos salários e questionavam o corte no orçamento da instituição, que levou à falta até de água e papel para impressão de registros de ocorrência nas delegacias.
Um grupo de agentes chegou a exibir, no setor de desembarque do Aeroporto Internacional Tom Jobim, uma faixa com os dizeres (em inglês): "Bem-vindo ao inferno: policiais e bombeiros não recebem, quem vier ao Rio de Janeiro não estará seguro".
Policiais levaram faixa para o galeão com os dizeres, em inglês: 'Bem-vindo ao inferno' (Foto: Reprodução/Globo)Policiais levaram faixa para o galeão com os dizeres, em inglês: 'Bem-vindo ao inferno' (Foto: Reprodução/Globo)
Atrasos se tornaram rotina
O atraso no pagamento dos salários se tornou rotina para os servidores da ativa e inativos do estado no fim do ano passado, quando o governo parcelou o 13º salário. Este ano, o governo passou a mudar a data de pagamento, primeiro para o sétimo dia útil do mês seguinte e depois para o décimo dia útil.
Em abril, o estado tomou uma medida drástica e anunciou que pagaria os salários de marçoapenas aos funcionários da ativa e inativos que ganhavam no máximo R$ 2 mil por mês. A medida acabou suspensa por decisão do Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio, o que liberou a Justiça para confiscar o dinheiro disponível nas contas do estado a fim de pagar aos aposentados e pensionistas que ainda não haviam recebido.

Ex-vice da Caixa cita propina a Cunha em 12 operações do FI-FGTS

Em depoimentos à PGR, Fábio Cleto contou que peemedebista cobrava comissões variáveis, de 0,3%, 0,5% ou até mais de 1% dos repasse

 Estadão Conteúdo
Ex-vice da Caixa cita propina a Cunha em 12 operações do FI-FGTS EVARISTO SA/AFP
Foto: EVARISTO SA / AFP
O ex-vice presidente da Caixa Fábio Cleto relatou em delação premiada que o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), recebeu propinas em 12 operações de grupos empresariais que obtiveram aportes milionários do Fundo de Investimento do FGTS (FI-FGTS).
Em depoimentos prestados à Procuradoria-Geral da República (PGR), ele contou que Cunha cobrava comissões variáveis, de 0,3%, 0,5% ou até mais de 1% dos repasses feitos pelo fundo, conforme uma fonte com acesso às investigações.
Cleto foi vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa entre 2011 e dezembro do ano passado, indicado ao cargo por Cunha. Ele integrava também o Comitê de Investimento do FI-FGTS, colegiado que aprova os repasses de recursos em empresas.


Aos procuradores da Operação Lava-Jato, o delator contou que tinha reuniões semanais com o peemedebista, em Brasília, para informar de forma pormenorizada quais grupos buscavam apoio do banco público e definir quais seriam os alvos do achaque.
Conforme o relato aos investigadores, esses encontros ocorriam todas as terças-feiras, por volta das 7h30min, primeiro no apartamento funcional do deputado. Depois que ele assumiu a Presidência da Câmara, teriam passado a ocorrer na residência oficial da Casa, no Lago Sul.
Para confirmar os encontros, ele indicou à PGR o nome do motorista da Caixa que o levava. Também entregou cópias de seus votos no comitê do FI-FGTS e uma planilha com a prestação de contas do esquema, produzida pelo operador do mercado financeiro Lúcio Bolonha Funaropreso nesta sexta-feira.
Cleto explicou que, ao tomar conhecimento das informações, Cunha apontava quais aportes lhe interessavam e pedia que o vice-presidente da Caixa trabalhasse para viabilizar a aprovação. Nos demais casos, a ordem seria para "melar" as operações.
O ex-vice-presidente disse que não cobrava pessoalmente propina das empresas. A tarefa caberia ao próprio Cunha ou a Funaro, que o teria apresentado ao peemedebista. Do valor supostamente pago por cada empresa, o deputado ficaria com 80%. Cleto admitiu que recebia uma parte menor, cujo valor era sempre estipulado pelo deputado. O dinheiro, segundo ele, era sempre depositado pela Carioca Engenharia numa conta na Suíça.
Operações
Uma das propinas relatadas por Cleto refere-se à captação de recursos feita em 2012 pela Eldorado Brasil, empresa do grupo J&F, que também controla a Friboi. O valor pleiteado inicialmente foi de R$ 1,8 bilhão para obras numa fábrica em Três Lagoas (MT), mas acabou reduzido para R$ 940 milhões. Nesse caso, Cleto disse acreditar que Cunha tenha recebido valor superior a 1% como comissão. Ele afirmou que sua parte foi de R$ 940 mil.
O delator contou que a negociação do aporte foi feita com o controlador da J&F, Joesley Batista, supostamente apresentado a ele por Funaro num jantar na casa do operador financeiro.
Cleto afirmou ainda ter trabalhado para viabilizar participação acionária do FI-FGTS na Brado Logística, grande transportadora de contêineres que tem a América Latina Logística (ALL) como sócia. O projeto, de R$ 400 milhões, foi aprovado em 2013 com aval de Cunha. O vice-presidente da Caixa disse ter sido informado de que a propina para o deputado, nesse caso, foi de 0,5% (R$ 2 milhões). O delator reconheceu aos investigadores ter ficado com R$ 80 mil.
Outro aporte, de R$ 386,7 milhões, teria envolvido uma comissão de 0,3% a Cunha ou R$ 1,16 milhão. Trata-se de operação negociada pelo FI-FGTS, em 2012, com a empresa Metrô Rio, da Invepar, que tem participação da OAS.
Cleto relatou que o deputado lhe pediu para ajudar nessa operação e relatou aos investigadores o "ótimo" relacionamento dele com o dono da OAS, Leo Pinheiro, já condenado por envolvimento nos esquemas de corrupção da Lava-Jato.
O presidente afastado da Câmara também teria obtido comissão de 1% pela emissão de R$ 250 milhões em debêntures pelo FI-FGTS, pleiteada pela OAS para obras no Corredor Raposo Tavares, em São Paulo, e na Concessionária Rota do Atlântico, em Pernambuco. A comissão corresponderia a uma propina de R$ 2,5 milhões. Já Cleto teria ficado com R$ 100 mil.
Cleto lembrou na delação que pediu para "ajudar" nessa operação. Outro caso relatado foi o repasse de R$ 90,5 milhões para a Empresa de Saneamento de Tocantins (Saneatins), controlada pela Odebrecht Ambiental.
A operação foi aprovada setembro de 2011. Cleto afirmou que Cunha pediu seu apoio para aprovar operação para que o FI-FGTS se tornasse, com o investimento, acionista da empresa. O ex-vice-presidente da Caixa contou que Cunha lhe disse ter ficado também com 1% do valor, o que equivale a R$ 905 mil. O delator disse ter embolsado R$ 36 mil.

Brasil dorme de olhos abertos ante ameaça de ataques de “lobos solitários”

Serviços de inteligência não temem possibilidade de grande atentado durante os JogosExercício anti-terrorista das Forças Especiais brasileiras.Exercício anti-terrorista das Forças Especiais brasileiras. 
Rio de Janeiro 
MARÍA MARTÍN
Na lista de preocupações que ameaçam o sucesso dos Jogos Olímpicos do Rio há uma que vem escalando degraus nos últimos meses: os chamados “lobos solitários”. Um homem armado, invisível para os serviços de inteligência, mas influenciado pela ideologia radical de grupos terroristas, é hoje uma ameaça muito maior que a de um ataque orquestrado pelo Estado Islâmico (Isis, nas suas siglas em inglês).
Segundo um relatório dos serviços de inteligência,publicado pela revista Veja, atentados de grande sofisticação e complexidade logística não são mais uma ameaça para o Brasil, mas sim o incentivo de grupos extremistas religiosos para que seus simpatizantes atuem por conta própria. “Uma das maiores preocupações governamentais está no acompanhamento da radicalização de indivíduos alinhados ideologicamente ao Estado Islâmico”, diz o texto.
Nesta sexta-feira, a pedido das autoridades brasileiras, a companhia Avianca lançou um comunicado interno advertindo da possível entrada no Brasil de um ex-detento de Guantánamo, que foi acolhido no Uruguai há dois anos. Jihad Ahmad Diyab, que cumpriu pena na controversa prisão norte-americana por seus supostos vínculos com a Al Qaeda, era livre de deixar o território uruguaio, mas as autoridades migratórias brasileiras já haviam barrado sua entrada com base na lei antiterrorista. Tecnicamente ele não é um fugitivo, porque nunca foi processado nem acusado, mas a um mês da Olimpíada, qualquer rastro suspeito é motivo de alerta.Segundo um relatório dos serviços de inteligência,publicado pela revista Veja, atentados de grande sofisticação e complexidade logística não são mais uma ameaça para o Brasil, mas sim o incentivo de grupos extremistas religiosos para que seus simpatizantes atuem por conta própria. “Uma das maiores preocupações governamentais está no acompanhamento da radicalização de indivíduos alinhados ideologicamente ao Estado Islâmico”, diz o texto.
Há outros vários indícios que levaram a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) a falar publicamente sobre a ameaça específica dos lobos solitários, baseada no florescimento de um radicalismo autóctone. O último foi o descobrimento de um canal de comunicação em português para a troca de informações sobre o grupo terrorista no aplicativo de mensagens Telegram. O achado foi interpretado como um esforço do Estado Islâmico para ampliar sua influência no Brasil, um apelo a potenciais novos soldados. “Entendemos que a criação de uma conta pode ser a abertura de uma porta para que brasileiros sejam radicalizados”, disse uma fonte próxima ao assunto à agência de notícias Reuters.
A divulgação por parte de Abin de investigações antiterroristas teve seus críticos, entre eles José Mariano Beltrame, o secretario de Segurança Pública do Rio, que receberá 85.000 agentes para garantir a ordem nos Jogos. “Quando temos investigações de coisas importantes para fazer, a gente não fala. A gente apresenta resultado. Na minha visão, não deveria nem ter confirmado ou desconfirmado”, criticou Beltrame.
Não foi a primeira vez que a Abin divulgou informações que, tradicionalmente, são sigilosas. Em abril, os serviços de inteligência reconheceram a veracidade de um tweet que apontava o Brasil entre os objetivos do Estado Islâmico. A mensagem, que dizia em francês “Brasil, vocês serão nosso próximo objetivo”, foi publicada na rede social Twitter em novembro, quatro dias após os atentados do grupo terrorista que deixaram 129 mortos em Paris. A conta, hoje inativa, foi atribuída pela inteligência brasileira a Maxime Hauchard, um francês de 22 anos que aparece nos vídeos do Isis decapitando reféns. Para a elaboração desta reportagem, a Abin recusou responder perguntas enviadas por este jornal e tampouco confirmou a veracidade do relatório.
Com o aumento dos protocolos de segurança em países da comunidade europeia e a constante vigilância e intercâmbio de informações de órgãos de inteligência, o Estado Islâmico pode ver no Brasil “uma alternativa inexplorada”, avalia o analista de assuntos estratégicos e consultor de agências internacionais André Luís Woloszyn. Nesse sentido, o informe da Abin, aponta a Olimpíada como um “fator de elevada atratividade para a atuação de grupos terroristas no Brasil”. Esse mesmo relatório reconhece que a “disseminação do ideário radical salafista entre brasileiros” e “a dificuldade de neutralizar atos preparatórios de terrorismo” apontam um aumento, sem precedentes, “da probabilidade de ocorrência de atentado durante 2016, especialmente por ocasião dos Jogos”.
A inteligência brasileira já constatou, segundo Woloszyn, a existência de uma rede de tráfico de pessoas, algumas envolvidas em atos terroristas no Oriente Médio, utilizando o Brasil como passagem. Também tem no radar, diz o especialista, brasileiros classificados como “altamente radicalizados”. “Muitos destes, inclusive, prestaram juramento ao califado e, consequentemente, estariam em condições de atuar em ações terroristas em nome do Estado Islâmico”, afirma. Um deles seria um jovem de Santa Catarina, no sul do país, que passou a ser monitorado 24 horas com tornezeleira eletrônica. O universitário, segundo a revista Veja, teria ficado três meses numa cidade síria dominada pelo EI, e já no Brasil passava as madrugadas em treinos de tiro ao alvo.
“Tais circunstâncias derrubam a tese defendida por muitos de que o Brasil está longe do terrorismo extremista, baseados em falsas premissas de que o país não está envolvido em operações bélicas no Oriente Médio, Norte da África e em países asiáticos e que somos pacíficos", defende Woloszyn. "O cenário atual no Brasil é de pró-terrorismo cujas medidas profiláticas não dependem somente dos órgãos estatais mas, fundamentalmente, do envolvimento da sociedade em geral em um trabalho conjunto para coleta de informações.”
Esse trabalho conjunto já vem sendo feito há meses em parceria com órgãos de inteligência estrangeira, sobre tudo com os norte-americanos, franceses, ingleses e israelense. Eles ofereceram treinamento aos agentes brasileiros e o compartilhamento de informações. A população também foi treinada. O Ministério da Defesa, a Abin, a Polícia Federal e a Secretaria Extraordinária para a Segurança de Grandes Eventos promovem, desde fevereiro, cursos para que voluntários, taxistas, recepcionistas de hotel ou funcionários do transporte público aprendam a identificar possíveis ameaças e como lidar com elas.

Jihad Ahmad Deyab, que cumpriu pena em Guantánamo por supostos vínculos com a Al Qaeda, tentou entrar no país em maio. Seu paradeiro é desconhecido

Jihad Ahmad Deyab, que cumpriu pena em Guantánamo por supostos vínculos com a Al Qaeda, tentou entrar no país em maio. Seu paradeiro é desconhecido



O sírio Diyab em entrevista a um canal argentino no ano passado.
O São Paulo írio Diyab em entrevista a um canal argentino no ano passado.  AP

A pedido das autoridades antiterroristas brasileiras, a companhia aérea Avianca lançou um comunicado interno em que pede aos funcionários que "informem imediatamente" se detectarem a presença no Brasil de Jihad Ahmad Deyab, sírio que cumpriu pena em Guantánamo por seus supostos vínculos com a Al Qaeda e foi acolhido no Uruguai em 2014. A informação é do jornal Estado de S. Paulo e foi confirmada pelo EL PAÍS.


Deyab, que esteve preso durante 12 anos na prisão americana, foi um dos seis ex-detentos que o Governo uruguaio aceitou receber há dois anos. Seu paradeiro é desconhecido há várias semanas. Na época em que chegaram a Montevidéu, os ex-prisioneiros foram considerados de baixa periculosidade. Segundo o boletim distribuído pela Avianca, que se baseia em informações recebidas pela divisão Antiterrorismo (DAT/DIP/PF), o sírio não fala português e tem dificuldades de locomoção, fazendo uso de muletas. É provável também que ele, que possui documentos uruguaios, esteja utilizando um passaporte falso, passando-se por marroquino, jordaniano ou sírio, diz o informe.
REPRODUÇÃO
Ao EL PAÍS, a companhia aérea confirmou a veracidade do documento interno e explicou que se trata de um procedimento habitual e que a Avianca está colaborando com as autoridades. O comunicado da empresa aos funcionários exibe ainda telefones da PF aos quais se deve recorrer para repassar informações sobre o ex-prisioneiro. Em um desses números, um agente da PF não confirmou, no entanto, que exista um alerta a respeito de Deyab. O jornal não conseguiu contato com a assessoria de imprensa da polícia.
O Ministério do Interior do Uruguai informou que o sírio é livre para deixar o país. Em maio, foi reportado que ele havia tentado entrar no Brasil, mas havia sido rejeitado pelas autoridades locais no âmbito da legislação antiterrorismo.Tecnicamente ele não é um fugitivo, porque está livre e nunca foi processado nem acusado. Extraoficialmente, no entanto, se sabe que ele é vigiado pelo serviço secreto uruguaio. Os Estados Unidos também estaria cooperando para descobrir o seu paradeiro.
Diyab, de 44 anos, nasceu no Líbano, mas é cidadão sírio. Em um dos documentos do Departamento de Estado dos EUA filtrados por Wikileaks figura que ele pertenceu a a organizações terroristas, como a Al Qaeda, e que ele fugiu da Síria para o Afeganistão. No início do ano passado, Deyab viajou a Argentina para pedir o Governo que recebesses alguns dos presos que ainda permaneciam em Guantánamo."Nunca vou esquecer dos meus companheiros que estão lá e, por isso, que vim aqui lutar", afirmou em uma entrevista coletiva a quatro veículos de comunicação alternativos da Argentina, Barricada TVResumen Latinoamericano, Radio Gráfica y Radio Madre, da organização Madres de Plaza de Mayo.

Centro Administrativo: Como nasce um elefante branco da cor do pecado


Kacio Pacheco/Metrópoles






A ideia de construção do Centro Administrativo do Distrito Federal (CADF) foi concebida durante a conturbada gestão de José Roberto Arruda, que acabou banido do governo depois de se tornar protagonista da Operação Caixa de Pandora, já no ocaso de 2009. Antes, porém, de ser afastado da chefia do Executivo, Arruda colocou em prática o que era um de seus grandes projetos, a transposição da burocracia do centro da capital federal para um endereço entre Taguatinga, Ceilândia e Samambaia.


Com o governo bem avaliado antes de vir a público o escândalo de corrupção da Pandora, Arruda conseguiu, à época, emplacar o seu projeto sem grandes contestações públicas, mesmo diante de argumentos frágeis. A economia de gastos com locação é um deles. O governo deixará de pagar parte dos aluguéis atualmente devidos, mas assumirá um boleto mensal a partir de R$ 17 milhões e por longos 22 anos, a titulo de contraprestação do serviço da Odebrecht e da Via Engenharia. A primeira, está no epicentro da Lava Jato. E a construtora candanga tangencia o escândalo que já tragou dezenas de empresas nos últimos dois anos.
Embora o governo tenha tentado evangelizar a população de que a troca é vantajosa, fica difícil botar fé no discurso oficial. Não dá para falar em diminuição de gastos, já que itens essenciais do projeto ainda não foram contabilizados. É o caso do mobiliário para atender o CADF. Estima-se, por baixo, um valor de R$ 200 milhões na compra dos móveis. Sem falar nos acessórios tratados fora dos holofotes da opinião pública. Em 2013, durante a administração de Agnelo Queiroz (PT), o governo tentou viabilizar junto ao consórcio do Centro Administrativo um aditivo do contrato no valor de R$ 34 milhões. A intenção, à época, era acrescentar à obra a colocação de vidros blindados, grades, novas paredes, salas mais espaçosas para os secretários de Estado e até uma suíte privativa para o governador e a primeira-dama.
Outro ponto do discurso oficial difícil de parar em pé é a tese da melhoria do trânsito com a mudança da burocracia para Taguatinga. Quando o governo quis convencer a população sobre a importância do projeto, disse que a alteração diminuiria os congestionamentos no Plano Piloto, pois inverteria o fluxo de carros. A comunidade chegou a experimentar o que seria um protótipo do novo centro administrativo, com a inauguração do Buritinga nas dependências de um quartel desativado bem na entrada de Taguatinga. A inversão na época não aliviou para o cidadão comum e criou transtornos para secretários de governo e seus assessores que não escondiam a insatisfação com o endereço afastado do centro de Brasília.
Nesta sexta-feira (1º/7), o Metrópoles revelou que integrantes da força-tarefa da operação Lava Jato avançaram nas investigações sobre a contratação de uma suposta consultoria de fachada para amparar as obras do Centro Administrativo do DF. A parceria foi firmada em 2008 entre a Via Engenharia e a CSA Project Finance, empresa do doleiro Alberto Youssef. A reportagem aponta que os promotores de Justiça encontraram fortes indícios de que o trabalho foi fajuto e teria servido para justificar pagamento de propina. Um ano depois da consultoria, em abril de 2009, a Via, em parceria com a Odebrecht, acabou vencendo a licitação para construir o Centro Administrativo do DF.
A suspeita de pagamento de propina nas origens do projeto do Centro Administrativo do DF pode ajudar a explicar o porquê um dia um governante tentou convencer a população da necessidade de se construir um centro administrativo custoso e afastado de Brasília. Pode ajudar a explicar também por que o governo subsequente insistiu no projeto. E ainda dar sinais de qual a razão encorajou a administração de Rodrigo Rollemberg (PSB) a contratar consultoria milionária para apontar o rumo do elefante branco que caminha para assumir a cor do pecado capital da corrupção.

Temer desencadeia operação para 'ganhar' Renan e evitar surpresas no impeachment

Renan, que teria condições de mudar quatro ou cinco votos contra Dilma Rousseff no Senado, dá sinais de uma tendência a se render à pressão política do presidente provisório

por Eduardo Maretti, da RBA publicado 01/07/2016 19:46, última modificação 01/07/2016 23:30
ANTÔNIO CRUZ/ AGÊNCIA BRASIL
Temer e Renan
Temer prestigiou Renan quando Rodrigo Janot pediu prisão de senadores, entre os quais o presidente do Senado
São Paulo – O presidente interino, Michel Temer, desencadeou nas últimas semanas uma “operação” para neutralizar uma possível atuação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), cuja postura ambígua indicava que ele seria capaz de reverter alguns votos de senadores que se manifestaram a favor da admissibilidade do impeachment no dia 12 de maio.
Renan, que teria condições de mudar quatro ou cinco votos proferidos contra Dilma Rousseff no Senado, porém, dá sinais claros de uma tendência a se render à pressão política de Michel Temer. O presidente interino está trabalhando com determinação para evitar que a reconhecida influência de Renan provoque surpresas na votação final do impeachment, que o próprio Renan afirmou que deve ser realizada entre 25 e 27 de agosto, portanto depois dos Jogos Olímpicos.
A atuação de Renan contra o impeachment era considerada possível até o início de junho. As relações de Temer e Renan nunca foram as melhores, inclusive porque ambos sempre disputaram posições de liderança dentro do PMDB.
Mas as articulações de Temer para apaziguar os ânimos de Renan teriam começado a surtir efeito a partir do momento em que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a prisão do próprio Renan, além do senador Romero Jucá (PMDB-RR), do ex-senador José Sarney (PMDB-AP) e do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no início de junho.
Furioso, Renan se transformou numa bomba em potencial para Temer e sua atuação passou a ser imprevisível. Ele ameaçou pedir o impeachment de Janot. Temer o dissuadiu da ideia e, em seguida, Renan desconversou. “Imagina, quem me conhece sabe que eu não sou de ameaçar”, disse, no dia 21 de junho.
A partir desse momento, já estava desencadeada a operação política pelo presidente provisório, cujo ponto principal foi o de “ganhar” o presidente do Senado. Exemplo disso foi o grande protagonismo dado por Temer ao correligionário na reunião de governadores no dia 20 de junho (um dia antes de Renan desconversar sobre o impeachment de Janot), sob o pretexto de renegociação da dívida dos estados.
A avaliação é do cientista político Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília (UnB). “Temer prestigiou Renan naquele momento. Ele prestou solidariedade a Renan, na reunião com os governadores colocou Renan na mesa, deu protagonismo a ele, para que Renan enfrentasse politicamente o pedido de Janot”, diz Barreto.
Temer está tentando reconstruir e consolidar as relações entre o Congresso e o Executivo e Renan é fundamental para isso. Um dos sinais de que o presidente do Senado teria se “sensibilizado” com a atuação de Temer foi sua entrevista coletiva de ontem (30), quando o presidente do Congresso apontou para a necessidade de andamento normal das votações no Senado, o que visivelmente interessa a Temer.
Outro sinal foi dado dois dias antes, na última terça-feira (28), quando Renan recebeu em um jantar 45 senadores e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para discutir as medidas econômicas do governo.