terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

PT vai à televisão para tentar conter corrosão política e eleitoral de Lula

O partido teve acesso a pesquisas variadas sobre o desgaste imposto pelas investigações à imagem do ex-presidente e decidiu que uma reação conjunta de defesa se tornou imperativa

Andressa Anholete/AFP - 20/11/15
O PT intensifica a partir desta terça-feira (2/2), uma campanha para tentar conter o processo de corrosão eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva. Líderes do partido e até assessores diretos do ex-presidente, em conversas reservadas nos últimos dias, avaliaram que o estrago político das mais recentes suspeitas levantadas pelas investigações em curso está se tornando praticamente irreversível no médio prazo - até a eleição presidencial de 2018.

Nas palavras de um petista com acesso a Lula ouvido pelo jornal O Estado de S. Paulo, ao menos por enquanto, o problema do ex-presidente é mais grave na esfera política do que na criminal, na qual, segundo o próprio juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na 1.ª instância, ainda não há investigação formal que tenha Lula como foco.

O PT teve acesso a pesquisas variadas sobre o desgaste imposto pelas investigações à imagem do ex-presidente e decidiu que uma reação conjunta de defesa de Lula se tornou imperativa, sob risco de o partido chegar sem um nome eleitoralmente viável às eleições de 2018, quando Dilma Rousseff não poderá mais concorrer ao Planalto porque já foi reeleita em 2014.

Lula vem perdendo pontos em praticamente todos os cenários nos quais é testado como candidato do PT a presidente e a rejeição ao nome dele vem crescendo a cada sondagem. Ontem, o Instituto Ipsos divulgou os resultados de um levantamento que questionou os entrevistados, no mês passado, sobre a imagem do ex-presidente. Apenas 25% disseram acreditar que Lula é "um político honesto".

A despeito da defesa enfática de Lula em público, em privado petistas de alto escalão no partido e no governo já admitem que as ligações do ex-presidente com as empreiteiras alvo da Lava Jato, reveladas em capítulos nos últimos oito meses, são difíceis de serem explicadas politicamente. Anteontem, o próprio Lula admitiu ter visitado o condomínio Solaris, no Guarujá (SP), junto com o ex-executivo da empreiteira OAS Léo Pinheiro, condenado à prisão.

O Solaris é um dos alvos da Lava Jato. Lula e sua mulher, Marisa Letícia, tinham a opção de compra de uma unidade no condomínio, que foi assumido pela OAS após a quebra da Bancoop. A Lava Jato também apura a reforma feita por outra empreiteira, a Odebrecht, em um sítio localizado em Atibaia (SP) utilizado por Lula e sua família.

Para os petistas, até agora Lula tem apresentado respostas rápidas na esfera jurídica, porém deixado a desejar na política porque não consegue ser claro ao explicar qual a natureza de sua relação com as empreiteiras investigadas na Lava Jato.

Aliados
O desgaste de Lula fez aliados históricos do PT colocar em ação um projeto que tem como horizonte tirar o partido da cabeça de chapa em 2018. PDT e PC do B já trabalham nos bastidores com a possibilidade de ter um nome do PT como vice do ex-ministro Ciro Gomes (hoje no PDT) para a sucessão da presidente Dilma.

Um governador aliado de Dilma afirmou ao Estado que a própria presidente já admite a hipótese de apoiar um nome que não seja do PT para sua própria sucessão, desde que ele esteja empenhado em defender a atual gestão da petista.

TV
A partir de hoje, em rede nacional de rádio e TV, o PT fará uma defesa enfática do ex-presidente nas inserções do horário partidário gratuito. Ficarão relegados a segundo plano os conteúdos relativos à gestão Dilma e a questões do partido.

Em um dos quatro vídeos já tornados disponíveis, o presidente da sigla, Rui Falcão, diz que o País inteiro sabe o que Lula fez para melhorar a vida do povo brasileiro. "Por isso mesmo, ele tem sido alvo de ataques, provocações e perseguições pelos preconceituosos de sempre. Eles não aceitam que o Lula continue morando no coração do nosso povo, principalmente daqueles que mais precisam", afirma Falcão.

Apesar de Lula não aparecer no vídeos, a defesa feita por Falcão é enfática. Já Dilma não aparece nas quatro inserções e não há defesa de sua gestão. Nos vídeos, o PT vai afirmar que crises fazem parte da história de todos os países e que nenhuma dessas nações superou tais momentos sem trabalho e união.

Além dessas inserções, o programa partidário do PT está programado para o dia 23 deste mês. A ideia é defender a imagem do partido, abalada pelas investigações na Petrobras. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Preço da gasolina no DF cai R$ 0,08, mas etanol aumenta Em muitos postos, o valor estava em R$ 3,89 o litro, contra os R$ 3,97 verificados até a última segunda-feira

Os postos de combustíveis do DF amanheceram com a gasolina R$ 0,08 mais barata, em média. Em muitos postos, o valor estava em R$ 3,89 o litro, contra os R$ 3,97 verificados a última segunda-feira (1/2). A redução correspondem a 2%.

O reajuste ocorreu somente nas bombas de gasolina comum, e houve em algumas redes o aumento do etanol. No último dia 25 o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) anunciou uma intervenção na Rede Cascol, do Grupo Gasol. No mesmo dia, a Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor (Prodecon) e a empresa assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que determinava que a Cascol se limitaria a aumentar o percentual máximo de 15,87% sobre o preço da compra da gasolina tipo C (comum). O TAC tem validade de seis meses, sob pena de multa de R$ 50 mil a cada situação de descumprimento. 

Na ocasião o superintendente do Cade, Eduardo Frade, afirmou que foi identificado indícios suficientes de crime de infração à ordem econômica, combinada com danos irreparáveis à concorrência, e a medida foi tomada afim de intervir preventivamente no mercado.

François Hollande ao lado de Raúl Castro pelo fim do embargo a Cuba

Hollande estendeu a passadeira vermelha a Raúl Castro PHILIPPE WOJAZER/REUTERS
Palácio do Eliseu com passadeira vermelha estendida para a visita do Presidente de Cuba, que procura na França um parceiro comercial e aliado político.
Os Campos Elíseos encheram-se de bandeiras francesas e cubanas para dar as boas-vindas ao Presidente Raúl Castro, cuja inédita e histórica visita de Estado de três dias a Paris é a consagração da nova era de abertura diplomática – e também comercial – do Governo de Havana, e a confirmação definitiva da quebra das barreiras (ideológicas) que mantinham a ilha do Caribe afastada dos grandes palcos e alianças internacionais.
Para pôr um ponto final no isolamento de Cuba, só falta acabar com o embargo económico decretado pelos Estados Unidos em 1963, defendeu o Presidente François Hollande. “A França sempre esteve convencida que, apesar das tensões internacionais, havia uma necessidade de terminar este bloqueio”, declarou. “Por isso, espero que o Presidente Obama, que é responsável por este grande progresso, possa ir até ao fim e consiga acabar definitivamente com este último resquício da Guerra Fria”, considerou, para regozijo do seu convidado, que não se cansa de exigir o fim do embargo. “Aprecio muito a sua posição”, respondeu Raúl Castro.
Nem que fosse só por estas palavras, a viagem oficial do Presidente de Cuba a França – a primeira visita de Estado à Europa em mais de 20 anos – já teria valido a pena. À partida de Havana, o ministério dos Negócios Estrangeiros tinha colocado como objectivos o “alargamento e diversificação das ligações com a França em todas as áreas possíveis: política, económica, comercial, financeira, investimento, cultura e cooperação”. Logo no primeiro dia, Castro já podia riscar vários dos pontos da lista.
“Esta visita é muito importante para a imagem de Cuba e do regime, que indiscutivelmente pode ganhar um novo fulgor externo”, explicou à AFP o analista da Universidade de Havana, Eduardo Perera. Simbolicamente, o primeiro acto oficial na agenda do líder comunista foi uma cerimónia no Arco do Triunfo, onde foram cumpridas todas as honras militares. Uma escolta montada da Guarda Republicana acompanhou depois a comitiva cubana pela mais famosa avenida da capital francesa, antes do grande acontecimento do dia, o rendez-vous com o Presidente francês no Palácio do Eliseu.
Hollande, que visitou Cuba em Maio passado, foi o primeiro chefe de Estado ocidental a deslocar-se à ilha em mais de 50 anos. Agora, em menos de uma semana, foi anfitrião de dois líderes internacionais que durante décadas permaneceram párias para o ocidente e que depois de uma revisão histórica do seu relacionamento com os EUA procuraram na França um aliado político e parceiro comercial de referência. Mas ao contrário da recepção fria reservada ao Presidente do Irão, Hassan Rouhani, o protocolo gaulês estendeu entusiasticamente a passadeira vermelha ao líder cubano. O programa preparado para entreter Raúl Castro incluía actuações musicais de Nathalie Cardone, autora da célebre canção “Hasta Siempre” dedicada a Che Guevara, ou ainda do célebre DJ David Guetta, que prepara um mega-concerto em Havana.
A abertura gradual do mercado cubano está a ser seguida com interesse pelas grandes potências económicas mundiais, que competem pelo posicionamento no terreno e a primazia nos negócios. A França, decisivamente, quer liderar esse campeonato, e “afirmar-se como o primeiro parceiro político e económico europeu” da ilha, anunciaram os assessores presidenciais. Algumas das principais grandes empresas francesas estão já estabelecidas em Cuba, caso do grupo Pernod-Ricard, que assegura a produção do rum Havana Club, da Alcatel-Lucent com projectos de telecomunicações ou a petrolífera Total.
No entanto, o actual valor das trocas comerciais entre os dois países, de 180 milhões de euros por ano, “não está à altura” das ambições gaulesas, confessou à AFP, o ministro responsável pelo Comércio Exterior, Matthias Fekl. Esta segunda-feira, os dois governos celebraram uma série de protocolos para investimentos nos sectores do turismo, da energia e dos transportes, bem como para a promoção do comércio justo.
Nessa corrida, os Estados Unidos, país vizinho e principal destino da diáspora cubana, estão em desvantagem por causa do embargo comercial imposto pelo Congresso em 1962 e ainda em vigor – apesar dos passos recentes dados por Washington, que já autorizou a retoma das ligações aéreas comerciais para a ilha, e permitiu que os bancos americanos voltassem a abrir linhas de crédito para a exportação de determinados produtos, sobretudo agrícolas.

Bombardeio destrói estação de rádio que recrutava jovens para o EI Ofensiva ocorreu no leste do Afeganistão




Utilizada pelo Estado Islâmico para recrutar jovens e disseminar a filosofia do grupo, bem como para ameaçar jornalistas com atuação em Jalalabad, no Paquistão, a rádio Voice of the Caliphate foi destruída em bombardeio efetuado por forças norte-americanas e afegãs.
Segundo o jornal O Globo, a estação estava localizada em área remota do leste do Afeganistão e operava a partir de equipamentos móveis, o que dificultava seu rastreamento. A operação deixou 21 um mortos, incluindo cinco funcionários da rádio.

Produção industrial recua 8,3% em 2015 e tem pior resultado histórico

Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A produção industrial brasileira registrou em 2015 o seu pior desempenho histórico com recuo de 8,3 por cento, após fortes perdas de investimentos, e deve continuar enfrentando dificuldades para se recuperar em 2016.
Somente em dezembro a produção caiu 0,7 por cento sobre o mês anterior, a sétima queda seguida, numa sequência inédita de perdas na série histórica iniciada em 2002.
Em relação ao mesmo mês de 2014, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou nesta terça-feira que a queda foi de 11,9 por cento.
Com isso, a contração acumulada em 2015 superou com folga o pior desempenho registrado anteriormente pela indústria, a queda de 7,1 por cento vista em 2009, no auge da crise internacional.
As expectativas de analistas em pesquisa da Reuters eram de que a produção industrial ficasse estável em dezembro sobre o mês anterior e recuasse 10,5 por cento na comparação com um ano antes.
Segundo o IBGE, foi a categoria de Bens de Capital, uma medida de investimento, que registrou o pior desempenho em 2015, com queda de 25,5 por cento, e também em dezembro na comparação mensal, com perda 8,2 por cento.
Dos 24 ramos pesquisados, 13 apresentaram queda na comparação mensal, sendo as principais influências negativas máquinas e equipamentos (-8,3 por cento), bebidas (-8,4 por cento), metalurgia (-5,0 por cento) e perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-3,5 por cento).
 

Após Justiça suspender licitação, CPI do Transporte analisará sigilos fiscais e bancários de investigados

Maíra de Deus Brito/Metrópoles

Distritais vão se debruçar sobre os documentos na reunião extraordinária desta terça-feira (2/2). Encontro foi marcado logo após promotores e policiais civis cumprirem mandados de busca e apreensão em três estados


A tempestade que se abateu sobre o sistema de transporte público do Distrito Federal — após a 1ª Vara de Fazenda Pública do DF suspender os contratos de seis empresas e determinar novo certame em 180 dias — terá mais desdobramentos a partir desta terça-feira (2/2), na Câmara Legislativa. A comissão parlamentar de inquérito (CPI) que investiga a concorrência pública retoma as atividades com a análise das quebras dos sigilos fiscais e bancários de 19 envolvidos no caso. Entre eles, do ex-secretário de Transporte do DF José Walter Vasquez e do ex-diretor do DFTrans Marco Antonio Campanella.
Rafaela Felicciano/MetrópolesO presidente da CPI do Transporte, deputado Renato Andrade (PR), afirma que o encontro servirá para que os distritais avaliem os próximos passos da comissão. “A partir dos sigilos, poderemos ter provas absolutas de tudo o que já ouvimos e também chegaremos a novas pessoas”, afirmou.
Andrade não descarta uma nova prorrogação da CPI. “Não tenho pressa para terminar. Queremos dados concretos para que a Justiça não volte na decisão de suspender o processo”, completou.
A reunião desta terça foi convocada no dia em que o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e a Polícia Civil do DF deflagraram uma operação para recolher documentos e computadores para ajudar nas investigações.
Até agora, a comissão ouviu 25 pessoas. O advogado e consultor Sacha Reck está na lista. Ele é apontado como um dos principais personagens no processo. Promotores do Ministério Público e deputados questionam a atuação dele como consultor na elaboração certame e, ao mesmo tempo, advogando para o interesse de empresas que participaram da concorrência, como a Marechal. De acordo com as investigações, a situação pode indicar direcionamento da licitação.

Em entrevista ao Metrópoles um dia antes de depor na CPI da Câmara Legislativa, em outubro do ano passado, Sacha Reck confirmou que defendia interesses de empresas de transporte por meio do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp), em que é advogado. Mas negou ter favorecido determinadas companhias no certame do DF.
Suspensão
O processo de licitação que culminou nos problemas atuais começou em 2011. Na concorrência, foram escolhidas a Viação Piracicabana, a Viação Pioneira, a Expresso São José, as três de Brasília, além da Auto Viação Marechal, do Paraná, e o consórcio formado pela HP Transportes Coletivos e a Ita Empresa de Transportes, ambas de Goiás. Desde então, o certame vem sendo questionado na Justiça por uma série de denúncias de irregularidades.
Há uma semana, a Operação Fim da Linha cumpriu mandados de busca e apreensão no DF, em Goiás e no Paraná. Documentos e computadores foram recolhidos por promotores da Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público (Prodep) e por policiais da Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Administração Pública (Decap). A ação ocorreu dois dias depois de a Justiça determinar a suspensão do processo.

Assim funciona um colégio antiassédio Escola espanhola aplica o programa Kiva, que inclui sessões contra bullying


Alunos na escola finlandesa de Fuengirol. G. CORDERO
Amanda e Aino morrem de rir. Vão vestidas de princesas com saia longa e flores, segurando com outros quatro colegas da sala de seis anos um labirinto de madeira com buracos. Juntos, todos devem fazer passar uma bola pelos meandros sem deixá-la cair ao chão. Tentam várias vezes. E conseguem. Já sentadas no sofá da sala de aula, enquanto suas colegas fazem planetas com balões e papel, têm outro ataque de riso. “Hahahaha!” Imparáveis. “O que é Kiva? Kiva é divertido...”, respondem a uma pergunta que não entendem. Nenhuma dessas duas meninas loiras tem ideia do que é assédio escolar, nem do que na verdade significa Kiva Koulu (“Escola Divertida”, em finlandês), o programa antibullying que a Finlândia pratica em 90% de suas escolas, incluída a sua. Estamos no colégio finlandês da Espanha, situado em Fuengirola (Málaga), com 300 estudantes e 25 anos de trajetória. Sem saber, entre gargalhadas, essas duas alunas estão começando a trabalhar uma das grandes chaves do assunto: ganha-se em equipe.
Em 2009, o Governo finlandês implantou um modelo elaborado por pesquisadores da Universidade de Turku, o programa Kiva Koulu, que foi levado aos centros de ensino. As primeiras pesquisas indicam quedas sensíveis de casos de assédio. O modelo já está em vigor em outros países (Itália, Holanda, Estados Unidos, Reino Unido...) e foi apresentado na Espanha em maio pelo Instituto Ibero-Americano da Finlândia, sem que até este momento tenha sido apontado um centro público espanhol. O Ministério da Educação da Espanha acaba de elaborar a primeira versão de um plano de convivência anunciado em abril e com escassa concretização até o momento. O Ministério o anunciou às pressas em virtude do caso de um garoto, Diego, que se suicidou sem que ninguém detectasse que algo estava errado com ele. Diego deixou a seus pais uma carta que dizia: “Já não aguento ir ao colégio e não há outra maneira de não ir.” O caso foi reaberto. Outra menina de Madri, Arancha, de 16 anos, suicidou-se em maio depois que os pais haviam denunciado que sofria assédio na escola. Algo está falhando.

Professores atentos

“O mais importante é que o professor esteja realmente atento. Que observe se os garotos estão fora do grupo e não têm amigos, aprenda a conhecê-los e propicie grupos seguros, em que todos se sintam a salvo.” Ann-Charlotte Ahl Quist é uma das quatro professoras especialistas em Kiva do colégio de Fuengirola, que implantou o sistema há quatro anos. Sobre a mesa da sala de professores, há abundante material: livros, vídeos, revistas... O programa inclui 10 sessões por ano em cada curso. E além das aulas específicas, há guardiães como esta docente, a quem chegam todos os casos. O grupo de quatro especialistas deve formular as estratégias.
Primeiro andar. Sala dos alunos de sete anos. Na quarta-feira passada, houve uma aula sobre emoções dentro do plano antiassédio. O professor mostra um desenho com um menino abraçado a si mesmo, a franja aparada e os olhos muito abertos. “Pelko!”, gritam os meninos. (“Medo!”) Durante 45 minutos, verão outras imagens (insegurança, tristeza, felicidade...) e irão ao quadro negro interpretar eles mesmos os sentimentos com gestos e trejeitos.
Aprendem que não é bom que alguém esteja triste, que não se fala quando outro fala, que não se deve rir dos demais. Diversos especialistas espanhóis recomendam que a prevenção e a detecção do assédio escolar devem ser trabalhadas desde os primeiros períodos, nos anos do ensino fundamental.

Seis recreios por dia

Toca a sirene de apitos curtos que anuncia um dos seis recreios do colégio de Fuengirola, onde só estudam alunos de nacionalidade finlandesa, embora muitos falem espanhol. Como está na Costa do Sol, há menores que passam apenas alguns meses no centro, muitos meninos novos. Kiva também os integra ao grupo. A meninada desce pelas escadas deste antigo restaurante de três andares situado no oeste de Fuengirola, no bairro de Los Pacos, onde todos os moradores são finlandeses que começaram a chegar nos anos 1960 atraídos pelo Sol e a possibilidade de praticar esportes no inverno.
No meio do pátio, todos veem o colete brilhante de Conchi Flores, professora de educação infantil e espanhol, que retornou a Málaga após 17 anos na Finlândia. Durante os próximos 10 minutos, ela será uma autoridade antiassédio perfeitamente identificável. Outros dois professores vigiam os outros dois pátios. “Aqui nada nos escapa”, explica entre o barulho dos pequenos, que se perseguem de um lado a outro do pátio junto à mesa de pingue-pongue. “Detectamos rapidamente o problema que houver, por menor que possa parecer. Na Espanha, damos pouca importância quando um menino diz a outro: ‘Bobo, você é um bobo’. Mas aqui qualquer palavra é levada ao professor.”

Todos importam no grupo

“Jono, jono, jono!” (“Fila, fila, fila!”). A professora de matemática, Minttu Alonen, ministra também uma aula de Kiva aos meninos maiores. Os 23 alunos da sexta série (12 anos) desfilam até a quadra de basquete, situada do outro lado da rua. Neste colégio a fila é sagrada: para mover-se, esperar o recreio e lavar as mãos nas pias dispostas no corredor, em frente ao refeitório, que serve diariamente comida feita no lugar. Alonen os organiza em grupos de seis, misturados entre si. “É importante que façam coisas divertidas em que possam trabalhar em grupo. No grupo todo mundo sabe que é importante. Um aprende a valorizar o outro”, diz ela. “Nas minhas aulas, não tolero que ninguém ria do outro por ser diferente ou fazer algo errado.”

Informação aos pais

“Pegavam no meu pé porque meu pai é professor. Mas falei com ele, entraram em contato com os pais. E acabou. Agora está tudo bem.” Rasmus, de 12 anos, confessa no meio da quadra de basquete que foi assediado. “Isso significa incomodar o outro, incomodar todo dia e gerar medo”, descreve enquanto seus companheiros continuam brincando mais adiante.
O processo normal é o seguinte: qualquer coisa que se detecte é comunicada à equipe de quatro professores Kiva. Se for considerada grave, os pais são avisados; se for “muito séria”, essa chamada é imediata, explica a diretora do colégio, Maarit Paaso. “Não esperamos até o dia seguinte, nem à semana seguinte. O que é importante deve ser resolvido rápido. Não podemos fechar os olhos, é preciso estar alerta o tempo todo”, afirma em seu escritório. O papel dos pais também é importante. Há um guia para eles, que são convocados a sessões de orientação e também contam com informações através de um aplicativo. O assédio acontece no grupo (o assediador e seus subordinados) e se combate em grupo, formado desta vez por todo o sistema, do Governo ao menino recém-chegado à escola. “Não podemos esmorecer”, diz a diretora.