domingo, 8 de novembro de 2015

Polarização de corrida presidencial argentina 'lembra eleição brasileira' Marcia Carmo De Buenos Aires para a BBC Brasil

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Image captionGovernista Scioli e oposicionista Macri se enfrentarão em inédito segundo turno presidencial na Argentina
A caminho do inédito segundo turno presidencial na Argentina, a disputa entre o governista Daniel Scioli, da Frente para a Vitória (FPV), e o opositor Mauricio Macri, da coalizão Cambiemos (Mudemos), está cada vez mais acirrada, e observadores comparam o cenário à eleição brasileira de 2014.
A diferença entre ambos no primeiro turno foi inferior a três pontos percentuais, o que explica, em parte, a "tensão" entre governistas e opositores, disseram analistas e políticos ouvidos pela BBC Brasil. O segundo turno será realizado no dia 22.
Nos bastidores do governo e do comando da campanha de Scioli, esperava-se uma vantagem de ao menos oito pontos percentuais sobre Macri, com a expectativa de vencer já no primeiro turno. Mas o resultado foi diferente, e no pleito de 25 de outubro o oposicionista levou a disputa para o segundo turno.
No dia seguinte, a campanha se acirrou, e um assessor de Scioli compara o momento atual à "final de uma Copa do Mundo".
Governistas dizem que uma vitória dos opositores "levaria a Argentina para a era das privatizações dos anos 1990" ou para a "ingovernabilidade", como na histórica crise vivida pelo país em 2001, quando o então presidente Fernando de la Rúa renunciou ao cargo em meio a protestos.
Em discurso na sexta, a presidente Cristina Kirchner reforçou essa estratégia. Ela declarou esperar que os argentinos não vivam de novo um episódio "como o daquele presidente que deixou a Presidência de helicóptero antes do fim do mandato", afirmação interpretada pela imprensa local como uma comparação entre De la Rúa e Macri.
O candidato oposicionista se defende, dizendo que "eles" é que governavam nos anos 1990 e que só entrou para "política depois da crise de 2001", afirmaram assessores.
Já Scioli afirma que Macri é o candidato do mercado financeiro e sugere que ele poderia descontinuar políticas públicas aplicadas nos 12 anos de kirchnerismo (2003-2015), como a estatização da empresa aérea Aerolíneas Argentinas e da petrolífera YPF, além dos planos sociais.
Discursos antigos de Macri, nos quais defendia a privatização da YPF, por exemplo, são lembrados por apoiadores de Scioli. Num ato político na quinta-feira, Macri disse que manterá os planos de inclusão, caso seja eleito.
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Image captionAssessor de Scioli comparou momento à "final de uma Copa do Mundo"
Segundo o consultor político e professor de ciências políticas da Universidade Torcuato di Tella Sergio Berensztein, o aumento da tensão política faz parte de uma disputa de segundo turno presidencial, jamais realizado na Argentina.
"Estamos vivendo aqui o mesmo clima que o Brasil viveu no segundo turno (entre a presidente Dilma Rousseff e o oposicionista Aécio Neves, em 2014). Mas esse ambiente era esperado", disse Berensztein à BBC Brasil.

'Rivais, porém amigos'

Scioli e Macri são amigos de longa data, gostam de esporte, surgiram do setor privado e entraram para a política na idade adulta, disse Berensztein.
Segundo ele, é difícil dizer que um seja de esquerda ou centro, no caso de Scioli, e outro de centro ou direita, para Macri.
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Image captionAmbos os candidatos têm sido criticados nas redes sociais; Macri teve seu rosto pintado de vermelho e com chifres
"O conceito tradicional de ideologia não combina com eles", disse ele, que avaliou Macri como "pragmático" e que "obedecerá as leis", e que Scioli "seguirá o caminho do kirchnerismo" por representá-lo.
A tensão é perceptível. Na semana passada, durante quatro discursos seguidos de Cristina na Casa Rosada, a sede da Presidência, seus apoiadores gritavam "Pátria ou Macri", em referência ao slogan "Pátria ou morte".
Nos últimos dias, em alguns pontos de Buenos Aires, como em dependências públicas, surgiram pequenos cartazes com a mesma frase. Numa estação de metrô, a foto de campanha do candidato foi pintada com o bigode similar ao de Hitler.
Um assessor da campanha de Scioli e que trabalha com o candidato há mais de dez anos disse à BBC Brasil que a campanha trabalha "como se fosse a final de uma Copa do Mundo", mas que o candidato quer retomar a campanha para "encontro e não confronto".
"Não é uma campanha fácil. Sabemos que a disputa é minuto a minuto, mas daqui até o dia 22 há uma eternidade, e os que não votaram no governo ainda podem mudar de voto", disse o assessor, em condição de anonimato.
Do lado de Macri, a deputada Patrícia Bullrich disse que a "tensão política" é inédita em tempos democráticos na Argentina, mas que seria "típica" da era kirchnerista.
"A estratégia deles é a do confronto, entre os bons e maus, entre o que chamam de defensores do povo e contra o povo”, disse Bullrich, por telefone.
Na opinião do analista político Rosendo Fraga, do Centro de Estudos Nova Mayoría, o inesperado resultado do primeiro turno e a disputa acirrada "favorecem Macri, mas não se pode subestimar a capacidade do governo" de vencer.

'Equilibrista'

Assessores e analistas dizem que Scioli deve tomar uma posição de "equilibrista" nesta reta final para manter os votos do kirchnerismo e tentar conquistar aqueles que votaram contra o governo.
"As urnas disseram que pelo menos 60% dos argentinos votaram contra o governo. Eu estou entre eles", disse o ex-senador Rodolfo Terragno, num programa de televisão.
A disputa também está forte nas redes sociais. Uma universitária disse no Facebook que teme que Macri vença porque a educação pública "sairia perdendo" e "conquistas sociais do kirchnerismo desapareceriam". Outra eleitora escreveu: "Scioli é perigoso, mentiroso e traidor".
Eleitores afirmaram, no Twitter, que Scioli "agora reconhece a inflação que negava".
Na Argentina, os dados oficiais da inflação são questionados por opositores e especialistas. "Que bom que agora reconhecem que existe inflação", disse o economista Rogelio Frigerio, da equipe de Macri.

Fausto Pinato será o relator do caso Cunha no Conselho de Ética Em suas primeiras palavras, Pinato disse que vai garantir o direito à ampla defesa e ao contraditório

Luis Macedo/Camara dos Deputados

O presidente do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, José Carlos Araújo (PSD-BA), confirmou na manhã desta quinta-feira (5/11) o deputado Fausto Pinato (PRB-SP) como relator do processo contra o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por quebra de decoro parlamentar. O prazo de dez dias para a entrega do relatório preliminar de Pinato terminará no dia 19 deste mês e a sessão para apreciação do parecer já foi marcada para o dia 24.

No anúncio oficial, Araújo destacou que pesou em sua decisão, além das conversas com o líder do PRB, Celso Russomanno (SP), e ex-deputados que trabalharam com Pinato, o fato de ele ser advogado e ter conhecimento de processo jurídico. Russomanno acompanhou o anúncio e, segundo Araújo, garantiu que não haverá interferência do partido na atuação do relator. "Tenho certeza que Pinato vai fazer justiça no processo", disse o presidente do colegiado.

Em suas primeiras palavras, Pinato disse que vai garantir o direito à ampla defesa e ao contraditório. O relator disse que ainda não tem conhecimento aprofundado do caso e que vai tomar uma decisão técnica, com base na busca de provas documentais. "O senhor Eduardo Cunha vai ser julgado como deputado comum e não como presidente", declarou.

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Parlamentar em seu primeiro mandato, Pinato disse que sua inexperiência na Casa pode ser vista como um fator positivo. "Quem tem muito mandato é que tem muita relação", argumentou. Ele afirmou que se considera um parlamentar independente e não um aliado de Cunha.

O relator admitiu que sua missão é "árdua", mas importante para ganhar experiência e, em tom de brincadeira, destacou a notoriedade que terá a partir de hoje. Ele disse que até o momento sofre mais pressão da imprensa, mas afirmou que buscará dar uma resposta "justa e correta" à sociedade. "Qualquer decisão a partir de agora é de minha responsabilidade", afirmou.

Além de Pinato, Araújo anunciou o deputado Washington Reis (PMDB-RJ) como relator do processo de Alberto Fraga (DEM-DF). Após uma discussão no plenário com a líder do PCdoB, Jandira Feghali (RJ), Fraga disse que mulher que "bate como homem tem que apanhar como homem também".

Doleiro reafirma que pagou R$ 1 milhão para campanha de Gleisi Alberto Youssef efetuou repasses de dinheiro desviado de contratos de empreiteiras a políticos do PT e do PMDB


O doleiro Alberto Youssef, peça central da Operação Lava Jato, reafirmou em depoimento à Justiça Federal no Paraná nesta sexta-feira, 6, que por indicação do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa (Abastecimento) efetuou repasses de dinheiro desviado de contratos de empreiteiras com a estatal também a políticos do PT e do PMDB. "Na campanha de 2010, Paulo Roberto Costa me indicou que fizesse um pagamento de um milhão de reais para a campanha da Gleisi (Hoffmann, PT-PR), na época para o Senado, e também indicou alguns pagamentos ao deputado Vaccarezza (Cândido Vaccarezza, PT) em São Paulo e indicou pagamentos para o, na época, candidato a senador Valdir Raupp, do PMDB", afirmou.

Youssef fez esta declaração ao ser indagado pela Procuradoria da República se fazia repasses a políticos de outros partidos, além do PP, agremiação que colocou Paulo Roberto Costa na direção de Abastecimento, área estratégica da companhia.

A senadora Gleisi Hoffmann, o ex-deputado Cândido Vaccarezza e o senador Valdir Raupp negaram taxativamente captação de valores ilícitos para suas campanhas eleitorais.

O doleiro depôs como testemunha arrolada pela acusação na ação penal contra o ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu (Governo Lula), o ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque e contra o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, todos alvos da Pixuleco I, desdobramento da Operação Lava Jato.

Os três réus estão presos em Curitiba. O Ministério Público Federal atribui a Dirceu, a Duque e a Vaccari crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Youssef fez delação premiada. Como delator é obrigado a depor em todas as ações penais da Lava Jato. Ele disse que começou a operar propinas na Petrobras entre 2005 e 2006, por meio do ex-deputado José Janene (PP-PR), morto em 2010.

Na audiência, o doleiro disse que Paulo Roberto 'direcionava de algumas obras valores para o PMDB'. "Aí o operador não era eu, era outro, no caso ele dizia que era o Fernando Baiano. E também ajudou algumas pessoas do PT e aí fez por intermédio de minha pessoa", disse Youssef.

O sr. teve contatos com João Vaccari?, questionou o procurador da República. "Eu já tive alguns encontros com Vaccari Neto, mas eu nunca discuti esse tipo de assunto com ele. Eu fiz pagamento a pedido da Toshiba que dizia que o endereçado final era o João Vaccari Neto. No caso, o primeiro momento foi a cunhada dele que retirou no meu escritório. No segundo momento, um funcionário meu levou isso para o funcionário da Toshiba, na porta do partido em São Paulo. Ele entregou para o funcionário da Toshiba prá que ele entregasse. Mas eu, diretamente, nunca entreguei nada ao Vaccari e também nunca discuti esse assunto com ele."

Segundo o doleiro, o pagamento foi vinculado à Petrobras. "Sim, uma obra da Toshiba no Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro). Teve pagamento para o PP e para o PT, esses dois pagamentos quem fez foi eu."

O procurador perguntou se Vaccari 'recebeu em nome do partido'. 

"Sim," disse Youssef.

Recursos em espécie? "Sim."

"Lembra a quantia?" "Acho que R$ 400 mil por vez", respondeu.

"Tem conhecimento de outros recebimentos em obras da Petrobras?", perguntou o procurador.

"Ouvi dizer que ele (Vaccari) era o arrecadador do partido dentro da Petrobrás."

"Ele (Vaccari) ficava vinculado a qual diretoria?", indagou. "Diretoria de Serviços, ao diretor (Renato) Duque", respondeu Youssef.

Segundo o doleiro, "todo mundo dizia que o Duque foi indicado pelo Zé Dirceu, mas é de ouvir dizer". "Eu ouvia dizer isso do Paulo Roberto e no meio empresarial, sim. Comentavam. O Gérson Almada (empreiteira Engevix), o Ricardo Pessoa (UTC Engenharia), o Eduardo Leite da Camargo Corrêa, praticamente a maioria deles "

O doleiro disse que se reunia com os empresários, individualmente, 'se reunia em hotéis, nas empresas'. Também se reunia com os empreiteiros em seu escritório, em São Paulo. Youssef reafirmou que 1% sobre o valor dos contratos da Diretoria de Abastecimento era destinado a políticos e a partidos.

Ele falou sobre a relação com o executivo Júlio Camargo, que também fez delação premiada e afirmou ter sido pressionado pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ) por uma propina de US$ 5 milhões, em 2011. "Eu operava alguma coisa de caixa 2 para ele (Camargo), em decorrência de obras da Petrobras. Ele tinha que fazer pagamentos para essas pessoas, tanto pela Diretoria de Abastecimento quanto pela Diretoria de Serviços. Às vezes ele comentava que pagava pro Barusco (Pedro Barusco, ex-gerente de Engenharia da Diretoria de Serviços), para o Duque, ele comentava."

Elo Dirceu

O procurador perguntou ao doleiro delator se ele sabia de 'alguma conexão (de Júlio Camargo) com o PT'. "Eu sei que tinha um bom relacionamento, se relacionava bem com José Dirceu, com o partido. Eu acho que ele tinha um bom acesso no PT. Às vezes deixava escapar uma coisa aqui, outra ali, pude perceber que ele tinha um bom acesso no PT, falava que ia a reuniões em Brasília. Às vezes deixava escapar."

O procurador perguntou ao delator sobre o relacionamento de Júlio Camargo com José Dirceu. "Eu tinha conhecimento que José Dirceu voava na aeronave do Júlio Camargo. Várias vezes eu o ouvi comentar."

O procurador insistiu: "Voava? Eram sócios? De que forma ressarcia os valores?" Youssef respondeu: "Não sei dizer se ele ressarcia, eu ouvia dizer que ele era sócio na aeronave, mas não sei se é verdade, não posso afirmar. Uma vez ouvi o Júlio dizer que chegaram inclusive a desfazer a sociedade. Uma vez ele (Júlio Camargo) deixou escapar sim, me parece que a sociedade foi dissolvida."

"O sr. sabe se José Dirceu recebia valores decorrentes de contratos com a Petrobras?", indagou o procurador. O doleiro citou Bob, como é conhecido Roberto Marques, antigo braço direito do ex-ministro da Casa Civil que chegou a ser preso na Pixuleco. "Nunca fiz nenhum pagamento a ele (Dirceu), mas uma vez batendo conta com um funcionário do Júlio, o Franco, que cuidava das finanças do Júlio, apareceu na minha conta corrente um débito escrito 'BOB'. Eu falei para ele 'esse débito não é meu'. Ele arrancou da minha conta corrente e falou 'realmente é do Zé Dirceu', deixou escapar."

O juiz federal Sérgio Moro também fez perguntas ao doleiro delator: "O sr. ouviu dizer que João Vaccari recebia os valores para o PT, é isso?" Youssef respondeu: "Sim, ouvi dizer, tanto dos empreiteiros quanto do PP, dos líderes do PP, quanto do próprio Paulo Roberto Costa." O juiz perguntou ainda qual o motivo de as empreiteiras pagarem a propina. "Era questão do jogo, era institucional."

Mesmo sem ser tóxica, lama de barragem em Mariana deve prejudicar ecossistema por anos Mariana Della Barba Da BBC Brasil em São Paulo

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Image captionCalcula-se que quase 23 mil piscinas olímpicas de lama foram despejadas com rompimento de barragem
O equivalente a quase 25 mil piscinas olímpicas de lama foi despejado nas redondezas próximas à barragem que se rompeu na cidade de Mariana, em Minas Gerais.
A mineradora Semarco (responsável pelo local) garantiu que não há nada tóxico nos 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro liberados durante o acidente.
Mas especialistas ouvidos pela BBC Brasil afirmaram que, apesar de o material não apresentar riscos à saúde humana, ele trará danos ambientais que podem se estender por anos.
“Comparado ao mercúrio, por exemplo, esse rejeito não é tóxico, já que é formado basicamente por sílica. Ninguém vai desenvolver câncer, nada disso. O risco não é para ao ser humano, mas para o meio ambiente", disse o professor de geologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Cleuber Moraes Brito, que é consultor na área de meio ambiente e mineração.
"Essa lama avermelhada deve causar danos em todo o ecossistema da região, impactando por anos seus rios, fauna, solo e até os moradores, no sentido de que o trabalho deles, como a agricultura, pode se tornar impraticável."

Solo alterado

Os danos ao meio ambiente no entorno da barragem podem ser, a grosso modo, químicos ou de ordem física.
O primeiro diz respeito à desestruturação química do solo, não só pelo ferro, mas também por outros metais secundários descartados durante o processo de mineração.
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Image captionResíduos de mineração vão alterar pH do solo
Segundo Cleuber, esse solo recebe uma incorporação química anormal, já que o resíduo tem excesso de ferro, que pode alterar o pH da terra.
Já o impacto físico dos rompimentos dizem respeito à quantidade de lama - e não à composição.
"O problema não é o material em si, mas o fato de a lama ter coberto a região, soterrando a vegetação", diz Mauricio Ehrlich, professor de geotecnia da COPPE, da UFRJ.
"Esse resíduo é pobre em material orgânico, ou seja, não favorece o crescimento de vegetação. Assim, o que acontece é que essa lama vai começar a secar lentamente, criando uma capa ressecada por cima do solo, dificultando a penetração de água. E, por baixo, esse solo segue mole."
Maurício afirma ainda que, além do solo infértil, outro impacto ambiental está relacionado aos rios da região. Com o vazamento, os sedimentos vão sendo arrastados e se depositando nos trechos onde a corrente é mais fraca.
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Image captionLama também poderá ter efeitos consideráveis nos rios da região
Isso prejudica a calha dos rios, que podem ser assoreados, ficarem mais rasos ou até terem seus cursos desviados.
Outro risco é o de que muitas nascentes sejam soterradas.
Esse impacto nos recursos hídricos também afeta sua fauna, especialmente peixes e microrganismos que compõem a cadeia alimentar nos rios.
"Mudança no perfil do solo, impacto nos recursos hídricos, na fauna. Quanto tempo a natureza vai demorar para assimilar tudo isso?", questiona o geólogo da UEL.
Segundo ele, apesar de ainda ser cedo demais para se ter essa resposta, é possível dizer que um programa para resgatar a área degradada em Mariana dure cerca de 5 a 10 anos.
Os especialistas salientam que é preciso fazer um levantamento do impacto, sendo que uma das primeiras medidas reais será retirar a lama o quanto antes, especialmente por meio de escavação.

Equipe de resgate ainda procura 28 pessoas em meio à lama em Mariana Governo de Minas confirmou uma segunda morte causada pelo rompimento da barragem

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Trabalhador do resgate tenta salvar um cavalo preso no mar de lama. / RICARDO MORAES (REUTERS)
"Vi só terra e lama, não vi mais nada naquele vilarejo. Minha vida acabou ali", lamenta Geovana Rodrigues, de 28 anos. Assim que soube do rompimento das duas barreiras da Mineradora Samarco, na última quinta-feira, ela correu até Bento Rodrigues atrás de informação do filho e da sogra que moravam no distrito, que pertence à cidade de Mariana, em Minas Gerais. Só conseguiu chegar até a entrada do povoado, que já havia desaparecido. A enxurrada de lama devastou o local e levou seu único filho: Thiago, de apenas 7 anos. "Ele e a minha sogra foram totalmente surpreendidos pela avalanche, correram para o quarto, ela se salvou, mas o Thiago foi levado pela enxurrada pedindo socorro. Meu único filho foi levado assim, gritando", diz Geovana. Ela já não tem mais esperanças de encontrá-lo vivo.
Em uma coletiva de imprensa na tarde deste sábado, o prefeito de Mariana, Duarte Júnior, afirmou que equipes fazem buscas por terra e com o auxílio de um helicóptero nos locais afetados. Segundo ele, o número de desaparecidos pode aumentar, já que há bairros atingidos pela lama em que moradores ainda não informaram se há pessoas sumidas. A grande dificuldade para o trabalho é que em muitos locais a lama ainda está alta, o que prejudica o acesso das equipes. Um dos distritos da cidade, Pedras, está isolado depois de uma ponte ter sido levada pela enxurrada – a única forma de se chegar até lá é se embrenhando por uma mata bastante fechada.Thiago é um dos 28 desaparecidos em meio ao mar de lama, segundo uma lista oficial divulgada pela Prefeitura de Mariana neste sábado. Constam dela os nomes de 13 homens que trabalhavam no local do acidente no momento em que as barragens romperam. Há ainda 12 moradores dos bairros de Bento Rodrigues, Pedras e Camargos, entre eles ao menos outras quatro crianças além de Thiago -uma delas com três meses -, uma idosa de 60 anos e dois jovens, de 21 e 29 anos. Até agora, a tragédia contabiliza dois mortos: um funcionário da mineradora encontrado logo após a tragédia e outro homem ainda não identificado, cujo óbito foi confirmado neste sábado, segundo os jornais brasileiros.
Em Bento Rodrigues, uma das áreas mais atingidas, quando a lama baixou apenas 22 das 180 casas permaneciam de pé. Uma delas era a da família de Edson Adriano Borges, de 24 anos. Ele trabalha como vigia da casa de bomba da Samarco e estava trabalhando quando ouviu um barulho forte e viu a água do rio subir rapidamente. Correu para sua moto e partiu até sua casa, onde pretendia resgatar a mulher e o filho, mas quando chegou viu que eles já tinham saído. Desesperado, só reencontrou a família em um abrigo de Mariana. “Foi um alívio que nem consigo descrever", desabafou. "Essa situação é absurda, imagina que tenho um telefone da empresa, mas ninguém da Samarco me avisou. Ainda tive que escutar que a comunidade nunca pediu para que fosse instalado um alarme de emergência". "A sorte é que minha casa ficava no alto e minha família não sofreu nada." Segundo relatos ouvidos pela reportagem, no momento do acidente um helicóptero da empresa sobrevoou parte das casas da redondeza e, de dentro dele, homens gritavam para alertar sobre a tragédia. A empresa afirmou que seguiu o plano de emergência e ligou para os moradores.
Aluvião do lama em Minas Gerais
Aluvião do lama em Minas Gerais
Neste sábado, Borges pedia ao prefeito ajuda para retornar à sua casa para resgatar o que sobrou. "Fiquei sabendo que estão saqueando os pertences de casas que ainda estão de pé. É uma tragédia, a vida ali acabou", diz o vigia que vive há 13 anos na cidade. Na coletiva, o prefeito afirmou que a segurança está sendo reforçada no local para evitar furtos.
Uma força tarefa formada por bombeiros, guardas municipais de diversas cidades e voluntários da Cruz Vermelha retomou as buscas dos desaparecidos neste sábado. A operação tentou levar mantimentos e resgatar os moradores ilhados, mas o acesso a esses lugares continuava muito difícil. Os caminhos estavam interrompidos por árvores e outros entulhos levados pela lama.
A reportagem do EL PAÍS acompanhou uma equipe de voluntários da Cruz Vermelha que tentava chegar ao bairro de Gesteira. Quatro carros 4x4 tentaram encontrar novos caminhos, mas não obtiveram sucesso e, no final da tarde, foi preciso abortar a missão. A lama vermelha ainda molhada que media cerca de um metro e meio impossibilitava cruzar de um lado ao outro. O cheiro que ela exalava também era forte.

Terceira barragem

Em Mariana, o clima é de tensão e tristeza. Familiares não deixam as imediações da arena da cidade, onde as doações estão sendo levadas e onde os desalojados dormiram no primeiro dia. Segundo o prefeito, ao menos 545 pessoas tiveram que deixar suas casas e estão alojadas em hotéis da cidade.
Pelas ruas, ainda circulam informações desencontradas. Moradores relatam que homens do Corpo de Bombeiros têm orientado as pessoas a não terem contato com a lama porque ela é tóxica, o que a empresa negou, categoricamente, na coletiva de imprensa deste sábado. Bombeiros também monitoram uma terceira barragem, que teria o risco de romper - a estrutura tem ainda uma quarta barragem. Mas um engenheiro da empresa garantiu, na mesma coletiva, que nenhuma anomalia foi verificada até o momento.
O mar de lama já avançou centenas de quilômetros, atingindo reservatórios que abastecem outras cidades e levantando receios sobre a qualidade da água para consumo. Ao menos 15 municípios de Minas Gerais e do Espírito Santo podem ser afetados. Segundo a prefeitura de Mariana, a onda já atingiu os arredores de Ipatinga, cidade mineira localizada a 229 quilômetros da tragédia, no Vale do Rio Doce, que abastece a região. A prefeitura de Governador Valadares afirmou que a lama passará por seu município no domingo e que, neste momento, terá de parar as bombas de captação para avaliar a qualidade dela. "Caso seja possível tratar, garantindo a qualidade, sem nenhum risco, o abastecimento volta ao normal. Se não, é suspenso", afirmou, por nota. A prefeitura esclareceu que, até o momento, o tratamento tem sido possível nas cidades já afetadas.
A Samarco afirma que ainda investiga os motivos do rompimento das barragens. Uma das hipóteses é que o acidente pode ter sido consequência de tremores de terra que foram registrados no Estado pela Rede Sismográfica Brasileira. Mas, segundo o Centro de Sismologia da USP, que processa os dados, não é possível atribuir, até o momento, o rompimento das estruturas aos abalos ocorridos.

Vitor Belfort atropela Henderson e fecha trilogia com vitória no 1º round Peso-médio faz 2 a 1 no confronto com americano com um chute de esquerda na cabeça, e faz discurso contra a corrupção no octógono: "É o momento de mudança"

Vitor Belfort UFC São Paulo MMA (Foto: Marcos Ribolli)Vitor Belfort vibra com o nocaute aplicado em Dan Henderson (Foto: Marcos Ribolli)
Vitor Belfort mostrou, neste sábado, no UFC São Paulo, sediado no Ginásio do Ibirapuera, que, apesar dos 38 anos, conserva a potência e a precisão dos golpes que o fizeram ser apelidado de "Fenômeno". Ele deu sinais de que a derrota para Chris Weidman, em maio, não o abalou e deu a volta por cima no octógono em grande estilo ao nocautear Dan Henderson aos 2m07s do primeiro round do duelo principal do evento. O anfitrião anotou 2 a 1 no histórico de confrontos com o oponente, fechando a trilogia de maneira magistral.
Sob o tradicional grito de "Uh! Vai morrer!", Vitor Belfort e Dan Henderson começaram cautelosos, passando mais de dois minutos apenas se estudando. Quando o brasileiro decidiu exibir seu arsenal, no entanto, precisou de poucos segundos para reforçar que ainda está dentre os melhores do peso-médio. Com um chute alto, que explodiu na cabeça de "Hendo", o "Fenômeno" abriu caminho para a vitória e, após castigar o oponente no chão, faturou o nocaute.
- Quero agradecer ao povo brasileiro que ficou acordado até de madrugada para me apoiar, no meio desta crise, com esse governo corrupto que precisa acabar. Fora governo corrupto! Consciência, Brasil! A consciência de vocês tem que estar bem atenta agora, porque é o momento de mudança. Estou aqui para provar isso: você às vezes cai, mas cai de cabeça para cima, e a gente se levanta - discursou Belfort após a luta.
Após a derrota para Chris Weidman, Belfort retoma os holofotes da categoria com uma apresentação convincente e avassaladora, assinalando o 25 triunfo de sua longa carreira no MMA. Henderson, por sua vez, vai se aproximando da aposentadoria. O americano, de 45 anos, perdeu três de suas últimas cinco lutas na organização, retrospecto aquém de sua história no esporte.
Vitor Belfort Dan Henderson UFC São Paulo MMA (Foto: Marcos Ribolli)Vitor Belfort descarrega golpes em Dan Henderson após conectar o chute que iniciou o nocaute (Foto: Marcos Ribolli)
Henderson reclamou um pouco quando a luta foi encerrada, mas não culpou Mário Yamasaki.
- Ele obviamente me pegou com um bom chute. Eu entrei direito no golpe. O Mário está ali para nos proteger. Eu estava consciente de tudo, mas posso entender. Eu estou decepcionado comigo mesmo, pois estava indo na estratégia correta, mas ele me atingiu - disse o americano.
Confira os resultados completos do "UFC: Belfort x Henderson 3":
CARD PRINCIPAL
Vitor Belfort venceu Dan Henderson por nocaute aos 2m07s do R1
Glover Teixeira venceu Patrick Cummins por nocaute aos 1m12s do R2
Thomas Almeida venceu Anthony Birchak por nocaute aos 4m24s do R1
Alex Cowboy venceu Piotr Hallmann por nocaute aos 51s do R3
Rashid Magomedov venceu Gilbert Durinho por decisão unânime
Corey Anderson venceu Fábio Maldonado por decisão unânime
CARD PRELIMINAR
Gleison Tibau venceu Abel Trujillo por finalização aos 1m45s do R1
Johnny Case venceu Yan Cabral por decisão unânime
Thiago Tavares venceu Clay Guida por finalização aos 39s do R1
Chas Kelly venceu Kevin Souza por finalização aos 1m56 do R2
Viscardi Andrade venceu Gasan Umalatov por decisão unânime
Jimmie Rivera venceu Pedro Munhoz por decisão dividida
Matheus Nicolau venceu Bruno Korea por finalização aos 3m27s do R2