segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Governo anuncia pacote de corte de gastos e propõe volta da CPMF Governo propõe adiamento do reajuste dos servidores públicos para agosto. Objetivo é conseguir superávit primário de 0,7% do PIB no ano que vem.

Após um final de semana de muitas reuniões entre a presidente Dilma Rousseff e vários de seus ministros, o governo federal anunciou nesta segunda-feira (14) um bloqueio adicional de gastos no orçamento de 2016 no valor de R$ 26 bilhões. Além disso, o governo também anunciou uma nova rodada de alta de tributos, com a proposta de retorno da CPMF.
A CPMF, segundo os cálculos divulgados pelo governo, vai ser responsável por metade do ajuste nas contas públicas anunciado nesta segunda-feira para o ano de 2016, que é de R$ 64,9 bilhões. "O objetivo é que a CPMF não dure mais do que quatro anos", disse o ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Também foi anunciado que haverá redução de ministérios e cargos de confiança, gerando uma redução de gastos de R$ 200 milhões. Esses cortes, no entanto, não foram detalhados.
As medidas, que foram anunciadas por Levy e pelo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, representam recuo em relação à posição adotada anteriormente. Na semana retrasada, Dilma havia dito que o governo cortou "tudo o que poderia ser cortado".
"Muitas das medidas exigirão apoio do Congresso para se tornarem efetivas, e a confiança dos brasileiros. Foi sugerido que se procurasse dialogar mais com a sociedade para que tivesse pleno entendimento sobre a necessidade desse esforço adicional. Nestas últimas semanas, ficou absolutamente evidente para todos a necessidade desse ajuste. Temos os próximos meses para converter em realidade essas medidas, principalmente por meio da votação de projetos de lei e PECs", declarou o ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, informou que deve haver uma reunião com as lideranças da base governista, na Câmara e no Senado Federal, e também com os presidentes de ambas as casas, para viabilizar as medidas propostas.
O ministro da Fazenda informou ainda que, ao atualizar os parâmetros do orçamento do ano que vem, baixando a previsão do nível de atividade, foi estimada uma perda de R$ 5,5 bilhões em arrecadação em 2016. O orçamento do ano que vem trazia uma previsão de queda do PIB de 2015 de 1,8% e um aumento de 0,2% no próximo ano. Na semana passada, entretanto, o mercado financeiro previu uma contração do PIB de 2,55% neste ano e de 0,6% em 2016. Queda maior do PIB representa menos recursos no caixa do governo.
Volta da CPMF
O governo informou que vai propor o retorno da CPMF, com alíquota de 0,2%, inferior, portanto, aos 0,38% que vigoravam antes. Também informou que vai reduzir o Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF). Com isso, espera conseguir R$ 32 bilhões em 2016.
"Essa é uma medida bastante central no esforço. Foi considerada que, diante de todas as alternativas de tributos, a prorrogação da vigência da lei original da CPMF seria um caminho que traria menor distorção à economia, seria o caminho com menor impacto inflacionário, seria melhor distribuído. Incide de maneira equitativa em todos os setores. E, na verdade, se a gente for pensar, tratam-se de dois milésimos do que [a pessoa] vai comprar. Você teria, por exemplo, dois milésimos de uma entrada de cinema que você comprar para diminuir o déficit da Previdência Social", declarou o ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
“CPMF para quê? Para garantir o pagamento das aposentadorias e para diminuir o déficit da Previdência Social”, declarou Levy. Segundo ele, a prorrogação proposta será por 48 meses. “É uma contribuição de prazo determinado, com objetivo determinado, que é pagar as aposentadorias. Dar tranquilidade à Previdência Social”, disse Levy.
Ele acrescentou que a CPMF seria "provisória", durando não mais que quatro anos. "Procuramos por essa alíquota no mínimo necessário para a segurança fiscal. Conhecemos essa medida. Essa contribuição é que os bancos estão preparados em implementar. É relativamente rápida, tem grande transparência. Alcança o informal. Depois de ouvir muitos empresários, essa seria a forma mais eficaz de proteger a Previdência Social em um momento em que a economia enfrenta dificuldades, que tem se agravado, com essa questão do grau de investimento", disse o ministro da Fazenda.
Barbosa explicou que, pela proposta do governo, toda a arrecadação da CPMF ficaria com o governo, não sendo dividida, portanto, com estados e municípios.
Mais tributos
O governo informou ainda que diminuirá o benefício a ser concedido no próximo ano para os exportadores de produtos manufaturados. A alíquota do Reintegra, programa que "devolve" aos empresários uma parte do valor exportado em produtos manufaturados por meio de créditos do PIS e Cofins, que seria de 1% em 2016, será de apenas 0,1%. O benefício, portanto, foi praticamente eliminado no ano que vem. Com isso, o governo vai arrecadar R$ 2 bilhões a mais.
Também cairá o benefício dado à indústria química (por meio do PIS/Cofins), que renderá mais R$ 800 milhões ao governo. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, anunciou ajustes nos juros sobre capital próprio, limitando a incidência da TJLP a 5% do efeito do cálculo, e aumento da alíquota de 15% para 18%. Essa medida renderá mais R$ 1,1 bilhão aos confres públicos.
Imposto sobre ganho de capital
O ministro anunciou ainda a criação de um imposto sobre “ganho de capital progressivo”, que será cobrado sobre aumentos de receita das pessoas físicas. Esse tributo vai afetar, por exemplo, os recursos gerados com a venda de um imóvel. Atualmente, há uma cobrança de 15% sobre o valor da venda da propriedade. Agora, o percentual será maior, conforme o volume de recursos gerados com a operação. O impacto estimado com o tributo é de R$ 1,8 bilhão. O novo imposto terá as seguintes alíquotas:
Para venda de até R$ 1 milhão será de 15% De R$ 1 milhão a R$ 5 milhões, será de 20% De R$ 5 milhões a R$ 20 milhões, será de 25% Mais de R$ 20 milhões, será de 30%
“Como é um imposto novo isso leva uma mudança de hábitos. É difícil estimar as receitas. É um ganho de quando você aliena um bem. Hoje você paga 15%. Agora, quando houver vendas cumulativas acima de R$ 1 milhão, você pagará uma alíquota maior”, disse.
Sistema S
O ministro da Fazenda informou que vai “compartilhar temporariamente” com os órgãos do sistema S os estímulos hoje concedidos para empresas que investem em inovação. A expectativa é gerar um impacto positivo de R$ 2 bilhões.
“Hoje já temos alguns programas de valorização da inovação. Temos lá de trás a chamada lei do MEI, que permitia que várias despesas pudessem ser abatidas em dobro do custo do lucro tributado. Era um estímulo. No caso, estamos compartilhando esse estímulo pelos órgãos do sistema S, temporariamente”, disse.
Além disso, Joaquim Levy informou que haverá redução de 30% nas alíquotas do sistema S e do Sebrae e, também, oneração da tributação da contribuição previdenciária incidente sobre a folha – o que renderá mais R$ 6 bilhões aos cofres públicos em 2016. Na prática, esses recursos deixarão de ir para o Sistema S e passarão a ser direcionados para a Previdência Social.
Reajuste de servidores e suspensão de concursos
Entre as medidas anunciadas, do lado do bloqueio de gastos, está o adiamento do reajuste do salário dos servidores públicos até agosto do ano que vem. Sem essa medida, os salários seriam corrigidos em janeiro de 2016. Com essa medida, o governo espera um impacto de R$ 7 bilhões a menos nos gastos públicos.
Além disso, também haverá suspensão de concursos públicos, que estavam estimados em R$ 1,5 bilhão em gastos em 2016.
"Estamos vendo aumento do desemprego no setor privado e reajustes de salários sem contemplar inflação. Nesse momento, é plenamente justificável [adiar reajuste para 2016]. A média de salários [no setor público] é superior ao setor privado. E [os servidores públicos] têm estabilidade no emprego. Nesse momento de travessia fiscal, nesse esforço para elevar o superávit primário, todos estão fazendo sua parte. Achamos adequado adiar proposta de reajuste para 2016 de janeiro para agosto", declarou o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa.
Corte de ministérios e despesas administrativas
O governo anunciou ainda uma redução de R$ 2 bilhões em despesas discricionárias com DAS (cargos comissionados) e gastos administrativos.
Dentro da redução de gastos administrativos, o governo prevê a economia de R$ 200 milhões com corte de ministérios e cargos de confiança. e outros R$ 200 milhões em gastos com servidores (diárias, passagens, auxílio moradia e telefone).
Outros R$ 1,6 bilhão estão previsto em renegociação de contratos, como aluguel, manutenção, segurança e veículos.
Teto salarial
O governo pretende ainda enviar ao Congresso projeto de lei para garantir o cumprimento do teto salarial a todos os agentes públicos e servidores. Atualmente, a legislação já diz que a remuneração no setor público não pode ultrapassar o salário de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), mas alguns benefícios e complementações salariais acabam por aumentar o valor.
Segundo Barbosa, o projeto de lei imporia limites a situações que hoje geram salário superior ao teto. “Vamos enviar um projeto de lei que vai disciplinar a metodologia de cálculo e o que entra ou não no teto de remuneração e ao mesmo tempo estabelecer um sistema de cruzamento de dados.”

Abono permanência
O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, anunciou que vai eliminar o chamado abono de permanência, que um benefício remuneratório pago a servidores que já atingiram a idade para se aposentar, mas que permanecem na função. A extinção do benefício tem que ser feita por proposta de emenda à Constituição.
“Vamos eliminar o abono de permanência. A previsão é que mais 123 mil servidores adquirirão nos próximos anos. No próximo ano, os gastos com o abono serão de R$ 1,2 bilhão de reais”, disse o ministro.
Minha Casa, Minha Vida, PAC e Saúde
O ministro do Planejamento anunciou que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) vai sofrer corte no trecho que trata do Minha Casa, Minha Vida, em R$ 4,8 bilhões.
“Para que isso não comprometa a execução do programa a nossa proposta é que o FGTS direcione recursos para pagamento de parte das despesas do Minha Casa, Minha Vida, na faixa 1, que hoje não recebe recursos do FGTS”, disse Barbosa.
Segundo ele, também está prevista uma renegociação de contratos de aluguel, manutenção e segurança, entre outros, para economizar mais R$ 1,6 bilhão no ano que vem.
Outra medida anunciada é a redução de gastos em R$ 3,8 bilhões do Programa de Aceleração do Crescimento (sem Minha Casa Minha Vida) e de mais R$ 3,8 bilhões em gastos com Saúde (a serem recompostos posteriormente com emendas parlamentares).

Objetivo das medidas anunciadas
O objetivo do novo bloqueio de gastos é tentar reequilibrar a peça orçamentária do ano que vem, que foi enviada ao Congresso Nacional, pela primeira vez, com déficit (despesas maiores do que receitas) e evitar novo rebaixamento da nota brasileira pelas agências de clasificação de risco. Na semana passada, o Brasil perdeu o grau de investimento da Standard & Poors.
Meta fiscal
Para aumentar a confiança no Brasil, o governo já informou que buscará, ao invés de uma meta de déficit fiscal de R$ 30,5 bilhões para o governo (0,5% do PIB) ou de R$ 21,1 bilhões para todo o setor público (governo, estados, municípios e estatais), ou 0,34% do PIB - conforme está no orçamento de 2016 - um superávit primário, a economia para pagar juros da dívida pública, de 0,7% do PIB no ano que vem.
A retomada de uma meta superavitária para o próximo ano, da ordem de 0,7% do PIB, acontece após disputas internas entre o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que defende um resultado positivo para as contas públicas em 2016, e o titular do Ministério do Planejamento, Nelson Barbosa - que buscava, com um déficit, uma meta mais "realista".
Resultados fiscais
No ano passado, as contas de todo o setor público (governo, estados, municípios e empresas estatais) registraram o primeiro déficit primário (receitas menos despesas, sem contar juros) anual da história. Em 2014, o déficit primário foi de R$ 32,53 bilhões, ou 0,63% do PIB.
Em 2015, apesar dos vários aumentos de tributos e bloqueio de gastos públicos, as contas públicas continuaram a registrar deterioração. De janeiro a julho, foi contabilizado o pior resultado da série histórica, que começa em 2001, para este período. Em 12 meses até julho, houve um déficit primário de R$ 50,99 bilhões, ou 0,89% do PIB, também o pior resultado da série histórica para este indicador.
Quando se incorporam os juros da dívida pública na conta, no conceito conhecido no mercado como resultado "nominal", houve déficit de R$ 502 bilhões em 12 meses até julho, o equivalente a expressivos 8,81% do PIB. Trata-se, também, do pior resultado da história. O déficit nominal foi impulsionado pelos gastos do Banco Central com os contratos de "swap cambial" - que já superam R$ 90 bilhões em 2015.
Se fechar neste patamar em 2015, o resultado nominal do Brasil só estaria em melhor situação da de países como Bahrein (déficit de 9,8% do PIB), Antigua (-10,5% do PIB), Algéria (-12,5% do PIB), Brunei (-15,6% do PIB), República do Djibuti (-13% do PIB), Egito (-11,7% do PIB), Guinea Equatorial (-21,4% do PIB), Eritreia (-12,18% do PIB), Guiné (-10,1% do PIB), Iraque (-9,9% do PIB), Líbia (-68% do PIB) e Venezuela (-19,9% do PIB), de acordo com projeções do Fundo Monetário Internacional.



Pacote de medidas do GDF deve incluir suspensão de reajuste a servidores O adiamento do acréscimo concedido a 32 categorias é uma das possibilidades mais cogitadas entre as medidas a serem anunciadas amanhã. Caso contrário, o governo precisa de R$ 2,2 bilhões para acabar o ano em dia com empregados e fornecedores

Após passar o sábado e o domingo reunido com os auxiliares mais próximos, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) entra em uma das semanas mais importantes dos seus nove meses de administração. O seu staff ainda tem indefinições sobre o pacote de medidas a ser anunciado amanhã. A única certeza do núcleo central do Palácio do Buriti é que somente iniciativas muito duras serão suficientes para sanar a crise financeira e garantir o pagamento em dia dos servidores e fornecedores, até o fim do ano. Como vem antecipando o Correio, estuda-se desde aumento do preço de passagem de ônibus e restaurantes comunitários a demissão de funcionários públicos. Ontem, ganhou força a tese de que a única saída possível é suspender os reajustes salariais — a maioria passa a valer em setembro e deve ser paga no próximo dia 5 (veja quadro abaixo).

Isso pode acontecer porque, na leitura de economistas do GDF, não há corte de cargos comissionados suficiente para o Executivo local escapar de extrapolar o limite da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Só uma ampliação muito significativa da receita — leia-se aumento de impostos — permitiria o GDF fechar o ano com os gastos com pessoal dentro do parâmetro permitido pela legislação. Por isso, além de elevar tributos, adiar o pagamento dos aumentos salariais concedidos a 32 categorias é uma das possibilidades mais cogitadas internamente. O GDF calcula que, com isso, economizaria R$ 460 milhões daqui para o fim do ano. Somados a outros reajustes que passaram a vigorar nos meses anteriores, as negociações feitas pela gestão passada elevaram em R$ 855 milhões a previsão de gastos com pessoal de 2015 e em R$ 2 bilhões para 2016.

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Caso o socialista não postergue os acréscimos nos vencimentos para evitar uma greve geral do funcionalismo, como vêm ameaçando sindicatos, ele precisa de um incremento de R$ R$ 2,2 bilhões a fim de acabar o ano em dia com empregados e fornecedores do GDF. Fora a preocupação com a falta de dinheiro e os prováveis impactos no cotidiano da cidade, encerrar o ano além do limite da LRF pode levar Rollemberg a ter as contas do primeiro ano de governo rejeitadas no Tribunal de Contas do DF.


Microsoft compra aplicativo Echo Notification Lockscreen para Android

Microsoft está se especializando em uma tarefa peculiar: comprar apps que fazem sucesso noAndroid (entre outras plataformas, claro). Depois do Sunrise Calendar e do Wunderlist, agora chegou a vez da Echo Notification Lockscreen.
Segundo o Business Insider, o app agora é o segundo serviço de tela de bloqueio do Android que pertence à empresa (lançado no ano passado, o Next Lock Screentambém é da gigante). A ferramenta permite a você personalizar o que aparece na tela do seu celular ou tablet quando a tela de bloqueio é ativada — e as possibilidades vão de notificações e controle de músicas em reprodução até o "Soneca" do despertador.
Chefe do escritório de experiência da Microsoft, Julie Larson-Green acredita que os apps de personalização atuais não são totalmente customizáveis. É uma das tarefas da nova dona tornar o aplicativo muito mais livre para modificações. Valores sobre a negociação não foram divulgados.
A ideia é também experimentar novidades e possibilidades em um mercado de dispositivos móveis bem mais vasto que o do Windows Phone (e agora Windows 10 Mobile). Além de eventuais melhorias no Echo, o caminho inverso também deve ser feito: tecnologias do produto podem ser aproveitadas em outros serviços da Microsoft.

O país onde milhares de mulheres desaparecem sem deixar rastros Nina Lakhani Da BBC no Estado do México

Image captionIrmã e mãe de Syama Lemos, no quarto da adolescente; milhares de garotas e mulhares desaparecem anualmente no México
Milhares de mulheres e meninas desaparecem no México todo ano - e muitas nunca mais são vistas com vida. Quando um pai e uma mãe perceberam que a filha deles havia sumido, sabiam que não tinham muito tempo até encontrá-la.
Elizabeth notou que algo estava muito errado após 15 minutos do desaparecimento de sua filha adolescente, Karen*.
"Eu simplesmente sabia, tinha uma angústia que nunca tinha sentido antes. Procurei nas ruas, liguei para família e amigos, mas ninguém a havia visto", afirma.
"Ela havia ido a um banheiro público sem nada - sem dinheiro, sem celular, sem roupas. Pensamos que ela tinha sido sequestrada."
Karen sumiu em abril de 2013, aos 14 anos - uma entre milhares de garotas desaparecidas nos últimos anos no Estado do México - o de maior densidade populacional do país.
Um número impressionante de 1.238 mulheres e meninas foram apontadas como desaparecidas no Estado em 2011 e 2012, segundo os dados mais recentes. Desse total, 53% eram meninas com menos de 17 anos.
Ninguém sabe quantas delas foram encontradas vivas ou mortas nem quantas ainda estão desaparecidas. Esse é o Estado mais perigoso para mulheres - ao menos 2.228 foram assassinadas lá na última década.
Image copyrightGetty Images
Image captionUm par de sapatos de uma menina e a mensagem: "Onde elas estão? Nós pedimos Justiça"
Elizabeth registrou o sumiço de sua filha após três horas de busca frenética. Mas a polícia do México só abre uma investigação de desaparecimento após 72 horas do sumiço - isso até mesmo para crianças.
Por causa disso, Elizabeth e seu marido, Alejandro, iniciaram sua própria investigação, que começou com um pente fino nas contas da filha em redes sociais.
"Quando entramos na conta dela no Facebook, descobrimos que ela tinha um perfil que não conhecíamos, com mais de 4 mil amigos. Era como procurar uma agulha num palheiro, mas um homem chamou nossa atenção. Ele aparecia em fotos com armas e meninas com poucas roupas, e era amigo de muitas garotas da mesma idade de nossa filha", conta Elizabeth.
"Esse homem fez soar o alarme: ele falava como um traficante de drogas, sobre território, viagens, que chegaria logo para vê-la. Ele havia estado em contato com ela poucos dias antes do desaparecimento, e tinha dado um celular a ela para que ficassem em contato, e não sabíamos de nada", diz Alejandro.
Estima-se que 20 mil pessoas sejam traficadas por ano no México, segundo a Organização Internacional para Migração. A maioria é obrigada a se prostituir. Autoridades afirmam que cada vez mais pessoas são aliciadas por meio da internet.
A família de Karen sabia que não tinha muito tempo para impedir que ela fosse levada para fora do país. Pressionaram a polícia para emitir um alerta e espalharam cartazes por terminais de ônibus e cabines telefônicas da Cidade do México. Conseguiram levar o caso da filha a estações de TV e de rádio.
O esforço e a rapidez valeram a pena. Dezesseis dias após o desaparecimento de Karen, ela foi abandonada em um terminal de ônibus, ao lado de outra garota que havia desaparecido em outro Estado. A publicidade assustou o traficante, que planejava levar as meninas para Nova York. Ele nunca foi preso.
"Esse homem prometeu a ela viagens, dinheiro, uma carreira musical e fama. Ele a manipulou muito bem, e ela, em sua inocência, não entendeu o tamanho do perigo que correu", afirma Alejandro.
Image copyrightAFP
Image captionO chamado Grande Canal, que corta o Estado do México, tem sido usado por traficantes de pessoas para lançar os corpos de garotas sequestradas

Como outra pessoa

No começo Karen ficou com raiva dos pais por terem frustrado o que ela acreditava ser uma grande oportunidade no mundo da música. Elizabeth a levou então a uma conferência com outras garotas que haviam sido traficadas.
"Quando ela ouviu as histórias dessas meninas e o inferno que elas tinham passado, ela finalmente se deu conta do perigo que tinha passado. Ela voltou da conferência como outra pessoa", diz a mãe.
Desde o retorno de Karen, Elizabeth e Alejandro ajudaram 21 famílias desesperadas a reencontrar seus filhos. Mas eles ainda têm um álbum cheio de fotos de outras crianças, algumas com apenas cinco anos, que continuam sumidas.
Eles me levaram ao outro lado do Estado do México para encontrar a família de Syama Paz, 17 anos, que desapareceu em outubro de 2014 - e também foi recrutada pela internet.
A jornada nos levou ao longo do Grande Canal que corta o Estado - o fedor de suas águas imundas é nauseabundo. Centenas de fragmentos de ossos foram tirados do canal em setembro do ano passado, e desde então os corpos de várias garotas desaparecidas já foram identificados.
Não há uma base nacional de dados no México sobre desaparecidos, o que dificulta a identificação dos restos mortais.
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Image captionInscrição pede o fim da violência contra as mulheres no México
Enquanto dirigia, Elizabeth recebeu uma chamada perturbadora pedindo ajuda na localização de duas irmãs, de 14 e três anos, que haviam desaparecido dias antes enquanto brincavam na rua. A família parecia desesperada, e Elizabeth prometeu denunciar o sumiço.
Mas desta vez ela foi incapaz de ajudar - no dia seguinte, ela me contou que as meninas foram encontradas mortas.

Tirada de dentro de casa

Quando chegamos ao nosso destino, conheci mais sobre Syama Paz Lemus - uma garota tímida que adorava bater papo e jogar em redes sociais, e que passava muito tempo no quarto sentada no computador ou jogando Xbox.
É um quarto típico de adolescente, com paredes cobertas de pôsteres de bandas e desenhos japoneses. Sua mesa é lotada de cosméticos e há uma TV e um aparelho de DVD ao pé da cama - agora decorada com um enorme cartaz de "desaparecida" que a família leva a manifestações.
Syama parecia muito quieta na noite antes de seu desaparecimento, mas a família achou que era comportamento típico de adolescente e não a pressionou para saber o que a afligia.
No dia em que a garota sumiu, a mãe ligou para ela do trabalho por volta das 17h para saber se ela tinha almoçado, mas quando o avô de Syama chegou, às 20h, ela tinha desaparecido. O quarto dela estava uma bagunça, e o Xbox e algumas roupas não estavam lá.
Image captionPágina no Facebook criada pela família de Syama Lemus para tentar ajudar na busca pela adolescente
Vizinhos disseram que Syama havia aberto a porta para um homem encapuzado que chegara em um táxi pouco depois das 17h. Logo depois, ele conduziu Syama para fora da casa carregando duas malas, e os dois saíram em um carro branco.
A mãe dela, Neida, foi procurar na internet na mesma hora, mas as contas de Syama no Facebook e no Xbox tinham sido desativadas. Ela acabou achando uma pasta secreta com screenshots de ameaças virtuais que a menina recebera nas semanas anteriores a seu sumiço.
"As ameaças era muito diretas: diziam que se ela não fosse com essa pessoa, sua vida se tornaria impossível, eles iriam colocar a vida dela em redes sociais, e que a família dela iria se arrepender", diz Neida.
"Sempre ficamos preocupados com o tempo que ela gastava online, mas conversamos com ela sobre os riscos e que ela não deveria dar informações pessoais."
Syama deixou recados para a mãe e os avós. "Ela afirmou que estaria bem, que não deveríamos nos preocupar nem ir atrás dela. Ela me pediu para cuidar da irmã mais nova, e comprou um presente para que ela sempre lembrasse dela", afirma a mãe, aos prantos.
Image captionLembrança da festa de 15 anos de Syama; família mantém esperanças de encontrá-la com vida
Desde então, a família se engajou em buscas por pistas que pudessem levar ao paradeiro da filha. Rastrearam chamadas desconhecidas ao celular da menina e foram atrás de pistas anônimas pelo país, mas dez meses depois não houve avanços.
Em julho, o governador do Estado finalmente reconheceu - após anos de negação - que a violência de gênero é um problema sério em certas regiões. Ele publicou o primeiro "alerta de gênero" em 11 das 125 cidades, incluindo Ecatepec, onde Syama vivia.
Isso significa que autoridades federais devem investigar as causas dos altos índices de violência de gênero e aplicar medidas emergenciais e de longo prazo para proteger mulheres e garotas.
O caso de Syama ainda está aberto, e a família mantém o otimismo. "A história de Karen nos dá esperança que minha filha possa voltar um dia. É muito difícil porque você percebe o quanto aqui é inseguro; você não está a salvo nem na própria casa.
*O nome de Karen for trocado para essa reportagem

Três questões-chave para entender por que o Brasil está no vermelho Adriano Brito Da BBC Brasil em São Paulo

A presidente Dilma Rousseff (Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)Image copyrightPR
Image captionGoverno Dilma avalia medidas para ampliar receitas; a presidente já falou em "remédios amargos"
Ao rebaixar a nota do Brasil, que perdeu o status de bom pagador, a agência Standard & Poor's questionou a "habilidade e a vontade" do governo Dilma Rousseff ao submeter ao Congresso um Orçamento deficitário para 2016, espelhando as dificuldades da implementação da política econômica comandada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em equilibrar as contas públicas.
O plano previa um deficit - a diferença entre gastos e receitas - de R$ 30,5 bilhões. Sem ter "troco", o governo não terá o que poupar para pagar juros e diminuir a dívida pública – o avanço do gasto com juros é apontado por alguns especialistas como o principal motivo para o rebaixamento do país.
Levy já anunciou que o governo estuda cortar despesas e ampliar as receitas – alta nos impostos não é descartada –, para tentar resolver o problema e trocar o deficit por uma meta de superavit de 0,7% do PIB (Produto Interno Bruto). "Remédios amargos", como classificou Dilma em suas últimas declarações públicas.
É aguardado para os próximos dias o detalhamento dos cortes anunciados pela gestão no fim do mês passado, quando prometeu eliminar dez ministérios e cargos comissionados. Programas com o Minha Casa, Minha Vida, por exemplo, também podem perder verbas.
Segundo órgãos da imprensa, é aguardado nesta segunda-feira o anúncio de um corte de R$ 20 a 22 bilhões em despesas do governo.
O jornal Folha de S.Paulo diz que o governo deve "propor aumento de impostos e redução de subsídios e isenções fiscais".
Mas, por que o Brasil está no vermelho? A BBC Brasil aborda três questões-chave para entender os altos gastos e os problemas de seu gerenciamento pelo governo - e ouve especialistas sobre possíveis saídas para a crise nas finanças do país.
O minnistro da Fazenda, Joaquim Levy (Foto: Wilson Dias/Ag. Brasil)Image copyrightAg. Brasil
Image captionPara agência de risco, austeridade sinalizada pelo ministro Joaquim Levy não está se concretizando

Para onde vai o dinheiro?

Segundo o Orçamento, após repasses compulsórios a Estados e municípios, o governo terá R$ 1,18 trilhão para custear suas contas e ações. Desse total, no entanto, 81% estarão comprometidos com as despesas obrigatórias (pagamento dos servidores federais, Previdência etc.).
O que sobra não cobre os R$ 250,4 bilhões previstos para as despesas discricionárias, que incluem investimentos em obras, gastos com Bolsa Família, saúde, educação e com o custeio da máquina pública – telefone, passagens, manutenção dos prédios, etc.
Essas despesas, na prática as únicas sobre as quais o governo tem poder de decisão, também embutem, porém, gastos obrigatórios. Segundo a Constituição, o investimento em saúde, por exemplo, precisa ser no mínimo o mesmo do ano anterior, acrescido do percentual de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto).
Especialistas criticam o que chamam de engessamento do Orçamento com despesas obrigatórias. Para efeitos de comparação, nos EUA elas somam 64,6% neste ano.

O Estado brasileiro é grande demais?

Para os economistas Gil Castello Branco, secretário-geral da ONG Contas Abertas, e Fernando de Holanda Barbosa, professor da FGV/EPGE e ex-secretário de Política Econômica do governo Itamar Franco, a máquina do Estado é inchada e ineficiente.
"Esses ministérios não foram feitos com o objetivo de prover os serviços para a população. E sim para atender demandas políticas", afirma Barbosa, ao comparar o número de pastas existentes no Brasil – 39 – com o de países da Europa, que operam com menos de 20.
Para Castello Branco, o Estado é presente demais no país. "Nós somos uma das maiores economias do mundo. Essa presença só é necessária ainda nos programas sociais, em distribuir melhor a renda."
O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa (Foto: Antonio Cruz/Ag. Brasil)Image copyrightAg. Brasil
Image captionO ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, anunciou que governo cortaria ministérios e cargos
Juliana Sakai, pesquisadora da ONG Transparência Brasil, diz que o poder que políticos têm para distribuir cargos de livre nomeação – os comissionados –, reflexo do "patrimonialismo histórico brasileiro", é responsável pela percepção de que a máquina pública é inchada e ineficiente, além de ser peça central para a corrupção.
Ela pondera, porém, que um Estado onipresente, mas eficiente, mudaria essa percepção. "Se o governo atende à demanda dos que querem mais hospitais e médicos, mais escolas e professores, o efeito natural disso seria aumento no peso do setor público, o que não pode ser automaticamente traduzido como algo negativo."
"O Estado pode ser pequeno, mas nem por isso melhor, mais eficiente", retruca Oswaldo Gonçalves Junior, professor do curso de Administração Pública da Unicamp.
"Pensamentos que tratam o Estado brasileiro como um 'enorme elefante branco, lerdo e ineficiente’ são altamente enviesados", afirma. Para ele, países que necessitam de maior organização dos processos sociais precisam de uma ação maior de governo.

O governo gasta demais com servidores?

O Orçamento prevê que o pagamento de servidores federais consumirá R$ 252,6 bilhões, superando todo o valor disponível para investimentos.
Segundo a Transparência Brasil, porém, a taxa de servidores públicos no Brasil – 16% da população –, é inferior à de países europeus desenvolvidos, como Reino Unido (23%) e França (20%). O país, de acordo com a ONG, se encaixa na tendência da América Latina, que tem taxas variando entre 10% e 20%.
A organização chama a atenção para o número de comissionados – cerca de 20 mil no plano federal. A questão também é alvo de críticas da Contas Abertas, cujos cálculos apontam mais de 30 mil novos cargos, funções de confiança e gratificações desde 2002.
Conjunto habitacional do Minha, Casa Minha Vida em Boa Vista (RO) (Foto: Rodrigo de Oliveira/Ag. Caixa)Image copyrightAg. Caixa
Image captionGoverno sinalizou que poderá cortar recursos do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida
A ONG ressalta que hoje são mais de 615 mil servidores federais, quase 130 mil a mais que no início da década passada. Mas vê um efeito negativo disso muito maior sobre a eficácia do Estado que nos gastos.
Para Gonçalves Junior, da Unicamp, a discussão deveria abordar muito mais a qualidade do que a quantidade: "Um gasto dessa monta com pessoal, se bem utilizado, pode se tornar investimento. Poderia, por exemplo, gerar um outro padrão de desenvolvimento", afirma. "Algo que impulsionasse, inclusive, uma maior disponibilidade de receitas."
"O desafio é pensar como tornar o Estado melhor, qualificando e/ou trazendo pessoas qualificadas", diz. "Muito mais complexo do que simplesmente cortar, reduzir."

Quais são as soluções?

Para Castello Branco, é preciso rediscutir a estrutura do Orçamento, seu engessamento, com o Congresso – tratando, principalmente, da Previdência. "Não dá para ficar cortando investimento a vida inteira, nem criando, todo ano, um imposto novo", diz.
Enquanto o governo espera ter 6% a mais de recursos em 2016, os gastos com a Previdência, responsáveis pela maior mordida na carteira, devem avançar 11,9% – serão R$ 491 bilhões, cerca de 40% do total de despesas, para pagar aposentadorias, pensões e outros benefícios.
"Essa aberração de o Executivo enviar um Orçamento com deficit tem pelo menos um aspecto favorável: forçar essa discussão. Você quer custear a aposentadoria de pessoas com 50 e poucos anos de idade e para isso aumentar cada vez mais os impostos? Esse debate tem de ser colocado às claras."
Servidores federais protestam no Ministério do Planejamento (Foto: Elza Fiúza/Ag. Brasil)Image copyrightAg. Brasil
Image captionSetores do funcionalismo conseguiram aumento neste ano, em derrotas do governo no Congresso
Segundo a Previdência, a média de idade de aposentadoria por tempo de contribuição é de 55,1 anos para homens e 52,2 para mulheres.
Gonçalves Junior, da Unicamp, lembra que "se aposentar, receber pensões etc. são direitos, conquistas que acompanham o desenvolvimento do Estado moderno". Mas concorda que é preciso adotar medidas como "repensar a cultura que desperdiça o prolongamento da vida laboral", citando a aposentadoria compulsória de servidores, e vê margens para revisão da contribuição da parcela mais rica da população.
"A gestão desse sistema importa muito para seu equilíbrio e promoção da Justiça social", afirma ele, que ressalta a importância de um planejamento que permita "equilibrar essas variáveis, que mudam ao longo do tempo, conforme a sociedade se transforma".
Para Holanda Barbosa, da FGV, o país precisa de uma profunda reforma administrativa com objetivo de racionalizar custos e melhorar a gestão em todas as áreas, inclusive saúde e educação. Mas isso não teria efeito imediato.
"O melhor agora seria o governo sinalizar com um plano de corte de gastos ao longo nos próximos anos. E, ao mesmo tempo, anunciar um aumento de impostos para financiar o buraco em curtíssimo prazo."