sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Sul-coreano de 26 anos que 'não envelhece' intriga a ciência Ewerthon Tobace De Tóquio para a BBC Brasil

Arquivo pessoal
Médicos dizem que coreano é saudável, mas exames específicos não foram realizados
Ele tem 26 anos, mas sua aparência é de um pré-adolescente de no máximo 10. Hyomyung Shin ganhou fama na Coreia do Sul após aparecer em um programa de tevê local e, agora, vídeos seus no Youtube se tornaram virais no mundo todo.
Nascido em 5 de janeiro de 1989, Hyomyung conta que percebeu que havia parado de envelhecer somente aos 18 anos.
“Uma vez fui a um reencontro de colegas da escola e todos meus amigos já estavam crescidos. Eu era a exceção”, diz em entrevista à BBC Brasil.
Os médicos que cuidam do coreano garantem que ele é saudável. Ele, no entanto, nunca passou por um exame mais completo para saber as causas do lento envelhecimento.
Com 1,63 m e jeito de quem não passou pela puberdade, Hyomyung diz levar uma vida normal, inclusive no trabalho, em um escritório de consultoria técnica - onde diz nunca ter tido problemas para ser respeitado. Ele também é DJ nos fins de semana.
Arquivo pessoal
Hyomyung só percebeu que não envelhecia mais aos 18 anos
Mas o programa de TV que o alçou ao sucesso mostra algumas dificuldades: em uma boate e durante um encontro, as mulheres não acreditavam em sua idade real.
Na TV, ele aparece dançando, bebendo e falando sobre o sonho de ter uma namorada.
Mas quando questionado sobre as desvantagens de parecer mais novo, Hyomyung cita apenas uma: ser alvo de brincadeiras de outros jovens da mesma idade.
Ele também é obrigado a andar com o documento sempre na mão, principalmente quando sai à noite ou vai comprar bebidas alcoólicas. Mas isso, ele garante, não o incomoda.
“Uma vantagem de ter cara de menino é que quando vou para o interior e entro nas lojas ou restaurantes os mais idosos ficam me chamando de fofo, me dão desconto e, às vezes, até consigo coisas de graça.”
Hyomyung diz também ter medo de envelhecer de repente. “Eu ficaria com medo se começassem a aparecer rugas”, diz.
“Vivo com esse rosto jovem há sete anos. Se envelhecesse de repente, acho que perderia um pouco da diversão da vida.”
Segundo Hyomyung, o caso dele não é único na família.
“A minha irmã mais velha também parece bem mais nova do que sua idade real. Ela tem 31 anos e aparenta ser uma estudante do Ensino Médio, eu diria.”

Programa de tevê

Hyomyung apareceu pela primeira na tevê em 2012, em um especial de ano novo lunar (o ano novo chinês), num concurso chamado “Baby Face” (“Cara de Bebê”, numa tradução literal).
No ano seguinte, uma emissora de tevê coreana fez um especial somente com ele, no qual mostrou sua vida. O programa mostra ele de pijama de bolinha, sentado na cama em um quarto com decoração colorida e falando com voz aguda, sem as mudanças de tom típicas da puberdade.
Credito: Arquivo pessoal
Segundo ele, única desvantagem de parecer novo são piadas de jovens da mesma idade
A mídia coreana divulgou que Hyomyung era portador de uma síndrome rara, chamada Highlander, informação que foi replicada pelos jornais do mundo todo.
Mas o professor Moisés E. Bauer, coordenador do Instituto de Pesquisas Biomédicas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), atenta para o fato de não haver precedentes como o do coreano na bibliografia médica.
“Devemos evitar a divulgação de 'possíveis achados que poderiam ser chaves para encontrar a cura para parar o envelhecimento'. O envelhecimento não é uma doença, todas as espécies envelhecem, embora em taxas diferentes, e precisamos disso para o correto desenvolvimento”, explicou à BBC Brasil o pesquisador, que coordena o Laboratório de Imunologia do Envelhecimento.
Além disso, Bauer diz que portadores de síndromes raras estudadas pela ciência apresentam, na verdade, atrasos de crescimento físico e não de envelhecimento retardado.
“Acredito que o aspecto mais importante na área de gerontologia é a geração de conhecimento que leve a um envelhecimento mais saudável”, defende.

Casos conhecidos

A ciência, na verdade, está ainda longe de descobrir uma cura para o avanço da idade, mas uma pesquisa conduzida pelo médico e cientista norte-americano Richard Walker pode desvendar a chave para conter o envelhecimento do corpo.
O pesquisador diz que a resposta está em uma doença rara que nem sequer tem um nome real, "Síndrome X". Ele identificou quatro meninas com essa condição, marcadas por aquilo que parece ser um estado permanente de infância, uma parada dramática no desenvolvimento.
Ele suspeita que a doença é causada por uma falha em algum lugar no DNA das meninas. Não é o caso do coreano Hyomyung Shin.
A história mais famosa é a da garota Gabby Williams, de 10 anos, que pesa apenas 5 quilos e tem aparência de um bebê. Há ainda o caso do australiano Nicky Freeman, de 44 anos, que aparenta ter 10 anos.

Avanços

O professor Bauer reforça que a Medicina já avançou muito na busca por meios de controlar o envelhecimento de forma saudável. “As populações estão aumentando a suas expectativas de vida, num reflexo do avanço no desenvolvimento das sociedades.”
Além disto, do ponto de vista científico, o cientista lembra que já conhecemos muito sobre intervenções nutricionais (como micronutrientes e antioxidantes), hormonais (como a reposição com hormônio do crescimento) e psicológicas (a exemplo da redução dos níveis de estresse), que promovem alterações comportamentais e biológicas que lembram um envelhecimento atenuado.
“Observamos no nosso laboratório que uma intervenção de acupuntura é capaz de reverter alguns aspectos de imunossenescência (que se refere à deterioração natural do sistema imunológico) em idosos saudáveis”, exemplifica.

Rússia pede para EUA descartar planos de escudo antimísseis

Vice-chanceler russo, Sergei Ryabkov, durante evento em Moscou.   15/12/2008    REUTERS/Denis Sinyakov
MOSCOU (Reuters) - A Rússia não vê razão para os Estados Unidos levarem adiante planos de implantar um escudo antimísseis na Europa após o acordo nuclear com o Irã, em julho, disse o vice-chanceler russo Sergei Ryabkov a repórteres.
"Não vemos razão para continuar com o programa, muito menos em um ritmo tão acelerado", disse.
(Reportagem de Gabriela Baczynska)

Economia da zona do euro desacelera no 2º trimestre Avanço foi de 0,4% no primeiro trimestre contra 0,3% no segundo. Na comparação com mesmo período de 2014, PIB cresceu 1,2%.

O crescimento da zona do euro registrou leve desaceleração no segundo trimestre, a 0,3%, contra 0,4% no primeiro, anunciou a agência europeia de estatísticas Eurostat em uma primeira estimativa.
BC da Europa inicia em novembro avaliação de risco de grandes bancos (Foto: Kai Pfaffenbach/Reuters)Economia da zona do euro desacelera no 2º trimestre (Foto: Kai Pfaffenbach/Reuters)
Na comparação com o mesmo período de 2014, o Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro avannçou 1,2% no segundo trimestre.
A Alemanha, tradicional motor do bloco, registrou crescimento de 0,4% no segundo trimestre em relação ao período anterior, segundo o Escritório Federal de Estatísticas (Destatis).
No primeiro trimestre, o avanço do PIB alemão foi de 0,3%.
Na França, a atividade econômica permaneceu estável no segundo trimestre, frustrando as expectativas do mercado de uma alta de 0,3%, segundo a estimativa preliminar.
O Instituto Nacional de Estatísticas revisou para cima a estimativa de crescimento do PIB no primeiro trimestre, a 0,7%, contra 0,6% do cálculo anterior. O governo acredita que o país registrará crescimento de 1% no conjunto do ano.
De acordo com a zona do euro, a Espanha cresceu 1% no período e a Grécia 0,8%. A Itália avançou 0,2%.

Escritório de Brasília recebeu R$ 7,2 milhões do esquema, diz PF JD2 Consultoria era de fachada e fez negócios com fornecedora do Ministério do Planejamento. Funcionário nega acusações

Um escritório em Brasília alvo de mandados de busca e apreensão da PF na Operação “Pixuleco 2”, a 18ª fase da Lava-Jato, nesta quinta-feira (13) era empresa de fachada que recebeu R$ 7,2 milhões de firmas investigadas no esquema de desvios do Ministério do Planejamento. É o que apontam relatórios da Polícia Federal obtidos pelo Correio.

Rodrigo Nunes/Esp. CB/DA Press


A JD2 Consultoria e outras nove firmas eram usadas pelo ex-vereador de Americana (SP) Alexandre Romano, apontado por delegados como operador de esquema de propinas em contratos de crédito consignado no ministério. “Foi possível reunir fortes indícios de que parte das empresas indicadas por Alexandre Romano consistem em empresas ‘de fachada’, não possuindo estrutura empresarial e mão-de-obra contratada para prestar os serviços (falsamente) contratados”, afirmam os delegados Filipe Hille Pacce e Renata Rodrigues, no pedido de busca e apreensão no escritório.

Breno Forte/CB/DA Press


A JD2 Consultoria teve apenas “de um a dois” funcionários registrados, segundo dados do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged), do Ministério do Trabalho. A firma funciona num prédio no Setor Hoteleiro Sul de Brasília e já foi chamada de Larc Administração e Consultoria Ltda.


A consultoria recebeu doze pagamentos que somaram R$ 1,2 milhão entre maio de 2012 e janeiro de 2013. Quem fez os repasses foi a Consist Software, que prestava serviços ao Ministério do Planejamento.

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As notas fiscais “dizem respeito a prestação de consultoria, sem especificação da área, sendo emitidas mensalmente pela JD2, sem indicação da existência de contrato de prestação de serviço”, afirma o agente da PF Wiliton Gabriel Pereira, no relatório de análise 466.

Outros negócios
Em outros negócios relatados pela PF, a JD2 Consultoria recebeu mais R$ 1,6 milhão da SRW Informática em 2013 e mais R$ 4,3 milhões da Consist Business, entre janeiro de 2014 e março deste ano. Ao todo, R$ 7,2 milhões.

A JD2 Consultoria está registrada em nome de Dércio Guedes de Soua e Márcia Nélia Garcia e Souza. Procurados, eles não foram localizados pela reportagem, mas um funcionário negou as acusações do relatório da PF. Ele não quis se identificar ao Correio e estava acompanhando o trabalho dos policiais federais. Segundo o funcionário, Dércio estava embarcando em um avião para São Paulo.

Trabalhadoras rurais dizem que crise não é culpa de Dilma: 'sai ela, entra um pior' Mariana Schreiber Da BBC Brasil em Brasília

Marcha das Margaridas em Brasília | Foto: ABr
Manifestação de apoio a governo recebeu patrocínio de estatais para transporte e alimentação de participantes, entre outros
Há quatro dias dos protestos convocados em todo o país para pressionar pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, milhares de trabalhadoras rurais de diversos Estados se reuniram em Brasília nesta semana em apoio ao governo petista.
"Sai ela, entra um pior", acredita Antônia Maria Bezerra, 68 anos, que viajou um dia de ônibus desde Buriti do Tocantis (TO) até a capital federal para participar da Marcha das Margaridas.
"A culpa (da crise) não é só dela. É do sistema do mundo. É dos outros companheiros que estão administrando, deputados, senadores, ministros", disse a quebradeira de coco de babaçu.
Na noite de terça-feira, Bezerra e sua amiga Maria das Graças Alves, 65, carregavam cada uma uma máquina fotográfica nas mãos na esperança de tirar uma foto com o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, que discursou na abertura do evento.
A Marcha das Margaridas - organizada pela Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) - tradicionalmente acontece no dia 12 de agosto, em homenagem à líder camponesa Margarida Maria Golçaves, assassinada em 1983.
A edição deste ano recebeu patrocínio das estatais BNDES (R$ 400 mil), Caixa Econômica Federal (R$ 400 mil) e Itaipu Binacional (R$ 55 mil). Os recursos captados pela Contag servem para cobrir gastos do evento, como transporte das trabalhadoras, alimentação, local para pernoite, carro de som e faixas, entre outros.
Maria das Graças Alves (esq.) e Antônia Maria Bezerra | Foto: Mariana Schreiber
Trabalhadoras rurais dizem que 'culpa' da crise é de ministros e legisladores do governo Dilma
Dessa vez a hospedagem teve mais conforto. Em vez de dormir de baixo de lona, o acampamento foi montado no Estádio Mané Garrincha, cedido pelo governo do Distrito Federal sem custos. Mas a comida não estava tão farta quanto em outras edições – esta é a quinta marcha, a anterior ocorreu em 2011.
"Na época do Lula tinha maçã, laranja, melancia, uva. Dessa vez deram só um franguinho e banana", lamentou Alves.
Enquanto aguardavam a fala do ex-presidente, as quebradeiras de coco minimizaram as denúncias de corrupção que atingem o PT. "Ele (Lula) ajudou o grande e o pequeno, descobriu a roubalheira do lado dele e do outro. Era justo", defendeu Bezerra.
Discursando para sua base política, Lula foi muito aplaudido e ovacionado na noite de ontem. O momento de maior comoção ocorreu quando ele anunciou que viajará o Brasil em defesa do governo e do PT.
"Todo dia tem uma provocação e eu tô quieto. Então, quero dizer que tô preparando o caminho para voltar a viajar pelo Brasil."
O presidente contou que cogitou não comparecer à abertura do evento porque achou que a Dilma participaria. Segundo ele, um ex-presidente tem que saber a hora de falar e onde ir.
"Mas aí soube que ela vai participar do encerramento. Assim eu não atrapalho ela e nem ela me atrapalha", explicou.

Marcha

Marcha das Margaridas em Brasília | Foto: ABr
Cerca de 25 mil pessoas participaram da manifestação em Brasília, segundo a Polícia Militar
Logo cedo, nesta quarta, as trabalhadoras levantaram para marchar do Mané Garrincha até o Congresso Nacional.
"Nós queremos Dilma", gritava uma das líderes da marcha das Margaridas no microfone, em cima do carro de som que percorreu a Esplanada dos Ministérios.
Em meio à instabilidade política que ameaça derrubar a presidente da República, neste ano o tradicional protesto teve forte teor de apoio ao governo.
Segundo estimativas da Polícia Militar, 25 mil pessoas participavam da marcha. O cálculo foi feito com base no número de ônibus vindos de todo o Brasil até a capital federal: cerca de 600. No carro de som, as líderes da marcha anunciavam que havia 100 mil pessoas no local.
No próximo domingo, as cores rosa, violeta e vermelho, que marcaram a manifestação das margaridas, serão substituídas pelo verde e amarelo dos protestos anti-governo, convocados para todo Brasil com objetivo de pedir o impeachment de Dilma Rousseff.
O presidente da Câmara Eduardo Cunha, que deve ser poupado dos protestos do dia 16, foi o principal alvo das críticas da Marcha das Margaridas.
"Viemos / de todo canto / botar pra fora / o Eduardo Cunha", cantavam as manifestantes.
As manifestantes cobraram também a realização da reforma agrária e o respeito ao princípio do Estado laico.
Ana Alice Alves dos Santos | Foto: Mariana Schreiber
Agricultora de Rondônia diz que sua vida melhorou "100%" nos governos petistas
A agricultora Ana Alice Alves dos Santos, de 56 anos, contou que viajou três dias de ônibus de Pimenta Bueno, em Rondônia, até Brasília. Diz que votou na Dilma e que votaria em Lula novamente. "Com certeza, se fosse para votar mil vezes, eu votava."
Justifica sua escolha dizendo que a vida melhorou "100%" nos governos petistas. "Antes pobre não estudava, não andava de avião, não tinha carro", diz.
Na sua visão, Dilma não tem culpa pela recente alta da inflação e do desemprego. Para Santos, nem mesmo o ajuste fiscal é responsabilidade da presidente, apesar de o governo ter encaminhado projetos de lei com esse objetivo ao Congresso.
"Tá pior por questões políticas. Ela se sente acuada”, opinou. “Eles aprovam (o ajuste fiscal no Congresso) pra ficar pior pra ela", disse.
O BNDES informou, por meio de nota, que "a decisão de patrocinar a marcha foi tomada no contexto do apoio concedido à atividade agrícola no país". O comunicado diz ainda que "o BNDES considera que a marcha é uma oportunidade de divulgação institucional e dos programas do Banco direcionados à agricultura familiar. A política de patrocínio do BNDES contempla o apoio a eventos ligados às diferentes áreas da economia e da sociedade que se relacionam com as atividades do Banco. No ano passado foram patrocinados mais de 50 eventos".
A Caixa informou que "o evento proporciona a oportunidade de fortalecimento do relacionamento institucional com a população, e alinha-se aos princípios e diretrizes da Política de Patrocínios da empresa, que busca promover o bem-estar e a qualidade de vida para os brasileiros, fortalecendo também sua imagem institucional na comunidade e cumprindo seu papel de agente social".
O banco disse também que "a participação da Caixa no presente evento faz parte de estratégias negociais e sociais, incentivando o debate de temas de abrangência e interesse nacional, promovendo o desenvolvimento humano e econômico do país".
A Itaipu Binacional foi procurada, mas não respondeu aos pedidos por um posicionamento até a publicação desta reportagem.

Protestos do dia 16 vão poupar Cunha e focar em impeachment, dizem lideranças Mariana Schreiber Da BBC Brasil em Brasília


Protesto em Brasília em maio de 2015 | Foto: Reuters
Apesar de suspeita de envolvimento em corrupção, Cunha é tido como aliado por líderes de movimentos anti-PT

Os três principais movimentos que lideram os protestos anticorrupção – Movimento Brasil Livre (MBL), Revoltados Online e Vem Pra Rua – não se deixam distrair pelo risco de serem criticados por uma suposta "indignação seletiva". O objetivo das manifestações convocadas para este domingo será essencialmente um: derrubar a presidente Dilma Rousseff .
Nem mesmo os recentes relatos de delatores do esquema de corrupção da Petrobras de que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, teria recebido US$ 5 milhões (R$ 17,5 milhões) de propina, fazem os líderes dos protestos titubearem.
O peemedebista é visto como um aliado na implementação de um processo de impeachment e por isso deve ser poupado no dia 16. É Cunha quem tem o poder de decidir pôr em votação na Câmara um pedido de impeachment da presidente.
"O que nós concordamos com o Vem para Rua e o Revoltados Online é que o mote geral da manifestação deve ser realmente o 'Fora Dilma'", afirmou à BBC Brasil Fábio Ostermann, um dos líderes do MBL.
Para Ostermann, "misturar as pautas" interessa ao PT, que tenta transformar Cunha num "bode expiatório".
"Claramente, não está funcionando. É importante ter senso de prioridade nesse momento. Se o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, tiver suas contas a acertar com a Justiça e com a população, isso vai se dar na hora certa. Certamente não é o dia 16 de agosto", acrescentou.

Foto: Arquivo pessoa
Ostermann, do MBL, acusa Aécio Neves de ser "oportunista"

O líder do Revoltados Online, Marcello Reis, vai na mesma linha. Ele diz que nenhum político corrupto será poupado pelo movimento, mas que no momento o foco é no governo federal.
"Não queremos passar o vagão na frente da locomotiva. Então, todas as conversas que tivemos com Cunha sempre foram pela apresentação do impeachment (de Dilma)."
"É um protesto específico pela saída da presidente, seja (por meio de) impeachment, cassação ou renúncia", disse, resumindo o objetivo do dia 16.
Rogério Chequer, do Vem pra Rua, afirma que as manifestações se concentram no impeachment e no fim da corrupção, mas que devem atingir com mais força os petistas.
"Eu acho que as críticas vão ser maiores na relação com os fatos que têm sido revelados e comprovados. O PT já foi condenado por caso de 2005 (Mensalão)."
Apesar da oposição declarada ao governo Dilma, Cunha tem declarado publicamente que não vê base jurídica para o impeachment, até mesmo se o Tribunal de Contas da União recomendar a rejeição das contas federais de 2014. Isso porque agora trata-se de um novo mandato da presidente.
Os movimentos contam com as mobilizações de domingo para mudar esse quadro.
"Acredito que o dia 16 vai mudar o quadro político. Se for maior que os protestos de março, político tem medo do povo. Com certeza na semana seguinte teremos novidade, ou o Cunha vai votar o impeachment ou a Dilma vai baixar a crista e renunciar", defende Reis.

E o depois?

Apesar do objetivo comum de derrubar a presidente, as principais lideranças do movimento não têm consenso sobre qual o caminho a seguir depois disso.
Reis, do Revoltados Online, diz que, caso o vice-presidente, Michel Temer, assuma no lugar de Dilma Rousseff, o movimento também pedirá também seu impeachment.
"Acredito que Temer seja cúmplice de todos os roubos do PT. O PMDB não está livre da culpa, não. Caso venha uma estratégia de sair Dilma Rousseff e entrar Temer, nós também vamos pleitear a saída do Temer", disse.
Já Ostermann, do MBL, e Chequer, do Vem Pra Rua, dizem que Temer seria a saída "constitucional".
Eles não apostam no caminho de uma cassação da chapa Dilma-Temer pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), porque o julgamento das contas da campanha eleitoral da chapa petista tende a ser um processo longo, dada a possibilidade de recursos que o direito à defesa garante.
Se a chapa fosse cassada com menos de dois anos de mandato, novas eleições seriam convocadas. Esse é o cenário preferido do senador tucano, Aécio Neves, que acredita que ganharia um novo pleito, após ter sido derrotado na eleição de 2014.

Foto: Arquivo pessoal
"Nós temos que ir para a solução constitucional. Não acho que é questão de apoiar o Temer ou não", diz Chequer, do Vem Pra Rua

"Nós temos que ir para a solução constitucional. Não acho que é questão de apoiar o Temer ou não, é o que temos para hoje, por causa da Constituição. Nós vamos respeitá-la. O que o Temer vai fazer, eu não sei. A gente vai ver o que ele vai fazer", disse Chequer.
"Você vai me perguntar: você gosta do Temer, apoia o Temer? Claro que não. Até porque quem elegeu o Temer vice foram as mesmas pessoas que elegeram a Dilma. Mas nós temos o procedimento constitucional que precisa ser respeitado", afirma Ostermann, para quem Aécio está sendo "oportunista".
Apesar de não declararem apoio à estratégia do presidente do PSDB, os líderes dos movimentos veem com bons olhos o apoio do partido às manifestações.
A legenda está usando as inserções a que tem direito na rede aberta de TV para convocar a população para o protesto do dia 16 – mas sem fazer referência aos pedidos de impeachment.
As lideranças tucanas estão divididas sobre a questão, e por isso o partido não se manifestou oficialmente a favor da medida. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador de São Paulo Geraldo Alckmin são contra.
Alckmin está mais interessado em disputar as eleições para presidente de 2018 contra o PT. Já Serra, embora não tenha se posicionado publicamente, estaria articulando assumir como ministro na Fazenda num eventual governo Temer.
As lideranças do PSDB na Câmara e no Senado, o deputado Carlos Sampaio e o senador Cássio Cunha Lima, têm se manifestado abertamente pela saída da presidente. Ambos são alinhados com Aécio.
"Amigos, dia 16 de agosto, vamos voltar às ruas de todo o país não mais para protestar e exigir mudanças. Agora vamos pedir o impeachment da Dilma (sic) responsável maior por um governo corrupto, mentiroso e incompetente!", escreveu Sampaio no Facebook, dia 23 de julho.

Contra Dilma ou contra todos?


Protesto na Avenida Paulista em abril de 2015 | Foto: AFP
Analistas dizem ser natural o foco dos protestos no poder Executivo

Apesar do forte discurso anticorrupção, as manifestações tem apresentado um claro viés antigoverno e anti-PT desde as primeiras edições em março e abril, acredita Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da USP.
Ele vem acompanhando de perto os protestos realizados de São Paulo e conduziu uma pesquisa sobre os manifestantes que compareceram à Avenida Paulista em abril.
Os questionários revelaram um forte sentimento contra o sistema político em geral, mas que acaba sendo verbalizado com mais força contra o governo federal.
Entre os entrevistados, 73% disseram não confiar em qualquer partido.
"Esse caráter antigoverno já estava muito marcado nos dois primeiros protestos. A corrupção era um motivo pelo qual ele era antigoverno", notou.
"Nossa pesquisa apontou para uma descrença muito generalizada no sistema político, mas tendo foco específico no governo federal como uma exemplificação máxima desse desgaste da representação política."
Por causa disso, observa Ortellado, as lideranças dos protestos "tentam desenhar essa tática de desgastar a Dilma por meio do Cunha, um político sobre quem recaem mais suspeitas de corrupção do que sobre ela".
Para o cientista político da USP Álvaro Moisés, é natural que o governo federal e a presidente sejam os principais alvos dos protestos.
"Em qualquer situação política no Brasil, o foco principal é o governo. O Executivo é quem tem mais poder, tem uma máquina administrativa inteira a seu dispor. É claro que, quando você tem o crescimento de uma perspectiva antipolítica, o primeiro lugar que o protesto foca é o Executivo, é natural", afirma.
"Não acho que seja uma escolha seletiva: vamos focar na presidente mas não vamos focar no presidente da Câmara. É evidente que quem está no governo central tem muito mais exposição do que quem está em cargos que, embora importantes, têm menos visibilidade", acrescentou.

STF reduz poder de Cunha sobre contas de Dilma Julgamento deve ser realizado em conjunto entre Câmara e Senado

STF reduz poder de Cunha sobre contas de Dilma (foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO)
STF reduz poder de Cunha sobre contas de Dilma (foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO)
14 AGOSTO, 08:41SÃO PAULOZAR
(ANSA) - O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu nesta quinta-feira (13), que contas anuais de presidentes da República precisam ser julgadas em sessão conjunta do Congresso Nacional - e não em sessões separadas de cada uma das Casas. A decisão contraria o que tem sido defendido pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que argumentou ao Tribunal que as contas governamentais tradicionalmente seguiram rito separado.
    Com um requerimento de urgência, a Câmara aprovou na última semana as contas dos ex-presidentes Itamar Franco (1992), Fernando Henrique Cardoso (2002) e Luiz Inácio Lula da Silva (2002 e 2006), deixando caminho aberto para analisar as contas do governo da presidente Dilma Rousseff - hoje em análise no Tribunal de Contas da União (TCU).
    Na prática, portanto, a votação das contas da presidente relativas ao último mandato depende agora do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que é também presidente do Congresso, e não de Cunha. O ministro do STF negou, no entanto, o pedido da senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), presidente da Comissão Mista de Orçamento (CMO), para cassar a aprovação da urgência das contas analisadas. Ela alegou que o julgamento por apenas uma das Casas viola a Constituição, que estabelece que a competência para votação é do Congresso.
    Barroso decidiu não anular todo o procedimento já realizado no caso das contas que já foram votadas, considerando que há uma "prática" no Congresso em realizar as votações separadas, mas indicou que os próximos julgamentos devem ocorrer em sessão conjunta. "É importante deixar claro que a não paralisação da eficácia das votações já ocorridas não significa tolerância com a continuidade futura da prática. Trata-se apenas de resguardar, por ora, os efeitos dos atos já praticados, em homenagem à segurança jurídica", escreveu o ministro.
    De acordo com ele, a Constituição prevê que as contas anuais de presidentes de República devem ser julgadas em sessão conjunta do Congresso, a partir do parecer de uma comissão mista. Barroso destacou ainda que as leis orçamentárias são votadas em sessão conjunta e, portanto, a verificação de seu cumprimento no julgamento das contas deve obedecer o mesmo rito.
    "Indefiro o pedido liminar que se destinava a suspender a análise isolada, pela Câmara dos Deputados, dos Projetos de Decreto Legislativo (...), sem prejuízo de sinalizar ao Congresso Nacional que as votações futuras de contas presidenciais anuais devem ocorrer em sessão conjunta", decidiu o ministro.
    A votação das contas antigas de presidentes representou uma derrota para o Planalto, pois abriu caminho rumo à apreciação dascontas de 2014 do governo Dilma Rousseff. Sobre as contas do ano passado, que estão sob análise do Tribunal de Contas da União (TCU), recaem acusações das "pedaladas fiscais".Ontem, o TCU deu mais 15 dias para a presidente Dilma Rousseff se pronunciar sobre novas irregularidades nas contas de 2014.(ANSA) Fonte: Estadão Conteúdo
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