quinta-feira, 30 de julho de 2015

'Quem lincha sabe que tem respaldo social no Brasil', diz pesquisadora Jefferson Puff - @_jeffersonpuff Da BBC Brasil no Rio de Janeiro

Pesquisadora defende que há uma série de fatores que permeiam um clima de aceitação e de impunidade em relação a linchamentos, sendo que a atuação da polícia é algo crucial.
O caso de Cleidenilson Pereira da Silva, de 29 anos, espancado e esfaqueado até a morte no início de julho após ser amarrado a um poste em São Luís, no Maranhão, chocou o país. Cercado e atacado por um grupo após uma acusação de roubo, ele foi linchado em plena luz do dia. No Rio de Janeiro, na segunda-feira, Newton Costa Silva também foi espancado até a morte na favela da Rocinha, acusado de tentar matar uma mulher e seus dois filhos.
Em comum, os dois casos trazem à tona a inegável brutalidade dos linchamentos, um fenômeno que tem chamado a atenção no país.
Apesar de justiçamentos pelas próprias mãos configurarem crimes de homicídio ou lesão corporal, o comportamento de alguns setores da população, de parte da polícia e até mesmo da mídia revela por vezes um clima de aceitação da violência quando cometida contra um suposto criminoso, na opinião da pesquisadora Ariadne Natal, doutoranda em Sociologia pela USP.
"Quem lincha sabe que tem respaldo social para isso no Brasil. Quem está ali linchando sabe que não haverá depoimentos de testemunhas nem maiores investigações ou punições", afirma Natal, que analisou 589 casos de linchamento na região metropolitana de São Paulo entre 1980 e 2009.
Outro levantamento do Núcleo de Estudos da Violência (NEV), também da USP, identificou 1.179 linchamentos entre 1980 e 2006 em todo o Brasil.
A pesquisadora cita fatores como a falta de ação da polícia para explicar o clima de aceitação e de impunidade. "Caso a polícia fosse orientada a deter, investigar e ajudar a punir os responsáveis, certamente poderíamos coibir de forma mais intensa os linchamentos ocorridos no país", afirmou a especialista em entrevista à BBC Brasil.
Dos 589 casos que analisou em um período de 30 anos, apenas um foi a julgamento. "É preciso que a polícia passe a ver os linchamentos como um problema, como um crime a ser investigado e punido, e não como uma solução", afirma.
Veja abaixo os principais trechos da entrevista que ela concedeu à BBC Brasil:
Jose Benigno Jr.
Doutoranda em Sociologia pela USP, Ariadne Natal analisou 589 casos de linchamentos entre 1980 e 2009 na região metropolitana de São Paulo.
BBC Brasil: Recentemente temos visto linchamentos motivados por assaltos e pequenos delitos, quando, em geral, reações semelhantes tendem a ocorrer após crimes chocantes como estupros de crianças. Há uma nova tendência nesse sentido ocorrendo no Brasil, de banalização da violência e da intolerância?
Ariadne Natal: Diferentemente da Justiça, que fixa penas proporcionais à gravidade do crime, o linchamento não tem a mesma lógica. Um linchamento pode ser motivado por crimes contra a vida, contra os costumes - como estupros -, contra o patrimônio. É difícil indicar se há uma tendência clara de banalização, pois há ocorrências de todos os tipos atualmente. No entanto, nos 589 casos que analisei na região metropolitana de São Paulo, entre 1980 e 2009, os motivos variaram ao longo do tempo.
Na década de 1980 havia mais linchamentos por crimes contra o patrimônio. Depois, nos anos 1990 e 2000, essa proporção foi caindo e crimes mais graves passaram a ser respondidos com linchamentos. Podemos estar assistindo a uma nova onda, mas isso também é relativo. Cada vez que ocorre um caso de repercussão nacional, há mais cobertura da mídia. E dependendo de como os casos são retratados pode haver um efeito de "espelhamento", quando as pessoas se sentem compelidas a fazer o mesmo se deparadas com uma situação semelhante.
BBC Brasil: Quem são as pessoas com mais chances de serem linchadas no Brasil?
Natal: O perfil da vítima de linchamento é muito similar ao da vítima de homicídio: 95% homens, jovens, a maior parte entre 15 e 30 anos. É raro uma mulher ser vítima de linchamento, embora haja casos famosos, como o do Guarujá no ano passado. Em geral também são pessoas pobres. A maior parte dos linchamentos ocorre em regiões carentes e periféricas, seja em grandes metrópoles ou cidades do interior, onde o Estado é pouco presente.
Reuters
Favela da Rocinha, no Rio, foi cenário de caso recente de linchamento.
BBC Brasil: O linchamento é previsto no Código Penal como crime específico? Torná-lo crime hediondo, por exemplo, poderia coibir sua prática?
Natal: O linchamento não é um tipo penal, ou seja, não existe o crime específico de linchamento no Código Penal brasileiro. Um caso de linchamento pode ser registrado como tentativa de homicídio, homicídio ou lesão corporal. Não acredito que o endurecimento penal possa ter um impacto sobre esse fenômeno. Precisamos promover mudanças nas instituições, incluindo as polícias, o Judiciário e sobretudo a sociedade, que considera linchar alguém algo aceitável.
Além disso, é um crime de difícil apuração. Apesar de ocorrer à luz do dia, em público, há um pacto de silêncio após o término. Juntando a isso a característica da Justiça brasileira, que busca individualizar a ação de cada pessoa, por não prever crimes coletivos, os linchamentos tornam-se situações onde a punição é rara.
BBC Brasil: Qual é o papel da polícia nisso? Como policiais tendem a se comportar quando chegam a uma cena de linchamento, e como poderiam atuar por mais punição?
Natal: O linchamento ocorre a partir de uma suposta acusação inicial. Seja um estupro, um abuso ou um roubo. E quando a polícia chega, de forma geral, vai lidar com aquela situação inicial. A polícia está ali para investigar o roubo, e o linchamento costuma passar a reboque, sem ser problematizado, sobretudo se a vítima já estiver morta.
Frequentemente o crime menos grave, de roubo ou assalto, vai ser o foco da atenção, e não o de lesão corporal ou até homicídio. A polícia não busca os responsáveis, apesar de estar diante de uma pessoa machucada ou morta, e a sociedade aceita isso como natural. Até mesmo a mídia aceita isso como natural, por não questionar a ação da polícia e a ausência de investigações.
BBC Brasil: Como explicar a atitude da polícia?
Natal: A atitude policial diante de um linchamento no Brasil pode variar da prestação de socorro até a participação, omissão e mesmo a incitação. No meu estudo, por exemplo, encontrei um exemplo de linchamento incitado por policiais.
BBC Brasil: Que tipo de participação os policiais tiveram nesse caso de incitamento? Há episódios recentes semelhantes?
Natal: Em São Paulo, na década de 1980, um rapaz foi acusado de roubar um taxista. A PM chegou e prendeu esse homem. Ao longo do caminho para a delegacia, os policiais paravam em pontos de táxi e alertavam que estavam com o suspeito. Esses taxistas começaram a seguir o carro da polícia, e quando a viatura chegou à delegacia foi estacionada a uma distância do prédio policial, deixando o rapaz vulnerável na rua, e ele foi atacado pelos taxistas. Foi um linchamento programado, visivelmente incitado por policiais e documentado pela mídia na época.
No caso recente ocorrido no Maranhão (no início de julho), há imagens que mostram um policial chegando ao local onde o rapaz havia sido linchado. Mas em vez de tentar socorrer a vítima ou preservar a cena do crime e deter os responsáveis, esse policial saca o celular do bolso e começa a filmar também.
É um cenário contraditório. De um lado, a ação da polícia é importante para impedir que uma tentativa de linchamento acabe em morte. E, ao longo dos anos, a ação da polícia fez com que os linchamentos se tornassem menos letais no país.
Mas a atitude perante os linchadores, no entanto, continua a mesma do passado. Por via de regra não são identificados, detidos, interrogados, e o anonimato coletivo é preservado, sem que ninguém seja nem sequer processado.
BBC Brasil: Com base nessas conclusões, é possível afirmar que o linchamento é um crime praticamente impune no Brasil? Até mesmo com filmagens em casos recentes?
Natal: No Brasil o linchamento é um crime de difícil elucidação e há grandes dificuldades para apontar as responsabilidades individuais de cada envolvido. Apesar da omissão e da cultura de aceitação da violência entre as forças policiais, até há tentativas incipientes de investigação. Quanto à impunidade, para se ter uma ideia, de 589 casos analisados num período de 30 anos na região metropolitana de São Paulo, apenas um resultou em julgamento. E há muita subnotificação. Dependemos da mídia para saber, já que não há estatísticas oficiais.
Os vídeos podem ajudar, mas estas filmagens costumam ser feitas no calor dos acontecimentos, de forma irregular e muito movimento, e em geral a câmera foca na vítima, e não nos algozes.
No caso do Maranhão, a polícia conseguiu identificar uma facada no coração como a causa da morte do rapaz linchado, então provavelmente vão agora tentar identificar quem desferiu esse golpe, e essa pessoa, se encontrada, poderá responder pela morte do rapaz.
BBC Brasil: Uma pesquisa da USP listou 1.179 linchamentos ocorridos no Brasil entre 1980 e 2006, sendo 568 em São Paulo, 204 no Rio de Janeiro, e 180 na Bahia, dentre outros Estados. O que se pode fazer, de forma imediata e tangível, para tentar coibir este tipo de crime?
Natal: É preciso que a polícia veja os linchamentos como um problema de segurança pública, e não uma solução. O linchamento não pode ser encarado como uma punição aceitável a quem é acusado de um crime. Trata-se de uma outra forma de violência, outro crime, que merece igual investigação.
O linchamento tem que ser problematizado como algo condenável, e os responsáveis precisam ser punidos. Se houvesse conduta diferente dos policiais ao chegar a uma cena de linchamento, teríamos ao menos uma sensação de receio entre pessoas que um dia possam cogitar participar de algo dessa natureza.
Quem lincha sabe que tem respaldo social para isso no Brasil. Quem está ali linchando sabe que não haverá depoimentos de testemunhas nem maiores investigações ou punições. Do contrário, como explicar alguém que se dispõe a assassinar uma pessoa em praça pública, sem esconder identidade, à luz do dia, sendo até filmada? As ações dos que assistem, da sociedade, da polícia e das instituições dão a essas pessoas a certeza de que estão fazendo algo certo.

Destroços de asa de avião são achados no Índico Ainda não se sabe se os pedaços pertencem ao voo MH370

Avião da Malaysia Airlines desapareceu no dia 8 de março de 2014 (foto: EPA)
Avião da Malaysia Airlines desapareceu no dia 8 de março de 2014 (foto: EPA) SÃO PAULOZLR
(ANSA) - Pedaços de uma asa foram encontrados na manhã desta quarta-feira (29) na costa da ilha francesa de La Réunion, no oceano Índico. O território fica a leste de Madagascar, relativamente próximo ao local onde teria caído o voo MH370, da Malaysia Airlines, em 8 de março de 2014.
    No entanto, segundo os investigadores, ainda é muito cedo para dizer se os destroços pertencem ao Boeing 777 da companhia malaia. Os materiais foram achados pela Força Aérea da França, e a polícia da ilha afirma que eles aparentemente ficaram na água por volta de um ano.
    O avião desapareceu com 239 pessoas a bordo enquanto ia de Kuala Lumpur, na Malásia, a Pequim, na China. Em janeiro deste ano, o seu sumiço foi declarado oficialmente um acidente pelo governo malaio.
    Os investigadores acreditam que ele tenha caído no sul do oceano Índico, mas até hoje não foi descoberta nenhuma pista que ajudasse a solucionar o maior mistério da aviação civil. (ANSA)
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Ex-conselheiro de Sarkozy é acusado por desvio de verba pública


Um ex-conselheiro de Nicolas Sarkozy, Patrick Buisson.
Um ex-conselheiro de Nicolas Sarkozy, Patrick Buisson, foi acusado nesta quarta-feira em uma investigação sobre pesquisas de opinião encomendadas pelo Palácio do Eliseu durante o mandato do então presidente francês (2007-2012), que teve uma de suas empresas beneficiadas.
Pierre Giacometti, outro colaborador do antigo chefe de Estado francês, teve sua prisão preventiva decretada nesta quarta à noite por razões similares, dentro da mesma investigação em curso.
Patrick Buisson, influente conselheiro oriundo da extrema direita hoje rompido com Sarkozy, foi indiciado por favorecimento, uso indevido de ativos e abuso de fundos públicos corporativos, segundo uma fonte judicial.
O caso, chamado "pesquisas do Eliseu", é sobre a regularidade dos contratos celebrados ao abrigo dos cinco anos Sarkozy pela Presidência francesa, com nove institutos de pesquisa. Entre eles estavam particularmente a empresa Publifact, pertencente a Buisson, e a de Pierre Giacometti, Giacometti-Peron.
A polêmica explodiu em 2009, quando o Tribunal de Contas francês esmiuçou um contrato assinado com a Publifact de 1,5 milhão de euros sem levar em conta "possibilidades oferecidas pelo mercado".
Uma associação anticorrupção, a Anticor, apresentou uma denúncia no ano seguinte, mas a Justiça iniciou a investigação somente no final de 2012 - quando Sarkozy deixou a presidência, derrotado pelo socialista François Hollande.
De acordo com a ação apresentada pela Anticor, algumas das pesquisas encomendadas não teriam relação com o gabinete presidencial, entre elas a que tratou da percepção dos franceses sobre o relacionamento entre Nicolas Sarkozy e Carla Bruni, ex-modelo que virou sua esposa.
Vários outros ex-assessores próximos ao ex-presidente foram ouvidos no início de junho, como parte da investigação. Sarkozy é protegido pela imunidade presidencial, uma vez que estava no Eliseu no momento dos supostos crimes.

Não há clima para impeachment, mas tudo pode mudar, diz deputado que comandou queda de Collor Adriano Brito Da BBC Brasil em São Paulo

Juliana Mutti/Agência ALRS
"Potencialmente há um risco, sim, de uma crise político-institucional", afirma Ibsen Pinheiro, presidente da Câmara durante o impeachment de Collor | Foto: Juliana Mutti/Agência ALRS
No comando da Câmara dos Deputados, um dos quadros mais importantes do PMDB precisa decidir se dá início a um processo de impeachment do presidente da República.
Esse cenário, que nos futuros meses pode vir a ser realidade para Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é conhecido pelo hoje deputado estadual Ibsen Pinheiro (PMDB-RS).
Presidente da Câmara durante o processo de impeachment de Fernando Collor, em 1992, o peemedebista, de 80 anos, disse à BBC Brasil não ver agora uma crise política que justifique afastar Dilma Rousseff. Mas que há, sim, potencial para isso.
Ele afirmou que Cunha deveria mostrar sua inocência em relação às acusações na Operação Lava Jato – segundo um delator, o peemedebista recebeu US$ 5 milhões (mais de R$ 15 milhões) de propina no esquema de corrupção na Petrobras, o que ele nega.
Gaúcho de São Borja, Ibsen é jornalista e advogado – foi promotor e procurador. Comandou a Câmara de 1991 a 1993, mas acabou cassado em 1994 após ser ligado ao escândalo dos Anões do Orçamento e ficou inelegível por oito anos. Hoje, preside o PMDB gaúcho.
Confira os principais trechos da entrevista:
BBC Brasil - Como o senhor vê esses movimentos que pedem o impeachment de Dilma?
Ibsen Pinheiro - Vejo muitos movimentos político-partidários que considero desautorizados pela realidade. Não acho que exista um clima de impeachment por qualquer critério técnico do Tribunal de Contas [da União], do Judiciário. Uma crise política, que gera às vezes efeitos inesperados, primeiro tem que se instalar como tal.
Estamos numa crise econômico-social e também administrativa, que é a incapacidade do poder público de responder à crise econômica. Não estão presentes os elementos da crise política. Há um grau de artificialismo nessas palavras de ordem. O que pode ocorrer é que as circunstâncias mudem.
BBC Brasil - São apontadas duas razões para afastar Dilma: uma é via TSE, pelas eventuais doações ilegais de campanha por empresas da Lava Jato, e outra via Congresso, caso o TCU condene as "pedaladas fiscais".
Ibsen - Não posso imaginar que uma circunstância tão dramática como o afastamento de um governo eleito ocorra por decisão de sete juízes do tribunal eleitoral ou por ministros do TCU, por uma questão técnica.
Qualquer questão de campanha se resolve nos limites da Justiça Eleitoral. Ela não tem o condão de interferir, nesse grau, na vida do país. Assim como uma decisão do TCU. O Congresso, ao examinar uma questão dessa natureza, não dispensa os aspectos técnicos. Mas os determinantes são os critérios políticos.
Não nego que haja um potencial que possa desembocar numa crise institucional. Alinho três fatores que podem produzir esse resultado: crise econômico-financeira, incapacidade do poder público de responder a ela e falta de gosto ou jeito da presidente para lidar com esses temas.
BBC Brasil - Vê chances de o Congresso afastá-la?
Ibsen - Lembro de que, em 1992, tive de interromper tudo para receber parlamentares australianos. A chefe da delegação pediu licença para abordar temas do Brasil, estavam muito ligados na nossa crise.
E perguntou: "o senhor acha possível que, após 20 anos de ditadura, o primeiro presidente eleito seja afastado? Acha possível somar dois terços de votos?". Respondi: “Dois terços, acho impossível. Mais fácil é a unanimidade.”
Numa circunstância de normalidade, não há dois terços para afastar um presidente. Agora, a anomalia resultante de uma crise política pode criar um ambiente tal que os votos [como] no caso de Collor sejam meramente simbólicos. O combustível foi a crise.
BBC Brasil - Como o senhor vê o papel do PMDB?
Ibsen - O PMDB está condenado a uma espécie de dupla militância. É parceiro do governo na sua sustentabilidade, mas não gêmeo univitelino, porque não é o centro do governo.
Com todo o seu tamanho, o PMDB é periférico. Tem compromisso com a ordem institucional, com o apoio ao governo na sua preservação. Mas, se o governo for atingido, talvez tenha de demonstrar que não é o governo.
Janine Moraes/Agência Câmara
Para Ibsen, o PMDB é periférico, está fora do centro do governo, mesmo com a convocação de Michel Temer para "remendar" a articulação política | Foto: Janine Moraes/Agência Câmara
BBC Brasil - A Lava Jato colocou o PMDB em posição desconfortável. Como avalia isso?
Ibsen - O que fica sob suspeita é toda a atividade político-partidária. Um pouco por suas distorções, e aí os partidos merecem o grau de culpa, mas também porque a repercussão das distorções da política é maior que a de outras áreas da vida institucional.
Nosso sistema público tem funcionamento precaríssimo. O Judiciário acumula processos numa quantidade absurda, não responde às necessidades da população.
A política é criminalizada num grau que não é injusto pelas deformações, mas é pela falta de isonomia, pois toda a máquina pública tem a eficiência comprometida.
BBC Brasil - Como avalia a presidência de Cunha na Câmara?
Ibsen - Em algumas coisas teve um papel positivo, como o de colocar a Casa para deliberar e trazer à pauta questões relevantes. Outra é a Câmara não agir como anexo do Executivo. Isto ocorreu com as presidências petistas.
É claro que não é preciso, nem possível, ignorar a pauta do governo, a vinda do Senado. Mas a Câmara deve ter independência.
Desagrada que ele tenha abandonado, na reforma política, o centro da questão, para ficar na periferia. Também não me agrada ver um ou outro ato de mera hostilidade ao Executivo.
BBC Brasil - Como vê o rompimento dele com o governo, acusando-o de prejudicá-lo na Lava Jato?
Ibsen - Não acho que isso tenha causado [um problema institucional] porque não mudou essencialmente o posicionamento dele. Sobre a investigação, não tenho meios de opinar. Não posso ser solidário sem saber dos fatos, mas também não posso condená-lo.
Entendo que, para aquilo que tenha de administrar como árbitro, não vá praticar facciosismos. Vai administrar com imparcialidade as relações com os demais poderes. Espero que assim seja.
Quanto às acusações, tem a seu favor a presunção da inocência. Mas, num clima dessa natureza, quase que se inverte o ônus da prova. É preciso, pelo menos ao agente político, mostrar sua inocência. Não basta dizer que a acusação tem que demonstrar a culpa.
BBC Brasil - Cunha deveria deixar a presidência da Câmara? A acusação combina com o cargo?
Ibsen - Pode até não combinar, mas o afastamento de alguém eleito pelos representantes do povo pode ser uma violação. Diferente é o ministro que, acusado, procura o presidente e diz: "meu cargo está à sua disposição, me afasto para não causar constrangimento".
Não é adequado o chefe de um Poder se afastar por uma acusação, isso seria um precedente perigoso.
BBC Brasil - O senhor é do PMDB, presidia a Câmara e comandou um processo de impeachment. Vê paralelo com o momento atual?
Ibsen - O paralelo que vejo é um pouco forçado, mas é uma projeção. O impeachment do Collor, em setembro, ou mesmo agosto, tinha uma lógica avassaladora, avançava com grande ímpeto. Mas, se recuarmos a março, abril, é parecido com o ambiente atual. Não havia clima para cogitar o afastamento.
O processo de impeachment que acolhi, se não me engano, foi o 14º ou 15º pedido. Os anteriores mandei arquivar. Alguns, muito bem fundamentados. E mandei arquivar, pura e simplesmente.
BBC Brasil - Por que?
Ibsen - Um processo de impeachment não é um processo penal, é político. Têm que estar presentes todas as circunstâncias do processo político, a representatividade dos autores do pedido, no caso os presidentes da ABI, OAB, o ambiente no país, a opinião pública. E estas condições, presentes em agosto, não estavam em março.
Qualquer tentativa de adivinhar seria um pouco arriscada agora. Se hoje não há, não sei se ali adiante não haverá as condições para um processo semelhante.
Gustavo Lima/Câmara dos Deputados
Ibsen Pinheiro afirma que, poucos meses antes do processo de impeachment de Fernando Collor, não havia "clima" para afastar o então presidente | Foto: Gustavo Lima/Agência Câmara
BBC Brasil - O rompimento entre Cunha e governo pode antecipar um processo de impeachment?
Ibsen - Não acho que o presidente da Câmara, na solidão do seu gabinete, que é onde tudo termina, deixe de perceber todas as implicações de um processo dessa natureza. Ninguém chega ao cargo para decidir as questões com seus humores.
É por isso, aliás, que esse tipo de decisão é solitária. O presidente da República, da Câmara, do Senado escuta. Mas decide sozinho.
BBC Brasil - Recorda-se do momento de sua decisão no caso Collor?
Ibsen Pinheiro - Lembro muito. Ouvi tanto lideranças políticas como assessores. Mas sempre tive clareza de que a decisão de acolher o processo era minha. A decisão de levar ao plenário e sobre o rito também. Por melhor que fosse a assessoria, e por mais competentes que fossem as opiniões políticas que recolhia, no fim é presidente da Câmara que decide. E essa decisão é política.
Cunha não vai decidir essas questões com seus humores. Pode até dizer algumas coisas que correspondam seus humores. Mas quem o conhece pode achar que isso é também um processo calculado de impacto. Acho eu. Na decisão ele será equilibrado como deve ser o chefe de um dos Poderes da República.
BBC Brasil - O senhor passou por um processo de cassação, ficou inelegível. Alguma mágoa?
Ibsen - Não fui vítima de uma conspiração que alguns tivessem urdido. Fui vítima de uma conjugação. Tinha alta visibilidade e não tinha poder político. Isto faz de você um alvo. É cogitado para presidente da República, é lembrado. Isso desperta em torno do seu nome o ambiente de conflito político. E você não tem a aparelhagem que é o cargo de líder, presidente. Voltei para a planície.
Isto numa análise do quadro. Numa análise pessoal, aprendi algumas coisas. Uma delas é que o ódio só faz mal ao seu depositário. Não a seu alvo. Considero-me um privilegiado, meu sofrimento se desfez em vida, e é tão frequente que isto só se supere no obituário.
BBC Brasil - Pensa em voltar à Câmara?
Ibsen - Não penso. Já não me candidatei em 2010, estava no mandato 2007-2011. Acho que tive um bom mandato, dediquei-me à Justiça tributária, especialmente à questão dos royalties.
Acredito que teria uma eleição relativamente tranquila, mas não quis voltar. Fui de lá afastado pela cassação. Acho que queria, talvez como sentimento íntimo, voltar e sair por vontade própria, e não pela alheia. Acredito que cumpri isso.

68% dos policiais do país dizem ter colegas assassinados fora de serviço Dado faz parte de estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Maioria dos agentes relata falta de equipamentos e discriminação.

Dois em cada três policiais do país dizem que já tiveram colegas próximos vítimas de homicídio fora de serviço. É o que mostra uma pesquisa feita pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e cujos resultados serão divulgados nesta quinta-feira (30), no Rio.
Percepção dos policiais no país
Pesquisa mostra medos e riscos enfrentados
% de entrevistados68,460,662,864,2Teve colegavítima dehomicídio forade serviçoTeve colegavítima dehomicídio emserviçoFoi vítima deassédio moralou humilhaçãoFoi discriminadopor ser policial0255075
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública
O percentual de policiais que tiveram colegas mortos fora do expediente (68,4%) é maior, inclusive, que o de profissionais que dizem ter perdido um colega assassinado em serviço (60,6%).
Ainda de acordo com o estudo, 74,7% dos agentes de segurança no Brasil dizem já ter sofrido ameaças durante o combate ou a investigação de crimes; mais da metade (51,4%) relata ter sofrido ameaças também fora do serviço.
A pesquisa, intitulada ‘Vitimização e risco entre profissionais do sistema de segurança pública’, foi feita em parceria com a Fundação Getúlio Vargas e com a Secretaria Nacional de Segurança Pública e ouviu 10.323 policiais militares, civis, federais, rodoviários federais, agentes penitenciários e integrantes do Corpo de Bombeiros e da Guarda Municipal em todos os estados do país. O estudo foi realizado entre os dias 18 de junho e 8 de julho.
Para a diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, a pesquisa mostra o quanto os policiais estão expostos durante suas trajetórias profissionais. “Os policiais são reconhecidos no Brasil pelas violações de direitos. Mas eles também são vítimas de violações dos seus próprios direitos, que passam despercebidas.”
“É um cenário triste. Mas trata-se de um dado esperado. A percepção de discriminação que o policial tem está intimamente ligada à desconfiança da população. Só 30% afirmam confiar na polícia. Isso porque, desde 1988, com o advento da Constituição, que tecnicamente rompe com o momento autoritário do país, muito pouco se mudou no modelo de segurança pública. As pessoas se afastam dos policiais porque eles são tidos como violentos. As instâncias responsáveis pela área direta ou indiretamente precisam pensar em mecanismos de modernização”, afirma Samira.O estudo mostra que 64,2% dos agentes dizem ser discriminados em razão da função que exercem. A reclamação de que são alvos de preconceito da população recai também sobre o círculo de convívio dos filhos: 22,5% dizem que eles já sofreram discriminação na escola ou na comunidade.
O número de agentes que relatam situações degradantes no trabalho é grande: 62,8% dizem já ter sofrido assédio moral ou algum tipo de humilhação. Um terço (32,3%) afirma ter sido vítima de violência física durante algum treinamento.
Rotina
A pesquisa revela ainda que os agentes costumam adotar hábitos específicos no dia a dia para evitar serem alvos de retaliação ou violência: 36%, por exemplo, escondem o fato de serem policiais ou agentes prisionais de conhecidos. Quase metade (45,5%) jamais deixa à mostra a farda ou o distintivo no trajeto casa-trabalho. E 61,4% evitam usar transporte público. “Esse dado chama bastante a atenção. São pessoas que têm que garantir o direito de ir e vir e não têm o deles assegurado. São pessoas que têm que esconder sua profissão”, afirma Samira.
Os agentes também relatam insegurança durante a prática profissional e elencam alguns motivos para isso. A impunidade, com 64,6%, é o principal. Mais da metade (52,7%), no entanto, também coloca a falta de equipamento pessoal de proteção como fator preponderante.
“Isso é um alerta para as corporações, para os comandos, porque mostra como os profissionais se sentem em relação às condições de trabalho. A gente o tempo todo cobra eficiência, redução de indicadores de criminalidade. E é um dever cobrar. Mas pouquíssima gente olha as necessidades dos policiais. Em muitos casos, não há coletes ou eles não são adaptados, por exemplo, para a mulher que vai atuar”, afirma a diretora-executiva do fórum.
De acordo com a pesquisa, 39,9% dos policiais têm receio de serem assassinados em serviço. Essa percepção varia entre as regiões do país. No Sul, esse índice sobe para 55,3%; no Sudeste, ele fica em 34,5%.
Distúrbios psicológicos
Para Samira, outro dado que merece destaque é o de policiais diagnosticados com algum distúrbio psicológico: 16,4%. “É um número muito alto. E como as corporações enfrentam isso? Basta ver as estruturas de atendimento. Quando muito, se existem, estão só nas capitais ou regiões metropolitanas. Isso sem contar o preconceito dentro das corporações quando um profissional procura um psicólogo. E esse percentual diz respeito apenas aos diagnosticados. Ou seja, o contingente deve ser muito maior.”
De acordo com a pesquisa, 86,5% dos ouvidos são homens, 56,4% têm de 25 a 40 anos e 44,1% trabalham em capitais. Além disso, 43,7% se declaram brancos, 9%, negros, e 44,7%, pardos.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Três novidades e uma crítica ao novo Windows 10

Microsoft
Windows 10, novo sistema operacional lançado pela Microsoft, traz de volta o menu iniciar, que havia sido abandonado na versão anterior, o Windows 8 | Foto: Microsoft
A Microsoft lançou nesta quarta-feira o Windows 10, novo sistema operacional que estará disponível como atualização gratuita para usuários dos antecessores Windows 7, 8 e 8.1.
O lançamento é ambicioso: a Microsoft, que ocupa 90% do mercado com o Windows, quer alcançar um bilhão de usuários em computadores até 2017. Nos próximos meses, virá ao mundo o Mac OS X El Capitan, nova aposta da Apple, segunda colocada no segmento.
Os primeiros a receber a nova versão serão os usuários dos Windows 7, 8 e 8.1 que já tenham feito a reserva da atualização, oferecida nos últimos meses na área de notificações do sistema.
O Windows 10, porém, não estará imediatamente disponível para todo mundo. Segundo a Microsoft, os usuários serão avisados em "ondas", a partir desta quarta, sobre quando poderão fazer a instalação.
Isso deve ocorrer logo em algumas máquinas, mas em outras pode demorar "semanas ou meses", segundo a própria empresa diz em seu site.
Para quem não tem direito à atualização gratuita, o Windows 10 estará à venda nas versões Home (R$ 329,99) e PRO (R$ 559,99).
O sistema também terá versões para tablets, smartphones e Xbox One, entre outros. A Microsoft promete ainda um funcionamento sem problemas, por meio de um app, na integração com aparelhos que rodam Android, iOs e Windows Phone.
O fim do Internet Explorer
Uma de suas novidades mais importantes é o Microsoft Edge, um novo navegador que permite escrever notas diretamente sobre páginas da internet e compartilhá-las ou salvar suas leituras favoritas, entre outras opções.
"Tínhamos que fazer mais do que produzir uma nova versão do navegador. Precisávamos de uma nova forma de fazer as coisas", disse Charles Morris, gerente de programas da companhia.
O novo navegador permite fazer buscas na barra de endereços, sem a necessidade de ir ao buscador ou uma barra de pesquisa, como já faz o Google Chrome.
Também incorporou um "hub", local em que os dados de navegação são armazenados. Com um clique, é possível acessar favoritos, lista de leituras, histórico e downloads em andamento.