'Ela não fez nada de errado', diz Dilma sobre crítica de Marta à economia
Em carta de demissão, ministra da Cultura criticou atual equipe econômica.
Na visão da presidente, Marta Suplicy apenas 'externou' a opinião dela.
Um dia após a ministra demissionária Marta Suplicy (Cultura) criticar a política econômica do governo federal em sua carta de demissão, a presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quarta-feira (12), no Catar, que ela "não fez nada de errado".
A caminho da Austrália para o encontro de cúpula do G20, Dilma afirmou que tomou conhecimento do conteúdo da carta antes mesmo de viajar para o encontro dos chefes de Estado dos 20 países mais ricos do mundo.
"Ela [Marta Suplicy] não fez nada de errado neste aspecto. Nós tivemos uma conversa. Eu sabia o conteúdo da carta", ressaltou Dilma durante entrevista em Doha, capital do Catar, onde fez uma parada técnica antes de seguir viagem para a Oceania.
Na visão da presidente, a ministra demissionária não fez "nada de diferente" do que já havia comunicado. Dilma destacou que qualquer pessoa tem direito de emitir sua opinião.
"Ela não teve nenhuma atitude incorreta. Ela me disse que sairia. Eu aceitei que ela saísse. Aí, nós acertamos que ela me enviaria uma carta. [...] Essa é uma opinião dela. Eu acho que as pessoas têm direito de dar opinião", enfatizou.
Primeira ministra a pedir desligamento do primeiro escalão desde que Dilma foi reeleita, Marta Suplicy afirmou na carta de demissão entregue nesta terça (11) esperar que, em seu segundo governo, a presidente da República escolha uma equipe econômica que "resgate a confiança e credibilidade" da atual administração. Ela chefiava a pasta da Cultura desde setembro de 2012.
Ainda segundo a ministra demissionária, os novos comandantes da economia, "acima de tudo", devem estar comprometidos com o crescimento do país.
"Todos nós, brasileiros, desejamos, neste momento, que a senhora seja iluminada ao escolher sua nova equipe de trabalho, a começar por uma equipe econômica independente, experiente e comprovada, que resgate a confiança e credibilidade ao seu governo e que, acima de tudo, esteja comprometida com uma nova agenda de estabilidade e crescimento para o nosso país. Isto é o que hoje o Brasil, ansiosamente, aguarda e espera", afirmou a petista na carta de demissão.
Com a decisão de deixar a Esplanada dos Ministérios, Marta Suplicy retomará sua cadeira no Senado. Eleita por São Paulo, ela tem mandato até 2018. Interinamente, informou a assessoria da Cultura, a secretária-executiva do ministério, Ana Cristina Wanzeler, ficará responsável pela administração da pasta.
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No meio político, eram frequentes os comentários de que a relação entre Marta e Dilma havia se desgastado ao longo do ano. Segundo o Blog do Camarotti, o fato de a ministra da Cultura ter articulado no início do ano o movimento “Volta, Lula”, para defender a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição deste ano, gerou mal-estar com a atual chefe do Executivo.
A jornalistas, Dilma afirmou não ter estabelecido um prazo para que os ministros entreguem a ela cartas de demissão, e disse que a reforma não será feita "imediatamente". Segundo a presidente, todos os ministros, até os que continuarão no governo, também entregarão.
"Ela [Marta Suplicy] entregou a carta naquele espírito de que todos os ministros que vão sair entregarão uma carta para mim e os que não vão sair também", afirmou.
Petrobras
Ao comentar as investigações conduzidas pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos relacionadas à Petrobras, a presidente afirmou que “faz parte do jogo” que empresas com ações no mercado norte-americano prestem contas segundo as regras do país. Além disso, avaliou Dilma, os EUA têm de investigar se há cidadãos envolvidos em alguma irregularidade.
O órgão que regula o mercado financeiro dos Estados Unidos investiga se as denúncias de desvio de dinheiro da Petrobras infringiram a lei anticorrupção norte-americana e prejudicaram os acionistas da empresa com ações em Nova York. A apuração foi comunicada, em outubro, por meio de um relatório enviado pela consultoria brasileira Arko aos seus clientes.
"Isso faz parte das regras do jogo. Empresas cotadas na bolsa de Nova York têm de prestar contas segundo as regras de Nova York. Além disso, não são muito diferentes das brasileiras. Os Estados Unidos têm de investigar se têm cidadãos americanos envolvidos em alguma irregularidade. Acho que, pelo contrário, isso mostra que o mundo está evoluindo no que se refere a isso", disse a presidente.
Leia abaixo a íntegra da carta de demissão de Marta Suplicy:
A jornalistas, Dilma afirmou não ter estabelecido um prazo para que os ministros entreguem a ela cartas de demissão, e disse que a reforma não será feita "imediatamente". Segundo a presidente, todos os ministros, até os que continuarão no governo, também entregarão.
"Ela [Marta Suplicy] entregou a carta naquele espírito de que todos os ministros que vão sair entregarão uma carta para mim e os que não vão sair também", afirmou.
Petrobras
Ao comentar as investigações conduzidas pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos relacionadas à Petrobras, a presidente afirmou que “faz parte do jogo” que empresas com ações no mercado norte-americano prestem contas segundo as regras do país. Além disso, avaliou Dilma, os EUA têm de investigar se há cidadãos envolvidos em alguma irregularidade.
O órgão que regula o mercado financeiro dos Estados Unidos investiga se as denúncias de desvio de dinheiro da Petrobras infringiram a lei anticorrupção norte-americana e prejudicaram os acionistas da empresa com ações em Nova York. A apuração foi comunicada, em outubro, por meio de um relatório enviado pela consultoria brasileira Arko aos seus clientes.
"Isso faz parte das regras do jogo. Empresas cotadas na bolsa de Nova York têm de prestar contas segundo as regras de Nova York. Além disso, não são muito diferentes das brasileiras. Os Estados Unidos têm de investigar se têm cidadãos americanos envolvidos em alguma irregularidade. Acho que, pelo contrário, isso mostra que o mundo está evoluindo no que se refere a isso", disse a presidente.
Leia abaixo a íntegra da carta de demissão de Marta Suplicy:
Brasília, 11 de novembro de 2014.
À Excelentíssima Senhora Presidenta da República Dilma Rousseff,
Presidenta Dilma,
Agradeço a honra a mim concedida com o convite para ser Ministra de Estado da Cultura do Brasil nos últimos dois anos de seu governo. Encerro hoje a presente etapa com minha missão cumprida, razão pela qual apresento meu pedido de demissão.
Ao lado de minha valorosa equipe, à qual sou muito grata, tivemos a possibilidade de construir caminhos e encaminhar soluções para nossas sete importantes instituições e fundações coligadas, assim como também pudemos apresentar um país diferente no exterior.
Em meio a inúmeras demandas e carências orçamentárias do Ministério da Cultura, focamos nosso trabalho em valores que nos são preciosos: inclusão da população na produção de cultura e ampliação do acesso aos bens culturais.
Para que o legado de Vossa Excelência viesse a ser sólido, nos dedicamos a viabilizar a aprovação, com êxito, de um conjunto de leis por anos pendentes no Congresso, que possibilitaram criar a coluna vertebral de políticas de Estado da Cultura.
Em dois anos aprovamos o Sistema Nacional de Cultura, o Vale-Cultura, a Lei da Cultura Viva, o Marco Civil da Internet, a Lei de fiscalização do Ecad, a PEC da Música, além de ter enviado à Casa Civil, onde aguardam encaminhamento, o Direito Autoral e a Lei da Meia Entrada.
Por esta oportunidade de servir nosso país nesta função tão especial, de conhecer melhor e conviver com o povo da cultura, estar mais próxima de nossos artistas e raízes profundas, lhe sou grata.
Todos nós, brasileiros, desejamos, neste momento, que a senhora seja iluminada ao escolher sua nova equipe de trabalho, a começar por uma equipe econômica independente, experiente e comprovada, que resgate a confiança e credibilidade ao seu governo e que, acima de tudo, esteja comprometida com uma nova agenda de estabilidade e crescimento para o nosso país. Isto é o que hoje o Brasil, ansiosamente, aguarda e espera.
Volto para o Senado Federal para representar o Estado de São Paulo, por mais quatro anos, com muito vigor, energia e com o firme propósito de fazê-lo com amplitude, seriedade e grandeza. Na condução do Ministério da Cultura, e como Senadora licenciada pelo PT, não me apequenei, o fiz com coragem e determinação. Não fugi à responsabilidade de meu compromisso público ao me posicionar e ter feito o que acreditava ser o melhor para o Brasil e para o povo brasileiro.
À Excelentíssima Senhora Presidenta da República Dilma Rousseff,
Presidenta Dilma,
Agradeço a honra a mim concedida com o convite para ser Ministra de Estado da Cultura do Brasil nos últimos dois anos de seu governo. Encerro hoje a presente etapa com minha missão cumprida, razão pela qual apresento meu pedido de demissão.
Ao lado de minha valorosa equipe, à qual sou muito grata, tivemos a possibilidade de construir caminhos e encaminhar soluções para nossas sete importantes instituições e fundações coligadas, assim como também pudemos apresentar um país diferente no exterior.
Em meio a inúmeras demandas e carências orçamentárias do Ministério da Cultura, focamos nosso trabalho em valores que nos são preciosos: inclusão da população na produção de cultura e ampliação do acesso aos bens culturais.
Para que o legado de Vossa Excelência viesse a ser sólido, nos dedicamos a viabilizar a aprovação, com êxito, de um conjunto de leis por anos pendentes no Congresso, que possibilitaram criar a coluna vertebral de políticas de Estado da Cultura.
Em dois anos aprovamos o Sistema Nacional de Cultura, o Vale-Cultura, a Lei da Cultura Viva, o Marco Civil da Internet, a Lei de fiscalização do Ecad, a PEC da Música, além de ter enviado à Casa Civil, onde aguardam encaminhamento, o Direito Autoral e a Lei da Meia Entrada.
Por esta oportunidade de servir nosso país nesta função tão especial, de conhecer melhor e conviver com o povo da cultura, estar mais próxima de nossos artistas e raízes profundas, lhe sou grata.
Todos nós, brasileiros, desejamos, neste momento, que a senhora seja iluminada ao escolher sua nova equipe de trabalho, a começar por uma equipe econômica independente, experiente e comprovada, que resgate a confiança e credibilidade ao seu governo e que, acima de tudo, esteja comprometida com uma nova agenda de estabilidade e crescimento para o nosso país. Isto é o que hoje o Brasil, ansiosamente, aguarda e espera.
Volto para o Senado Federal para representar o Estado de São Paulo, por mais quatro anos, com muito vigor, energia e com o firme propósito de fazê-lo com amplitude, seriedade e grandeza. Na condução do Ministério da Cultura, e como Senadora licenciada pelo PT, não me apequenei, o fiz com coragem e determinação. Não fugi à responsabilidade de meu compromisso público ao me posicionar e ter feito o que acreditava ser o melhor para o Brasil e para o povo brasileiro.