09 de novembro de 2014 • 01h11 • atualizado às 01h12
México: um país em choque com massacre dos 43 estudantes
Segundo os organizadores, 120 mil pessoas participaram da marcha, no mais recente protesto pelo desaparecimento dos jovens
Foto: Marco Ugarte / AP
O México amanheceu, neste sábado, horrorizado com o massacre dos 43 estudantes desaparecidos confessado por traficantes de drogas detidos - revelação essa em que os pais das vítimas se recusam a acreditar até que haja provas.
Depois de quase um mês e meio sem notícias claras sobre os estudantes, a Procuradoria Geral mexicana divulgou a chocante declaração de três membros do cartel de drogas Guerreros Unidos. O trio confessou o assassinato dos jovens, relatando que os corpos queimaram por 14 horas até serem jogados em um rio.
Painel com fotos dos 43 estudantes desaparecidos no México.
Foto: Daniel Becerril / Reuters
Até agora, a Procuradoria havia conseguido reconstituir apenas parte do crime ocorrido na trágica noite de 26 de setembro, em Iguala, no estado de Guerrero (sul). Policiais locais atacaram alunos da combativa Escola de Magistério de Ayotzinapa, por ordem do agora ex-prefeito detido. O objetivo era evitar protestos durante um comício liderado pela primeira-dama da prefeitura.
Nesses ataques, seis pessoas morreram, e 43 alunos foram dados como desaparecidos, a maioria entre 18 e 21 anos. Segundo confissões de outros envolvidos detidos, os jovens teriam sido entregues por policiais a traficantes do Guerreros Unidos.
Presidente mexicano comemora prisão de ex-prefeito de Iguala
A organização Human Rights Watch classificou o crime como "um dos mais graves registrados na história contemporânea do México e da América Latina".
Para o historiador Lorenzo Meyer, agora, "o importante é ver como a sociedade mexicana vai reagir. Vai continuar tão apática como foi durante anos? Tão acostumada com as coisas do jeito que são?".
"Espero que o estado de choque não seja apenas meu, mas que seja compartilhado por meus concidadãos. Se isso não causar um choque entre nós, nada poderá causar", disse Meyer à AFP.
Mais de 80 mil pessoas foram assassinadas no México, e outras 22 mil estão desaparecidas, desde que o ex-presidente Felipe Calderón lançou o combate militar contra os cartéis, em 2006.
Foto de arquivo do prefeito de Iguala, José Luis Abarca, preso pela polícia do México. 29/10/2013
Foto: Stringer / Reuters
Até o momento, os pais são os primeiros a garantir que não vão "baixar a guarda" diante da reviravolta nas investigações.
"Parece que interessa ao governo federal, com uma grande irresponsabilidade, que isso acabe logo, porque tudo é na base de depoimentos, não há nada certo", declarou Meliton Ortega, tio de um dos desaparecidos.
Com base nas confissões de três pistoleiros, divulgadas parcialmente em vídeos na sexta-feira, o procurador-geral do México, Jesús Murillo Karam, contou que os estudantes foram levados para um lixão da localidade vizinha de Cocula, na noite de setembro. Alguns já chegaram ao local mortos por asfixia, e os demais foram assassinados lá mesmo.
Segundo os pistoleiros, os corpos calcinados foram fraturados, colocados em sacos de lixo e jogados em um rio próximo de Cocula. No lixão, peritos encontraram cinzas e alguns vestígios de ossos humanos. Murillo Karam destacou que um dos sacos foi encontrado fechado, com restos humanos que dificilmente serão identificados.
Os pais das vítimas afirmam que acreditarão na versão atual apenas quando os restos mortais encontrados forem verificados por uma perícia independente.
Na sexta-feira à noite, cerca de 300 pessoas se concentraram, levando velas, na emblemática praça do Ángel de la Independencia na capital e, depois, seguiram para a sede da Procuradoria. Na fachada do prédio, pintaram "#YaMeCanséDelMiedo" (#jamecanseidomedo).
"Sinto impotência, coragem, incredulidade em relação ao que o governo diz que aconteceu", disse à AFP Judit Ureña, mãe de uma menina de sete anos.
Também na sexta, os aguerridos professores da Coordenadoria Estatal de Trabalhadores da Educação de Guerrero (CETEG, na sigla em espanhol) ameaçaram radicalizar seus protestos, que incluíram bloqueios de estrada, saques a lojas e até atear fogo ao Palácio do Governo em Chilpancingo.
Este é o pior momento político do governo Enrique Peña Nieto, desde que o presidente assumiu o cargo em 2012. Neste ano, quando o Partido Revolucionário Institucional (PRI) recuperou a presidência, Peña Nieto foi aplaudido por chefes de Estado por suas polêmicas medidas, como a abertura do nacionalizado setor petroleiro ao investimento privado.
Protestos em massa varrem o país, e a expectativa é que aumentem após as últimas notícias sobre os estudantes.
Em meio ao estado de comoção nacional, continua a causar polêmica a viagem do presidente Peña Nieto à China e à Austrália, onde participará de cúpulas de economia, entre elas a do G-20. Ele embarca neste domingo.
"Isso o afeta negativamente, porque acho que o México, com as reformas, sobretudo, no tema ener
'O mundo está à beira de uma nova Guerra Fria', diz Gorbachev em Berlim
FOLHAPRESS8 de Novembro de 2014 | 23h00
O ex-líder soviético MikhailGorbachev afirmou neste sábado (8), durante celebração dos 25 anos da queda do Muro de Berlim, que o mundo está próximo de uma nova Guerra Fria.
"O mundo está à beira de uma nova Guerra Fria. Alguns estão até dizendo que ela já começou", disse.
"O derramamento de sangue na Europa e no Oriente Médio em contraposição ao fracasso do diálogo entre as grandes potências é de enorme preocupação", afirmou Gorbachev, responsável pelas reformas nos anos 80 que levaram ao fim do comunismo no leste Segundo ele, potências ocidentais, como os EUA, propagaram o "triunfalismo" de ter vencido a Guerra Fria no começo dos anos 90, mas têm fracassado na diálogo para pôr fim a conflitos em lugares como Síria, Iraque e Ucrânia.
"Quem sofre mais com o que está ocorrendo? A resposta é uma só: a Europa. A Europa vai se enfraquecer e se tornar irrelevante se isso continuar."
Gorbachev deu a declaração num evento no Portão de Brandemburgo, um dos símbolos da reunificação da Alemanha pós-queda do muro, em 1989. O ex-líder soviético tem sido, até agora, a principal figura pública das festividades dos 25 anos da queda do Muro de Berlim.
Na sexta-feira à noite (7), ele visitou o Check-PointCharlie, antigo posto de controle entre os dois lados da capital dividida entre Alemanha Oriental e Alemanha Ocidental. A área faz parte do percurso de 8.000 balões brancos acesos pelas ruas de Berlim simbolizando o muro.
"Temos sempre de aprender com as lições do passado. Aprendemos no passado que russos e alemães entenderam cada um, e nossa relação é boa", disse.
A lista dos nomes que podem ser indicados à liderança do Ministério da Fazenda no novo mandato da presidente Dilma Rousseff já mudou algumas vezes, desde o início da campanha eleitoral. A pouco tempo para o anúncio do próximo ministro, alguns aparecem com indicativo de maior certeza, como tendo sido indicados à mandatária pelo ex-presidente Lula - Henrique Meirelles e Nelson Barbosa. Não deixaram de ser mencionados também, contudo, figuras como Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, ou ainda, Aloizio Mercadante, ministro chefe da Casa Civil. O nome com maior força, porém, parece ser o do ex-presidente do Banco Central.
Cada um desses nomes dá pistas sobre como seria encaminhada a política econômica nos próximos quatro anos. Economistas consultados pelo Jornal do Brasil comentam o perfil e as direções que poderiam tomar, considerando o quadro de baixo crescimento. O governo indica que quer aprofundar o diálogo com diferentes setores, inclusive com o mercadofinanceiro e com os empresários, e a lista oferece nomes que representam essa possibilidade, cada um de seu modo. Após a reunião do G20, que será realizada nos dias 15 e 16 deste mês, na Austrália, o novo ministro será anunciado.
Francisco Lopreato, professor do Instituto de Economia da Unicamp, alerta para uma tentativa do mercado de "pautar" a presidente. "Aparentemente, não sei se o pessoal já percebeu que quem foi eleita foi a Dilma. Ela ganhou a eleição", diz, lembrando da possibilidade da divulgação de tais nomes serem apenas uma tentativa de "pautar" e "amarrar" a mandatária.
Bruno Martarello De Conti, professor do Instituto de Economia da Unicamp, tambémaproveita para criticar que tem se imposto uma espécie de agenda única, do ponto de vista da política econômica, que seria uma austeridade pesada, com política monetária contracionista para combater a inflação a qualquer custo, e uma retração dos gastos públicos. "Isso me assusta um pouco. Quando a gente vê o exemplo da austeridade lá na Europa, é catastrófico. Ele tem servido para acentuar o quadro recessivo e para fazer com que as taxas de desemprego se elevem. Então, eu não gostaria que isso fosse feito de uma forma cavalar porque, no fim das contas, iria segurar ainda mais a economia brasileira, que já está muito controlada, muito modesta, digamos."
De qualquer forma, continua Conti, qualquer um deles teria que mudar um pouco a política econômica, mas não no sentido de promover um ajuste profundo e rápido como o que era prometido pelo que seria o ministro de Aécio Neves (PSDB), Armínio Fraga. Para Conti, ajuste em tamanha proporção não será feito e nem deveria. "Acho que o governo está num momento que tem que reagir a essa pressão que vem sendo feita, de que a despeito da história da Dilma, ela deve se seguir a política econômica que havia sido proposta pelo Aécio. Não é por aí."
Nesta sexta-feira (7), economistas lançaram manifesto pelo desenvolvimento e pela inclusão social, alertando para o pensamento único que estaria sendo veiculado pela imprensa tradicional, de que a austeridade fiscal e monetária seria a única solução para o país, e os perigos dessa perspectiva. Nomes como Maria da Conceição Tavares, Luiz Gonzaga Belluzzo, João Sicsú e Marcio Pochmann lançaram o documento.
Silvio Campos Neto, economista-sênior da Tendências Consultoria, porém, destaca que o mais importante, de início, seria uma sinalização do governo sobre o grau de autonomia que determinado nome teria para "tomar decisões importantes de mudanças que são necessárias".
O nome de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central no governo Lula (2003-2010), hoje ligado ao PSD, costumava sofrer certa resistência da presidente, por sua maior ligação com o setor financeiro e também pela corrente econômica que poderia seguir. Parece, todavia, que a situação estaria mudando. Supostamente indicado por Lula como principal alternativa, se anunciado, colocaria Nelson Barbosa no Ministério do Planejamento.
Em entrevista coletiva, nesta quinta-feira, no Palácio do Planalto, a presidente afirmou que vai fazer o "dever de casa" e apertar o controle da inflação e que também fará um reajuste em todas as contas do governo. Sinalizou ainda que não pretende mexer na meta de inflação ou no intervalo de tolerância. O atual ministro, Guido Mantega, alertou que, para garantir um cenário mais positivo, será necessário fazer corte nas despesas públicas, que poderia ocorrer em relação ao seguro desemprego, auxílio doença e pensão por morte. O ministro também declarou que seu sucessor terá o desafio de fazer a economia crescer em um momento de transição na economia mundial.
Meirelles hoje é presidente do Conselho da J&F (holding brasileira que controla empresas como JBS, Flora e Eldorado), e é chairman do Lazard Americas. Antes de exercer a presidência do Banco Central, foi presidente de Global Banking do FleetBoston Financial e presidente mundial do BankBoston. Foi também membro do conselho da Harvard Kennedy School of Government, da Sloan School of Management do MIT (Massachusetts Institute of Technology), da Carroll School of Management do Boston College, bem como membro do conselho do Conservatório de Música da Nova Inglaterra e do Instituto de Arte Contemporânea de Boston.
Em sua coluna publicada na Folha de S. Paulo no dia 2 deste mês, intitulada Crescimento e Inclusão Social, diz que é preciso fazer os investimentos necessários em produtividade e consolidar a estabilidade.
Para o economista-sênior da Tendências, Silvio Campos Neto, Meirelles seria um nome mais bem recebido pelo mercado, já que seu viés um pouco mais ortodoxo é conhecido por todos. Com ele no comando da pasta, pode-se imaginar uma política econômica um pouco mais "equilibrada", que promovesse medidas importantes em relação ao ajuste de preços relativos, com uma política fiscal mais transparente e com o ajuste fiscal necessário.
"Talvez ele encamparia algum sentimento de que algumas reformas, algumas mudanças, seriam necessárias, tudo isso criando, então, um sentimento um pouco mais favorável, eu diria bem mais favorável, em relação às perspectivas para os próximos quatro anos", acredita Campos Neto.
O economista também destaca que Meirelles na Fazenda poderia propor e lutar por algumas reformas importantes, "até pelo viés do mandato anterior, um viés um pouco mais ortodoxo". Ele poderia ainda, de certa forma, ser um polo de força para tentar colocar ajustes difíceis e algumas discussões mais importantes em relação a reformas. "Mas isso é muito difícil, porque envolve, logicamente, a negociação política. Mas, no caso dele, é claro que a possibilidade nesse aspecto é um pouco maior em relação a outros nomes."
Bruno Martarello De Conti, professor do Instituto de Economia da Unicamp, aponta que Meirelles pode ser encarado como um nome mais técnico, como alguém que já foi do Banco Central e que vem também do mercado financeiro, originalmente, que sabe como funciona a máquina pública. "Eu acho que, no fundo, por trás dos critérios técnicos, sempre existe as questões políticas. Enfim, é difícil dizer se uma coisa é certa ou errada tecnicamente do ponto de vista da teoria econômica, sem saber que por trás também tem objetivos mais profundos de longo prazo, mas eu acho que numa leitura que os mercados fariam seria isso (de ser um nome mais técnico", reforça Conti.
Antonio Carlos Macedo, professor do Instituto de Economia da Unicamp, por sua vez, agrega que o ex-presidente do BC seria o candidato de quem acredita que a confiança é o maior problema, e que ela poderia ser restaurada por políticas e propostas para o mercado financeiro. Nesse sentido, "é mais ou menos evidente que o Meirelles seria o nome mais indicado". "O Meirelles fará uma política mais austera. Uma ideia de colocar a economia nos trilhos e, uma vez colocada a economia nos trilhos, por uma política de austeridade, você, em algum momento, retoma o crescimento."
Francisco Lopreato, professor do Instituto de Economia da Unicamp, analisa que, como é uma pessoa que vem do mercado financeiro, seus interesses poderiam ser "ligados umbilicalmente" com o mercado financeiro. "Se nós tomarmos como base a política que ele seguiu durante o período que ele foi presidente do Banco Central, é uma política bastante conservadora."
Lopreato também destaca que, durante o período em que esteve no BC, Meirelles implantou uma alta taxa de juros e que, inclusive na crise de 2009, subiu a taxa. "Quer dizer, subiu não, continuou subindo, porque ele já vinha subindo antes. (...) Eu acho uma visão bastante conservadora. Então acredito que ele, no Ministério da Fazenda, não mudaria o perfil conservador forte que ele mostrou no Banco Central."
De acordo com Lopreato, o cuidado com a política fiscal deveria ser tomado com ações paulatinas, sem um corte fiscal mais forte no começo do segundo governo Dilma, por exemplo. "Ele não vai mandar no Banco Central, mas, do ponto de vista da política fiscal, pode ter um controle bem maior da política fiscal com aumento do superávit. Por isso, faria tudo que estivesse ao alcance dele para ter uma articulação com o Banco Central de modo a fazer uma política mais conservadora."
Nelson Barbosa é apontado como o ministro que estaria mais alinhado com a presidente. Ph.D em Economia pela New School for Social Research (Nova Iorque, EUA), ele foi secretário executivo do Ministério da Fazenda, de 2011 a 2013, e exerceu diversos cargos na administração Federal, como de secretário de Acompanhamento Econômico (2007-08) e secretário de Política Econômica (2008-10), no Ministério da Fazenda. Foi também presidente do Conselho do Banco do Brasil (2009-13) e membro do Conselho de Administração da Vale (2011-13).
As experiências de Barbosa no governo incluem passagens pelo Banco Central do Brasil (1994-97), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2005-06) e Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (2003). Atualmente, é professor Titular da Escola de Economia de São Paulo (FGV-EESP), professor adjunto do Instituto de Economia (IE/UFRJ), pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV) e membro dos conselhos de administração da Cetip e do Banco Regional de Brasília (BRB).
Seu nome foi dado em alguns momentos como o favorito, principalmente levando em conta uma suposta resistência de Dilma ao nome de Meirelles, mas agora cogita-se também que, caso não seja indicado à presidência da Fazenda, pode assumir o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, no lugar de Miriam Belchior.
Na avaliação do economista Silvio Campos Neto, Barbosa não traria uma percepção ruim para os mercados e seria um nome recebido de uma forma um pouco mais neutra em relação a Meirelles. Não seria visto de forma negativa, principalmente levando em conta que em entrevistas recentes evidenciou que não concorda com uma série de caminhos que foram seguidos nos últimos anos, principalmente sobre uma "maquiagem de contas públicas" e em relação ao controle de preços administrados. "No caso dele, alguns ajustes importantes seriam esperados."
Antonio Carlos Macedo, professor da Unicamp, enxerga Barbosa como um excelente economista, com uma formação acadêmica impecável, mas que não é um "economista da torre de marfim", mas sim um economista que mostrou saber dialogar tanto com o Congresso quanto com os mercados. Seria um nome com capacidade, mesmo não sendo o nome preferido de todos, de gerar alguma simpatia, um nome capaz de ser aceito por fatias consideráveis da classe política, do mercado, dos economistas, de maneira geral.
"Todo mundo acha que o ano que vem vai ser um ano difícil, e possivelmente será realmente um ano difícil. O Nelson tem a seu favor a capacidade de operar num ano difícil, inclusive a capacidade de, se necessário, tomar decisões politicamente complicadas, mas sem perder de vista, eu acho que é isto que o caracteriza, uma preocupação de longo prazo com o crescimento e com a transformação estrutural da economia brasileira. Ou seja, eu tenho em relação ao Nelson uma certeza que eu não tenho em relação aos outros dois nomes, que é a certeza de que ele sabe o que quer o desenvolvimento de uma economia ainda periférica, uma economia de renda média, não paupérrima, mas de renda média, como a economia brasileira", explica Macedo.
Se necessário for, acredita Macedo, Barbosa teria todas as condições técnicas de implementar uma política com alguns tons de austeridade, mas sem perder de vista a preocupação com as reformas de longo prazo para o desenvolvimento da política brasileira. "Se o Nelson tiver de ministrar pílulas amargas, eu sei que elas serão temporárias, serão pensadas como parte de um processo no qual não vai demorar muito para que sejam revertidas, ao mesmo tempo outras políticas de mudança estrutural vão estar sendo pensadas, gestadas e implementadas."
Bruno De Conti também lembra que Nelson manteve diálogo com os mercados, principalmente no período mais recente, desde que deixou a Secretaria do Ministério, e que ainda tem objetivos de longo prazo mais alinhados com o projeto desenvolvimentista, que, bem ou mal, ainda caracteriza o governo Dilma.
"Se a Dilma foi reeleita é porque, de alguma forma, a população brasileira legitimou esse projeto desenvolvimentista de continuidade de distribuição de renda, de inclusão social. Então, nesse sentido, eu acho que o Nelson incorpora um pouco mais essa marca dos governos Lula e Dilma, de prosseguir nesse esforço pelo desenvolvimento, a respeito de estar tendo esse diálogo com os mercados."
Para Lopreato, a política econômica executada por Barbosa não seria igual a do Mantega, mas seria mais compatível com uma visão social desenvolvimentista, que seria a linha que o governo pretende seguir. Nelson teria uma preocupação com a política fiscal, mas não faria um corte fiscal draconiano para aumentar o superávit primário. Sua preocupação maior seria criar condições para que crescesse o investimento público e privado para retomar o avanço do PIB, negociando com o setor privado, e a retomada dos investimentos não só em infraestrutura como em outros setores, além da melhor definição de um projeto de investimentos em outras áreas, como em serviços públicos. "Com isso melhoraria as condições fiscais, sem abalar a questão da inflação", aponta Lopreato.