quinta-feira, 5 de maio de 2016

Anastasia pede em relatório que seja instaurado processo de impeachment Se plenário aprovar abertura do processo, Dilma é afastada por até 180 dias. Relator leu parecer na comissão do impeachment, que votará na sexta. Fernanda Calgaro e Gustavo Garcia Do G1, em Brasília

O relator da comissão especial do impeachment no Senado, Antonio Anastasia (PSDB-MG), leu nesta quarta-feira (4) o relatório que recomenda a abertura do processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff. Se na próxima semana o plenário concordar com o relator e aprovar o parecer, Dilma será afastada por até 180 dias e o vice-presidente Michel Temer assumirá.
Os integrantes da comissão debaterão o relatório nesta quinta (5) e votarão na sexta (6). Se a comissão aprovar, o parecer será submetido à votação pelo plenário, provavelmente na próxima quarta-feira (11). Caso o plenário aprove, durante o afastamento temporário de Dilma os senadores decidirão se a presidente deve ser afastada em definitivo.
"Em face do exposto, a denúncia apresenta os requisitos formais exigidos pela legislação de vigência, especialmente pela Constituição Federal, para o seu recebimento. O voto é pela admissibilidade da denúncia, com a consequente instauração do processo de impeachment, a abertura de prazo para a denunciada responder à acusação e o início da fase instrutória, em atendimento ao disposto no art. 49 da Lei no 1.079, de 1950", diz o relatório de Anastasia.
O senador iniciou às 15h20 a leitura do relatório para os membros da comissão especial do impeachment e terminou às 18h30.
Principais pontos do relatório
- A denúncia contra Dilma está de acordo com a Constituição e deve ser aceita.
- O processo não é golpe, porque seguiu as leis e teve direito a ampla defesa.
- Existe previsão legal para o impeachment, para evitar um "poder absoluto do governante".
- Há indícios de materialidade e autoria das "pedaladas fiscais" de decretos de abertura de créditos suplementares.
- É possível, sim, julgar contas que ainda não foram avaliadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
- Não houve "vício" na abertura do processo na Câmara, que foi motivada, principalmente, por questões técnicas.
- Não houve irregularidades na votação na Câmara.
- Não há irregularidade na eleição de Anastasia para relatoria da comissão especial do Senado.
Críticas à defesa de Dilma
Em um documento de 126 páginas, Anastasia rebate as críticas da base governista de que o processo representa um "golpe". Ele argumenta que não são cabíveis essas "insistentes e irresponsáveis alegações" (veja o vídeo acima).
A alegação de que o presente impeachment é um golpe é absolutamente descabida"
Antonio Anastasia, relator
"A alegação de que o presente impeachment é um golpe é absolutamente descabida e desprovida de amparo fático e legal. Pelo contrário, o impeachment é justamente um mecanismo constitucional que previne rupturas institucionais, repito", afirma Anastasia.
"Nunca se viu golpe com direito a ampla defesa, contraditório, com reuniões às claras, transmitidas ao vivo, com direito à fala por membros de todos os matizes políticos, e com procedimento ditado pela Constituição e pelo STF [Supremo Tribunal Federal]", justifica.
Ele afirma que a estratégia da defesa é a de tentar "deslegitimar a própria figura do impeachment", acrescentando que há previsão legal para isso no sistema presidencialista.
"A demissão do presidente irresponsável, por meio do processo de impedimento, é justamente uma forma de se responsabilizar o chefe de estado e de governo, que já goza, no presidencialismo, de posição muito mais estável e confortável que no parlamentarismo", diz.
Presidencialismo sem possibilidade de impeachment é monarquia absoluta, é ditadura"
Antonio Anastasia
Anastasia sustenta ainda que o processo é bastante rígido, tanto é que se exige quórum elevado para conseguir afastar o presidente.
O relator pondera que o Executivo é mais forte no presidencialismo e que a previsão do impeachment existe para evitar um "poder absoluto do governante".
"Presidencialismo sem possibilidade de impeachment é monarquia absoluta, é ditadura, por isso que o mecanismo foi previsto em todas as nossas Constituições, e inclusive já utilizado sem traumas institucionais", afirma.
“Pedaladas”
No relatório, Anastasia afirma que atos que “atentem” contra a lei orçamentária, como as “pedaladas fiscais” relativas ao Plano Safra, são crime de responsabilidade do presidente da República e que isso está previsto em todas as Constituições do Brasil, à exceção da Carta outorgada em 1937.
Anastasia diz ainda que a política econômica do governo foi alvo de questionamentos do Tribunal de Contas da União (TCU) em 2014, mas o governo continuou a praticar os atos questionados durante o ano de 2015.
Durante depoimento à comissão especial, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, disse que as “pedaladas fiscais” não feriram a Lei de Responsabilidade Fiscal porque não configuraram tomada de empréstimo, por parte da União, de bancos públicos que controla. A defesa do governo argumenta que as “pedaladas” têm origem em contrato de prestação de serviços e funcionariam como um atraso de aluguel, mas não um empréstimo.
No entanto, para o relator, as manobras representaram “financiamento da União” junto a um banco público.
“O que se tem, originariamente, é uma relação legal entre a União e o Banco do Brasil que em nada deveria se assemelhar a uma operação de crédito, mas que, especialmente a partir de 2013, parece ter sido utilizada como instrumento de financiamento da União, em confronto com vedação expressa da LRF”, afirmou o relator.
'Vício de abertura'
Para o relator, não houve “vício de abertura” do processo pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A defesa da presidente Dilma Rousseff afirmou que Cunha autorizou a abertura do processo de impeachment por “vingança política”, porque o PT se rejeitou a votar em favor do peemedebista no Conselho de Ética da Câmara.
Anastasia argumentou que o ato de Cunha não foi “objeto de recurso” ao plenário da Câmara dos Deputados e que a aprovação, por 367 deputados, do envio do processo ao Senado convalidou a abertura do processo.
O relator afirmou ainda que o governo se valeu da decisão de Cunha de delimitar o objeto da denúncia aos decretos e às “pedaladas fiscais”, mas questiona a sua decisão de abrir o processo, o que acontece “contraditoriamente”.
Para Anastasia, a posição da Advocacia-Geral da União de chamar de “retaliação” a atitude de Cunha é um “discurso estratégico” e a defesa tenta “forçar, a todo custo, a nulidade do processo”.
Democracia
Na avaliação do relator, a denúncia é plausível porque aponta para a “irresponsabilidade” na forma como foi executada a política fiscal. Ele ressalta que não se trata apenas de “um problema de governo, mas de estado, pois tem potencial para afetar as futuras gerações”.
Anastasia diz que o impeachment deve ser encarado como “uma das maiores expressões da democracia” porque é a maneira de o cidadão cobrar explicações do governante. E cita ainda o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Paulo Brossard, que entendia que a eleição “não esgota a realidade democrática” e que as autoridades devem responder pelo uso que fizeram do voto, “uma vez que governo irresponsável, embora originário de eleição popular, pode ser tudo, menos governo democrático”.
Sessão desta quarta
Logo no início, a sessão teve bate-boca e troca de farpas entre governistas e oposição. A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) questionou a ausência do relator durante parte da reunião de terça (3), quando foram ouvidos especialistas contrários à abertura do impeachment.
O líder do PSDB, Cássio Cunha Lima (PB), reagiu e começou dizendo que se tratava de uma atitude “desleal e oportunista”.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) argumentou que Anastasia cometeu, enquanto governador de Minas Gerais, os mesmos crimes pelos quais a presidente Dilma é acusada.E Ele disse que era um “cinismo” da oposição manter o relator. A palavra irritou oposicionistas.
Protesto
Enquanto Anastasia lia o parecer favorável à abertura do processo de impeachment pelo Senado, cerca de 30 manifestantes gritaram palavras de ordem a favor da presidente Dilma e contra Temer, Cunha e outros parlamentares da oposição (veja no vídeo acima).
O grupo ligado ao Conselho Nacional de Juventude foi apoiado por parlamentares da base governistas, como Lindbergh Farias (PT-RJ) e Fátima Bezerra (PT-RN). Os jovens chegaram a discutir com um deputado do PSDB, mas não houve agressões físicas. O ato durou poucos minutos e, depois de gritarem as palavras de ordem, os manifestantes foram retirados por seguranças do Senado.
Próximos passos
De acordo com o cronograma estabelecido pelo presidente do colegiado, Raimundo Lira (PMDB-PB), a discussão sobre o relatório está prevista para a sessão desta quinta-feira (5), quando também deve falar o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, em defesa de Dilma Rousseff. A votação do parecer pela comissão está programada para a próxima sexta-feira (6).
Depois de passar pelo colegiado, o relatório ainda será votado pelo plenário do Senado. Caso o relatório recomende o afastamento de Dilma e seja aprovado pela maioria simples dos senadores (pelo menos 41 votos dos 81 senadores), a presidente será afastada do mandato por 180 dias e o vice Michel Temer assumirá a presidência.
A votação do parecer em plenário está prevista para o próximo dia 11. Isso porque, depois da aprovação na comissão, o parecer terá de ser lido na sessão de segunda-feira (9) do Senado, quando começará a contar o prazo de 48 horas para ser apreciado pelos senadores.

Morador relembra distrito de Mariana mais de 10 anos antes da lama Maior desastre ambiental do país, rompimento de barragem faz 6 meses. Na memória de quem teve que abandonar casa, lembrança continua viva. Raquel Freitas Do G1 MG, em Mariana

Um álbum de fotos reveladas em 6 de maio de 2004 guarda registros de um Bento Rodrigues bem diferente do que existe nesta quinta-feira (5), dia que o rompimento da barragem de Fundão, emMariana, completa seis meses. Bento Rodrigues foi o distrito mais atingido pela lama naquele 5 de novembro de 2015. O 'tsunami' de terra, rejeitos de minérios e água devastou quase a totalidade da comunidade.
(O G1 publica, durante esta quinta-feira (5), três reportagens sobre passado, presente e futuro de Mariana e do distrito de Bento Rodrigues nos seis meses da tragédia do rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco. O distrito foi a localidade mais afetada pela lama. A reportagem sobre o presente será publicada às 11h e a sobre o futuro, às 15h).
Francisco de Paula Felipe mostra foto do campo de futebol de Bento Rodrigues, tirada há mais de dez anos; hoje, área está debaixo de lama (Foto: Raquel Freitas/G1)Francisco de Paula Felipe mostra álbum de fotos
(Foto: Raquel Freitas/G1)
Francisco de Paula Felipe, operador de motosserra, de 47 anos, e morador por mais de 30 anos de Bento Rodrigues, revê com nostalgia o álbum, uma das poucas lembranças que ele conseguiu manter após a tragédia. Entre as fotografias, estão registros do campo de futebol, um dos primeiros lugares a ser varrido pela lama. “Essas fotos são lembrança, um pedacinho da minha infância. Hoje, isso aqui é uma saudade que ficou e isso pode ficar de lembrança para futuras gerações minhas. Isso vai ser uma saudade que nada vai apagar. Enquanto eu viver, eu vou viver essa saudade e essa lembrança”, disse.
O rompimento da barragem de Fundão, que pertence à mineradora Samarco, cujas donas são aVale e a BHP Billiton, afetou outras localidades de Mariana, além do leito do Rio Doce. Os rejeitos também atingiram mais de 40 cidades de Minas Gerais e no Espírito Santo e chegou ao mar. Dezenove pessoas morreram. Um corpo ainda está desaparecido. O desastre ambiental é considerado o maior e sem precedentes no Brasil.
Francisco contou que estava assistindo à novela pouco antes do rompimento de Fundão. Ele diz que a primeira lembrança que sempre vem à cabeça quando pensa no dia da tragédia é o aperto no peito que sentiu quando a sogra, Maria das Graças, chamou a mulher dele, Marli, para acompanhá-la até em casa. “Acho que foi um sinal de Deus, deve ser”, afirmou. Naquela tarde, Marli recusou o convite da mãe, e ficou em casa. Maria das Graças Celestino Silva é uma das vítimas da tragédia.
Diferentemente da idosa, ele morava na parte mais alta de Bento Rodrigues, área em que as construções ficaram intactas. Como a lama não chegou até a casa de Francisco, ele conseguiu preservar recordações de Bento Rodrigues, além da memória. Uma delas é um sofá, o único móvel que não teve que vender ou doar por causa das três mudanças: primeiro para um hotel, depois para um apartamento, onde a família não se adaptou, e, por último, uma casa de três quartos e sala grande.
Seis meses não foi tempo suficiente para deixar a memória de Francisco e de outros moradores de Bento Rodrigues menos viva em relação àquele 5 de novembro.
Sônia Xisto dos Santos de Souza, de 37 anos, é uma das integrantes da Associação de Hortigranjeiros de Bento Rodrigues, responsável pela produção de pimenta biquinho, produto de destaque na comunidade. Ela se lembra com detalhes do seu último dia em Bento Rodrigues.
“Dava 16h, meu menino ia tomar banho porque ele estudava em Santa Rita [distrito de Mariana]. Nesse dia, ele foi tomar banho, eu estava no meu quarto vendo novela e meu sobrinho estava no quarto do meu filho vendo desenho. E eu estava escutando aquela zoeira, mas eu achei que fosse o cano. Daí a pouco, ouvi uma ‘gritaiada’, mas continuei quieta”, relembrou.
Sônia somente percebeu o que estava acontecendo ao ouvir outra colega da associação gritar que a barragem havia se rompido. “Quando eu saí na porta da cozinha e a gente já ia embora, a lama já estava entrando na garagem da minha casa. Aí já não deu tempo”, disse. Ela chegou a ser arrastada pela enxurrada de lama.
Mesmo meio ano após o rompimento da barragem, ela não mais voltou a Bento Rodrigues, local de onde nunca queria ter saído. “Eu queria voltar para morar, mas não tem jeito mais. Se tivesse jeito de construir as casas de novo para voltar para lá, eu queria. Se não tivesse risco, eu queria, mas já que não tem...”.
Mesmo não tendo sido destruídos pela lama, imóveis da parte alta de Bento Rodrigues sofrem sucessivos danos causados por saques; em sede de associação, nem telhado foi poupado (Foto: Raquel Freitas/G1)Mesmo não tendo sido destruídos pela lama, imóveis da parte alta de Bento Rodrigues sofrem sucessivos danos causados por saques; em sede de associação, nem telhado foi poupado (Foto: Raquel Freitas/G1)
O que sobrou
Além de ruínas e entulhos das casas totalmente encobertas pela lama, Bento Rodrigues tem ainda algums imóveis na parte mais alta que não ficaram no caminho do "tsunami". Mas essas construções têm sofrido outro problema: saques constantes desde o último novembro.
Uma das casas que haviam ficado intactas é a de Francisco. Apesar disso, atualmente, ele não está preservado. A pia e o encanamento foram furtados. Até a cerca da varanda, estrutura que o operador de motoserra pretendia reutilizar da casa que deve ser construída no novo Bento Rodrigues, foi levada.
Plantação de pimenta biquinho em Bento Rodrigues foi devastada pelo mar de lama; estoque é suficiente para mais quatro meses de produção de geleia (Foto: Raquel Freitas/G1)Estoque de pimenta-biquinho de Bento Rodrigues
(Foto: Raquel Freitas/G1)
Da mesma forma, a sede da Associação de Hortigranjeiros de Bento Rodrigues não foi poupada. A construção, que serviu de abrigo para o Corpo de Bombeiros durante a busca por desaparecidos, hoje está exposta à chuva e ao sol. A presidente da associação, Keila Vardeli Fialho dos Santos, conta que, entre os itens furtados, está todo o telhado do imóvel.
Antes do início da ação dos ladrões, entretanto, as integrantes da associação conseguiram buscar equipamentos, potes de vidro e o estoque de pimenta biquinho, usados na fabricação da geleia que ganhou ainda mais fama depois da tragédia. Elas dizem que, mesmo com fornecimento de energia cortado, o fato de sempre dizerem que o local era vigiado por câmeras deve ter inibido, ao menos por alguns dias, os furtos.
A sede da associação foi transferida temporariamente para o bairro Colina, em Mariana. A cada cerca de 15 dias, as sete mulheres que integram a associação se reúnem para produzir a geleia. O estoque da principal matéria-prima, que era cultivada por elas em um terreno que agora está debaixo de lama em Bento Rodrigues, ainda é suficiente para quatro meses, de acordo com Keila. Depois disso, a pimenta biquinho terá que ser comprada de outros produtores porque, segundo as mulheres, o cultivo é inviável enquanto elas viverem espalhadas, cada uma em uma parte de Mariana.
Geralda Alves, Sônia Souza, Keila Santos, Neuza Santos e Rosângela Sobreira integram associação que, mesmo com desastre ambiental, não parou de produzir a geleia de pimenta biquinho (Foto: Raquel Freitas/G1)Geralda Alves, Sônia Souza, Keila Santos, Neuza Santos e Rosângela Sobreira integram associação que, mesmo com desastre ambiental, não parou de produzir a geleia de pimenta biquinho (Foto: Raquel Freitas/G1)

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Uma Justiça que pune 200 milhões de brasileiros com o intuito de fazer justiça então não é justa, mas bastarda