domingo, 3 de abril de 2016

A ética dá dinheiro. REVISTA EXAME

Clayton Netz, de EXAME

A direção de uma empresa deve se preocupar apenas com os interesses de seus acionistas. Afinal de contas, são eles que assumem o risco do negócio, colocando seu dinheiro em jogo. O resto - comunidade, fornecedores, clientes, empregados - é o resto. O mesmo vale para questões como o trabalho infantil, a Aids, o apoio às minorias e a preservação do meio ambiente: devem ser preocupação do governo. Experimente pronunciar frases como essas na frente deste senhor de óculos. Ele atende pelo nome de Robert Haas e é o presidente mundial da Levi Strauss, o maior fabricante de jeans do mundo. Polido, no máximo deixará de sorrir para você, fechando um pouco o semblante. Mas prepare-se: com a paciência de um pregador, Haas tentará convencê-lo exatamente do contrário. Apóstolo do chamado capitalismo de stakeholders, que presta conta a todos os públicos envolvidos com a empresa, fará também uma profissão de fé nas virtudes da postura ética como estratégia de negócios. "Não somos poéticos, somos extremamente práticos", diz Haas. "A longo prazo, um comportamento ético acaba se refletindo nos resultados da empresa." Um dos ícones no mundo da moda, a Levi s transformou-se num laboratório bem-sucedido das idéias de Haas, na última década. Fundada há 147 anos por seu tetratio, Levi Strauss, um comerciante alemão que imigrara para a Califórnia durante a corrida do ouro, a Levi s vivia momentos difíceis quando Haas assumiu o comando, em 1984. Suas receitas estavam estagnadas, a lucratividade era pífia, a participação de mercado diminuía e a motivação do pessoal se arrastava ao nível do rodapé. Uma estratégia de diversificação malsucedida, que fez a empresa entrar em negócios como a produção de chapéus, capas de chuva, ternos masculinos e até agasalhos para esqui, a levou a perder o foco, na avaliação de Haas. Ele debitou parte dessas mazelas à abertura de capital, feita em 1971, por seus antecessores no cargo. A ditadura de Wall Street, segundo Haas, traduzida na pressão por lucros da parte dos investidores, havia induzido Levi Strauss a aventurar-se por praias que não eram as suas. Não por acaso, uma de suas primeiras iniciativas foi fechar novamente o capital da empresa, recomprando um terço das ações por 1,7 bilhão de dólares, em 1985. "Nosso negócio não é vender apenas uma vez ao cliente, é tornar nosso jeans o seu jeans favorito", diz Haas. "Para isso, você deve investir em pessoal, em propaganda, em qualidade. E essas coisas costumam ser difíceis quando sua empresa é aberta, porque os investidores querem ver a valorização de suas ações a cada quadrimestre." De sua cadeira no Q.G. da Levi s, em São Francisco, Haas, hoje com 55 anos de idade, deu início ao maior turnaround da história da empresa. Um quarto das 26 fábricas americanas foi vendido ou desativado. Cerca de 15 000 funcionários dispensados. O foco dos negócios ficou assestado na produção de jeans (à frente o venerável 501), camisetas e casual pants, com as marcas Dockers e Slates. De uma empresa orientada para o produto, a Levi s voltou-se para o marketing, dirigido especialmente ao público jovem, entre 15 e 19 anos. Bem, esse tipo de mudança qualquer executivo de bom nível, com um MBA em Harvard, como Haas, faria. Mas talvez fosse preciso ser um ex-ativista pelos direitos civis dos anos 60, voluntário do Peace Corps na Costa do Marfim e ter casado com uma advogada dos Panteras Negras para valorizar, como ele, o componente ético na reorganização da Levi s. E, sobretudo, para implementá-lo. Codificados numa declaração de princípios, esses preceitos, no papel, pouco diferem dos existentes em outras companhias. Falam do respeito às minorias, no apoio às causas comunitárias, na preservação ecológica, no empowerment dos empregados. "Mas poucos como nós levam essas questões até as últimas conseqüências", diz Haas. Pode parecer uma demonstração de soberba explícita, mas o fato é que Haas não deixa de ter certa razão. A Levi s mantém permanentemente um corpo de 50 funcionários encarregados de divulgar e zelar pelo cumprimento dessas regras. Sua oposição ao trabalho infantil faz com que chegue ao extremo de descredenciar fornecedores. "Não fazemos negócios com gente que não observa esses padrões", diz Haas. Em alguns casos, a Levi s paga os salários dessas crianças (desde que freqüentem uma escola regularmente) até que atinjam a idade legal para trabalhar. Uma das causas mais caras a Haas é o combate à Aids. A Fundação Levi Strauss, bancada com 2,5% do lucro bruto anual da empresa, foi a responsável, por exemplo, pela vinda do ex-astro de basquete Magic Johnson ao Brasil para uma série de palestras sobre a doença. A fidelidade aos princípios é um quesito importante na avaliação dos executivos da Levi s, feita no sistema de 360 graus (inclusive os subordinados participam). Dos quatro principais itens analisados, um envolve as questões éticas. Uma nota baixa pode comprometer o recebimento do bônus, que representa até dois terços da remuneração anual. Poesia pura? Pois olhe para os números da Levi s, sob Haas. Desde que ele assumiu a direção, o faturamento triplicou para os 7,1 bilhões de dólares do ano passado. O lucro de 735 milhões é 18 vezes maior do que o de 1984. O valor de mercado da empresa multiplicou-se por 14, chegando aos 10 bilhões de dólares (o da Coca-Cola cresceu 15 vezes, no mesmo período). "Temos uma grande história, uma boa marca, um excelente produto", diz Haas. "Mas sem o nosso pessoal, e seu comprometimento com nossas crenças, não teríamos obtido sucesso."

Por que o caso de Celso Daniel chega à Lava Jato 14 anos após a sua morte

Empresário preso saberia da ligação do PT com esquema de propina e da morte do prefeito

Tese é contestada por quem acompanhou o caso


São Paulo 

Caso Celso Daniel chega à Lava Jato
O ex-prefeito Celso Daniel, assassinado em 2002.  Folhapress


Caso Celso Daniel chega à Lava Jato
O ex-prefeito Celso Daniel, assassinado em 2002. P. Santos Folhapress
A última fase da Operação Lava Jato, desencadeada nesta sexta-feira, trouxe à tona um dos casos policiais mais discutidos e investigados nos últimos anos, reavivado mais uma vez, num momento de forte pulsação política. O prefeito de Santo André, Celso Daniel, foi assassinado em janeiro de 2002, quando começava a coordenar a campanha presidencial do então candidato Lula da Silva. Santo André compõe a região do ABC, junto com os municípios vizinhos de São Bernardo e São Caetano, famosa pelas indústrias automobilísticas ali instaladas desde os anos 70.

MAIS INFORMAÇÕES
Lava Jato prende empresário ligado a prefeito do PT assassinado
Caso Lula fica no STF e Zavascki diz que áudio de Dilma é ilegal
Moro pede desculpa por “polêmica” de áudios de Lula e isenta Dilma
Com Odebrecht, Lava Jato pode abalar toda cúpula política do país
Passados 14 anos, as circunstâncias da morte de Celso Daniel voltam à baila por meio da Lava Jato, que enxerga no episódio um potencial esqueleto no armário do PT. O então prefeito foi morto depois de ser sequestrado, torturado e morto. Foi arrancado por seus algozes de um carro dirigido pelo seu segurança, Sergio Soares da Silva, o Sombra.

Em julho daquele ano, a Polícia Civil de São Paulo encontrou os assassinos de Daniel, uma quadrilha comandada por Ivan Rodrigues da Silva, conhecido como Monstro, que atuava na favela Pantanal, na divida de Diadema, cidade vizinha de Santo André. A publicidade do caso o fez correr de maneira célere, a pedido do então presidente Fernando Henrique Cardoso, que em 2002 vivia seu último ano de mandato. Monstro já era conhecido da Divisão Anti-Sequestro da polícia, por outros crimes similares cometidos nos anos anteriores. O sequestro seguido de morte de Daniel seguia o mesmo padrão – escolher vítimas que estivessem em carros de luxo, em sequestros curtos, para exigir dinheiro e liberá-los. Mas alguns casos haviam terminado em morte sem motivo aparente. Era o caso do prefeito. A polícia concluiu que se tratava de um crime comum praticado pelo bando de Monstro.

O assunto, porém, teve diversas idas e voltas na Justiça pelos elementos reunidos nessa trama. Além de ser ligado ao PT, Celso Daniel, que foi prefeito de Santo André três vezes, tinha Sombra como homem de confiança, e era próximo do empresário Ronan Maria Pinto – preso nesta sexta pela Lava Jato – que estaria ligado a um esquema de extorsão em empresas de ônibus da região. Um esquema do qual Daniel tinha conhecimento, ao que tudo indica. Essa tese implicaria o PT, pois o partido se beneficiaria dos recursos desviados.

Catorze anos depois, Ronan Pinto, empresário do setor de ônibus e dono do jornal Diário do Grande ABC, foi preso nesta sexta por uma suspeita levantada pelo time do juiz Sergio Moro, que traz de volta esse crime. O empresário é suspeito de ter recebido 6 milhões de reais, em 2004, por intermédio do pecuarista João Carlos Bumlai, amigo de Lula, a pedido do PT. A tese da força tarefa da Lava Jato é que o dinheiro pode ser fruto de propina paga pelo partido para que ele não revelasse detalhes da morte de Daniel, que implicariam o PT.

A tese do crime político

A tese de que o assassinato de Daniel podia se tratar de uma “queima de arquivo” foi levantada no mesmo ano da sua morte por um irmão de Celso, João Francisco, para quem o caso podia se tratar de uma tentativa de eliminar o prefeito por conhecer os casos de corrupção entre empresas de ônibus de Santo André. Uma das suspeitas era que seu segurança Sombra, próximo ao empresário Ronan Pinto, e ao secretário de Transportes de Santo André, Klinger de Oliveira Souza, estaria desviando dinheiro das empresas do setor para benefício próprio. Os irmãos de Daniel começaram a reclamar que o PT fazia pouco para chegar a conclusões definitivas. Some-se, ainda, a informação de que o corpo de Daniel, encontrado dois dias depois do desaparecimento, tinha marcas de tortura, o que não poderia configurar um crime comum, mas alguém que sofria agressões para que ele, em tese, revelasse alguma informação.

O Ministério Público decidiu reabrir o caso ainda em 2002, no mês de agosto, a pedido dos familiares do prefeito. Eles alegavam, inclusive, que havia evidências de que o então deputado José Dirceu, e que Gilberto Carvalho, então secretário de governo de Santo André, se beneficiavam do esquema de propina de Santo André. Dirceu e Carvalho viriam a ser ministros de Lula e Dilma, respectivamente. Essa linha de investigação foi apresentada pelo irmão de Daniel, João Francisco, que teria ouvido um desabafo de Carvalho no dia do velório do prefeito, contando que ele teria levado recursos do esquema de propina a Dirceu.

O então ministro da Justiça de FHC, Nelson Jobim, não levou o processo adiante, por considerá-lo inconsistente. No estado democrático de direito não cabe denuncismo, disse Jobim à época. "A prova com a qual o Ministério Público Federal quer desencadear um inquérito policial contra o senhor [então] deputado José Dirceu não tem fundamento legal", afirmou Jobim.  Quatro anos depois, João Francisco viria a se retratar com Dirceu.

O assunto foi esquecido até 2005, quando o Ministério Público de Santo André decidiu reabrir o caso novamente, para entender que ele merecia uma nova investigação para verificar se não houve falhas na primeira operação e entender o papel de Dirceu e Carvalho. A apuração do caso, conduzida pela delegada Elisabeth Sato, levou um ano, e ouviu os sete sequestradores presos pelo crime. Todos negaram que tivessem mandantes. Em 2006, a inquérito da delegada chegava à mesma conclusão que o que havia sido feito em 2002: tratava-se de crime comum.

Em 2012, o caso foi reaberto pelo Ministério Público de São Paulo uma vez mais. Agora, seguindo a tese de que o assassinato do prefeito teria sido planejado por Sombra, que na verdade seria o chefe da quadrilha da favela do Pantanal. Para o MP, Daniel aceitava que houvesse propina desviada das empresas de ônibus para abastecer o caixa do partido, dinheiro este que abastecia também o caixa de outras legendas, conforme reportagem da revista Carta Capital.

Segundo o MP, porém, Sombra, junto com Pinto e e o ex-secretário dos transportes de Santo André, Klinger de Oliveira Sousa nos tempos de Celso Daniel, estariam utilizando recursos para enriquecimento próprio, o que teria contrariado o prefeito, que teria entrado em choque com o trio. Por isso, ele teria sido assassinado.

É essa ligação entre a propina de empresas de ônibus e a morte de Celso Daniel que fez o juiz Sérgio Moro insistir no pedido de prisão de Ronan Pinto nesta sexta. Pinto foi preso porque teria recebido um empréstimo fraudulento em 2004 de 6 milhões de reais por intermédio do pecuarista José Carlos Bumlai. Seria um malabarismo financeiro que tirou recursos do Banco Schahin, passou pela empresa do pecuarista,  para chegar a empresas indicadas por Pinto que recebeu o dinheiro.

A força tarefa da Lava Jato desconfia que esse recurso recebido era fruto de chantagem de Pinto sobre o PT para não revelar o que sabia sobre a morte do prefeito. Ronan Pinto, por essa versão, poderia ligar o crime a um esquema de caixa dois no partido. Em seu despacho que justificou a detenção do empresário, Moro escreveu que  “é ainda possível que este esquema criminoso tenha alguma relação com o homicídio, em janeiro de 2002, do então prefeito de Santo André, Celso Daniel, o que é ainda mais grave”.

A chantagem, segundo Marcos Valério e Delcídio do Amaral

O primeiro a levantar a hipótese de que o empresário Ronan Maria Pinto teria chantegeado membros do PT, incluindo o ex-presidente, foi o publicitário Marcos Valério, preso em 2013, e condenado há mais de 30 anos por sua participação no mensalão. Valério afirmou, em depoimento prestado em 2012, que Ronan Pinto havia ameaçado Lula, seu ex-secretário da Presidência, Gilberto Carvalho, e o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, por isso teria recebido os 6 milhões de reais do PT, através de Bumlai. O pecuarista teria conseguido um empréstimo de 12 milhões, metade para pagar contas do partido, e a outra teria sido destinada a Ronan Pinto a título de chantagem.

Valério não é considerado um delator dos mais confiáveis, uma vez que ele já foi acusado de "mentir e alterar suas versões”, segundo disse o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa na época do julgamento do mensalão. Além disso, ele já foi acusado por integrantes do Governo petista de tentar prejudicar a legenda como vingança pela longa pena a que foi condenado no mensalão. O próprio juiz Sergio Moro faz essa ressalva. Embora a fala de Valério “deva ser vista com muitas reservas, o fato é que metade do valor do empréstimo foi, pela prova colhida, inclusive documental, destinada a Ronan".

A tese foi reforçada por outro delator famoso: o ex-líder do Governo no Senado Delcídio do Amaral (Sem partido-MS), que colabora com a Justiça no caso de corrupção da Petrobras, também afirmou que os 6 milhões de reais que o pecuarista Bumlai entregou a Ronan Pinto “foram destinados ao pagamento de chantagens efetuadas por empresário de nome Ronan contra a cúpula do PT, a partir do município de Santo André”.

Apesar dessa declaração, integrantes da força-tarefa da Lava Jato afirmaram que ainda não há nada conclusivo que possa ligar o pagamento feito a Pinto com eventuais chantagens feitas contra quadros do PT relacionados à morte de Daniel. Mas por outro lado, de acordo com o procurador Diogo Castor de Mattos, “nada justifica esses repasses”, e esta seria uma das linhas de investigação do caso.

Contestações

Dirceu, que foi preso no mensalão, Carvalho, e o PT sempre negaram com veemência essa versão, vista como uma tentativa de criminalizar o partido. “ Nunca houve empréstimo do banco Schahin para o PT. Aqui há uma inversão do ônus da prova, quem acusa tem que provar”, diz o presidente do PT, Rui Falcão.“ Eles dizem que PT diz empréstimo, e eu digo que não. Onde está o empréstimo? Cadê a assinatura do PT?  Quem acusa tem que provar. O ônus da prova é de quem acusa”, completa.

Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, no ano passado, José Carlos Bumlai também negou a existência dessa operação financeira. Mas, em delação premiada tornada pública em novembro do ano passado, um dos donos do banco Schahin, Salin Schahin, confirmou tal empréstimo, que teria beneficiado o PT. Salin contou que recebeu a visita de Bumlai e do ex-tesoureiro Delúbio Soares numa das reuniões em que foi solicitado o empréstimo. Soares, inclusive, foi levado a depor, nesta sexta, por condução coercitiva. O dono do banco Schahin foi arrolado no esquema de corrupção da Petrobras pelo gerente da petroleira, Edson Musa, um dos primeiros a ser preso na Lava Jato.

Crime político X Crime comum

A ideia do crime político no caso da morte de Celso Daniel ganhou uma narrativa que teria capacidade de aniquilar presente e passado do PT, caso o partido estivesse envolvido. Mas, a dúvida é de que forma o PT estaria diretamente envolvido na morte de Celso Daniel, visto com uma promessa de liderança de projeção nacional dentro da legenda naquela época, e que estava cotado, inclusive, para ser ministro da Fazenda caso Lula fosse eleito. Celso Daniel havia se licenciado da prefeitura de Santo André, para a qual havia sido reeleito no primeiro turno, e era um quadro muito importante para o partido.

A tese do crime comum é sustentada por vários delegados que acompanharam a investigação, como foi o caso de Marcos Carneiro Lima, que trabalhava na Divisão Anti-Sequestro no ano 2000, onde atuou por sete anos. Ali, acompanhou mais de uma centena de casos, e conheceu todos os macetes das quadrilhas e seus principais líderes. Inclusive Monstro, o líder do sequestro de Daniel. “Ele havia comandado um sequestro poucos dias antes de uma travesti com as mesmas características”, conta Lima, que assegura não haver ligação entre Ronan Pinto e Monstro. “É uma leitura que está sendo conveniente neste momento”, afirma ele, que aponta um viés político que foi dado a um assunto que já foi amplamente investigado. “A quem interessa?”, diz ele. Cinco inquéritos chegaram a ser abertos sobre o caso, e todos chegavam à mesma conclusão.

Mas a corrupção em Santo André tem testemunhas

A história da corrupção nas empresas de ônibus em Santo André é antiga e tem sido amplificada por uma personagem que foi vítima de achaques de Ronan Pinto. A deputada federal Mara Gabrilli (PSDB-SP) conhece bem o assunto. Filha de um ex-empresário do ramo dos transportes na cidade, ela repetiu a história da sua família, durante sessão da CPI da Petrobras no ano passado. “Na época do governo de Celso Daniel, foi criada uma quadrilha que extorquia empresários. Era formada por Ronan Pinto, Klinger Maria Souza e Sergio Sombra”, afirmou ela, que lembrou visitas intimidadoras de Ronan Pinto ao seu pai, sempre com uma arma que depositava na mesa para iniciar uma conversa que derivava para pedido de propina.

Gabrilli também reforçou a suspeitas sobre o caso de Celso Daniel, ao solicitar a Bumlai que ajudasse a esclarecer a sua morte, insinuando que Ronan Pinto tem um papel central nesse sentido. Segundo a deputada, o que ocorreu na cidade foi um “pequeno laboratório do que culminou no mensalão e posteriormente no petrolão”. Na mesma época, a juíza Maria Lucinda da Costa, que condenou em novembro de 2015 o então empresário Sergio Gomes da Silva, o Sombra, a 15 anos de prisão por participação no esquema de corrupção em Santo André, concorda com a parlamentar: “o esquema de corrupção [em Santo André] era tão estruturado que se ramificou e atingiu a administração federal”.

As dúvidas que persistem

Há, porém, uma série de dúvidas e circunstâncias sobre o caso Celso Daniel que aumentam o mistério sobre o assunto. O fato de que ao menos quatro testemunhas do caso – incluindo o legista que identificou sinais de tortura no corpo do petista, além de um garçom que teria visto Ronan Pinto, Celso Daniel, o secretário Klinger e Somba dividindo sacos de dinheiro num restaurante – morreram desde 2002, fermentam as teses políticas.

Há, ainda, as dúvidas de por que a ligação política foi feita dez anos depois do crime, quando várias investigações haviam dado o caso como encerrado.

 E ainda, os questionamentos dos familiares de Daniel, que exigem rever as novas informações. Bruno Daniel, irmão do prefeito morto, afirmou em entrevista à rádio Estadão nesta sexta que as novidades do caso precisam ser investigadas. “É necessário esclarecer por que a direção do PT remeteu 6 milhões de reais a Ronan, mediante suposta chantagem. Qual é o teor dessa chantagem?”, indagou. A opinião da família é que o empresário conhecido como Sombra não teria arquitetado a morte de Daniel sozinho. De acordo com Bruno, com raras exceções, o PT agiu para desestimular qualquer investigação do assassinato que não o relacionasse a crime comum.

Bruno cita uma conversa que ele teve com Gilberto Carvalho durante a missa de sétimo dia do irmão, no qual Carvalho lhe disse que havia um esquema de arrecadação ilegal para a campanha de Lula aquele ano. “A impressão que tive é que ele disse isso com a intenção de nos desestimular a continuar com as investigações, como se, caso isso viesse à tona, fosse macular a memória do Celso”, afirmou Bruno. “Sendo que, caso tenha havido algum esquema espúrio de arrecadação, isso teria que ser apurado”. Carvalho sempre negou ter conversado sobre este assunto, bem como seu envolvimento em qualquer irregularidade.

Outra dúvida é por que o Governo do PT nunca trabalhou para esclarecer o esquema de propina em Santo André, embora a própria deputada Gabrilli tenha solicitado isso diretamente ao então presidente Lula.

Catorze anos depois, o juiz Sérgio Moro realimenta a trama que já rendeu livros e centenas de reportagens sobre o caso Celso Daniel. Um roteiro policial que ainda vai render muito assunto.



Por Aguiasemrumo: Romulo Sanches de Oliveira

Todo esse mar de lama de corrupção, enriquecimentos ilícitos, nos dar a certeza da putrefação da política já que não existe ideologia. Um mandato parlamentar concede ao mau político a fazer negociatas com o erário público de interesses pessoais, sem o mínimo interesse com os sérios problemas e dificuldades enfrentadas pela nação, se esquecendo de que a pátria não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo; é o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade. O voto no Brasil precisa deixar de ser obrigatório, pois a democracia séria e justa contempla esses benefícios a todos que não se identifiquem com as propostas de candidatos.


“Provérbios 12,34. A Justiça faz a grande a Nação, o pecado é a vergonha dos povos.”

Testemunha afirma que empreiteira pagou regalia a presos da Lava Jato

Andresa Regina Hilgenberg Cavalheri Diogo contou que nos dias 15 e 22 de setembro de 2015 deu expediente no presídio cuidando dos pés dos presos da 6ª Galeria
POLÍTICA ANDRADE GUTIERREZHÁ 6 HORASPOR NOTÍCIAS AO MINUTO
A podóloga Andresa Regina Hilgenberg Cavalheri Diogo, convocada a dar um depoimento para a Lava Jato, afirmou às autoridades que a Andrade Gutierrez pagou por regalias a detentos da operação, como Renato Duque, ex-diretor de serviços da Petrobras, no Complexo Médico Penal de Pinhais, no Paraná.
Ela contou, na sindicância feita pelo departamento penitenciário, que nos dias 15 e 22 de setembro de 2015 deu expediente no presídio cuidando dos pés dos presos da 6ª Galeria.
A podóloga diz que atendeu Otávio Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez, Renato Duque, ex-diretor da Petrobrás, Alexandrino Alencar e Márcio Faria, ex-executivos da Odebrecht, o ex-deputado federal Pedro Corrêa e mais três outros detentos da Lava Jato que não são identificados no depoimento.
A Andrade Gutierrez, segundo a podóloga, pagou pelos serviços prestados por ela ao ex-presidente da empreiteira e também a Renato Duque e outros três detentos. Cada tratamento custou R$ 250. Os serviços prestados a Alexandrino Alencar e Marcio Faria foram pagos pela Odebrecht e a advogada de Pedro Corrêa pagou pelo tratamento do ex-parlamentar, disse ela.
Segundo a Folha de S. Paulo, a presença da podóloga no presídio foi autorizada pelo diretor-geral do CMP, Marcos Marcelo Muller, a pedido da advogada de Pedro Corrêa, que tem diabetes e por isso necessitaria de cuidados especiais com os pés.
A comissão que investigou o caso considerou que o diretor do CMP, Marcos Marcelo Muller, e seu vice, Sérgio Padilha, não comprovaram a necessidade da presença da podóloga no presídio e foram afastados do cargo. Agora, respondem a um processo administrativo disciplinar. Caso condenados, podem receber penas que vão de advertência até a demissão do serviço público.
A Secretaria de Segurança Pública do Paraná, responsável pelo Complexo Médico Penal de Pinhais, disse que "o processo corre em sigilo e ainda não foi concluído".
A Odebrecht afirmou que não há concessão de privilégios aos ex-executivos. "As regras estipuladas são respeitadas". A Andrade Gutierrez disse que não comentará. O advogado Juliano Breda, que defende o ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Azevedo, afirma "que seu cliente nunca usufruiu de privilégio algum e que respeitou todas as regras". As defesas de Renato Duque e Pedro Corrêa não responderam à publicação.

Em Hotel, Lula faz de sua suíte um quartel-general pró-Dilma

Lula tem feito reuniões de articulações políticas desde que teve sua nomeação suspensa à Casa Civil
POLÍTICA BRASÍLIAHÁ 34 MINSPOR NOTÍCIAS AO MINUTO
Nunca pensei que a situação estivesse tão crítica”, afirmou ele, numa referência às “demandas represadas” dos aliados. “Estamos comendo o pão que o diabo amassou”.
Segundo o Estadão, a suíte onde Lula costuma se hospedar, em Brasília, foi transformada em uma espécie de quartel-general do em prol da presidente Dilma Rousseff. O hotel é o mesmo onde ficava o senador Delcídio Amaral (ex-PT-MS), que ali foi preso pela Polícia Federal, acusado de atrapalhar as investigações da operação.
Pouco menos de sete quilômetros separam o Palácio do Planalto do hotel onde o ex-presidente Lula tem feito reuniões de articulações políticas desde que teve sua nomeação suspensa à Casa Civil. Suspeito na Lava Jato e impedido de colocar os pés no Planalto, o petista recebeu ali, nos últimos dias, ministros e dirigentes de partidos, além de deputados e senadores da deficitária base do governo no Congresso.
Lula, então, buscava “pescar” votos avulsos por ali. Pela sua contabilidade, o PSB poderia contribuir com “uns seis ou sete votos” de um total de 31. O PMDB, mesmo fracionado, teria “potencial” para dar a Dilma cerca de 35 dos 68 votos da bancada.
A ministra da Agricultura, Kátia Abreu (PMDB), deve sair da equipe, segundo o desejo de Lula. Dilma, ao contrário, resiste porque Kátia é sua amiga, mas ele avalia que a ministra não tem como conseguir apoio para a presidente. Na avaliação do ex-presidente, Dilma precisa lançar com urgência medidas para pôr “dinheiro na mão do pobre”. Ele se irritou com o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, para quem essas iniciativas já estão em andamento. “Então vocês precisam se comunicar melhor porque, se eu não sei, ninguém sabe”, disse Lula.
Durante muitos dias, Lula ainda pleiteou um acordo com o vice-presidente Michel Temer, antes do encontro do PMDB que selou a ruptura com o governo. Esperou bastante tempo e, quando finalmente conseguiu falar com Temer, fracassou na missão. “A presidente nunca quis me ouvir”, retrucou o vice.

Operadora informou Sergio Moro sobre grampo em escritório de advocacia


Lula Marques/Agência PT

Empresa teria avisado duas vezes ao juiz que o número interceptado pertencia à empresa. Documentos contradizem o magistrado, que negou ter pedido a interceptação


A empresa Telefônica, operadora que executou a ordem para interceptar o ramal central do escritório de advocacia Teixeira, Martins e Advogados já havia informado duas vezes ao juiz federal Sergio Moro que o número grampeado pertencia à banca composta por 25 advogados.
As informações são do site ConJur, que mostra a resposta do juiz em ofício enviado ao Supremo Tribunal Federal nesta semana, afirmando desconhecer o grampo determinado por ele na operação “lava jato”.
“Desconhece este juízo que tenha sido interceptado outro terminal dele [Roberto Teixeira] ou terminal com ramal de escritório de advocacia. Se foi, essas questões não foram trazidas até o momento à deliberação deste juízo pela parte interessada”, diz Moro em documento ao STF.
No documento, Moro afirma desconhecer o grampo determinado por ele na Lava Jato, ao contrário do que apontam dois ofícios enviados pela Telefônica à 13ª Vara Federal de Curitiba, no dia 23 de fevereiro (quando foram determinados os grampos) e outro do dia 7 de março (quando foram prorrogadas as escutas). Os documentos discriminam cada um dos números que Moro mandou interceptar.
Foto: Reprodução FOTO: REPRODUÇÃO
O Ministério Público Federal indicou o número do escritório como se fosse de uma empresa do ex-presidente Lula (Lils Palestras e Eventos), conseguindo que segredos e estratégias de defesa em centenas de casos chegassem às mãos dos acusadores antes de serem levadas aos tribunais. O MPF diz que foi por engano, mas não responde em relação a destruição das conversas.
Os documentos deixam claro que um dos telefones grampeados pertence ao Teixeira, Martins e Advogados, descrevendo, inclusive, o endereço da banca. Os documentos estão no processo que determinou a quebra do sigilo também dos telefones do Instituto Lula e de seu presidente, Paulo Okamotto; do Instituto de Pesquisas e Estudos dos Trabalhadores; e de Vania de Moraes Santos, Elson Pereira Vieira e Clara Ant.
Ainda de acordo com o processo, Moro autorizou essa escuta por entender que ela poderia “melhor esclarecer a relação do ex-Presidente com as empreiteiras [Odebrecht e OAS] e os motivos da aparente ocultação de patrimônio e dos benefícios custeados pelas empreiteiras em relação aos dois imóveis [o triplex em Guarujá (SP) e o sítio em Atibaia (SP)]”.
Além dos documentos da Telefônica, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil já havia enviado um ofício ao juiz federal requerendo informações sobre a interceptação dos telefones do escritório Teixeira, Martins e Advogados durante a “lava jato”, uma semana antes de o juiz enviar ao STF o documento interpretado como um pedido de desculpas pelos transtornos causados com a divulgação de conversas da presidente Dilma Rousseff.
A assessoria de imprensa da Justiça Federal do Paraná afirmou que não vai se manifestar sobre o assunto.

(via Operadora informou Sergio Moro sobre grampo em escritório de advocacia)


Por Aguiasemrumo: Romulo Sanches de Oliveira

 Todo esse mar de lama de corrupção, enriquecimentos ilícitos, nos dar a certeza da putrefação da política já que não existe ideologia. Um mandato parlamentar concede ao mau político a fazer negociatas com o erário público de interesses pessoais, sem o mínimo interesse com os sérios problemas e dificuldades enfrentadas pela nação, se esquecendo de que a pátria não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo; é o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade. O voto no Brasil precisa deixar de ser obrigatório, pois a democracia séria e justa contempla esses benefícios a todos que não se identifiquem com as propostas de candidatos.

“Provérbios 12,34. A Justiça faz a grande a Nação, o pecado é a vergonha dos povos.”

�������lS+G��

Estou com vossa Excelência e toda sua família!

MARIO SERGIO CONTI | JORNALISTA E ESCRITOR Conti: “A elite brasileira quer encerrar o ciclo do PT no poder a qualquer custo”

São Paulo  

Autor de ‘Notícias do Planalto’, que analisa o impeachment de Collor, discute o cenário político atual

Mario Sergio Conti, autor de 'Notícias do Planalto'.
A literatura especializada em impeachment no Brasil não é vasta, mas certamente mais completa do que a de muitos países. Em Notícias do Planalto (Companhia das Letras; 1999), o jornalista Mario Sérgio Conti destrincha oprocesso de impeachment de Fernando Collor de Mello, afastado do poder no final de 1992. Relato pioneiro, o livro é considerado uma importante referência – não só de como Collor caiu, mas também das fronteiras entre os poderes e a grande imprensa no país. De 1991 a 1997, Conti foi diretor de redação da revista Veja, a quem seu irmão Pedro Collor revelou os esquemas corruptos de seu irmão, o ex-presidente. O hoje apresentador do programa Diálogos, naGlobonews e colunista às terças-feiras na Folha de S.Paulo, onde começou a carreira em 1977, conversou com o EL PAÍS, por telefone, sobre o cenário atual.
Pergunta. Quando compara o impeachment de Dilma Rousseff com o de Fernando Collor, a maioria dos analistas destaca que ela ainda tem apoio político, enquanto ele estava praticamente sozinho. É essa a grande diferença entre os dois processos?
Resposta. Fernando Collor, que estava numa legenda de aluguel, o PRN, não tinha um partido forte que o respaldasse. Teve o apoio de Leonel Brizola e de Antônio Carlos Magalhães, que foram contra o impeachment, e só. Dilma conta com a sustentação de um partido estruturado, com governadores e prefeitos, e que teve excelente votação no ano passado – ainda que o PT seja contra a política econômica da presidenta, e que o apoio a ela fora do partido esteja erodindo. Ao contrário de Collor, Dilma tem um amparo popular expressivo: há dez dias, 100.000 pessoas foram à Avenida Paulista defendê-la. Por fim, ela conta com a simpatia do melhor da intelectualidade. Antonio Cândido, um dos grandes pensadores da América Latina, está com ela, assim como Chico Buarque, Luis Fernando Veríssimo, Roberto Schwarz, Luiz Carlos Bresser-Pereira e Alfredo Bosi, além dos atores Wagner Moura e Paulo Betti. São personalidades que se posicionam contra a maneira atropelada como o impeachment vem sendo conduzido, com desrespeito a direitos fundamentais e à boa prática republicana.
P. Isso é suficiente para evitar a destituição da presidente?
R. Impossível dizer. A situação é por demais volátil. Há ainda muito para acontecer até a votação da Câmara. Qualquer fato dramático pode alterar o resultado. Quem ocupará a Praça dos Três Poderes e a Avenida Paulista no dia da votação? Os pró ou os contra o impeachment? E a polícia, o que fará? O que é possível dizer é que o Brasil será diferente depois da votação do impeachment, seja ele aprovado ou não. O país está dividido – e os derrotados irão reagir à decisão.
P. Em 1992, a corrupção foi um elemento central do impeachment, assim como hoje. Como compara as duas situações?
R. Não acho que a corrupção tenha aumentado de maneira significativa desde então. Há maior disposição em atacá-la, porque parte expressiva do povo está exasperada com as denúncias contínuas, com as cifras formidáveis surrupiadas por larápios. Os serviços públicos seguem sendo horríveis, enquanto empresários e políticos se refastelam em roubalheiras. Agora... o sistema político brasileiro é corrupto, não tem como. Foi criado para ser assim e continuará assim, enquanto não houver mudanças profundas. No caso do Collor, a corrupção foi caracterizada – ficou provado com documentos que havia dinheiro do Estado indo para o bolso dele. No caso de Dilma, pode-se dizer que, até agora, nada foi comprovado. Está evidente ela contribuiu para levar o país à recessão, que mentiu na campanha, que é mal humorada etc. Mas nada disso é crime de responsabilidade e, portanto, justifica o impeachment.
P. A principal base para o impeachment de Dilma ainda são as pedaladas fiscais e, principalmente no pedido que está na Câmara, decretos de suplementação orçamentária de 2015 que, segundo os acusadores, feriu a lei orçamentária. Mas muitos dizem que isso não é o bastante para tirá-la do poder.
R. Pouquíssimos são os que entendem o que sejam pedaladas fiscais. E, os que entendem, informam que prefeitos, governadores e presidentes pedalam desde sempre. O que ocorreu é que o ambiente político mudou muito, e recentemente. A santa aliança da Fiesp-tucanos-movimentos de classe média se solidificou. A elite brasileira quer encerrar o ciclo do PT no poder a qualquer custo.
P. Quais as diferenças da situação econômica na época de Collor e agora?
R. Assim como com a corrupção, também na economia o que havia naquele tempo é equiparável ao que há hoje. A situação é péssima: desemprego, inflação subindo, recessão, desindustrialização. Mas como a economia melhorou desde 1992, o patamar é hoje mais alto. Então, os problemas econômicos são mais ou menos semelhantes.
P. Seu livro Notícias do Planalto destrincha o papel da imprensa na destituição do Collor. Como você vê a imprensa no caso de Dilma?
R. No impeachment do Collor, a imprensa teve um papel preponderante de apurar a corrupção. Os repórteres suaram a camisa para mostrar os podres do Planalto. E as reportagens tiveram um peso enorme. Agora, a imprensa não apurou quase nada. São setores da Justiça que estão à frente das revelações. Até porque a Justiça tem mais instrumentos que os jornalistas para ir fundo nas apurações. Juízes dispõem de prisões cautelares, interrogatórios, delações premiadas etc. Então, a imprensa virou um espaço para veicular opiniões, por meio de entrevistas, análises, editoriais, artigos, colunistas e cartas. Seu papel foi reduzido. Naquela época, a Folha e outros jornais fizeram editoriais contra a permanência de Collor no poder, e como havia bem menos colunistas, a palavra dos órgãos de imprensa teve peso. Hoje, há um opinionismo desvairado, potencializado pelas redes sociais, com seus posts e comentários, em que todo mundo sobe num caixote, grita e opina.
P. Entendo que esse seja um aspecto negativo. Vê algo de positivo na internet e nas redes sociais? Não há maior acesso à informação e menos homogeneidade, por exemplo?
R. A liberdade de expressão, sem dúvida, é um aspecto positivo. Mas existe uma cacofonia. Muitos blogs e sites veiculam comentários distorcidos, mentirosos, caluniosos e até criminosos – ainda que anônimos. Isso gera uma escalada da violência, que não ficará no plano retórico. A violência verbal está extravasando em agressividade real. Agora, juízes e ministros são intimidados e insultados em lugares públicos, em hospitais e restaurantes. Se você substituir a palavra “petista” por “judeu”, nesses sites e blogs, notará que eles existem para incentivar o linchamento, como os pogroms. As pessoas que mantêm esses sites não têm propriamente uma política: elas querem aniquilar uma força política, o PT. O caldeirão no qual hoje o impeachment fermenta é bem mais venenoso do que na queda de Collor.
P. O atual protagonismo do Judiciário é positivo?
R. É bom que a Justiça vá atrás de corruptos. Que apure os fatos, recolha provas categóricas, julgue os acusados com rigor e os bote na cadeia por um longo tempo. A Lava Jato fez isso muito bem. Depois, veio mudando. Vazar informações de processos sigilosos continuamente não é deslize. É um método. É buscar influir na cena política por meio de uma ilegalidade. Divulgar um telefonema da presidente é uma monstruosidade jurídica, porque ela tem foro superior. Gravar conversas de um cliente e seu advogado é crime. Então, vejo setores do Judiciário extrapolando suas funções, e juízes virando justiceiros, celebridades.
P. Isso que você vê como distorções atrapalham a democracia?
R. Claro. Se for caracterizada a obstrução da Justiça no caso da nomeação de Lula para o ministro, por Dilma, se abrirá espaço para a destituição da presidente. Mas divulgar a conversa telefônica entre eles, sem qualquer investigação, com base em suposições toscas, foi outra coisa. Foi um abuso inominável, que, no entanto, provocou efeitos rimbombantes, em cascata. O ministro Teori Zavascki, do STF, encarregado de supervisionar o que a Lava Jatofaz, disse, em termos severos, que a divulgação do telefonema prejudicou o processo legal e o direito dos grampeados. Acrescentou que o juiz Sergio Moro não poderia ter feito isso. Agora, porém, o mal já foi feito. E a declaração do ministro Zavascki teve 0,01% do destaque que teve o telefonema de Lula e Dilma.
P. O processo tem sido conduzido sob esse lema, “agora o mal já foi feito”?
R. Em momentos determinantes, sim. A democracia tem muito de conturbado, de sujo mesmo. Funciona assim. O que impressiona é que no Brasil a resistência à baixaria seja tão reduzida. É legítimo discordar da presidente, achar que ela é péssima. Mas cadê o crime de responsabilidade?
P. Sobre a condução do processo na Câmara dos Deputados, de que maneira ter um presidente como Eduardo Cunha, implicado nas investigações da Lava Jato, influencia o processo?
R. Eduardo Cunha é réu numa penca de processos. Está sendo processado no Supremo Tribunal Federal, tem contas não declaradas na Suíça, gastou milhares de dólares com bens de luxo, sonegou impostos etc. E os nobres deputados não mexem uma palha para afastá-lo da presidência da Câmara, ao menos enquanto durarem as investigações. Renan Calheiros, presidente do Senado, está implicado também. Os pró-impeachment podem achar que isso é desimportante, mas essa avacalhação tira legitimidade do processo. Boa parte dos integrantes da Câmara foi eleita graças a doações de empreiteiras – que moral eles têm para julgar o afastamento da presidente? Mais da metade da comissão da Câmara que examina o pedido de impeachment é formada por deputados acusados de ladroagem – e ainda assim estão lá, vestindo a camisa verde e amarela. Como crer na isenção da Câmara?
P. Os erros de agora serão cobrados no futuro?
R. Acho o contrário. Quem conspira e age contra a democracia no Brasil nunca é punido. Um Bolsonaro nunca existiria se os algozes do golpe de 1964 tivessem sido responsabilizados, processados, julgados e punidos. As ilegalidades institucionais jamais foram punidas. Por isso, os autoritários se sentem à vontade para vergar a lei, dar um verniz de legalidade a atrocidades contra o direito das pessoas, e seguirem em frente. Na regra, golpistas são acobertados. Inclusive pelo PT e Dilma. O seu governo montou uma Comissão da Verdade que trabalhou três anos e produziu um documento de 1.000 páginas -- que ninguém leu nem levou a sério. Torturadores e assassinos continuaram a dormir tranquilos. Por que as pessoas que hoje atropelam a lei pensariam que serão punidas?
P. O pós-impeachment de Fernando Collor teve certa tranquilidade. O que se pode esperar se Dilma Rousseff cair?
R. Virá, suponho, um período nebuloso e turbulento. É possível que a economia dê uma melhorada momentânea, caso ela caia. Vamos ser otimistas e dizer que isso acontecerá. Mas, depois de uns três meses, os problemas econômicos nacionais, os problemas estruturais, continuarão do mesmo tamanho. Além da economia em dificuldade, veja o SUS, a educação, a Previdência etc... Temer tem uma varinha de condão para enfrentar tudo isso?

Dilma passa a noite em hotel e pedala pelas ruas de Porto Alegre Presidente optou por dormir em um hotel, apesar de ter residência na capital. Ela pedalou por diversas ruas e também pelo Parque Marinha do Brasil.

Presidente aproveitou a manhã em Porto Alegre para pedalar (Foto: Zete Padilha/ RBS TV)Presidente aproveitou a manhã em Porto Alegre para pedalar (Foto: Zete Padilha/ RBS TV)
Dilma passou a noite em um hotel da capital (Foto: Zete Padilha/ RBS TV)Dilma passou a noite em um hotel da capital
(Foto: Zete Padilha/ RBS TV)
Após passar a noite em um hotel em Porto Alegre, a presidente Dilma Rousseff aproveitou a manhã deste domingo (3) para continuar a rotina de exercícios com um passeio de bicicleta pelas ruas da capital gaúcha.
Apesar de possuir um apartamento na Zona Sul da capital, Dilma preferiu ficar em um hotel. Em outra ocasiões manifestantes contrários e favoráveis ao pedido de impeachment realizaram protestos em frente ao prédio da presidente.
A assessoria não informou o motivo que levou a presidente a optar por passar a noite em um hotel.
Por volta das 6h ela saiu para pedalar, acompanhada de seguranças. O passeio durou mais de uma hora, passando pela Avenida Padre Cacique e pelo Parque Marinha do Brasil, mesmo com as trilhas molhadas por causa da chuva que atingiu a capital gaúcha na noite de sábado (2). A pedalada foi encerrada na Avenida Beira-Rio.
Dilma chegou à capital gaúcha no final da manhã de sábado, mas não tem compromissos oficiais em Porto Alegre. Ela deixa a cidade ainda neste domingo.


Por Aguiasemrumo: Romulo Sanches de Oliveira

Todo esse mar de lama de corrupção, enriquecimentos ilícitos, nos dar a certeza da putrefação da política já que não existe ideologia. Um mandato parlamentar concede ao mau político a fazer negociatas com o erário público de interesses pessoais, sem o mínimo interesse com os sérios problemas e dificuldades enfrentadas pela nação, se esquecendo de que a pátria não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo; é o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade. O voto no Brasil precisa deixar de ser obrigatório, pois a democracia séria e justa contempla esses benefícios a todos que não se identifiquem com as propostas de candidatos.

“Provérbios 12,34. A Justiça faz a grande a Nação, o pecado é a vergonha dos povos.”