O corpo de um homem foi encontrado neste sábado a cerca de 100 km rio abaixo do local onde na quinta-feira uma enxurrada de lama - após o rompimento de duas barragens de rejeitos de mineração na cidade de Mariana, em Minas Gerais - deixou pelo menos 28 desaparecidos, informaram fontes oficiais.
A morte deste homem aumentou para dois o número de falecidos confirmados na tragédia, causada pela ruptura das barragens de contenção de dois depósitos que continham 62 milhões de metros cúbicos de água e resíduos minerais.
O Corpo de Bombeiros e o governo de Minas Gerais informaram que o corpo foi encontrado em uma ponte de uma hidrelétrica no município de Rio Doce, no leito do rio homônimo, a 100 km de Mariana, onde fica a mina da empresa Samarco.
Cidade de MG é tomada por lama após tragédia em mineradora
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As autoridades, ao não ter identificado o corpo, não sabem se seu nome aparece na lista oficial de desaparecidos, na qual figuram 28 pessoas, entre elas cinco crianças.
A primeira vítima fatal foi identificada como Claudio Fiúza, de 40 anos, funcionário da mina de ferro que sofreu um ataque cardíaco quando presenciou a ruptura das barragens.
Na lista de desaparecidos, divulgada pela prefeitura de Mariana, há 13 trabalhadores da mina, todos eles homens, e 15 moradores de Bento Rodrigues e Camargos, distritos de Mariana.
Depois da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) escolher a banca examinadora de seu novo concurso, agora foi a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) anunciar sua examinadora. Caberá a Fundação Cesgranrio organizar a seleção que vai oferecer 34 oportunidades, sendo 20 para técnicos administrativos e 14 para técnicos em regulação de petróleo e derivados, álcool combustível e gás natural.
A autorização para abertura da seleção foi dada em junho pelo Ministério do Planejamento. O edital, que está fora do corte de concursos anunciado pelo governo federal, será publicado até dezembro deste ano.
Os croatas votam hoje em eleições gerais, enquanto o país enfrenta um afluxo contínuo de refugiados -- uma crise que campos políticos adversários tentaram explorar, quando faltam políticas concretas para iniciar a retoma da estagnada economia.
Após quatro anos de um Governo de coligação centro-esquerda e seis anos de recessão, a oposição de direita tenta regressar ao poder nas primeiras eleições gerais na Croácia desde que aderiu à União Europeia, em 2013.
As sondagens mostram a conservadora Coligação Patriótica, liderada pelo partido HDZ, na dianteira, mas a confortável distância que tinha nos últimos meses foi eliminada pela aliança no poder, a Croácia A Crescer, liderada pelos social-democratas (SDP) e pelo primeiro-ministro, Zoran Milanovic.
Algumas vozes sustentam que a entrada no país, desde meados de setembro, de mais de 300.000 migrantes que se dirigem ao norte da Europa, forneceu a Milanovic uma distração bem-vinda, após um mandato dececionante em que falhou na criação de reformas muito aguardadas.
O chefe do executivo parece ter atravessado a ténue linha que separa a manifestação de compaixão e a defesa de interesses nacionais, primeiro, tratando com dureza a vizinha e ex-inimiga Sérvia e, mais recentemente, firmando um acordo para transportar migrantes pela sua fronteira partilhada de comboio.
Com uma campanha rica em retórica nacionalista, a oposição, liderada pelo ex-diretor dos serviços de informações Tomislav Karamarko, também contribuiu para a crise, primeiro exigindo controlos fronteiriços mais rígidos e, depois, criticando o tratamento dado pelo Governo aos migrantes.
Sendo a Croácia um país onde muitos sentem empatia com os refugiados, porque estiveram também eles deslocados em consequência da guerra nos anos 1990, o bloco de direita pareceu ter dificuldades sobre como abordar melhor essa questão.
As batalhas económicas que o país trava poderão não ser de imediato identificadas pelos estrangeiros que visitam pela primeira vez a capital, Zagreb, e as suas ruas elegantes e movimentadas e os cafés da moda.
Mas os problemas são agudos: a economia da Croácia tem um dos piores desempenhos da União Europeia, com a dívida pública em quase 90% do Produto Interno Bruto (PIB) e 16,2% de desemprego em setembro, 43,1% do qual entre jovens.
Embora se espere o retorno ao crescimento de quase 1% este ano, analistas dizem que faltaram à campanha eleitoral propostas reformistas sólidas.
Mianmar vai às urnas neste domingo (8), dando o maior passo em uma jornada da ditadura para a democracia, no primeiro pleito livre nacional em um quarto de século. O atual governo birmanês assumiu o poder em 2011, após a dissolução da Junta Militar. Mianmar teve sua última eleição livre em 1990, mas os militares, que governam o país desde 1962, ignoraram o resultado.
As escolha do presidente é indireta. A constituição de 2008 estabelece que o Parlamento elege o presidente, segundo a votação de três grupos: os representantes da câmara baixa, os da câmara alta e os das forças armadas - esses últimos não são eleitos pelo povo. Mais de 30 milhões de pessoas estão aptas a votar.
A ícone da oposição Aung San Suu Kyi é apontada como a favorita, já que seu partido, a Liga Nacional para a Democracia (NLD), deve vencer, segundo a agência Reuters. Porém, mesmo que seu partido vença por ampla maioria, o legado do regime militar implica que ela não poderá se tornar presidente. Isso porque a Constituição elaborada na época em que a junta militar governava o país veta o cargo de chefe de Estado a qualquer pessoa com um cônjuge ou filhos nascidos no exterior. É o caso de Suu Kyi, que tem dois filhos britânicos.
Líder da oposição, Aung San Suu Kyi, em foto de 6 de setembro (Foto: Khin Maung Win/AP)
Vencedora do prêmio Nobel da Paz, Suu Kyi venceu a última eleição livre em 1990, cujo resultado não foi considerado. Ela passou a maior parte dos 20 anos seguintes sob prisão domiciliar antes de ser solta, em 2010.
Se a NLD conseguir maioria e for capaz de formar o primeiro governo democraticamente eleito de Mianmar desde 1962, Suu Kyi diz que será o poder por detrás do novo presidente, independente da constituição chamada por ela de "muito boba".
Assentos reservados Observadores ouvidos pela agência de notícias Associated Press dizem que as eleições são a melhor oportunidade de Mianmar em décadas para avançar a uma maior democracia, apesar de um obstáculo estabelecido para a oposição: dos 664 assentos no Parlamento, 25% estão reservados às forças armadas.
Para formar um governo e escolher seu próprio presidente, o NLD sozinho ou com aliados precisa conquistar mais de dois terços dos assentos no parlamento. Por outro lado, o partido do governo, Partido para Desenvolvimento e União Solidária (USDP), precisa de bem menos cadeiras se tiver o apoio do bloco militar no parlamento.
O USDP foi criado pela antiga junta e liderado por ex-autoridades militares. Os eleitores devem rejeitar o partido, segundo a Reuters, porque ele é associado com a ditadura brutal que instalou o governo civil do presidente Thein Sein, em 2011.
Presidente do Mianmar, Thein Sein, em imagem de arquivo (Foto: AP)
'Resultado será respeitado' O presidente Thein Sein disse nesta sexta-feira (6) em um discurso transmitido pela televisão que o resultado das eleições será respeitado. "Escutei que existem temores sobre se o resultado das eleições seria respeitado. Nosso governo e as forças armadas queremos reiterar que respeitaremos os resultados da eleição livre e justa", afirmou.
Suas declarações buscam indicar à comunidade internacional que o governo é sincero na realização de eleições livres, diante das preocupações sobre irregularidades nas listas de votantes, intimidação e privação de direitos civis de uma vasta parte da população composta pelos muçulmanos rohingya, que têm cidadania negada e, portanto, não podem votar.
Entusiasmo O clima de entusiasmo na nação do sudeste asiático tomava conta do país às vésperas da eleição, reporta a Reuters.
"Eu realmente quero mudança", disse Zobai, um negociante de jade na segunda maior cidade de Mianmar, Mandalay, sem revelar sobrenome. "Eu estou vivo há 53 anos e tudo o que eu vi foi ditadura".
Uma mulher Kayan, de um dos grupos étnicos minoritários de Muanmar, mostraseu dedo manchado de tinta depois de votar na vila Panpet, no município de Demoso, no estado Kayah (Foto: Nay Lynn Thike/Reuters)
A caminho do inédito segundo turno presidencial na Argentina, a disputa entre o governista Daniel Scioli, da Frente para a Vitória (FPV), e o opositor Mauricio Macri, da coalizão Cambiemos (Mudemos), está cada vez mais acirrada, e observadores comparam o cenário à eleição brasileira de 2014.
A diferença entre ambos no primeiro turno foi inferior a três pontos percentuais, o que explica, em parte, a "tensão" entre governistas e opositores, disseram analistas e políticos ouvidos pela BBC Brasil. O segundo turno será realizado no dia 22.
Nos bastidores do governo e do comando da campanha de Scioli, esperava-se uma vantagem de ao menos oito pontos percentuais sobre Macri, com a expectativa de vencer já no primeiro turno. Mas o resultado foi diferente, e no pleito de 25 de outubro o oposicionista levou a disputa para o segundo turno.
No dia seguinte, a campanha se acirrou, e um assessor de Scioli compara o momento atual à "final de uma Copa do Mundo".
Governistas dizem que uma vitória dos opositores "levaria a Argentina para a era das privatizações dos anos 1990" ou para a "ingovernabilidade", como na histórica crise vivida pelo país em 2001, quando o então presidente Fernando de la Rúa renunciou ao cargo em meio a protestos.
Em discurso na sexta, a presidente Cristina Kirchner reforçou essa estratégia. Ela declarou esperar que os argentinos não vivam de novo um episódio "como o daquele presidente que deixou a Presidência de helicóptero antes do fim do mandato", afirmação interpretada pela imprensa local como uma comparação entre De la Rúa e Macri.
O candidato oposicionista se defende, dizendo que "eles" é que governavam nos anos 1990 e que só entrou para "política depois da crise de 2001", afirmaram assessores.
Já Scioli afirma que Macri é o candidato do mercado financeiro e sugere que ele poderia descontinuar políticas públicas aplicadas nos 12 anos de kirchnerismo (2003-2015), como a estatização da empresa aérea Aerolíneas Argentinas e da petrolífera YPF, além dos planos sociais.
Discursos antigos de Macri, nos quais defendia a privatização da YPF, por exemplo, são lembrados por apoiadores de Scioli. Num ato político na quinta-feira, Macri disse que manterá os planos de inclusão, caso seja eleito.
Segundo o consultor político e professor de ciências políticas da Universidade Torcuato di Tella Sergio Berensztein, o aumento da tensão política faz parte de uma disputa de segundo turno presidencial, jamais realizado na Argentina.
"Estamos vivendo aqui o mesmo clima que o Brasil viveu no segundo turno (entre a presidente Dilma Rousseff e o oposicionista Aécio Neves, em 2014). Mas esse ambiente era esperado", disse Berensztein à BBC Brasil.
'Rivais, porém amigos'
Scioli e Macri são amigos de longa data, gostam de esporte, surgiram do setor privado e entraram para a política na idade adulta, disse Berensztein.
Segundo ele, é difícil dizer que um seja de esquerda ou centro, no caso de Scioli, e outro de centro ou direita, para Macri.
"O conceito tradicional de ideologia não combina com eles", disse ele, que avaliou Macri como "pragmático" e que "obedecerá as leis", e que Scioli "seguirá o caminho do kirchnerismo" por representá-lo.
A tensão é perceptível. Na semana passada, durante quatro discursos seguidos de Cristina na Casa Rosada, a sede da Presidência, seus apoiadores gritavam "Pátria ou Macri", em referência ao slogan "Pátria ou morte".
Nos últimos dias, em alguns pontos de Buenos Aires, como em dependências públicas, surgiram pequenos cartazes com a mesma frase. Numa estação de metrô, a foto de campanha do candidato foi pintada com o bigode similar ao de Hitler.
Um assessor da campanha de Scioli e que trabalha com o candidato há mais de dez anos disse à BBC Brasil que a campanha trabalha "como se fosse a final de uma Copa do Mundo", mas que o candidato quer retomar a campanha para "encontro e não confronto".
"Não é uma campanha fácil. Sabemos que a disputa é minuto a minuto, mas daqui até o dia 22 há uma eternidade, e os que não votaram no governo ainda podem mudar de voto", disse o assessor, em condição de anonimato.
Do lado de Macri, a deputada Patrícia Bullrich disse que a "tensão política" é inédita em tempos democráticos na Argentina, mas que seria "típica" da era kirchnerista.
"A estratégia deles é a do confronto, entre os bons e maus, entre o que chamam de defensores do povo e contra o povo”, disse Bullrich, por telefone.
Na opinião do analista político Rosendo Fraga, do Centro de Estudos Nova Mayoría, o inesperado resultado do primeiro turno e a disputa acirrada "favorecem Macri, mas não se pode subestimar a capacidade do governo" de vencer.
'Equilibrista'
Assessores e analistas dizem que Scioli deve tomar uma posição de "equilibrista" nesta reta final para manter os votos do kirchnerismo e tentar conquistar aqueles que votaram contra o governo.
"As urnas disseram que pelo menos 60% dos argentinos votaram contra o governo. Eu estou entre eles", disse o ex-senador Rodolfo Terragno, num programa de televisão.
A disputa também está forte nas redes sociais. Uma universitária disse no Facebook que teme que Macri vença porque a educação pública "sairia perdendo" e "conquistas sociais do kirchnerismo desapareceriam". Outra eleitora escreveu: "Scioli é perigoso, mentiroso e traidor".
Eleitores afirmaram, no Twitter, que Scioli "agora reconhece a inflação que negava".
Na Argentina, os dados oficiais da inflação são questionados por opositores e especialistas. "Que bom que agora reconhecem que existe inflação", disse o economista Rogelio Frigerio, da equipe de Macri.
O presidente do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, José Carlos Araújo (PSD-BA), confirmou na manhã desta quinta-feira (5/11) o deputado Fausto Pinato (PRB-SP) como relator do processo contra o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por quebra de decoro parlamentar. O prazo de dez dias para a entrega do relatório preliminar de Pinato terminará no dia 19 deste mês e a sessão para apreciação do parecer já foi marcada para o dia 24.
No anúncio oficial, Araújo destacou que pesou em sua decisão, além das conversas com o líder do PRB, Celso Russomanno (SP), e ex-deputados que trabalharam com Pinato, o fato de ele ser advogado e ter conhecimento de processo jurídico. Russomanno acompanhou o anúncio e, segundo Araújo, garantiu que não haverá interferência do partido na atuação do relator. "Tenho certeza que Pinato vai fazer justiça no processo", disse o presidente do colegiado.
Em suas primeiras palavras, Pinato disse que vai garantir o direito à ampla defesa e ao contraditório. O relator disse que ainda não tem conhecimento aprofundado do caso e que vai tomar uma decisão técnica, com base na busca de provas documentais. "O senhor Eduardo Cunha vai ser julgado como deputado comum e não como presidente", declarou.
Parlamentar em seu primeiro mandato, Pinato disse que sua inexperiência na Casa pode ser vista como um fator positivo. "Quem tem muito mandato é que tem muita relação", argumentou. Ele afirmou que se considera um parlamentar independente e não um aliado de Cunha.
O relator admitiu que sua missão é "árdua", mas importante para ganhar experiência e, em tom de brincadeira, destacou a notoriedade que terá a partir de hoje. Ele disse que até o momento sofre mais pressão da imprensa, mas afirmou que buscará dar uma resposta "justa e correta" à sociedade. "Qualquer decisão a partir de agora é de minha responsabilidade", afirmou.
Além de Pinato, Araújo anunciou o deputado Washington Reis (PMDB-RJ) como relator do processo de Alberto Fraga (DEM-DF). Após uma discussão no plenário com a líder do PCdoB, Jandira Feghali (RJ), Fraga disse que mulher que "bate como homem tem que apanhar como homem também".
O doleiro Alberto Youssef, peça central da Operação Lava Jato, reafirmou em depoimento à Justiça Federal no Paraná nesta sexta-feira, 6, que por indicação do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa (Abastecimento) efetuou repasses de dinheiro desviado de contratos de empreiteiras com a estatal também a políticos do PT e do PMDB. "Na campanha de 2010, Paulo Roberto Costa me indicou que fizesse um pagamento de um milhão de reais para a campanha da Gleisi (Hoffmann, PT-PR), na época para o Senado, e também indicou alguns pagamentos ao deputado Vaccarezza (Cândido Vaccarezza, PT) em São Paulo e indicou pagamentos para o, na época, candidato a senador Valdir Raupp, do PMDB", afirmou.
Youssef fez esta declaração ao ser indagado pela Procuradoria da República se fazia repasses a políticos de outros partidos, além do PP, agremiação que colocou Paulo Roberto Costa na direção de Abastecimento, área estratégica da companhia.
A senadora Gleisi Hoffmann, o ex-deputado Cândido Vaccarezza e o senador Valdir Raupp negaram taxativamente captação de valores ilícitos para suas campanhas eleitorais.
O doleiro depôs como testemunha arrolada pela acusação na ação penal contra o ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu (Governo Lula), o ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque e contra o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, todos alvos da Pixuleco I, desdobramento da Operação Lava Jato.
Os três réus estão presos em Curitiba. O Ministério Público Federal atribui a Dirceu, a Duque e a Vaccari crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Youssef fez delação premiada. Como delator é obrigado a depor em todas as ações penais da Lava Jato. Ele disse que começou a operar propinas na Petrobras entre 2005 e 2006, por meio do ex-deputado José Janene (PP-PR), morto em 2010.
Na audiência, o doleiro disse que Paulo Roberto 'direcionava de algumas obras valores para o PMDB'. "Aí o operador não era eu, era outro, no caso ele dizia que era o Fernando Baiano. E também ajudou algumas pessoas do PT e aí fez por intermédio de minha pessoa", disse Youssef.
O sr. teve contatos com João Vaccari?, questionou o procurador da República. "Eu já tive alguns encontros com Vaccari Neto, mas eu nunca discuti esse tipo de assunto com ele. Eu fiz pagamento a pedido da Toshiba que dizia que o endereçado final era o João Vaccari Neto. No caso, o primeiro momento foi a cunhada dele que retirou no meu escritório. No segundo momento, um funcionário meu levou isso para o funcionário da Toshiba, na porta do partido em São Paulo. Ele entregou para o funcionário da Toshiba prá que ele entregasse. Mas eu, diretamente, nunca entreguei nada ao Vaccari e também nunca discuti esse assunto com ele."
Segundo o doleiro, o pagamento foi vinculado à Petrobras. "Sim, uma obra da Toshiba no Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro). Teve pagamento para o PP e para o PT, esses dois pagamentos quem fez foi eu."
O procurador perguntou se Vaccari 'recebeu em nome do partido'.
"Sim," disse Youssef.
Recursos em espécie? "Sim."
"Lembra a quantia?" "Acho que R$ 400 mil por vez", respondeu.
"Tem conhecimento de outros recebimentos em obras da Petrobras?", perguntou o procurador.
"Ouvi dizer que ele (Vaccari) era o arrecadador do partido dentro da Petrobrás."
"Ele (Vaccari) ficava vinculado a qual diretoria?", indagou. "Diretoria de Serviços, ao diretor (Renato) Duque", respondeu Youssef.
Segundo o doleiro, "todo mundo dizia que o Duque foi indicado pelo Zé Dirceu, mas é de ouvir dizer". "Eu ouvia dizer isso do Paulo Roberto e no meio empresarial, sim. Comentavam. O Gérson Almada (empreiteira Engevix), o Ricardo Pessoa (UTC Engenharia), o Eduardo Leite da Camargo Corrêa, praticamente a maioria deles "
O doleiro disse que se reunia com os empresários, individualmente, 'se reunia em hotéis, nas empresas'. Também se reunia com os empreiteiros em seu escritório, em São Paulo. Youssef reafirmou que 1% sobre o valor dos contratos da Diretoria de Abastecimento era destinado a políticos e a partidos.
Ele falou sobre a relação com o executivo Júlio Camargo, que também fez delação premiada e afirmou ter sido pressionado pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ) por uma propina de US$ 5 milhões, em 2011. "Eu operava alguma coisa de caixa 2 para ele (Camargo), em decorrência de obras da Petrobras. Ele tinha que fazer pagamentos para essas pessoas, tanto pela Diretoria de Abastecimento quanto pela Diretoria de Serviços. Às vezes ele comentava que pagava pro Barusco (Pedro Barusco, ex-gerente de Engenharia da Diretoria de Serviços), para o Duque, ele comentava."
Elo Dirceu
O procurador perguntou ao doleiro delator se ele sabia de 'alguma conexão (de Júlio Camargo) com o PT'. "Eu sei que tinha um bom relacionamento, se relacionava bem com José Dirceu, com o partido. Eu acho que ele tinha um bom acesso no PT. Às vezes deixava escapar uma coisa aqui, outra ali, pude perceber que ele tinha um bom acesso no PT, falava que ia a reuniões em Brasília. Às vezes deixava escapar."
O procurador perguntou ao delator sobre o relacionamento de Júlio Camargo com José Dirceu. "Eu tinha conhecimento que José Dirceu voava na aeronave do Júlio Camargo. Várias vezes eu o ouvi comentar."
O procurador insistiu: "Voava? Eram sócios? De que forma ressarcia os valores?" Youssef respondeu: "Não sei dizer se ele ressarcia, eu ouvia dizer que ele era sócio na aeronave, mas não sei se é verdade, não posso afirmar. Uma vez ouvi o Júlio dizer que chegaram inclusive a desfazer a sociedade. Uma vez ele (Júlio Camargo) deixou escapar sim, me parece que a sociedade foi dissolvida."
"O sr. sabe se José Dirceu recebia valores decorrentes de contratos com a Petrobras?", indagou o procurador. O doleiro citou Bob, como é conhecido Roberto Marques, antigo braço direito do ex-ministro da Casa Civil que chegou a ser preso na Pixuleco. "Nunca fiz nenhum pagamento a ele (Dirceu), mas uma vez batendo conta com um funcionário do Júlio, o Franco, que cuidava das finanças do Júlio, apareceu na minha conta corrente um débito escrito 'BOB'. Eu falei para ele 'esse débito não é meu'. Ele arrancou da minha conta corrente e falou 'realmente é do Zé Dirceu', deixou escapar."
O juiz federal Sérgio Moro também fez perguntas ao doleiro delator: "O sr. ouviu dizer que João Vaccari recebia os valores para o PT, é isso?" Youssef respondeu: "Sim, ouvi dizer, tanto dos empreiteiros quanto do PP, dos líderes do PP, quanto do próprio Paulo Roberto Costa." O juiz perguntou ainda qual o motivo de as empreiteiras pagarem a propina. "Era questão do jogo, era institucional."