sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Polarização no exterior: Petista em Miami conta como é viver em ‘reduto aecista’ João Fellet Enviado especial da BBC Brasil a Miami

Em Miami desde 1983, o escritor carioca Chico Moura diz ser vítima do "ódio incontido" de parte da comunidade brasileira na cidade. O motivo: votou em Dilma Rousseff na última eleição.
"Fui bastante escorraçado, xingado", afirma ele à BBC Brasil.
No segundo turno da eleição do ano passado, 91,79% dos brasileiros que votaram em Miami escolheram o candidato tucano Aécio Neves. Moura faz parte dos 8,21% que votaram em Dilma, quem ele considera uma "tremenda mulher".
"Sempre fui PT", diz o escritor, que cita a redução da pobreza no Brasil no governo Luiz Inácio Lula da Silva.
O escritor Chico Moura (Foto: BBC Brasil)Image copyrightBBC Brasil
Image captionEscritor Chico Moura diz ter sido xingado em Miami por ter votado em Dilma Rousseff na última eleição
Moura afirma que nem sempre a comunidade brasileira em Miami foi tão alinhada à oposição e que, quando chegou à cidade, só 3 mil compatriotas moravam ali. Hoje estima-se que sejam 300 mil.
"O brasileiro daquela época era mais aventureiro, trabalhava em diferentes atividades. O sujeito saía do Brasil como bancário e ia trabalhar numa fábrica de metais. (...) Não tinha essa coisa política, um êxodo de refugiados políticos. Hoje as pessoas que chegam vêm dessa pressão política, o que é uma coisa questionável."
Desde que os protestos contra Dilma Rousseff ganharam força no Brasil, brasileiros em Miami passaram a organizar atos na cidade. No último, em 16 de agosto, cerca de cem pessoas compareceram com cartazes e roupas verde-amarelas.

De analista a operário

Moura se mudou para os Estados Unidos pela primeira vez em 1972, 11 anos antes de se fixar em Miami. Buscava uma vaga de analista de sistemas, mas trabalhou como polidor de metais numa fábrica em Nova Jersey.
Entre idas e vindas ao Brasil, quando começou a atuar como jornalista, retornou aos EUA em 1978 e se tornou correspondente do jornal "O Globo" em Nova York.
Brasileiros protestam em Miami, em 16 de agosto (Foto: BBC Brasil)Image copyrightBBC Brasil
Image captionBrasileiros em Miami também fizeram protesto contra Dilma Rousseff no último dia 16 de agosto
Um dia saiu para pescar em Long Island, ilha próxima a Manhattan. Não pegou nada, mas um homem a seu lado fisgou dez anchovas.
Tempos depois, um amigo lhe convidou a pescar em Fort Lauderdale, cidade vizinha a Miami. Naquele dia, Moura pescou 11 corvinas, e o amigo voltou de mãos vazias. A sorte parecia lhe sinalizar algo.
"Resolvi mudar para Miami por causa de uma pescaria."
Na época, ele diz que a comunidade brasileira era mais unida. A cidade era menor, e cantores famosos a pulavam em suas turnês pelos Estados Unidos. "Miami era um balneário de pessoas que moravam no norte e vinham no inverno pra cá."
As primeiras levas significativas de turistas brasileiros, afirma ele, eram formadas por "'teenagers' (adolescentes) que vinham para comprar tudo, qualquer porcaria, videocassete, bonequinhos".
Ele conta que os comerciantes do centro da cidade viram no grupo a chance de ganhar dinheiro fácil e passaram "a vender gato por lebre". Acabaram se queimando com a comunidade.
Vista de Miami (Foto: BBC Brasil)Image copyrightBBC Brasil
Image captionSegundo o escritor, Miami tinha uma comunidade de apenas 3 mil brasileiros nos anos 1980
"Hoje mudou o perfil, e os brasileiros vêm para se divertir."
De 20 anos para cá, afirma, Miami entrou no roteiro cultural dos Estados Unidos. South Beach, um dos mais famosos bairros da cidade, virou "uma concentração de showbusiness". "Miami está na moda."

Amigo famoso

Dos primórdios da colônia na cidade, ele lembra o dia em que o cônsul brasileiro em Miami lhe telefonou com um pedido: queria que Moura mostrasse a cidade a um jovem de 20 e poucos anos que chegara com uma carta assinada pelo sociólogo pernambucano Gilberto Freyre (1900-1987).
O jovem se chamava Romero Britto e buscava começar uma carreira como artista plástico.
"Ficamos três dias rodando a cidade. Ele pediu um jornal meu e pintou um rosto de um palhaço, uma cara de mulher." Moura guarda a pintura até hoje. "De lá para cá, ficamos amigos."
Prédios e canais de Miami (Foto: BBC Brasil)Image copyrightBBC Brasil
Image captionChico Moura conta que Miami entrou para o roteiro cultural norte-americano nos últimos 20 anos
Com suas pinturas coloridas, Britto se tornou um dos pintores brasileiros mais conhecidos no exterior, embora jamais tenha sido aceito pelo establishment das artes no Brasil.
Conforme Miami se tornou mais popular entre brasileiros, Moura abriu e vendeu jornais, apresentou um programa de rádio, trabalhou com TV.
Nos últimos anos, deixou a rotina das redações para poder viajar e escrever mais. Virou motorista de táxi e publicou um livro sobre a experiência. Outro livro seu,Tatuagens, conta a história de imigrantes brasileiros na costa leste dos Estados Unidos. A capa é ilustrada por Romero Britto.

'Ódio incontido'

Mesmo longe do Brasil há décadas, Moura acompanha o noticiário local com atenção. Ele diz que há no país um clima de "ódio incontido" alimentado por disputas políticas.
Para ele, os brasileiros deveriam se espelhar na posição dos argentinos durante a Guerra das Malvinas, em 1982.
"Os partidos argentinos se odiavam, e houve uma argentinização, uma união em função de inimigo comum, os ingleses."
"Acho que o Brasil poderia tirar partido disso agora e acontecer uma espécie de brasilidade, para unir todo o povo em função de um inimigo comum, que é a corrupção. "

PGR pede arquivamento de inquérito sobre senador Antonio Anastasia Tucano foi citado por policial como beneficiário de R$ 1 milhão de propina. Parlamentar rechaçou acusação e afirmou que Youssef desmentiu entrega

O procurador-geral da República (PGR), Rodrigo Janot, responsável pelas investigações da Operação Lava Jato junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), pediu nesta sexta-feira (28) o arquivamento do inquérito sobre o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG). O órgão entendeu que não havia “elementos mínimos” para prosseguir com a investigação.

Com isso, o parlamentar poderá se livrar de acusações no caso. O arquivamento ainda depende de despacho do ministro Teori Zavascki, que supervisiona o andamento do inquérito no STF. É praxe que, diante de pedidos de arquivamento do Ministério Público, que conduz o inquérito, o Supremo siga a recomendação e encerre a investigação.
Anastasia passou a ser investigado a partir do depoimento do policial federal afastado Jayme Alves de Oliveira Filho, conhecido como "Careca". Ele afirmou que em 2010, a mando do doleiro Alberto Youssef, entregou R$ 1 milhão nas mãos de Anastasia numa casa em Belo Horizonte, na época em que o tucano disputava o governo de Minas Gerais.

A acusação foi desmentida posteriormente pelo próprio Youssef, em depoimento prestado a partir de uma delação premiada, em que colabora com as investigações em troca de redução de pena. Ele disse que nunca pediu a Careca para entregar dinheiro a Anastasia.
Informado à noite sobre o pedido de arquivamento, o advogado do senador, Maurício Campos, disse que já imaginava que o caso seria encerrado.
“Nem posso dizer que chega em boa hora porque acho que vem tardiamente. Tudo apontava que não havia menor indício de verdade no que disse o tal 'Careca'. E Youssef foi muito categórico ao afirmar que não havia entrega para o senador”, disse.
No pedido de arquivamento, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirma que, se surgirem novos indícios, o inquérito poderá ser reaberto.
Desde o início das investigações, Anastasia também negou fato. Num dos pedidos apresentados ao STF para arquivar a investigação no STF, a defesa afirmou que havia "absoluta imprestabilidade, total ineficácia probante e induvidosa precariedade" no depoimento de Careca.

Ainda em março, quando foi aberto o inquérito, Anastasia classificou as afirmações de Careca como "precárias e contraditórias"."Espero e confio que a justiça seja feita com a brevidade possível para restaurar, na plenitude, a minha trajetória e a minha honra", disse o senador.

Pela 1ª vez, Facebook tem mais de 1 bilhão de usuários em um único dia

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Image captionFacebook tem quase 1,5 bilhão de usuários que acessam rede pelo menos uma vez por mês
Pela primeira vez, mais de um bilhão de pessoas usaram o Facebook em um único dia, de acordo com o fundador da empresa, Mark Zuckerberg.
O marco foi atingido na segunda-feira, quando "1 em cada 7 pessoas na Terra usaram o Facebook para se conectar com seus amigos e sua família", disse ele em um post.
O Facebook tem quase 1,5 bilhão de usuários que acessam o site pelo menos uma vez por mês, mas esse foi o recorde em um único dia.
A empresa chegou à marca de 1 bilhão de usuários em outubro de 2012.
Ela foi fundada em 2004 por Zuckerberg, à época um estudante de Harvard.
No post publicado na quinta-feira, ele afirmou que o Facebook vai continuar a crescer.
"Essa foi a primeira vez que alcançamos esse marco, e é só o início da conexão de todo o mundo", escreveu Zuckerberg.
Em julho, o Facebook afirmou que mais da metade dos usuários da internet do mundo usavam o site pelo menos uma vez por mês.
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Image captionSegundo Zuckerberg, 1 em cada 7 pessoas do mundo usaram o Facebook ontem
Dave Lee, repórter de tecnologia da BBC América do Norte, acredita que o momento de estabilização do número de usuários do Facebook "ainda está longe".
Lee diz que os Estados Unidos, a Europa e a Índia estão quase no pico de usuários do Facebook. "Mas há grandes vazios - África, a maior parte da Ásia, parte da América Latina. É aí que o foco do Facebook está agora."

Imigrantes tornam Orlando novo polo brasileiro nos EUA João Fellet Enviado especial da BBC Brasil a Orlando

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Image captionPrefeito de Orlando diz que brasileiros são mais do que bem-vindos na cidade
Por muitos anos, eles chegavam em bandos para fazer compras e visitar os parques da Disney. Agora, muitos brasileiros também vêm a Orlando para ficar.
Fugindo da crise econômica na terra natal, eles integram uma nova onda de imigração brasileira nos Estados Unidos e estão transformando a cidade num novo polo do Brasil no país.
A presença do grupo é mais visível na International Drive, via onde bolsões comerciais concentram padarias, restaurantes e mercados brasileiros. Em março, o Banco do Brasil inaugurou ali sua terceira agência nos Estados Unidos - as outras ficam em Miami e Nova York.
A prefeitura de Orlando estima que 30 mil brasileiros vivam hoje na cidade, mas residentes mais antigos acham a cifra conservadora.
Para a curitibana Vera Giatti, que passou os últimos 12 de seus 53 anos em Orlando, a comunidade deve ser pelo menos duas vezes maior. Ela afirma que, quando se mudou para a cidade para trabalhar como faxineira, 5 mil compatriotas moravam ali.
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Image captionHá 12 anos em Orlando, Vera Giatti começou como faxineira; hoje, tem dois restaurantes
Giatti diz que o grupo cresceu conforme brasileiros se tornaram o maior grupo de turistas estrangeiros em Orlando e as lojas passaram a contratar vendedores que falassem português.
Cerca de 770 mil brasileiros visitam a cidade todos os anos, e o grupo também lidera o ranking dos que mais gastam na cidade.
Com o tempo, imigrantes que haviam conseguido juntar algum dinheiro também começaram a abrir negócios. Foi o caso de Giatti, hoje dona de duas franquias da rede brasileira de restaurantes Giraffas.
"Por falar português, hoje um brasileiro documentado em Orlando ganha mais do que um americano", ela diz à BBC Brasil. Giatti afirma, porém, que se a valorização do dólar e a crise no Brasil reduzirem o fluxo de turistas, muitos brasileiros poderão perder o emprego.

De subempregados a investidores

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Image captionPrefeitura estima que 30 mil brasileiros vivam em Orlando atualmente
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Image captionHá na cidade restaurantes e lojas dedicados à comunidade brasileira
Ela nota diferenças entre os imigrantes de sua época e a leva atual, que encorpou a partir do segundo semestre de 2014. "Antes, vinha muita gente que ficava no subemprego. Hoje muitos vêm para investir e já chegam comprando tudo."
Para dar conta da demanda, a imobiliária Florida Connexion conta hoje em Orlando com 40 corretores, quase todos fluentes em português.
"Muitos brasileiros que antes olhavam Miami como um destino natural agora estão vindo para cá", diz a dona da agência, a brasileira Rosana Rotondo de Almeida, de 55 anos.
Em 2014, ela diz ter fechado com clientes brasileiros 250 negócios no valor de US$ 70 milhões (R$ 249 milhões).
Segundo a imobiliária brasileira Lello, que também opera na Flórida, mesmo com a alta do dólar as compras de imóveis por brasileiros em Orlando cresceram 38% no primeiro semestre em relação ao mesmo período de 2014. Em Miami, as vendas subiram 15%.
Almeida afirma que a maioria dos clientes em Orlando são famílias que buscam "tranquilidade, segurança e querem distância do trânsito e da badalação de Miami".
Enquanto US$ 220 mil (R$ 786 mil) bastam para comprar uma casa nova com três quartos na cidade, imóveis equivalentes em Miami podem custam três vezes mais. Muitos também compram residências em Orlando como investimento ou para passar férias, ela diz.
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Image captionDona de imobiliária, Rosana diz que 250 negócios com brasileiros foram fechados no ano passado

Boas-vindas à diversidade

O afluxo é considerado "muito positivo" pelo prefeito de Orlando, Buddy Dyer.
"Damos as boas-vindas aos brasileiros", ele diz à BBC Brasil. "Somos uma cidade que abraça a diversidade".
Dyer diz que o restaurante preferido do seu filho é uma churrascaria rodízio e cita, entre os principais investimentos brasileiros na cidade, a compra do time de futebol Orlando City pelo empresário carioca Flavio Augusto da Silva, em 2012.
Desde que assumiu o clube, Silva contratou o jogador Kaká e anunciou a construção de um novo estádio.
Parte da obra será bancada por brasileiros, que compraram quase dois terços das 99 cotas de US$ 500 mil (R$ 1,8 milhão) que financiarão o estádio. Ao desembolsar o valor, eles se qualificam para o visto E-B5, que dá à família o direito de residir no país.
As escolas públicas da região tentam se adaptar aos novos alunos brasileiros. Um escola em Winter Garden, cidade na região metropolitana de Orlando, tinha 15 estudantes brasileiros em 2014. Em janeiro, o número dobrou.
A pedagoga paulista Kátia Franhani, que se mudou para a cidade em abril do ano passado, foi contratada para auxiliar o grupo em sua adaptação. "Há um apoio do governo para que os alunos não fiquem isolados, o que é essencial nessa primeira fase", ela diz.
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Image captionSímbolos brasileiros são facilmente vistos na avenida International Drive, que concentra negócios brasileiros

'Sustento com o próprio suor'

Nem todos os novos moradores chegam com os documentos em dia.
"Aqui, vivo na pele aquele ditado de tirar o sustento com o próprio suor", diz à BBC Brasil a fortalezense Raquel (nome fictício), de 24 anos.
Na cidade há quatro meses e formada em administração de empresas, ela afirma que sempre quis visitar Orlando como turista.
Quando a crise no Brasil apertou e a empresa em que trabalhava a demitiu, Raquel decidiu arriscar e ir morar com uma prima em Orlando. Desembarcou com um visto de turista e, em poucos dias, começou a trabalhar como diarista.
Diz ganhar hoje até US$ 1.800 por mês (R$ 6,4 mil), mais de três vezes o que recebia trabalhando como analista no Brasil. Com os primeiros pagamentos, visitou dois parques da Disney. "Realizei um sonho."
Raquel diz que não pretende trabalhar como faxineira por muito tempo: quer juntar dinheiro para pagar um curso de inglês e trocar o visto por um de estudante. A hipótese de morar ilegalmente no país a assusta.
"Tenho medo de acontecer algo com minha família no Brasil e eu não poder voltar. Ficaria com remorso pelo resto da vida", afirma.
Raquel, que no Brasil era católica, passou a frequentar a Primeira Igreja Batista Brasileira de Orlando. Ela diz que buscava na igreja amigos, mas ganhou "uma família".
No escritório acarpetado à entrada do templo, numa zona industrial de Orlando, o funcionário da igreja Fábio Rocha, 33 anos, compara o momento da comunidade brasileira da cidade ao vivido em 1999, quando ele chegou ali. Na época, "em todo culto tinha uma nova família".
Na década seguinte, temores sobre os efeitos do 11 de Setembro fizeram o grupo minguar. Outro êxodo, diz ele, ocorreu a partir de 2007, quando a economia americana mergulhou na sua maior crise em várias décadas e o Brasil atravessava situação inversa.

Fé e saudades

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Image captionFábio Rocha trabalha em uma das igrejas batistas brasileiras de Orlando
Os movimentos migratórios se refletiam no número de igrejas brasileiras em Orlando. "Quando o povo está chegando, várias igrejas abrem; quando vão embora, elas fecham."
Atualmente, há oito igrejas batistas brasileiras na cidade, além de dezenas de templos de várias outras denominações. De 2014 para cá, Rocha diz que voltou a se sentir "como nos anos 90".
"Tem gente que passou a frequentar a igreja que eu ainda nem conheci".
Embora a maioria dos que migram hoje chegue em situação mais confortável que as levas anteriores - algo que para ele reflete a melhoria nas condições gerais do Brasil -, ele diz que há quem procure a igreja sem ter o que comer.
"Aqui não existe rede de proteção social. Se um pai que sustenta a família adoece e deixa de trabalhar, a casa passa a viver em penúria".
Outros fiéis buscam na igreja conforto para lidar com a saudade. Rocha tira de uma gaveta formulários que a igreja entregou a seus membros perguntando como poderia melhorar a relação com o grupo.
Entre vários pedidos de ajuda com questões migratórias, um fiel escreveu em inglês: "Been here too long - miss my family" (Estou aqui há muito tempo - sinto falta da minha família).

Senadora: comissão que julga contas presidenciais era “quarto de despejo” Rose de Freitas diz que atuou sozinha para impedir julgamento de contas pela Câmara Eduardo Cunha sofre revés no STF em sua cruzada pelo impeachment


Rose de Freitas em audiência da comissão de orçamento. / G. MAGELA (AG. SENADO)
A presidenta Dilma Rousseff comemora ter ganhado nesta semana mais 15 dias para se defender no julgamento do TCU (Tribunal de Contas da União) que pode reprovar as contas do Governo Federal de 2014, uma das apostas dos oposicionistas para embasar um possível pedido de impeachment. Antes disso, o Planalto havia comemorado vitória ainda mais estratégica: após o veredito do TCU, as contas do Governo federal serão analisadas, por determinação do Supremo Tribunal Federal, em sessões conjuntas do Congresso Nacional, e não na Câmara, uma Casa hostil à petista, como era antes.

Em entrevista ao EL PAÍS, a senadora que já foi filiada ao PSDB e hoje está no PMDB governista, diz que atuou contrariando a vontade de todos. Nega que tenha afrontado Cunha. E que a Comissão Mista de Orçamento, que hoje preside, parecia um “quarto de despejo”, com tantas contas a serem encaminhadas. Eis os principais trechos da entrevista:No cerne dessa decisão do STF está a senadora Rose de Freitas (PMDB-ES). A jornalista Freitas, cumprindo seu oitavo mandato parlamentar, entrou com a solicitação  corte e obteve êxito. Com isso, se envolveu em uma das maiores polêmicas de sua carreira, no meio de dois peixes graúdos da política brasileira, os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara,Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ela foi acusada de ter agido a mando de Calheiros, contra Cunha, para dificultar o início de um pedido deimpeachment de Rousseff (PT).
Pergunta. Por qual razão você pediu que fosse o Congresso Nacional e não a Câmara dos Deputados quem deveria votar as contas presidenciais?
Há 25 anos havia contas na comissão [Mista de Orçamento] que não eram apreciadas. Como também havia vetos que não eram votados, e teriam de ser votados. Parecia um quarto de despejo de coisas não tinham solução
Resposta. Fiz essa solicitação porque não posso descumprir a Constituição Federal. Fiz isso porque o artigo 49, inciso 9 diz que é competência exclusiva do Congresso Nacional julgar anualmente as contas do presidente da República e o Orçamento da União. Há 25 anos havia contas na comissão [Mista de Orçamento] que não eram apreciadas. Como também havia vetos que não eram votados, e teriam de ser votados. Parecia um quarto de despejo de coisas não tinham solução. Afinal somos ou não um Poder dentro da federação. Como pode você desobedecer a Carta Magna? Na minha gestão eu já tinha arguido sobre isso. E antes dela também.
P. Pediu essa análise antes de ser presidenta da comissão?
R. Sim. Há dois anos. E as contas continuaram sem ser votadas. Eu não tinha por que recorrer de uma decisão se as contas não eram votadas. Mas quando eu, como presidente da Comissão, vou encaminhar as contas, teria de fazer dentro das regras. Ou seja, encaminhar para o Congresso Nacional, não para a Câmara ou para o Senado. Eu quis restabelecer a dignidade do Parlamento.
P. No seu pedido você solicitou que os julgamentos das contas anteriores (Itamar, FHC, Lula e Collor) deveriam ser anulados. Mas o STF só autorizou o novo procedimento para as contas futuras. Como recebeu essa decisão?
R. O fato de ter incorrido inúmeras vezes erros dessa natureza, nunca conseguiríamos nos atualizar nessa pauta. Eu mesma concordei que deveria ser daqui para frente. E as votações que já foram realizadas na Câmara devem ser complementadas no Senado.
Estávamos até pouco tempo atrás crescendo bem e discutindo nos grandes círculos de líderes mundiais. Hoje, a sociedade cobra por que não estamos mais. Onde foi que errou, quem errou e quem vai nos tirar a crise? Tirar a Dilma do poder não vai resolver a crise.
P. Essa solicitação feita ao STF teve a participação do senador Renan Calheiros? Muito se fala que você agiu por causa de um acordo feito por ele com o Governo Dilma.
R. O Renan não foi a meu favor. Ele me pediu um tempo, mas eu disse que não podia porque as contas estavam sendo votadas. Fui ao Eduardo Cunha e falei o que deveria fazer, mas ele já tinha um entendimento contrário. Fui ao Renan e disse que a regra não estava sendo cumprida. E ele me pediu um tempo, mas esse tempo eu não podia dar porque eu tenho contas para serem votadas e eu iria encaminhá-las.
P. Houve muitas críticas de que a sua ação judicial era uma forma de afrontar o Eduardo Cunha.
R. Eu sou amiga dele. Fui liderada por ele na Câmara. Fiz campanha para ele virar líder. De maneira nenhuma o afrontei. As pessoas que querem levar adiante essas coisas, eu não discuto. Com oito mandatos, nunca tive em nenhum deles uma relação pessoal acima da política. Se eu for muito amiga de uma pessoa e tiver uma questão política entre nós, vai a questão política na frente.
P. Mas depois da decisão ele tentou esvaziar a comissão. Tentando retirar a senhora do comando desta comissão.
R. Acho que Eduardo não teria essa atitude mesquinha. No momento ele achou que tinha razão sobre o procedimento. Corríamos o risco de ter todo o nosso trabalho anulado por uma decisão judicial. Você lembra quando o Supremo mandou a gente votar 3.000 vetos presidenciais? Aquilo foi uma vergonha para o Congresso.
P. Porque ele não fez o trabalho dele. É isso?
R. É. Imagina se isso ocorresse com todas as contas presidenciais passadas? Então, o certo é seguir o que determina a lei, para não ficar dando jeitinho.
P. Houve alguma interferência por parte do Governo Dilma para que você agisse dessa maneira?
Eu voto conforme o meu entendimento. Líder nenhum diz o que eu tenho de fazer. Vim para cá com autonomia. Não tive padrinho na política. Você não vai me encontrar pedindo a bênção de seu ninguém para as minhas ações
R. Nesses anos todos em que eu atuo como parlamentar, nunca houve a interferência de alguém do Executivo sobre as votações das contas. Nem presidente do Senado ou da Câmara. Ninguém diz como eu tenho de votar. Eu voto conforme o meu entendimento. Líder nenhum diz o que eu tenho de fazer. Vim para cá com autonomia. Não tive padrinho na política. Você não vai me encontrar pedindo a bênção de seu ninguém para as minhas ações.
P. Há um clima de animosidade no país que chega até o Congresso Nacional, em alguns momentos. Por qual razão isso tem ocorrido, na sua opinião?
R. O Governo tomou algumas atitudes equivocadas. Em alguns momentos, ela [a presidenta Dilma Rousseff] tinha de tomar decisões e não tomou e, agora, estamos no olho do furacão. A crise está acentuada porque esperávamos uma queda na arrecadação menor do a que se deu. Para se reequilibrar, o país precisa de investimentos. Onde não tem dinheiro, como fazer isso? Estamos em um círculo vicioso que precisamos de qualquer maneira, com ajuda do Legislativo, Executivo, Judiciário, de todos os atores, com uma discussão com a sociedade, sair. Estávamos até pouco tempo atrás crescendo bem e discutindo nos grandes círculos de líderes mundiais. Hoje, a sociedade cobra por que não estamos mais. Onde foi que errou, quem errou e quem vai nos tirar a crise? Tirar a Dilma do poder não vai resolver a crise. Se eu digo que tem de respeitar a Constituição, na hora que aparecer dentro do TCU, TSE alguma coisa que aponte a culpabilidade da presidente e se esgote sua defesa, eu estarei votando. Mas hoje se falar em impeachment sem um arrazoado jurídico, administrativo, disciplinar, eu não posso fazer. A convulsão que o país está é porque está em crise. Falta dinheiro pra família, para escola, pra fazer investimentos. Temos a oportunidade de passar o país a limpo. Agora, se enganar a população mais uma vez com Agenda Brasil ou com o quer que seja, quem vai marchar na rua, sou eu.
Temos a oportunidade de passar o país a limpo. Agora, se enganar a população mais uma vez com Agenda Brasil ou com o quer que seja, quem vai marchar na rua, sou eu
P. O seu partido oficialmente é da base do Governo. Mas o seu partido, o PMDB, está bem dividido. Você se considera base?
R. Sim, me considero. Mas o que na minha convicção é contra o que eu penso, eu voto contrário. Não me sentiria confortável. Várias vezes votei contra o Governo. Muitas vezes nessa nossa pendenga política, melhoramos as propostas do Governo. Agora, acho que o Governo está mais preparado para elaborar propostas porque está ouvindo as ruas.
P. Sendo governista, vota a favor da Agenda Brasil?
R. Ela tem muitas coisas interessantes, como o Código da Mineração, desoneração da folha. Tem muita coisa prioritária para sair da crise. Tem um pouco de perfumaria, mas são projetos importantes para outras épocas. O mais importante é ajudar o Brasil a sair da crise, coisa que o Governo não fez até hoje.