terça-feira, 14 de julho de 2015

Quem ficava com o que na Petrobras

Investigação e depoimentos apontam que partidos controlavam diretorias, segundo a Polícia Federal

Principais delatores

Doleiro, ex-diretor da Petrobras e empresários de fornecedora da estatal fizeram acordo de delação premiada

Alberto Youssef

ATIVIDADE
Doleiro, tinha a empresa de fachada MO Consultoria. Foi condenado
em 2004 por fraudes na venda do Banestado e envio ilegal de dinheiro
ao exterior
FUNÇÃO
Apontado pela polícia como operador do esquema
LIGAÇÕES
Relações com parlamentares e órgãos federais. Tentou fechar contrato com Ministério Saúde por meio do Labogen, laboratório do qual é investidor

Paulo Roberto Costa

ATIVIDADE
Diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras entre 2004 e 2012
FUNÇÃO
Pressionava empresas com negócio com a Petrobras a pagarem propina
LIGAÇÕES
No acordo de delação premiada, cita 3 governadores, 1 ministro, 6 
senadores, 25 deputados federais e 3 partidos envolvidos no esquema, segundo reportagem da revista ‘Veja’

Augusto Mendonça Neto e Julio Camargo Neto

ATIVIDADE
Executivos da empreiteira Toyo Setal
FUNÇÃO
Empresa era uma das fornecedoras da Petrobras, com contratos como o 
de R$ 1,1 bilhão do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro)
LIGAÇÕES
Mendonça diz que as empreiteiras formavam um ‘clube’ para realizar as 
obras da estatal. Diz ter pago cerca de R$ 60 milhões para Duque

Pedro Barusco

ATIVIDADE
Ex-gerente de Serviços da Petrobras (abaixo de Duque).
Fez acordo de delação premiada
FUNÇÃO
Em depoimento, estima que o PT recebeu até US$ 200 milhões de propina entre 2003 a 2013. Afirma ter recebido US$ 1 milhão de propina da empreiteira Odebrecht em 2009
LIGAÇÕES
Admite ter feito ‘contabilidade do esquema da Petrobras. Os valores mencionados se referem a 90 contratos com grandes empresas. Cita a participação de João Vaccari Neto (secretário nacional do PT)

Milton Pascowitch

ATIVIDADE
Empresário, dono da Jamp Engenheiros Associados
FUNÇÃO
Teria operado propinas da Engevix, para que ela mantivesse contratos com a Petrobras
LIGAÇÕES
Em depoimento, afirmou que a Jamp pagou R$ 1,5 milhão para a JD Consultoria, empresa do ex-ministro José Dirceu. A PF diz que Pascowitch atuava como elo entre a diretoria de Serviços da estatal e o PT

Outros delatores*

Ao todo, foram feitos mais de 15 acordos de delação premiada com o Ministério Público Federal

Principais contratos investigados

Obras de refinarias no Brasil e compra de Pasadena estão no radar da Polícia Federal

A situação dos suspeitos da Lava Jato até agora

Dirigentes de empreiteiras, diretores da Petrobras e pessoas ligadas a Youssef foram levados para a PF
PETROBRAS
  • Paulo Roberto Costaex-diretor de Refino e Abastecimento
    PRESO JÁ CONDENADO
  • Renato Duqueex-diretor de Serviços da Petrobras
    PRISÃO PREVENTIVA
  • Jorge Luiz Zeladaex-diretor da área Internacional
    PRISÃO PREVENTIVA
  • Nestor Cerveróex-diretor da área Internacional
    PRESO JÁ CONDENADO
ODEBRECHT
  • Marcelo Odebrechtpresidente
    PRISÃO PREVENTIVA
  • Rogério Santos de Araújodiretor
    PRISÃO PREVENTIVA
  • César Ramos Rochadiretor
    PRISÃO PREVENTIVA
  • Márcio Faria da Silvadiretor
    PRISÃO PREVENTIVA
  • João Antônio Bernardiex-funcionário
    PRISÃO PREVENTIVA
ANDRADE GUTIERREZ
  • Otávio Marques de Azevedopresidente
    PRISÃO PREVENTIVA
  • Elton Negrãodiretor
    PRISÃO PREVENTIVA
ENGEVIX
  • Gerson de Mello Almadavice-presidente
    PRISÃO DOMICILIAR
OAS
  • Agernor Franklin Magalhães Medeirosdiretor
    PRISÃO DOMICILIAR
  • José Aldemário Pinheiro Filhopresidente
    PRISÃO DOMICILIAR
  • José Ricado Nogueira Breghirolli
    PRISÃO DOMICILIAR
  • Mateus Coutiunho de Sá Oliveiravice-presidente do conselho
    PRISÃO DOMICILIAR
GALVÃO ENGENHARIA
  • Dario de Queiroz Galvão Filhosócio
    PRISÃO DOMICILIAR
  • Erton Medeiros Fonsecaexecutivo
    PRISÃO DOMICILIAR
UTC
  • Ricardo Pessoaex-presidente
    PRISÃO DOMICILIAR
MENDES JUNIOR
  • Sérgio Cunha Mendesvice-presidente
    PRISÃO DOMICILIAR
CAMARGO CORRÊA
  • Dalton Avancinipresidente
    PRISÃO DOMICILIAR
  • Eduardo Leitevice-presidente
    PRISÃO DOMICILIAR
  • João Ricardo Aulerpresidente do conselho de administração
    PRISÃO DOMICILIAR
JAMP
  • Milton Pascowitchdono
    PRISÃO DOMICILIAR
SEM EMPRESA ESPECÍFICA
  • Alberto Youssefdoleiro
    PRESO JÁ CONDENADO
  • Nelma Mitsue Penasso Kodamadoleira ligada a Youssef
    PRESO JÁ CONDENADO
  • Carlos Habib Charterdoleiro e dono do posto onde começou a Lava Lato
    PRESO JÁ CONDENADO
  • Rene Luiz Pereiratraficante ligado a Youssef
    PRESO JÁ CONDENADO
  • Iara Galdino da Silvadoleira ligada a Youssef
    PRESO JÁ CONDENADO
  • Maria de Fátima Stockerligada a Youssef
    PRISÃO PREVENTIVA
  • Adir Assadoperador do esquema
    PRISÃO PREVENTIVA
  • Guilherme Esteves de Jesusoperador do esquema
    PRISÃO PREVENTIVA
  • Ricardo Hoffmannpublicitário ligado a André Vargas (ex-PT)
    PRISÃO PREVENTIVA
  • Mario Góesoperador do esquema entre Petrobras e Arxo
    PRISÃO PREVENTIVA
  • Fernando Soareslobista conhecido como Fernando Baiano
    PRISÃO PREVENTIVA
  • André Catão de Mirandaex-funcionário de Carlos Charter
    PRESO JÁ CONDENADO
PT
  • João Vaccari Netoex-tesoureiro do partido
    PRISÃO PREVENTIVA
PP
  • Pedro Corrêaex-deputado pelo PP
    PRISÃO PREVENTIVA
SEM PARTIDO
  • André Vargasex-deputado
    PRISÃO PREVENTIVA
SOLIDARIEDADE
  • Luiz Argôloex-deputado
    PRISÃO PREVENTIVA
PRISÃO PREVENTIVA: Pode se estender por prazo indeterminado durante o processo

Linha do tempo da investigação

Operação foi deflagrada em 17 de março
Créditos
Edição: Gustavo Miller (Conteúdo), Leo Aragão (Infografia) e Marcelo Brandt (Fotografia)
Infografia: Karina Almeida e Roberta Jaworski
Desenvolvedores: Fábio Rosa e Rogério Banquieri

PF cumpre mandados de busca e apreensão em casas de políticos Senadores Collor e Ciro Nogueira e deputado Eduardo da Fonte foram alvo. Operação desta terça tem 53 mandados e é desdobramento da Lava Jato.

Polícia Federal iniciou na manhã desta terça-feira (14) a operação Politeia, um desdobramento da Lava Jato, com execução de mandados de busca e apreensão em casas de políticos. Até a última atualização desta reportagem, foram confirmadas buscas nas casas do senador Fernando Collor (PTB-AL) em Brasília e em Maceió, na casa do senador Ciro Nogueira (PP-PI) em Brasília, na residência do deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), em Brasília, e na casa do ex-ministro e ex-deputado Mário Negromonte (PP-BA), na Bahia.
Ao todo, a polícia tem 53 mandados para cumprir, autorizados pelos ministros Teori ZavasckiCelso de Mello e Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal(STF). Os mandados fazem parte de seis inquéritos do Supremo que investigam políticos dentro da operação Lava Jato.
Segundo a polícia, o objetivo é evitar que provas importantes sejam destruídas pelos investigados. As buscas ocorrem na residência de investigados, em seus endereços funcionais, sedes de empresas, em escritórios de advocacia e órgãos públicos.
Na capital alagoana,  agentes da polícia também cumpriram mandado no prédio da TV Gazeta, afiliada da TV Globo. A Gazeta tem Collor como um dos principais acionistas. Agentes também realizaram buscas na Organização Arnon de Mello (OAM), pertencente à família.
No Rio de Janeiro, a PF realizou buscas no prédio da BR Distribuidora. Também foram alvo das buscas as casas de dois diretores da BR Distribuidora, José Zonis e Luiz Cláudio Caseira Sanches.
Além de AlagoasDistrito Federal e Rio de Janeiro, também há mandados para os estados da Bahia (11), Pernambuco (8), Alagoas (7), Santa Catarina (5) e São Paulo (5). Cerca de 250 policiais federais participam da ação em todo o país.
Segundo a PF, Politeia, em grego, faz referência ao livro “A República” de Platão, que descreve uma cidade perfeita, onde a ética prevalece sobre a corrupção.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Operação Lava Jato, uma investigação grande demais para ‘acabar em pizza’? Operação recuperou 570 milhões de reais, mas desafia histórico de anulação na Justiça Sérgio Moro: “Quanto maior o poder, maior a responsabilidade”

Estátua da Justiça, localizada em frente ao STF. / GIL FERREIRA (SCO/STF )
O banqueiro Daniel Dantas foi preso no dia 8 de julho de 2008. No dia seguinte, pouco mais de 24 horas depois, Dantas era solto graças à concessão de um habeas corpus relâmpago. Era o início da conturbada e estridente Operação Satiagraha, deflagrada pelaPolícia Federal para investigar crimes financeiros e lavagem de dinheiro, e anulada quatro anos depois, sob a alegação de que contou com a participação não autorizada de agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O mesmo destino coube a operações de tamanho e impacto semelhantes, como Castelo de Areia, Chacal, Banestado e Boi Barrica, todas relacionadas a crimes de colarinho branco e todas anuladas após anos de investigação, num histórico que assombra a Operação Lava Jato.

Pela amplitude, a operação teria se tornado "too big to fail", ou grande demais para ser anulada. Como voltar atrás após tantos executivos assumirem culpa no cartório? Mas não falta vontade aos advogados de defesa que atuam no caso de tentar derrubar toda a Lava Jato. Criminalistas como Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que defende três senadores no caso, enxergam abusos nas prisões preventivas decretadas pelo juiz Sergio Moro e na forma como foram negociadas as delações premiadas de 19 dos acusados até agora.Não há garantias de que a Lava Jato venha a ter um destino diferente dessas outras operações, mas o grande trunfo da investigação que levou os maiores empreiteiros do país para a cadeia pode estar exatamente no seu tamanho monumental. Com pouco mais de um ano de existência, a Lava Jato já recuperou 570 milhões de reais, abriu 20 ações criminais contra 103 pessoas e baseou tanto a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a Petrobrasquanto a de uma apuração sobre os recursos da campanha de reeleição da presidenta Dilma Rousseff no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Doutora em Direito Penal pela Universidade de São Paulo (USP), Marina Coelho Araújo explica que, por ser tão grande, a Lava Jato disseminou vários processos, que podem tomar rumos diferentes, mas acredita que "alguma coisa vai ser anulada". A advogada criminalista, que atuou em casos como o da Operação Satiagraha, lembra que, na época da investigação sobre o dono do grupo Opportunity, também se imaginava que o caso era grande demais para ser anulado. Sobre a Lava Jato, ela acredita que "os procuradores não tomaram todos os cuidados para evitar a anulação" e que o futuro da operação vai depender da interpretação das cortes superiores sobre a forma como o dispositivo da delação foi utilizado. “Entendo que existem algumas questões graves, mesmo de procedimentos menores. E o caso do Banco Santos, por exemplo, foi anulado por causa da audiência de interrogatório. Uma coisa pequena. A anulação não vem só de coisas muito grandes. Não seguiu a lei, tem de anular”, comenta. Em maio deste ano, a Justiça anulou a condenação a 21 anos de prisão imposta em 2006 ao ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira, do Banco Santos, pelos crimes de gestão fraudulenta de instituição financeira e lavagem de dinheiro, entre outros.
O maior escândalo de corrupção da história sangra os cofres da maior empresa estatal do país e põe à prova novamente a eficácia de um sistema processual penal de uma duvidosa eficácia e crônica benevolência com crimes econômicos que envergonham o país
Trecho da dissertação de mestrado de Diogo Castor de Mattos, procurador da Lava Jato
O ministro Marco Aurélio Mello é um dos juízes do Supremo Tribunal Federal (STF) que mais tem comentado o caso, e nem sempre de maneira abonadora. Em uma de suas últimas declarações sobre a Lava Jato, dada ao jornal Valor Econômico, Mello descartou a anulação da operação como um todo, mas criticou a colocação de escutas clandestinas na cela dodoleiro Alberto Youssef na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. O ministro lamentou a " discrepância" que "coloca em xeque" um "trabalho que vem sendo feito com tanta seriedade", acrescentando que "é possível separar a parte comprometida, se houver".

Política

Membro da força-tarefa da Operação Lava Jato, o procurador Diogo Castor de Mattos evita comentar diretamente a investigação, mas lança até o final do ano um livro que joga luz sobre os caminhos que a Justiça brasileira tem percorrido para levar à anulação todas as grandes operações contra crimes de colarinho branco. Para ele, as decisões que levam à nulidade são essencialmente políticas. Assegurando que os investigadores da Lava Jato procuram "trabalhar sempre na legalidade", Mattos disse ao EL PAÍS que não acredita que os responsáveis por operações como Satiagraha ou Castelo de Areia foram menos cuidadosos.
Em sua dissertação A seletividade penal na utilização abusiva do habeas corpus dos crimes de colarinho branco, defendida em fevereiro na Universidade Estadual do Norte do Paraná, o procurador constata que "pela via do habeas corpus, há decretação da nulidade de provas de diversas ações penais envolvendo pessoas abastadas economicamente, autores de crimes do colarinho branco”. Segundo Mattos, “o objetivo nodal da pesquisa é demonstrar que essa utilização abusiva do habeas corpus vem reforçando o caráter seletivo do direito penal nos crimes cometidos pela elite econômica”.
Em seu trabalho, o procurador lembra que “até o início do julgamento da AP [Ação Penal] n°470, também conhecido como'Mensalão', a Corte Suprema do país registrava apenas quatro condenações criminais, nenhuma com trânsito em julgado, e onze absolvições", e analisa: "Certamente, o notório assoberbamento do STF, como também a benevolência dos julgadores com as teses da defesa, admitindo a análise de inúmeros recursos manifestamente protelatórios de uma decisão que deveria ser irrecorrível, demonstra um sistema pouco eficiente”.
Para embasar sua análise, Mattos destaca que, no caso da Satiagraha, crimes financeiros e lavagem de dinheiro, foram anuladas "todas as provas da operação, independentemente daquelas em que não houve a 'suposta' participação dos agentes de inteligência [ABIN]". Já a Operação Castelo de Areia, que investigava subornos a agentes públicos para fraudar licitações, foi anulada por seu inquérito se basear em denúncia anônima. O procurador aponta uma incoerência, pois "existem aparatos estatais bem sucedidos e institucionalizados como 'disk denúncia' que visavam justamente contar com a contribuição da população para elucidação de crimes e preservam a identidade do delator".
O procurador conclui sua pesquisa dizendo que “no atual momento histórico, a pressão e o controle social exercem papéis fundamentais para a efetiva fiscalização do cumprimento efetivo do papel das instituições", destacando que "acontecimentos recentes como o próprio julgamento do Mensalão têm demonstrado como a pressão popular ainda é uma das formas mais efetivas de controle da democracia”. Sem citar a Lava Jato diretamente, Mattos diz no trabalho que "o Brasil vive atualmente um momento histórico único", pois "o maior escândalo de corrupção da história sangra os cofres da maior empresa estatal do país e põe à prova novamente a eficácia de um sistema processual penal de uma duvidosa eficácia e crônica benevolência com crimes econômicos que envergonham o país”. E finaliza: “É nos tempos de crise e dificuldade que surge a coragem para a mudança e inovação, tendo o país uma chance única de renovação na confiança das instituições públicas". A dissertação do procurador terá sua prova de fogo nas cortes superiores do país.

Matar o projeto europeu Ser um membro da zona do euro significa que os credores podem destruir a economia de um país caso este decida sair da linha Grécia aceita acordo com duras condições para obter crédito da UE

Acuerdo en Grecia
Alexis Tsipras, primeiro-ministro da Grécia, no último domingo em Bruxelas. / JASPER JUINEN (BLOOMBERG)
Suponhamos que você considere Tsipras um imbecil incompetente. Suponhamos que queira ver o Syriza fora do poder a todo custo. Suponhamos que, inclusive, veja com bons olhos a ideia de empurrar esses gregos irritantes fora do euro.
Mesmo se tudo isso fosse verdade, essa lista de exigências do Eurogrupo é uma loucura. A hashtag do Twitter #ThisIsACoup (Isto é Um Golpe) é exatamente correta. Isso vai além de pura vingança, da completa destruição da soberania nacional e de nenhuma esperança de alívio. Provavelmente, pretende ser uma oferta que a Grécia não possa aceitar; mas, ainda assim, é uma traição grotesca a tudo o que o projeto europeu deveria representar.
De certo modo, a economia quase se tornou algo secundário. Mas, ainda assim, sejamos claros: o que aprendemos nas últimas semanas é que ser um membro da zona do euro significa que os credores podem destruir a economia de um país caso este saia da linha. Isso não tem nada a ver com a economia subjacente da austeridade. É mais evidente do que nunca que impor duras medidas de austeridade e sem alívio da dívida é uma política condenada ao fracasso, não importa o quanto o país esteja disposto a aceitar o sofrimento. E isso, por sua vez, significa que mesmo uma capitulação completa da Grécia seria um beco sem saída.É possível puxar a Europa da beira do abismo? Comenta-se que Mario Draghi está tentando reintroduzir um pouco de sanidade, que Hollande está finalmente retrocedendo um pouco diante da economia com ares de lições de moral da Alemanha, a qual ele significativamente não conseguiu aplicar no passado. Mas grande parte do estrago já foi feito. Quem voltará a confiar nas boas intenções da Alemanha depois disso?
Grécia pode conseguir uma saída bem-sucedida? A Alemanha tentará bloquear uma recuperação? (Desculpe, mas esse é o tipo de coisa que devemos perguntar agora).
O projeto europeu (um projeto que sempre elogiei e apoiei) simplesmente sofreu um terrível golpe, talvez fatal. E independentemente do que você pense do Syriza, não foram os gregos os responsáveis por isso.
Paul Krugman é professor de Economia na Universidade de Princeton e Prêmio Nobel de Economia de 2008.
© 2015 The New York Times.

Primeiros indícios de que há um continente em Marte Robô 'Curiosity' detecta pela primeira vez uma crosta continental no planeta vermelho Marte pode ter sido um mundo viável para micro-organismos

O robô 'Curiosity' captado pela sonda MRO em 8 de abril. / NASA
Há um robô do tamanho de um utilitário que anda por Marte disparando raios laser. Sua luz concentra a potência de um milhão de lâmpadas em um ponto milimétrico e permite analisar as rochas a distância. Essa tecnologia abre uma janela única para o que ocorreu no planeta há bilhões de anos e, graças a ela, o Curiosity acaba de encontrar indícios do que poderia ser o primeiro continente achado em Marte.

Os resultados do experimento ChemCam, publicado nesta segunda-feira na Nature Geoscience, indicam que há rochas marcianas com uma composição muito similar à da crosta continental da Terra. Esse tipo de rocha forma todos os continentes terrestres e tem uma composição diferente da crosta que há sob os oceanos. Essa atividade geológica foi fundamental para que a Terra pudesse desenvolver vida e os novos dados apontam que o planeta vermelho tinha uma atividade semelhante, muito maior do que se pensava até agora.
Uma das amostras de rocha da possível crosta continental detectada em Marte. / NASA
O périplo do Curiosity pela cratera Gale começou em 6 de agosto de 2012. Em seu caminho o robô se deparou com pedras de uma estranha cor clara, diferentes dos basaltos escuros abundantes no planeta. A origem dessas rochas esbranquiçadas, escrevem os autores do estudo, parece ser uma “crosta de vários quilômetros de espessura” que ficou em parte exposta no setor norte da cratera.
Depois de queimar 22 dessas pedras com o laser e analisar seus componentes, os responsáveis pelo ChemCam garantem que são ricas em feldespatos, o que indica que têm uma origem magmática. De fato, ressaltam, sua composição é similar à da crosta continental mais antiga encontrada na Terra. Sua existência significa que o planeta vermelho tinha em seu interior uma atividade geológica muito maior do que se pensava. De modo análogo ao que aconteceu no nosso planeta, esse magma teria moldado a crosta até fazer aflorar a matéria-prima necessária para formar continentes.
Jesús Martínez-Frías, pesquisador do Instituto de Geociências (IGEO, CSIC-UCM) e membro da equipe de ciência do Curiosity,destaca a importância desse achado. “Não é a primeira vez que se sugere a existência de uma crosta continental, mas é a primeira em que se detecta e analisa uma in situ”, afirma. Até agora se assumia que em Marte havia duas grandes placas, uma mais fina no hemisfério norte, e que foi o fundo de um enorme oceano, e outra mais grossa no sul, onde se encontra o veículo, explica.
A nova descoberta é “muito importante”, embora ainda seja cedo para confirmar a existência de “um grande continente”, ressalta Martínez-Frías. Os dados mostram que o planeta não só é muito mais diversificado em minerais do que se pensava, mas que também eles foram transformados pelo magma para dar lugar a uma grande variedade de rochas. Isso, por sua vez, tem importantes implicaçõespara a possibilidade de vida. Marte pode ser um gêmeo da Terra, muito mais bem dotado na origem para gerar a vida. De fato, há a possibilidade de que toda a vida da Terra provenha do planeta vermelho. De todo o modo, a existência de atividade geológica reforça as possibilidades de biologia em Marte. “É essa vitalidade geológica que cria, modifica e destrói ambientes nos quais a vida pode surgir e evoluir”, observa Martínez-Frías. “Estamos somente começando a compreender o contexto passado dessa diversidade geológica em Marte”, adverte;

Camboja usa ratos 'salva-vidas' para detectar minas terrestres ONG belga desenvolve métodos de detecção usando ratos. Ratos são treinados para identificar minas e bombas pelo cheiro.

Rato é treinado para detectar minas no Camboja, em foto de 9 de julho  (Foto: Reuters/Samrang Pring)Rato é treinado para detectar minas no Camboja, em foto de 9 de julho (Foto: Reuters/Samrang Pring)
Pit, que tem dois anos e apenas um olho, precisou de só 11 minutos para detectar uma mina terrestre mortal enterrada em um campo do Camboja, país do sudeste asiático. Humanos com detectores de metal poderiam levar até cinco dias para fazer o mesmo trabalho.
Mas Pit não é humano. Ele faz parte de um grupo de ratos de elite, importados da África, que o Camboja está treinando para detectar pelo cheiro minas terrestres que ainda estão espalhadas no interior do país, depois de décadas de conflito.
"Sob um céu claro, ele teria sido ainda mais rápido", disse Hul Sokheng, que é um veterano no trabalho de buscar minas e que supervisiona o treinamento de 12 pessoas que devem trabalhar com 15 ratos para eliminar as bombas de vilas rurais e fazendas do Camboja.
"Esses ratos são salva-vidas", diz Sokheng.
  Ratos são treinados desde 4 semanas de idade para identificar minas e bombas pelo cheiro  (Foto: Reuters/Samrang Pring)Ratos são treinados desde 4 semanas de idade para identificar minas e bombas pelo cheiro (Foto: Reuters/Samrang Pring)
O trabalho dos roedores pode se provar vital em um país onde dispositivos que não explodiram, incluindo minas e bombas, mataram quase 20 mil pessoas e feriram cerca de 44 mil desde 1979, segundo o governo do país.
Uma das vantagens de usar ratos é que as minas não os colocam em perigo, pois eles não são pesados o suficiente para acioná-las
Pit consegue cheirar o explosivo TNT dentro das minas terrestres, sob a vigilância de duas pessoas que o amarram em um cordão enquanto o rato de um olho só faz buscas no campo.
Pit e seus colegas ratos foram enviados ao Camboja da Tanzânia em abril pela organização belga sem fins lucrativos Apopo para ajudar a eliminar as minas terrestres do país. Eles têm sido treinados desde 4 semanas de idade.
No campo de treinamento, Pit foi ensinado a encontrar objetos com o cheiro do TNT, parar e cavar um pouco. Ele é premiado por seu treinador com banana.
"Ele sabe seu dever: procurar", diz Hul Sokheng.
 Funcionário alimenta rato treinado para detectar mina terresre  (Foto: Reuters/Samrang Pring)Funcionário alimenta rato treinado para detectar mina terresre (Foto: Reuters/Samrang Pring)
A organização Apopo tem promovido o uso de ratos para detectar minas terrestres em muitos países, incluindo Angola, Moçambique, Tailândia, Laos e Vietnã.
Uma das maiores vantagens de usar ratos é que as minas não os colocam em perigo porque eles não são pesados o suficiente para provocar uma explosão. Para seus treinadores, eles são mais do que detectores de bomba. "Eles não são apenas ratos, eles são como meus irmãos", disse o treinador Meas Chamroeun, de 41 anos.
Além de detectar minas, os ratos treinados pela Apopo também são capazes de detectar tuberculose. Apropriadamente apelidados de “HeroRATs”, ou “ratos heróis”, eles conseguem diagnosticar a doença com uma precisão de até 80%.
 Ratos investigam campo para buscar bombas. Eles ficam presos a cordões  (Foto: Reuters/Samrang Pring)Ratos investigam campo para buscar bombas. Eles ficam presos a cordões (Foto: Reuters/Samrang Pring)