Nayra, Marisete e Francisco Pedro, como milhares de brasileiros, perderam seus empregos da noite para o dia. O desemprego que chegou a 6,7% em maio (menos 250 mil postos de trabalho formais só neste ano) obrigou o trio e a muitos outros a mudar seus planos de uma hora para outra, em meio a uma economia que prevê retração de 1,2% em 2015, a pior estimativa para o PIB em 25 anos. Cada um deles buscou alternativas diferentes para driblar a crise: um investiu o dinheiro do Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS) em uma franquia, outro migrou para a economia informal e o último deseja fazer o trajeto de migração inversa rumo a Pernambuco.
Dois meses após a demissão, foi a vez de seu namorado, Robson Yuki, entrar na lista dos cortes de uma empresa de construção civil, outro setor que está em maus lençóis por conta da fraca atividade econômica brasileira e dos desdobramentos da Operação Lava Jato. “Foi quando decidimos juntar forças, pegar os nossos dinheiros do FGTS e abrir uma franquia nova, a Panda (especializada em cafés, pão de queijo e petit gateau). Nunca almejei ter o meu próprio negócio, mas, após mandar dezenas de currículos, fazer entrevistas de emprego para diversas empresas e não ter nenhum retorno, não sobraram muitas opções”, explica.Nayra Marcula sentiu na pele as consequências dos cortes de mão de obra que o setor automotivo tem implementado – mais de 21.000 vagas já foram eliminadas nas montadoras desde o fim de 2013. Ela foi demitida, no fim do ano passado, de uma empresa de São Paulo que fabricava bancos de carros principalmente para a GM e a Volkswagen. “Eu e mais 30 pessoas fomos demitidas. A empresa tentou muito manter o pessoal, mas, com a queda nas vendas do setor, não tínhamos mais tantos pedidos”, conta Nayra, que trabalhava há quatro anos como analista de Recursos Humanos da empresa.
Nunca almejei ter o meu próprio negócio, mas, após mandar dezenas de currículos, fazer entrevistas de emprego para diversas empresas e não ter nenhum retorno, não sobraram muitas opções”
Nayra Marcula abriu uma franquia após ser demitida.
O casal decidiu escolher uma franquia de investimento mais baixo (cerca de 60.000 reais) e optou pelo ramo de alimentação por julgar ser um setor que sofre menos com as oscilações da economia, já que é uma venda por necessidade e não compulsiva. “Abrimos a loja em abril em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo, e, pelo menos, conseguimos pagar as contas em dia. Não temos funcionários e o bom é que vendemos lanchinhos rápidos, os valores não são caros”, explica Nayra que pretende recuperar o investimento em 1 ano e meio.
O gerente do Sebrae-SP, Arthur Achôa, explica que, em momentos de recessão econômica, o número de pessoas que decidem empreender por necessidade pessoal, como no caso do casal, aumenta um pouco. “A estimativa é que em São Paulo, de 10 pessoas que procuram a entidade, 3 estão nesta situação de desemprego”, explica. “Esse número oscila de acordo com o cenário econômico”, afirma. Achoâ ressalta também que a opção de investir em franquias é mais comum entre os que estão começando a empreender. “As franquias são um pouco mais seguras de darem retorno pois já possuem um estudo de mercado, já há um planejamento inicial”, explica.
Vivendo de bico
A onda recente de demissões nos mais diversos setores também faz com que trabalhadores que perderam seus empregos com carteira assinada passem a viver de bicos ou como autônomos. O trabalho por conta própria, na maioria dos casos com rendimento inferior a 2.000 reais por mês, representa hoje 18,4% de todas as ocupações nas principais cidades do Brasil. Já os trabalhadores sem carteira assinada no setor privado somam 8,5%, de acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE referente ao mês de maio.
O que se nota, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO) e da FGV, é que a desaceleração da economia também estaria alterando o ritmo de redução da informalidade do país. O Índice de Economia Subterrânea no Brasil, que mede o conjunto de atividades de bens e serviços que não são reportados ao governo, teve em 2014 queda de apenas 0,2 ponto porcentual em relação ao ano anterior, um recuo muito pequeno em relação aos outros anos.
“Não há como comprovar essa relação direta, mas numa situação de crise as pessoas precisam encontrar algum tipo de renda elas aceitarão trabalhos informais”, afirma Evandro Guimarães, Presidente Executivo do ETCO.
Marisete Santos, de 51 anos, foi uma das que migrou para o trabalho informal. Ela trabalhou 5 anos como terceirizada no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), na área de limpeza, e foi demitida, sem aviso prévio, com outros 20 funcionários por problemas financeiros da terceirizada. “Entrei em depressão, não achava emprego e decidi vender roupa na rua. Até agora, o que ganho aqui é parecido com o que ganhava antes. Compro tudo em atacado”, diz ela, dona de uma barraquinha em uma estação de metrô de São Paulo. Conta com a ajuda de outras cinco pessoas que não têm carteira assinada e diz que, nos últimos meses, tem percebido um aumento de vendedores informais na área em que trabalha.
De São Paulo para Pernambuco: migração inversa
Também há quem não acredite mais no sonho das grandes metrópoles, como São Paulo, e planeje o retorno a sua cidades de origem. É o caso do pernambucano Francisco Pedro da Silva, de 41 anos. Ele foi demitido há dois meses de uma gráfica na qual trabalhou por mais de 9 anos na capital paulista e escutou, como tantos outros brasileiros, a justificativa de corte de gastos. Agora, sem muitas perspectivas em São Paulo, ele pretende fazer o caminho inverso e voltar para o Nordeste após 23 anos.
Cheguei aqui com 17 anos à procura de emprego e me mantive até então. Naquela época no nordeste, a situação era pior e a migração para cá era a única esperança de uma vida melhor. Percebo que as coisas mudaram.
Pernambucano Francisco Pedro da Silva, de 41 anos
“Cheguei aqui com 17 anos à procura de emprego e me mantive até então. Naquela época no nordeste, a situação era pior e a migração para cá era a única esperança de uma vida melhor. Percebo que as coisas mudaram. Já mandei currículos para várias empresas e nada. Ao que parece, tenho mais perspectivas na minha terra natal”, explica. O plano de Silva é investir parte das verbas que recebeu na hora demissão como indenização em um minimercado em Petrolina, em Pernambuco, ainda que os índices econômicos na região não estejam melhores que o do resto do país. Ele acredita que agora é o momento para ter o próprio negócio. “Estou me preparando, me capacitando para entender melhor as ideias do negócio. Minha principal pendência antes de ir é vender a minha casa, mas agora é a hora certa de voltar com a minha família para Pernambuco.”