terça-feira, 16 de junho de 2015

Líder da Al-Qaeda e ex-secretário de Osama bin Laden é morto no Iêmen Drone matou Nasser al-Wuahishi, líder no Iêmen e na Arábia Saudita. Al-Qaeda nomeou como substituto o chefe militar Qasim al-Raimi.

A Al-Qaeda na Península Arábica (AQPA) confirmou a morte em um ataque de drone de seu líder, Naser al-Wahishi, em um vídeo divulgado nesta terça-feira (16).
"Wahishi morreu em um ataque de drone americano contra ele, ao lado de outros dois mujahedines", afirma um integrante da Al-Qaeda no vídeo publicado no YouTube pelo Al-Malahem, o serviço de propaganda do grupo jihadista.
O chefe militar da AQPA, Qasim al-Rimi, foi anunciado como o novo líder em uma reunião de dirigentes do grupo, segundo a mesma fonte.
A morte de Naser al-Wahishi, cujo grupo reivindicou o atentado contra a redação do Charlie Hebdo em Paris em janeiro, havia sido anunciada pela imprensa internacional.
De acordo com o canal CNN, que citou duas fontes do Departamento de Segurança Nacional do Iêmen, Naser al-Wahishi, considerado o número dois da Al-Qaeda, morreu no dia 12 de junho na região de Hadramut, ao leste de Áden.
Em 2013 ele foi designado adjunto do líder da Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri.
Uma fonte iemenita afirmou à AFP que Wahishi provavelmente morreu em um ataque em Mukalla, na região sudeste do Iêmen, e que o corpo estaria em um necrotério local, protegido por rígidas medidas de segurança.

Tony Blair: maníaco missionário milionário O ex-primeiro-ministro britânico aproveitou seu cargo de alto enviado internacional para a paz no Oriente Médio para fechar lucrativos contratos com líderes do Golfo

Tony Blair
Blair em uma escola de Gaza, em fevereiro. / SUHAIB SALEM (REUTERS)
“O sublime e refinado ponto de felicidade chamado enganar bem a si mesmo”
Jonathan Swift
No final deste mês, Tony Blair vai renunciar ao cargo de alto enviado internacional para a paz no Oriente Médio, posto que assumiu em 2007, com uma credibilidade semelhante a de um bombeiro com tendências incendiárias.
Quatro anos antes, durante sua década como primeiro-ministro britânico, havia se lançado com fervor cristão à arruinada cruzada no Iraque. Depois de oito anos como missionário da paz no Oriente Médio — representando as Nações Unidas, a União Europeia, os Estados Unidos e a Rússia —, o único beneficiado foi ele. A região é um inferno, mas, Blair, graças aos contatos de negócios conseguidos com os emires e xeiques do Golfo enquanto fracassava em suas tentativas de alcançar a paz, é agora um multimilionário.
Um ser estranho, Tony Blair; um personagem com uma visão de si mesmo esquizofrenicamente oposta à que o público tem dele, especialmente em seu país, onde já foi um ídolo — ganhou as eleições de 1997 com uma maioria sem precedentes para o Partido Trabalhista — e agora é motivo de chacota, desprezo ou indignação.

Em 2010, por exemplo, diante de uma comissão criada pelo Parlamento britânico para investigar a decisão de invadir o Iraque, afirmou que não sentia nenhum remorso e, se a história se repetisse, faria o mesmo. Quando saiu da sala, algumas pessoas gritaram "mentiroso", adjetivo que se escuta com frequência no Reino Unido quando Blair surge na conversa.George W. Bush, companheiro de Blair na aventura militar no Iraque, deixou a presidência dos Estados Unidos e desapareceu. Agora se limita a pintar quadros em seu rancho no Texas. Blair, no entanto, é o ex-mandatário britânico mais ativo da história. Longe de se esconder do mundo, ou de sentir vergonha e contrição, ofereceu-se alegremente para a tarefa de devolver a estabilidade onde antes havia semeado o caos, e sem nunca renunciar à convicção de que a guerra do Iraque havia sido plenamente justificada.
A verdade é mais complexa. Blair acredita em suas mentiras. Vive em uma permanente ilusão.
De acordo com Roy Hattersley, político veterano que foi mentor de Blair durante seu começo no Partido Trabalhista, Blair "acredita no que quer acreditar... Está convencido de que o que sua consciência diz é a verdade objetiva". Anthony Seldon, seu biógrafo, defende a mesma ideia, explicando que os processos mentais de Blair obedecem à lógica de sua profunda fé religiosa. Se sua consciência — ou o seu Deus — lhe diz que o que faz é certo, tem que ser.
A verdade é complexa. O ex-mandatário acredita em suas mentiras. Vive uma permanente ilusão
O padrão do que na psicologia é chamado de dissonância cognitiva, argumentar com a mesma convicção duas ideias incompatíveis, se repete ao longo de seu histórico. Nas palavras do filósofo político britânico John Gray, Blair foi um primeiro-ministro nominalmente de esquerda que se identificou com o livre mercado, consolidou o thatcherismo e entrou em guerra ao lado do neoconservador Bush. Inventou a teoria da Terceira Via que tanto animou na época a esquerda europeia, que acabou não se tornando uma nova contribuição ideológica, mas uma hábil ferramenta de marketing eleitoral.
Deixou o Governo e continuou pensando em vias paralelas. Isso foi demonstrado pelo fato de que, após seu catastrófico histórico no Iraque, se considerou apto para promover a paz no Oriente Médio; demonstrou em sua maneira de exercer a tarefa como enviado especial para a região. Como a imprensa britânica revelou em inúmeros artigos, seu modus operandi é o seguinte: entra na sala de reunião de um emir em plano de paz e sai com um contrato lucrativo para sua empresa de consultoria, a Tony Blair Associates. OFinancial Times publicou na semana passada que "desde que deixou a Downing Street exibiu um interesse maníaco em ganhar dinheiro". Em um documento confidencial da Tony Blair Associates publicado na sexta-feira pelo The Daily Telegraph, Blair revela a curiosa dualidade de seus objetivos ao escrever: "Estamos construindo uma série de profundas conexões com empresas privadas e Governos em todo o mundo. Fazemos negócios e filantropia".
Ninguém acusou Blair de ilegalidade, mas percebe-se certa semelhança com a forma de operar da FIFA de Joseph Blatter, uma ONG, segundo o próprio Blatter, e uma máquina de fazer dinheiro ao mesmo tempo. Como o presidente da FIFA, Blair sempre viaja em jatos particulares, é recebido pelos chefes de Estado com todas as honras e se hospeda nas suítes mais luxuosas dos hotéis mais caros, como corresponde a um membro do clube exclusivo dos ricos e poderosos que compartilham os luxos mais esplêndidos da vida. Nem pisca na hora de fazer negócios com Governos como os da Arábia Saudita, Abu Dhabi ou do Cazaquistão, cuja noção de direitos humanos pouco se encaixa com a qual pretende representar. A questão é encher os bolsos de dinheiro. Blair, cuja empresa tem 200 funcionários, possui nove propriedades no Reino Unido com um valor acumulado de 35 milhões de euros (123 milhões de reais). No entanto, quando questionado, declara: "Não se trata de dinheiro. Trata-se de fazer diferença no mundo".
Diz isso com total sinceridade, com a mesma sinceridade que, sem dúvida, mostrará quando embarcar em sua nova missão no próximo mês, à frente de um organismo europeu dedicado à luta contra o racismo, o antissemitismo e a xenofobia. Continuará criando mais dessas conexões das quais se orgulha, continuará combinando negócios com filantropia, e nem passará por sua cabeça a ideia de que seu comportamento é contraditório, indigno ou pouco ético. Outros não vão querer entender, mas se há uma coisa que Blair, homem feliz, não tem a menor dúvida, se há uma grande verdade que aniquila todos os argumentos contra ele, é a cega convicção de que foi chamado para fazer o trabalho de Deus.

Milão não quer mais receber solicitantes de refúgio Prefeito Giuliano Pisapia disse que a cidade já fez o que podia

Itália não está conseguindo acolher todos os solicitantes de refúgio que chegam ao país (foto: ANSA)
Itália não está conseguindo acolher todos os solicitantes de refúgio que chegam ao país (foto: ANSA) MILÃOZLR
(ANSA) - O prefeito de Milão, Giuliano Pisapia, afirmou nesta segunda-feira (15) que a cidade não quer mais receber solicitantes de refúgio, que têm chegado em quantidades cada vez maiores à Itália por causa da crise migratória no mar Mediterrâneo.
    "A Prefeitura e o município já fizeram a sua parte e continuarão fazendo. A rede de solidariedade tem sido extraordinária, porém mais do que isso Milão não pode fazer", diz uma nota assinada pelo político, que pertence ao partido Esquerda, Ecologia e Liberdade (SEL, na sigla em italiano).
    Nesta segunda, Pisapia teve uma reunião com o ministro do Interior Angelino Alfano para discutir o grande afluxo de solicitantes de refúgio à cidade. No último fim de semana, muitos deles foram expulsos da Estação Central, principal porta de entrada ferroviária da capital da Lombardia.
    Os imigrantes ocupavam dois mezaninos do edifício, mas foram obrigados pelas forças de segurança a procurar outro lugar para ficar. Além disso, os espaços foram fechados com grades para evitar que eles voltassem.
    "Estamos sempre tentando conciliar o decoro da cidade, a legalidade, a segurança e as necessidades dos cidadãos com a ajuda a quem escapa da fome e de guerras", garantiu o prefeito. Segundo ele, é preciso redistribuir os solicitantes de refúgio por todas as regiões da Itália, de acordo com seus respectivos números de habitantes e sua capacidade de dar uma acolhida digna.
    Por ser uma das cidades mais ricas da Itália e estar ligada por trem a vários países da Europa, Milão é um dos principais destinos dos imigrantes que ainda não conseguiram refúgio na nação. (ANSA)
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segunda-feira, 15 de junho de 2015

PF abre inquérito contra Palocci na Lava Jato

Por Ricardo Brandt, Julia Affonso e Fausto Macedo
A Polícia Federal abriu inquérito para investigar o ex-ministro Antônio Palocci (ministro da Fazenda no governo Lula). A medida foi tomada por ordem do juiz federal Sérgio Moro, que conduz a Operação Lava Jato - investigação sobre esquema de corrupção e propinas que se instalou na Petrobrás entre 2003 e 2014.
O despacho de Moro é datado de 14 de abril.
VEJA A ÍNTEGRA DO DESPACHO DE MORO DETERMINANDO A ABERTURA DE INQUÉRITOLEIA O REQUERIMENTO DO PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA, RODRIGO JANOT
O inquérito, que corre sob sigilo por determinação de Moro - 'a fim de resguardar a eficácia das diligências' - apura se Palocci de fato pediu R$ 2 milhões ao doleiro Alberto Youssef - peça central da Lava Jato -, em 2010, para a campanha da então candidata Dilma Rousseff (PT) à Presidência.
Youssef fez delação premiada na Lava Jato. Ele apontou deputados, senadores e ex-políticos como supostos beneficiários de valores ilícitos obtidos no âmbito de contratos da estatal petrolífera.
O depoimento que cita Palocci foi dado por outro delator, Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás. Ele declarou à força-tarefa da Lava Jato que foi procurado por Youssef naquele ano e que o doleiro lhe teria solicitado a quantia alegando que era uma demanda feita pessoalmente pelo ex-ministro - na ocasião, Palocci já não ocupava cargo no governo federal.
Segundo o delator, Youssef pediu R$ 2 milhões e disse que o dinheiro era para a campanha de Dilma. O ex-diretor da Petrobrás afirmou que a quantia sairia do 'caixa do PP' - o Partido Progressista mantinha o controle da Diretoria de Abastecimento.
Em sua delação, porém, Youssef negou taxativamente que tenha procurado o ex-diretor da Petrobrás em nome de Palocci e pedido os R$ 2 milhões.
Em março, acolhendo manifestação da Procuradoria-Geral da República, o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, mandou abrir inquérito contra 52 políticos citados nas delações de Youssef e de Paulo Roberto Costa.
As investigações sobre os alvos que não mais detêm foro privilegiado perante os tribunais superiores foram deslocadas, por ordem do STF, para a primeira instância judicial, no caso a 13. Vara Criminal da Justiça Federal no Paraná, base da Lava Jato. É o caso de Antônio Palocci.
COM A PALAVRA, A DEFESA
O criminalista José Roberto Batochio, que defende o ex-ministro da Fazenda, tem reiterado que Antônio Palocci jamais solicitou dinheiro para a campanha presidencial de Dilma Rousseff, em 2010. Batochio aponta as contradições dos delatores. Lembra que o doleiro Alberto Youssef desmentiu Paulo Roberto Costa.
"Há um estranho interesse de se manter este assunto na berlinda, interesse este que não se consegue detectar muito bem qual seja, a não ser que haja uma campanha perante a opinião pública, uma atuação fora dos autos", criticou o criminalista José Roberto Batochio. "É a única coisa que explica uma notícia antiga como se fosse recente.
"Batochio é enfático. "Eu quero registrar minha total estranheza. Já fiz cinco petições para ter acesso a essas investigações, de acordo com o que é estabelecido pela Súmula Vinculante 14, do Supremo Tribunal Federal. Mas eu não consigo, à defesa de Palocci não é dado acesso a qualquer tipo de informação. A imprensa sabe, mas a defesa não sabe."
O veterano criminalista disse que "tudo isso parece uma coisa surrealista".
"Isso precisa ter um fim. Não é lícito proibir a defesa de ter acesso aos autos. É preciso que se restabeleça a legalidade. Se a lei diz que a defesa tem que ter acesso, a defesa tem que ter acesso. O império da lei precisa ser restabelecido."
Batochio rebela-se contra o vazamento de informações protegidas pelo sigilo. "Quem vaza informações é delinquente, é criminoso. Não se combate crimes praticando ilicitudes."
COM A PALAVRA, A ASSESSORIA DE IMPRENSA DE ANTÔNIO PALOCCI
"A abertura de inquérito é informação requentada, uma vez que o despacho que a originou é de 14 de abril. O objeto do inquérito é a contradição nos depoimentos de dois réus, um dos quais desmente que Antonio Palocci tenha participação em quaisquer irregularidades relativas à Petrobras. A defesa de Palocci estranha que não lhe seja dado acesso a informações, enquanto a imprensa é abastecida com factoides."

Dilma, Olavo e o pipiu do Jô

Olavo de Carvalho é um escriba de direita atípico. Não porque não repita todos os enfoques usuais e os temas prediletos dos reaças – família, feminismo, cotas raciais, movimento gay, a conspiração esquerdista etc. Mas porque seu gosto conspiratório o leva às vezes a afirmações bizarras, como a de que a Pepsi usava células de fetos abortados como adoçante.
Olavo também se expressa, às vezes, com grande inconveniência, e produz um humor involuntário e delirante. Causou sensação a sua descrição do pênis: “Vocês já viram um p* humano? Eu jamais permitiria que alguém introduzisse na minha pessoa aquela coisa medonha, execrável salsicha viva que cospe. Quando uma mulher consente que você faça isso nela, você deveria sentir-se humildemente grato em vez de se gabar de que seu peru é irresistível”.
De repente, suas inimigas por definição, feministas estavam compartilhando animadamente sua postagem, e a figura épica da “execrável salsicha viva que cospe” memetizou. No sábado passado, Olavo mandou outra grosseria engraçada no twitter. “O que é mais difícil de levantar? O ibope da Dilma ou o p* do Jô Soares?”. Eu ri.
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Não por causa da usual obsessão masculina com o membro, mas porque Olavo, de certa forma, acertou no alvo. O comportamento de Jô Soares com a assim chamada presidenta na entrevista de sexta para sábado traduz uma confissão de impotência política, e de oportunismo e compadrio se sobrepondo ao jornalismo.
O talk show, arte norteamericana por excelência, se constrói num território movediço. O entrevistador é um interlocutor do poder (político, social, cultural), e não pode nem descontruí-lo excessivamente, nem se render a ele. O humor é usado como calibrador dessa relação: assim é possivel mencionar verdades duras sem ser totalmente ofensivo ou confrontacional, ao mesmo tempo em que se extraem do entrevistado declarações inusitadas.
De vez em quando a coisa escapa ao controle, como nos azedamentos entre David Letterman (um dos modelos de Jô, junto ao concorrente Jay Leno) com gente como Madonna ou Jim Carrey. Letterman, que acaba de se aposentar, passou por um perrengue mais grave, quando teve que confessar publicamente que se relacionava sexualmente com moças de sua equipe, para escapar de uma tentativa de chantagem em 2009. Até nesse caso escapou com habilidade e humor.
Jô não é muito elegante em relação a Letterman – e a Leno. Apesar das semelhanças meio absurdas de detalhes de seu programa com as matrizes – caneca, cenário, interação humorística com os músicos –, Jô se considera herdeiro direto dos clássicos antecessores. Principalmente Johnny Carson, 30 anos à frente do Tonight Show (tendo sido sucedido por Leno em 1992, o que abriu a rivalidade com Letterman, que mudou de rede de TV quando foi preterido).
Jô também faz um tipo galante com as mulheres. Como observou meu amigo Mário Bortolotto há uns anos, nem sempre é fácil para uma mulher jovem e bonita dar uma boa entrevista no programa, sem que o apresentador fique desviando o assunto para o fato dela ser atraente. O efeito é frequentemente forçado, no limite do constrangimento da cantada – o que só é atenuado pelo humor.
Na verdade Jô, que é vaidoso, se considera mais culto e mais politizado que seus similares gringos. Em seu quadro com mulheres jornalistas, o Meninas Do Jô, esboçou um pensamento de oposição – ainda que tenha manifestado sempre uma posição anti-impeachment de Dilma.
Mas nada preparava para a subserviência demonstrada com Dilma. É óbvio que, para ela, é mais urgente do que nunca achar canais para chegar aos “formadores de opinião”, e alimentar uma agenda positiva, saindo das cordas do ringue. A entrevista foi costurada desde uma visita de Jô a Brasília no dia 18 de maio, para uma conversa informal – e a data marcada foi conveniente por ser simultânea ao congresso do PT, quando poderia rebater alguma crítica do partido (que não houve). Como anotou Marcelo Rubens Paiva, Dilma sequer se deslocou ao programa, como Obama fazia com Letterman. Fez o entrevistador ir até ela de novo.
No Planalto, Jô foi morno, galanteador, fazendo perguntas genéricas e escada para as usuais platitudes de Dilma, que se disse “triste” e que “o país não está doente”, como se não tivesse responsabilidade direta pelo grau agudo da crise econômica e política. Jô fez um papel de deslumbrado com o poder – e diante de uma pessoa que não prima nem pela inteligência nem pela autoridade. Podia ter dado uma enquadradinha eventual, para arrancar alguma declaração mais quente. Abriu mão, totalmente.
Para Dilma foi bom; para a Globo também, pois foi um contraponto à agressividade exagerada de William Bonner e Patricia Poeta na entrevista durante a campanha à reeleição. Só não foi bom para o próprio Jô, que passou uma atitude flácida e condescendente – foi essa a repercussão. Quando muito, Jô deu uma vingadinha de Lula, que o preteriu em 2004 pelo Ratinho, e nunca mais foi entrevistado enquanto presidente (Fernando Henrique tinha sido).
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Entre os dilmistas, claro que a entrevista repercutiu bem. A jornalista Cynara Menezes comentou no facebook: “um anti-panelaço: contra os que quiseram calar a presidente pelo grito, o entrevistador mais famoso do Brasil lhe ofereceu voz. O recado foi dado à emissora onde trabalha. Para culminar, terminou a entrevista com um galanteio hilário à presidente em pleno dia dos namorados, antes de beijar sua mão: ‘foi bom para você também?’, e foi bem isso mesmo, um ‘beija-mão’. Jô estava ali para ser um gentleman. Eu achei uma atitude muito corajosa”.
A mesma Socialista Morena reagiu com repulsa ao tuíte de Olavo de Carvalho. Só que foi Olavo, com seu humor grosseiro, que definiu em uma frase o acordo entre a presidente balança-mas-não-cai e o (ex) humorista entrevistador: ao contrário de “coragem”, foi um arrego entre impotentes, um beija-mão do deslumbramento do poder fictício.
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Entenda o fator previdenciário e o que pode mudar na aposentadoria Proposta foi votada como emenda ao texto da MP da pensão por morte. Medida reduz tempo para trabalhador ter 100% da aposentadoria.

A presidente Dilma Rousseff tem até quarta-feira (17) para decidir se veta ou não uma proposta aprovada pelo Congresso que altera o fator previdenciário – um cálculo utilizado para a concessão das aposentadorias.
A alteração foi incluída como emenda (proposta de mudança) ao texto da MP 664, que restringe o acesso à pensão por morte, aprovada por 232 votos a favor, 210 contra e duas abstenções.
Se Dilma vetar, ela precisa apresentar uma proposta alternativa ao Congresso, ou os parlamentares poderão derrubar o veto e fazer a nova regra valer.
O que é o fator previdenciário?
É uma fórmula matemática que tem o objetivo de reduzir os benefícios de quem se aposenta antes da idade mínima de 60 anos para mulheres e 65 anos para homens, e incentivar o contribuinte a trabalhar por mais tempo. Quanto menor a idade no momento da aposentadoria, maior é o redutor do benefício.
Por que foi criado?
O fator previdenciário foi criado em 1999 para conter os gastos da Previdência Social, que já ultrapassavam a arrecadação.
Um estudo da Câmara dos Deputados estima que desde 2000, ano em que entrou em vigor, até o final de 2011, o fator previdenciário tenha gerado uma economia em torno de R$ 55 bilhões para os cofres do governo.
Como funciona?
O fator previdenciário é composto por uma fórmula complexa, que se baseia na idade do trabalhador, tempo de contribuição à Previdência Social, expectativa de sobrevida do segurado e um multiplicador de 0,31.
O que pode mudar?
A proposta aprovada no Congresso é conhecida como sistema 85/95, no qual a mulher poderia ter aposentadoria integral quando a soma do tempo de contribuição e da idade fossem 85 e o homem poderia obter o benefício quando a mesma soma fosse 95.
Para professoras, de acordo com a emenda, a soma deve ser 80 e para professores, 90. Se o trabalhador decidir se aposentar antes, a emenda estabelece que a aposentadoria continua sendo reduzida por meio do fator previdenciário.
Quem decidir se aposentar antes de completar esse tempo, continua se aposentando da mesma forma atual, com aplicação do fator previdenciário.
Quais os efeitos da mudança?
O principal benefício da mudança do favor previdenciário é para o trabalhador, que começa a trabalhar mais cedo e que, portanto, atinge o tempo de contribuição antes da idade mínima para aposentadoria.
Mudanças no fator, no entanto, podem prejudicar as contas públicas, que já se encontram em situação delicada.
Exemplo
Uma mulher de 47 anos de idade, que completou 30 anos de contribuição, ao se aposentar pela regra atual teria uma redução de quase 50% no valor da sua aposentadoria. Para conseguir 100% do valor, ela teria que trabalhar pelo menos mais 12 anos.
Se a regra aprovada pela Câmara entrar em vigor, ela teria que trabalhar mais 4 anos para ter direito a 100% do benefício, quando a soma da sua idade (51) mais seu tempo de contribuição (34) alcançar os 85.

15/06/2015 14h01 - Atualizado em 15/06/2015 19h18 Governo tenta mudar regra que pode dobrar gastos do INSS em 8 anos Em 2023, nova regra vai gerar despesa adicional de R$ 427,5 bilhões. Governo deve apresentar alternativa a MP que muda fator previdenciário.


Para evitar um rombo ainda maior na Previdência, a presidente Dilma Rousseff deve apresentar uma proposta para substituir a chamada “fórmula 85/95”, que muda o fator previdenciário e que foi aprovada no Congresso Nacional. Essa fórmula – que precisa ser aprovada ou vetada pela presidente até quarta-feira (17) – beneficia o contribuinte que começa a trabalhar mais cedo, mas ajuda a aumentar o déficit nas contas do governo.

Pela nova fórmula, para ter direito à aposentadoria integral, a soma do tempo de contribuição e da idade deve ser maior ou igual a 95 para os homens e a 85 para as mulheres. Assim, um homem de 60 anos que contribuiu por 35 poderia pedir a aposentadoria integral sem cair no cálculo do fator previdenciário e receber o teto, que hoje é de R$ 4.663,75.

O analista de finanças públicas da Tendências Consultoria, Fábio Klein, prevê que a nova regra, caso entre em vigor, vai gerar um impacto de R$ 53,4 bilhões por ano no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), em média – o equivalente a 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB). O rombo da Previdência, hoje, é de 1% do PIB.

“Até 2046, o gasto da Previdência aumentaria em R$ 1,6 trilhão”, calcula Klein. Em oito anos, as despesas do governo mais que dobrariam com a nova fórmula, também projeta o economista. “Em 2023, o gasto adicional seria de R$ 427,5 bilhões – sendo que em 2014 a Previdência gastou R$ 394,2 bilhões.
Expectativa de vida amplia rombo
Segundo o economista da Tendências, o fato de as pessoas viverem mais é o principal desafio para o INSS equilibrar as contas no futuro. “Provavelmente, o governo vai manter o critério dos ‘85/95’, mas aumentar a soma de idade com o tempo de contribuição, para compensar a expectativa de vida maior”.
Klein acredita que a mudança no fator vai gerar um incentivo para que as pessoas contribuam por mais três ou quatro anos, em média, para obter a aposentadoria integral. “Isso é bom para o contribuinte e gera arrecadação, por outro lado, o aumento da vida do brasileiro faz com que ele receba a aposentadoria por mais tempo, ampliando o rombo”.

Para minimizar o problema, Klein defende que ampliar a formalização do mercado de trabalho ajudaria a aumentar as contribuições e ampliar a receita da Previdência. Sem mudar o fator previdenciário, o déficit do INSS já é estimado em R$ 7 trilhão em 2060.
Aposentadoria integral
Uma mulher de 47 anos de idade, que completou 30 anos de contribuição, ao se aposentar pela regra atual teria uma redução de quase 50% no valor da sua aposentadoria. Para conseguir 100% do valor, ela teria que trabalhar pelo menos mais 12 anos.
Se a regra não for alterada e for aprovada pela presidente Dilma, ela teria que trabalhar mais 4 anos para ter direito a 100% do benefício, quando a soma da sua idade (51) mais seu tempo de contribuição (34) alcançar os 85.