quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Houellebecq contra a França do islã

Houellebecq contra a França do islã

Escritor volta a semear a polêmica com seu novo romance, ‘Submissão’, em que um muçulmano chega à presidência da França

Muçulmanos rezando em uma rua de Marselha em abril de 2011. / J.P. P. (REUTERS)
No mesmo dia do ataque à revista francesa 'Charlie Hebdo', chegou às lojas da França o novo livro de  Michel Houellebecq. Dias antes da publicação e do atentado, o escritor já podia vangloriar-se de ter provocado um escândalo maiúsculo. O motivo é o argumento de seu novo romance, Soumission (Submissão), relato futurista de uma França convertida em regime islâmico após a vitória de um novo partido, a Fraternidade Muçulmana, nas eleições presidenciais de 2022.
Seu candidato, Mohammed Ben Abbes, venceu Marine Le Pen no segundo turno graças ao apoio das demais forças políticas, decididas a impedir a vitória inevitável da extrema direita. O país retratado por Houellebecq, imagem deformada da França de hoje, dribla “os últimos resíduos de uma social-democracia agonizante” e é povoado por cidadãos desencantados com a política, unicamente “galvanizados por sua adoração a esportistas, estilistas, atores e modelos”, que se limitam a ver “reality shows sobre obesidade” na televisão enquanto ingerem “pratos pré-cozidos confiáveis por sua insipidez”.
Nessa paisagem, Houellebecq situa um narrador chamado François, professor universitário quarentão e especialista em Huysmans, grande figura do decadentismo do século 19 e autor de Às Avessas (À Rebours, 1884) que se converteu do protestantismo ao catolicismo no fim da vida. No livro, François contempla outro tipo de metamorfose religiosa: a necessidade de converter-se ao islamismo diante das circunstâncias políticas. Em vista das turbulências que se anunciam, o deprimido narrador (e muito claro alter ego do autor) refugia-se na França profunda, onde visita cidades medievais e degusta longos ágapes regados a armagnac. Quando retorna a Paris, dias depois do desenlace eleitoral, encontra um país que já não reconhece.
A Sorbonne é agora uma universidade islâmica financiada por riquíssimos emires, com as paredes decoradas por versos do Corão e um reitor casado com três esposas, uma delas adolescente. Como François, os professores que não se converteram ao Islã a tempo foram jubilados, mas monarquias petroleiras colocaram pensões astronômicas ao seu dispor. A sharia não foi aplicada, mas o decote e a minissaia foram proscritos. E as mulheres, encorajadas a retirar-se do mercado de trabalho em troca de vultosas ajudas públicas. Os trens oferecem menu halal. Turquia, Argélia e Marrocos tornaram-se membros da União Europeia, no marco da “reconstrução do Império Romano” a que aspira o novo presidente.
Houellebecq diz não ter escrito o livro com intuito provocador. “Não tomo partido, não defendo nenhum regime. Nego toda responsabilidade”, declarou o escritor à revista literária The Paris Review. “Procedi  uma aceleração da história, mas não posso dizer que seja uma provocação, porque não digo coisas que considere falsas só para deixar alguém nervoso. Condenso uma evolução que, a meu entender, é verossímil”.
Não é estranho que a polêmica ganhe dimensões de assunto de Estado. Em seu novo livro, Houellebecq contrapõe as raízes da cristandade medieval – o protagonista refugia-se em um povoado chamado Martel, como o homem que deteve os árabes em Poitiers no ano de 732 – e uma invasão muçulmana de traços quase burlescos, temperada com teorias abjetas que ecoam no atual clima político. O livro parece beber da Grande Substituição formulada pelo filósofo Renaud Camus, acusado de incitação ao ódio racial, que aparece no romance como autor (fictício) dos discursos de Marine Le Pen. Segundo Camus, a população europeia acabará sendo substituída por imigrantes que provocarão uma mudança de civilização.
O romance já gerou tantas opiniões entusiastas como escandalizadas, pronunciadas por uma habitual enxurrada de comentaristas midiáticos, desde o filósofo Alain Finkielkraut – para quem Houellebecq fala de “um futuro que não é certo, mas plausível” – até o apresentador Ali Baddou, que afirmou ter sentido “vontade de vomitar” com a “islamofobia” do livro. O diretor do jornal Libération, Laurent Joffrin, escreveu que o romancista não faz mais que “esquentar o lugar de Marine Le Pen no Café de Flore”, refúgio da intelectualidade parisiense, inserindo teses ultradireitistas sobre a suposta invasão muçulmana no quadrilátero da literatura. E o próprio François Hollande, apresentado na romance como um político acabado, afirmou ontem em uma entrevista que lerá o romance “porque provoca um debate”, mas incitou seus concidadãos a não se deixarem “devorar pelo medo e pela angústia” que o livro reflete.
Já em 2001, Houellebecq afirmou: “O Islã é a mais burra das religiões”. Há quatro anos, na televisão israelense, acrescentou: “A tendência à colaboração com um poder perigoso, neste caso o fundamentalismo islâmico, é dominante na França”. Em Soumission, descreve um Islã que apresenta como “moderado”, embora na realidade responda a traços reacionários. O filósofo Abdennour Bidar denunciou sua “imagem errônea” do Islã, que retrata como fundamentado na submissão a Deus, mulheres em casa, véu e poligamia”. Houellebecq jura ter revisto suas opiniões passadas. “No fundo, o Corão é melhor do que pensava, depois de o reler… ou melhor, ler. A conclusão é que os jihadistas são maus muçulmanos”, disse nesta semana.

O livro

O escritor Michel Houellebecq. / MIGUEL MEDINA (AFP)
Soumission é o novo romance de Michel Houellebecq (Ilha da Reunião, 1956), ex-especialista em informática do Parlamento francês que saltou para a fama com Extension du Domaine de la Lutte (1994). Esse dândi reacionário, que disse “sentir verdadeiro afeto por Sarkozy”, é conhecido por suas declarações contra o feminismo ou a herança de Maio de 68, ou a favor do turismo sexual. Onipresente na vida cultural de seu país, nos últimos meses publicou uma antologia poética, protagonizou dois filmes, expôs suas fotografias em Paris e produziu uma adaptação para o teatro de seu romance Les Particules Élémentaires (1998).
Com seu romance anterior, La Carte et le Territoire (2010), obteve o prêmio Goncourt. Acreditava-se que o enfant terrible tinha se retratado, até chegar seu novo livro.

“Wolinski era o Pelé do cartum, e influenciou gerações de desenhistas”

“Wolinski era o Pelé do cartum, e influenciou gerações de desenhistas”

Cartunistas brasileiros lamentam morte de principal chargista da 'Charlie Hebdo' e colegas

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Ilustração do argentino Liniers em apoio à revista Charlie Hebdo.
“Quem foi assassinado foi o Pelé do cartum”. Assim o desenhista brasileiro André Dahmer, criador de Os Malvados se refere à chacina de George Wolinski e outros funcionários da revista Charlie Hebdo, em Paris, nesta quarta-feira. “O cara deu a vida dele para que os outros pudessem sorrir”.
De acordo com Dahmer, três gerações do jornalismo mundial foram influenciadas pelo trabalho do cartunista. “E entre os mortos no ataque também estão jovens chargistas da revista, que seriam a nova geração da Charlie Hebdo. É uma notícia terrível”, diz.
As charges com o profeta Maomé, apontadas por especialistas como tendo motivado o ataque por parte de radicais islâmicos, “jamais poderiam servir de justificativa para tamanha violência”, afirma.
“A violência ‘de fato’ não pode jamais se sobrepor à violência simbólica. E o pior era que a revista era super progressista, criticava a direita francesa, a ocupação israelense na palestina e se propunham a pensar o islamismo”, diz Dahmer, que também já foi ameaçado após abordar assuntos religiosos em suas tiras.
“Só os mais radicais não são capazes de entender o trabalho do chargista. Grupos radicais judeus e cristãos já me ameaçaram por tiras onde eu refletia sobre a crença em deus. A religião não é uma doença, mas o radicalismo é”.
O cartunista Laerte conheceu o trabalho da publicação francesa nos anos de 1960, época em que trabalhava na revista O Pasquim, e se refere a Wolinski como “mestre”: “Ele foi decisivo no meu trabalho, o espírito da revista e do humorismo francês foram fundamentais para a nossa geração. ACharlie Hebdo é um patrimônio do jornalismo”.
Ele se recorda que “no Pasquim sentíamos como se o que eles faziam na França fosse um ‘reforço’ internacional para nós, como se ecoassem o que fazíamos aqui. Eles eram de uma ousadia e um brilhantismo muito grandes”, conclui.
O cartunista Adão Itussurugai postou na rede social twitter que “Georges Wolinski é minha maior influência”, e que hoje é um “triste dia para o jornalismo, o humorismo, a liberdade”.
Allan Sieber, outro quadrinista brasileiro, escreveu no Facebook que está "Completamente chocado com a morte dos cartunistas e jornalista da Charlie Hebdo. Os filhos das putas dos fanáticos mataram o Wolinski. O WOLINSKI, POORA!!!!!!!!".
O quadrinista argentino Ricardo Liniers publicou no twitter desenhos de apoio à revista francesa e criticando o fanatismo. "Meu fanatismo é por não ser fanático", diz uma de suas ilustrações.
"Ele desenhou primeiro", diz cartoon de David Pope.

Ataque a sede de semanário francês em Paris mata ao menos 12 a tiros

Ataque a sede de semanário francês em Paris mata ao menos 12 a tiros

Tiroteio deixa autoridades em alerta máximo. Periódico já havia sofrido um ataque em 2011

Stéphane Charbonnier, o diretor da revista que vivia sob escolta, está entre os mortos

Polícia francesa faz buscas por três terroristas fortemente armados em Paris

Ao menos 12 pessoas morreram e quatro correm risco de morte em consequência do ataque com fuzis automáticos ocorrido na manhã de quarta-feira contra a sede da revista semanária satírica Charlie Hebdo, em Paris, segundo dados oficiais. Os autores do atentado, um dos mais graves da história da França, foram três homens vestidos de preto, encapuzados e armados com fuzis Kalashnikov ao grito de "Alahu al akbar" ("Deus é grande"). O presidente François Hollande afirmou que a França vive “um momento extremamente difícil”. A polícia francesa identificou três dos supostos autores do atentado, segundo a informação que remeteu à polícia espanhola e à qual o EL PAÍS teve acesso, informa Alfonso L. Congostrina. Segundo essa documentação, dois dos três supostos terroristas são irmãos de nacionalidade francesa (Saïd e Chérif, de 34 e 32 anos). O terceiro homem é Hamyd M, de apenas 18.
O ataque ocorreu pouco depois das 11h (8h, no horário de Brasília). Os dois terroristas já entraram atirando no hall do jornal. Durante mais de dez minutos, os agressores efetuaram pelo menos 30 disparos contra os jornalistas e funcionários da publicação. Em alguns momentos, segundo uma testemunha citada por vários veículos da França, eles gritavam os nomes de jornalistas. Dezenas de funcionários refugiaram-se na terraço do edifício, situado no bulevar Richard Lenoir, no 11º distrito da capital francesa.
Entre os mortos já confirmados está o diretor da revista, Stéphane Charbonnier, conhecido como Charb, e os cartunistas Georges Wolinski (um dos mais famosos desenhistas do mundo, conhecido como símbolo da revolução maio de 1968), Jean Cabut e Tignous. Também foi confirmada a morte do economista e colunista Bernard Maris, membro do Conselho Geral do Branco da França. Foi confirmada também as mortes de dois policiais, um deles identificado como Franck D. (assassinado dentro da redação), e Ahmed Merabet, morto na rua; Michel Renaud, um visitante que estava no jornal naquele momento; e uma pessoa que estava na recepção do edifício quando os terroristas invadiram o local, mas cujo nome não foi revelado.
Charb dirigia a revista desde 2009 e vivia sob escolta policial desde 2011, ano em que a editora sofreu um ataque. Tanto ele quanto outros funcionários do semanário recebiam ameaças constantes. A última capa da Charlie Hebdo  foi dedicada ao livro Soumission(Submissão,em português), de Michel Houellebecq, que descreve o futuro da França caso o presidente fosse muçulmano.
O último tuíte da revista é uma caricatura do Estado Islâmico.
Após o atentado, os criminosos gritaram "Alá é grande" e fugiram em um carro -- que foi abandonado a algumas quadras do local. Eles ainda não foram identificados nem presos. De acordo com testemunhas, eles falavam em francês "sem sotaque".
O presidente francês, François Hollande, visitou o local pouco após o atentado. "É um ato excepcional de barbárie”, declarou Hollande, para onde foi acompanhado do ministro do Interior, Bernard Cazaneuve. À imprensa, Hollande disse ainda que as autoridades vão se empenhar para "perseguir" os responsáveis e levá-los à Justiça. O chefe de Estado convocou uma reunião extraordinária do Governo, que elevou ao nível máximo o “alerta de atentados” --o alerta antiterrorista. A segurança foi reforçada em veículos de imprensa, grandes estabelecimentos comerciais e no transporte público.
Charlie Hebdo estava especialmente protegida porque já havia sido alvo de ameaças e ataques menores nos últimos anos, especialmente por ter publicado, em 2006, caricaturas do profeta Maomé. Em 2011, foi atacada com coquetéis molotov e teve de fechar seus escritórios durante várias semanas. Entre as vítimas fatais do ataque de quarta-feira estão dois policiais que vigiavam a área. Uma das viaturas foi atingida por 15 tiros.
Fontes do Ministério do Interior optaram por não divulgar oficialmente nenhuma pista sobre os autores do atentado, mas consideram que a possibilidade de se tratar de um ataque de origem de fundamentalistas islâmicos “é uma opção possível”. Segundo a rede de televisão BFM, um dos terroristas teria afirmado em vídeo que estariam “vingando” Maomé.
O último tuíte publicado pela revista é uma caricatura do autoproclamado chefe do Estado Islâmico, Abu Bakr al Baghdadi, acompanhado do comentário “meilleurs voeux” (boas festas).
A França está em alerta antiterrorista desde que iniciou sua participação nos bombardeios contra o Estado Islâmico no Iraque em setembro passado. Pelo menos 1.200 militares participam do dispositivo de alerta. Porta-vozes do EI pediram em diversos vídeos que os franceses sejam atacados em qualquer lugar do mundo.

Uma fábula real? No dia em que é publicada um romance sobre a tomada do poder em França pelos muçulmanos o mais mortal ataque terrorista dos últimos 180 anos abala Paris

Uma fábula real?

No dia em que é publicada um romance sobre a tomada do poder em França pelos muçulmanos o mais mortal ataque terrorista dos últimos 180 anos abala Paris

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O que sabemos para já é que terão sido dois ou três homens, que levavam metralhadoras, que se introduziram pelas 11:30 horas de quarta-feira, 7, nas instalações do semanário satírico Charlie Hebdo, que mataram pelo menos 12 pessoas e feriram mais uma dezena, dos quais quatro se encontram em estado muito grave.
Foi em Paris, hoje. O Charlie Hebdo estava na mira de terroristas islâmicos desde que em 2011 publicou caricaturas do profeta Maomé. Em 2013, conta o Libération, uma lista de 11 pessoas "procuradas vivas ou mortas por crimes contra o Islão" foi publicada pela Al Quaeda: Charb, o diretor da publicação, fazia parte dessa lista. Os atiradores estavam informados: à quarta-feira de manhã o semanário realizava a sua reunião de redacção.
Depois do massacre - os jornais franceses classificam-no como o mais mortífero dos ataques terroristas em Paris desde 1835 -, os homens encapuzados fugiram num carro de alta cilindrada. Trocaram de viatura numa das saídas da cidade e continuaram a sua fuga. Segundo testemunhos recolhidos pelos jornais franceses, os homens terão gritado Allah Akbar  ("Deus é grande") enquanto atiravam sobre os trabalhadores do jornal. Segundo o testemunho de uma desenhadora do jornal publicado no site de L'Humanité, os homens forçaram a entrada e disseram pertencer à Al Quaeda.
Tudo isto acontece no mesmo dia em que é lançado, em França, o novo livro de Michel Houellebecq, autor dePartículas Elementares, o romance que o alcandorou à fama. Soumission (tradução: Submissão) é publicado pela Flammarion e satiriza uma república francesa governada por muçulmanos. Na fábula de Houellebecq, depois de uma chegada camuflada ao poder, os muçulmanos islamizam a universidade, acaba com a igualdade entre homens e mulheres, instituem o uso do véu e legalizam a poligamia.
Os intelectuais de esquerda franceses apressaram-se a dizer que se tratava de um favor a Marine le Pen, que fez (e faz) do combate à imigração, sobretudo de muçulmanos, o cavalo de batalha que lhe permitiu ser eleita para o Parlamento Europeu e uma séria candidata às próximas presidenciais no Hexagone. Outros atacaram-no por ter tornado os muçulmanos alvos dos medos mais secretos e hediondos dos franceses. Outros, ainda, apelidados de direita, dizem que se trata de uma obra corajosa contra a "cegueira, o silêncio e a passividade" da esquerda francesa, no que toca ao modo como vê os 6% de habitantes do país muçulmanos.
Certo é que nunca uma obra foi tão atual: no dia em que é lançado o romance que parodia uma subida ao poder dos muçulmanos, radicais islâmicos (ao que, para já, se sabe) limpam uma dezena de jornalistas infiéis na capital. Já não é uma obra sobre os "medos" secretos dos franceses - é sobre os medos reais de um ataque que matou pelo menos 12 pessoas, algumas delas guardadas a sete chaves pela polícia francesa desde as primeiras ameaças à sua integridade, há três anos. Passou a ser sobre o medo provocado a uma civilização que, mal ou bem, há quase 250 anos defende a não discriminação - hoje também com com base no sexo, na orientação sexual ou na cor da pele - e na liberdade. E isto, para todos nós, é muito - muito - preocupante.


Ler mais: http://visao.sapo.pt/uma-fabula-real=f806246#ixzz3OB94qgIt

Vários milhares de pessoas juntaram-se hoje ao final da tarde na praça da República, em Paris, em homenagem às vítimas.

Milhares de pessoas homenageiam vítimas do ataque ao Charlie Hebdo

Vários milhares de pessoas juntaram-se hoje ao final da tarde na praça da República, em Paris, em homenagem às vítimas do ataque contra o semanário satírico Charlie Hebdo

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Milhares de pessoas homenageiam vítimas do ataque ao Charlie Hebdo
SAIBA MAIS
  • Doze mortos confirmados em ataque contra o Charlie Hebdo
  • Recorde algumas capas polémicas do Charlie Hebdo
  • Diretor e mais três cartoonistas estão entre as vítimas
  • Tweet do Charlie Hebdo publicado minutos antes do ataque tornou-se símbolo da liberdade de imprensa
  • Vídeos mostram ataque ao Charlie Hebdo

  • Vários milhares de pessoas juntaram-se hoje ao final da tarde na praça da República, em Paris, em homenagem às vítimas do ataque contra o semanário satírico Charlie Hebdo, que fez 12 mortos.
    A concentração, convocada por vários sindicatos, associações, 'media' e partidos políticos, os participantes começaram a juntar-se a partir das 17:00 (16:00 TMG e Lisboa) na praça da República, no centro da capital francesa, relativamente perto da sede do jornal.
    Várias pessoas tinham colado na roupa um autocolante preto com a frase "Je Suis Charlie" ("Eu sou Charlie"), frase que desde meio do dia se generalizou nas redes sociais e páginas internet como símbolo de solidariedade com a redação do jornal satírico.
    Com as ruas inundadas por um mar de gente a caminhar muito lentamente em direção à estátua monumental de uma figura de mulher a simbolizar a República Francesa.
    Daí entoavam os slogans que ecoaram em toda a praça e eram repetidos pela multidão.
    "O Charlie não morreu!" foi o principal grito que se ouviu e foi retomado por Sophie Cachera, uma estudante de 19 anos que explicou à Lusa que "não mataram o jornal porque as caricaturas vão continuar vivas".
    O discurso da estudante é interrompido por novos slogans como "juntos, unidos pela democracia", que ela volta a repetir porque, - explica -- "foi um atentado contra a democracia e tentaram calar a liberdade de imprensa", acrescentando ter vindo à manifestação para "mostrar que não tem medo" e que "há que lutar contra este ataque".
    Perto dela, uma mulher exibe a tampa de uma caixa de sapatos em que escreveu "O Charlie vai sobreviver apesar de todos os sacanas", uma mensagem que escreveu antes de sair de casa para se juntar à manifestação.
    "Vim testemunhar a minha solidariedade com o jornal Charlie Hebdo e a minha ligação umbilical à liberdade de expressão e de imprensa", conta à Lusa Dominique Debize, de 63 anos, uma geração que diz "muito ligada ao jornal".
    Praticamente as mesmas palavras saem da boca de Michelle Simon, de 70 anos, que trouxe com ela uma edição do jornal satírico em que se lê "É preciso pôr um véu no Charlie Hebdo".
    "Vim porque eles [as vítimas] eram meus amigos, não os conheci mas eles envelheceram comigo. Conheço-os desde adolescente, desde os tempos em que foram censurados pelo general De Gaulle", explica.
    Os mais jovens também afluíram em massa à Praça da República, como Adrien Brunetti, de 31 anos, que também trouxe uma capa de uma antiga edição onde "se pode ver o profeta Maomé que diz que é difícil ser amado por idiotas".
    "Vim para fazer o luto pelos jornalistas que morreram. São pessoas militantes e que sempre lutaram pela liberdade de expressão que é a base da nossa democracia. Estou triste porque foram mortos por causa da sua profissão", testemunha.
    Samuel Petit também furou por entre a multidão e entrou numa espação do metropolitano apinhada de gente, com a mulher e a bebé, para poder vir à manifestação porque, diz, não quer que "a filha cresça em um país onde a liberdade de expressão não é possível".
    "Cresci a ouvir os meus pais a falar sobre estes cartoonistas, a minha família até conhece o desenhador Willem que trabalha no Charlie Hebdo. Este atentado é altamente simbólico e depois disto nunca mais nada será igual, é um ponto de ruptura", considera.
    O atentado de hoje na sede do jornal satírico Charlie Hebdo matou as figuras históricas do cartoon francês Charb, Cabu, Tignous e Wolinski.


    Ler mais: http://visao.sapo.pt/milhares-de-pessoas-homenageiam-vitimas-do-ataque-ao-charlie-hebdo=f806272#ixzz3OB8bl9ws