Mamíferos
Ornitorrinco, Tão Estranho Quanto Fantástico
O ornitorrinco é, provavelmente, o mamífero menos parecido com um mamífero que existe.
Endémico da Austrália e da Tasmânia, o ornitorrinco tem pêlo e dá de mamar aos filhotes, como os mamíferos, mas não dá à luz esses filhotes, em vez disso põe ovos: como fazem muitos outros animais… exceto os mamíferos. Para além disso tem um bico semelhante ao de um pato, o rabo semelhante ao de um castor, membranas nas patas e, no caso dos machos, espigões venenosos, uma característica também bastante rara em animais mamíferos.
As características peculiares do ornitorrinco, contudo, não são apenas as que vemos por fora. Estudos genéticos realizados em 2008 e publicados na revista Nature, revelaram que o ornitorrinco possui genes partilhados não apenas com outros mamíferos, mas também com os répteis e com as aves, preservando características que a esmagadora maioria dos outros animais perderam durante a evolução – fazendo deste um animal “único”.
Não surpreende que em 1799, quando o ornitorrinco foi pela primeira vez descrito cientificamente, os investigadores tenham ficado convencidos tratar-se de uma fraude. Por exemplo, tentaram encontrar indícios de que aquele “bico de pato” tería sido costurado no corpo de um outro animal para lhe dar um ar mais exótico.
Mas o bico era mesmo dele.
A origem na pré-história
O ornitorrinco é um dos animais considerados fósseis vivos. O fóssil mais antigo encontrado de um ornitorrinco moderno data de há cerca de 100 milhões de anos – vários milhões de anos antes da extinção dos dinossauros – e já foram encontrados vestígios da presença de animais monotremados (mamíferos que põem ovos, ou mais especificamente, apenas ornitorrincos e equidnas) datados de há cerca de 167 milhões de anos.
Há cerca de 5 a 15 milhões de anos, viveu uma espécie de ornitorrinco mais de duas vezes maior que o ornitorrinco atual, com cerca de 1,3 metros de comprimento.
Atualmente existe apenas uma espécie viva de ornitorrinco, a Ornithorhynchus anatinus. O seu estado de conservação é considerado “pouco preocupante” pela IUCN.
Principais características do ornitorrinco
O ornitorrinco tem uma cabeça arrendondada e uma espécie de bico que se assemelha ao bico de um pato. O corpo e a cauda são cobertos por pêlo muito fino, embora denso para o manter quente. A cauda é achatada, como a de um castor e entre os seus dedos possui membranas, adaptadas para nadar.
Os machos são ligeiramente maiores que as fêmeas, medindo cerca de 60 centímetros de comprimento e pesando até 2,5 quilos. Um ornitorrinco vive em média cerca de 12 anos, podendo chegar aos 15.
O ornitorrinco é um mamífero semiaquático, um excelente nadador que mergulha em apneia e consegue nadar durante cerca de dois minutos sem vir à superfície respirar – contudo existem relatos de ornitorrincos que ficaram submersos até cerca de 10 minutos. Quando mergulha, os olhos, os ouvidos e as narinas ficam protegidos por membranas de pele que os deixam cegos e surdos debaixo de água. Para se guiar e localizar alimento neste estado, utilizam as terminações nervosas sensíveis contidas no seu bico – o chamado sentido de eletrorrecepção, ou seja, a capacidade de detetar as suas presas ao detetar os campos elétricos gerados pelas contrações musculares destas. Ele consegue determinar a direção e a distância da presa sempre que esta se desloca e fá-lo com grande precisão.
Veneno
Uma das peculiaridades do ornitorrinco é ser um mamífero venenoso – embora seja uma característica exclusiva dos machos e este veneno só seja produzido durante a época de acasalamento, pelo que se suspeita ser uma arma de defesa de território de modo a afastar machos rivais.
Alimentação
O ornitorrinco alimenta-se principalmente de insetos e invertebrados, tais como moluscos, crustáceos, vermes, insetos, pequenos peixes ou girinos. Ocasionalmente também come algumas plantas.
Após capturar o seu alimento debaixo de água (geralmente em riachos), o ornitorrinco armazena-o dentro de bolsas, tal como fazem por exemplo os hamsters. Assim que regressa a terra firme, mastiga e engole os alimentos. Uma vez que não tem dentes, o ornitorrinco usa as placas córneas das maxilas para conseguir mastigar.
Acasalamento e reprodução
A reprodução dos ornitorrincos ainda não é totalmente conhecida. Sabe-se que atingem a maturidade sexual por volta dos sete anos de idade e que na época de acasalamento, geralmente entre Julho e Agosto, os seus órgãos reprodutores aumentam de tamanho (tanto nos machos como nas fêmeas).
Este acasalamento ocorre dentro de água. O ritual de acasalamento do ornitorrinco é pouco conhecido.
Apesar dos seus hábitos aquáticos, o ornitorrinco constrói o seu ninho em terra, nas margens dos lagos e pequenos rios onde habita. A fêmea cava uma toca funda, com cerca de dois metros de comprimento e com uma entrada com acesso a água, onde choca os seus ovos.
Dentro dos ovos, os ornitorrincos bebés têm uma espécie de dente na ponta do seu bico – chamado dente de ovo – que os ajuda a partir a casca para eclodir. Este dente é perdido logo de seguida.Os filhotes nascem cegos e sem pêlo.
Assim que saem do ovo, a mãe ornitorrinco puxa-os com a sua cauda achatada para junto de si de forma a alimentá-los. Como não tem tetas, os filhotes têm de sugar o leite através dos poros dilatados situados entre os pêlos, fazendo pressão sobre a pele para que o leite saia e escorra pela pelagem.
Os filhotes ficam meses no ninho e são desmamados quanto atingem aproximadamente 30 centímetros de comprimento.
Mais curiosidades do ornitorrinco
- Juntamente com as equidnas, são os únicos mamíferos que poem ovos;
- O bico do ornitorrinco é flexível e parecido com borracha;
- O ornitorrinco não possui estômago, em vez disso o seu esófago liga-se diretamente ao intestino;
- Um ornitorrinco é capaz de consumir o equivalente ao seu peso em alimento no espaço de 24 horas, embora só necessite de cerca de 20% desse peso para sobreviver;
- É capaz de armazenar gordura na sua cauda de forma a sobreviver em períodos em que o alimento é escasso;
- É muito mais hábil a nadar do que a caminhar em terra firme, balançando de um lado para o outro um pouco à semelhança dos crocodilos;
- Até à década de 1900, o ornitorrinco era caçado devido à sua pele, impermeável e mais densa que a de um urso polar;
- É extremamente ativo nas primeiras horas da manhã e à noite. O resto do tempo (por volta de 17 horas diárias) é gasto em repouso nas suas tocas;
- O ornitorrinco é considerado um símbolo australiano.
Este artigo foi publicado na Revista nº6 do Mundo dos Animais, em Abril de 2008, com o título “Ornitorrinco”.